O
cerco à casa do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, que teve lugar na cidade da
Beira na semana passada, poderia ter resultado num conflito armado de maiores
dimensões, considera o analista Silvestre Baessa.
Caso
os mediadores da crise moçambicana não tivessem estado na cidade da Beira no
dia do cerco à casa do líder da RENAMO, na passada sexta-feira (10.10), a crise
militar teria assumido dimensões mais graves, diz Silvestre Baessa.
Em
entrevista à DW África, o especialista em boa governação lembra que o papel
destas figuras não está muito claro, mas a garantia de segurança dada por eles
a Afonso Dhlakama foi posta em causa com o cerco das forças policiais.
DW
África: Que avaliação faz do papel dos mediadores no cerco à casa de Afonso
Dhlakama na cidade de Beira?
Silvestre
Baessa (SB): Eu acho que foi relevante na medida em que nos termos como
ocorreu o cerco foi oportuno estar na Beira naquele momento. Acredito que a
ausência de uma terceira parte que merecesse a confiança de Dhlakama naquele
espaço poderia tornar a situação muito mais complicada.
É
bem verdade que a posição da RENAMO, de Dhlakama sobretudo, naquele momento era
muito enfraquecida. Acho que ele foi apanhado de surpresa, até porque se sentiu
traído pelo facto de os mediadores terem dado garantias de que ele podia sair
das matas e que havia condições de segurança, para logo a seguir sofrer o cerco
e colocar-se numa posição delicada.
Foi
oportuno estar na Beira naquele momento porque isso também permitiu evitar
situações mais complicadas como, por exemplo, a resistência da RENAMO e o que
aconteceria depois numa situação de confrontação direta entre as partes e aí
poderíamos ter uma situação muito pior daquela que aconteceu.
DW
África: Está prevista a extensão do papel dos mediadores neste campo de maior
tensão?
SB: Claramente
que não. O papel do mediador não foi muito claro no âmbito de diálogo político
que está a decorrer entre a RENAMO e o Governo. Nunca ficou muito claro se era
diálogo ou negociações. E depois o papel dos mediadores também ficou meio
diluído, pareciam mais observadores nacionais nas conversações que em nenhum
momento procuravam aproximar e facilitar as partes nas questões mais
complicadas. Ao longo de todo este período foi um papel sem grande relevância.
A
segunda vez que os mediadores apareceram a desempenhar um papel significativo
foi na altura quando o presidente Dhlakama saiu de Satunjira, que teve a
cobertura da comunidade internacional, e agora neste momento. Mas eu creio que
nos termos como as coisas ocorreram ficou mais evidente que os mediadores têm
muito pouco a fazer para buscar uma solução física. Parece-me que há uma
terceira parte neste jogo, neste xadrez. Eu digo terceira porque há uma parte
que se chama Governo em que podemos personificar essa parte no Presidente
Nyusi. Há uma segunda parte que é a RENAMO e há uma terceira parte que é aquela
em que se sente o desgaste deste diálogo que não resulta em nada e que começa a
colocar em prática uma segunda saída para esta crise que se arrasta há muito
tempo e que é forçar militarmente a RENAMO a desarmar-se.
DW
África: Se os mediadores não estivessem lá, como teria sido?
Ficou
muito claro que a intenção do dispositivo militar na casa de Dhlakama visava
desarmar as forças da RENAMO, a sua segurança. A ausência desse grupo poderia
resultar num confronto militar.
DW
África: Será o modelo de recolha compulsiva o ideal nesta situação?
O
realismo que tem estado a decorrer nesta matéria é um realismo que diz que o
conflito não pode ser eterno. Ou seja, está-se há mais de 20 anos a tentar uma
solução com intervalos mais longos entre as negociações e as situações de crise
efetiva. A oportunidade permite fazer com que seja mais arriscado quanto foi
esta situação da Beira. Quando temos situações destas, o radicalismo ou o
extremismo nas opções vem ao de cima. É um posicionamento mais rijo o que acaba
por imperar.
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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