Um
conjunto de e-mails apreendidos pela Polícia Federal brasileira mostram a
influência de Marcelo Odebrecht e os negócios que conseguiu. Instituto Lula diz
que foram acções de “patriotismo” a favor da economia brasileira.
Ana
Gomes Ferreira (*)
E-mails
apreendidos pela Polícia Federal brasileira na investigação à teia de corrupção
em volta da Petrobras mostram as pressões da empresa Odebrecht junto da
presidência, quando esta era ocupada por Lula da Silva e depois por Dilma
Rousseff, no sentido de esta empresa obter vantagens em contratos e ver
colocados em cargos determinadas pessoas. Segundo os jornais O Globo e o Estado
de São Paulo, que publicaram o conteúdos dos e-mails, essa pressão teve efeito.
Nas
mensagens, o presidente da maior empresa de construção do Brasil, Marcelo
Odebrecht – que se encontra detido –, tenta influenciar directamente o que será
dito pelos presidentes a chefes de Estado de outros países. Numa mensagem de
2009 para executivos da construtora, o então ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio, Miguel Jorge, escreveu que Lula fez lobby pela empresa
num dos encontros com líderes estrangeiros.
Em
concreto, a Odebrecht quis evitar a escolha de um secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia, que é considerado prejudicial à empresa. “Os
documentos mostram, pela primeira vez, que o chefe de gabinete de Lula,
Gilberto Carvalho, era um dos elos entre a empreiteira e o Presidente [Lula da
Silva], de acordo com a interpretação da Polícia Federal”, escreve o Globo. No
Governo Rousseff é Giles Azevedo, chefe de gabinete da Presidente, e Anderson
Dorneles, assistente pessoal de Dilma, quem passaram a receber as mensagens de
Marcelo Odebrecht.
As
mensagens de Marcelo para Lula eram enviadas por meio de Alexandrino Alencar
(também preso), director da empresa e mais próximo do então Presidente. Algumas
mensagens tinham como título “Ajuda de memória”, outras “Agenda Lula”.
Os
documentos obtidos pela polícia mostram que dias antes do encontro, a 5 de
Junho de 2012, entre Dilma Rousseff e o Presidente da República Dominicana,
Danilo Medina, Marcelo Odebrecht enviou a Giles Azevedo e Anderson Dorneles uma
nota com sugestões para a agenda da reunião.
O
jornal brasileiro cita o e-mail que diz ser “importante” a Presidente
brasileira “reforçar” dois pontos na conversa: “a confiança que tem na
Organização Odebrecht em cumprir os compromissos assumidos” e “a disposição de,
através do BNDES [Banco Nacional para o Desenvolvimento Económico e Social],
continuar a apoiar as exportações de bens e serviços do Brasil, dando
continuidade aos projectos de infra-estrutura prioritários para o país”.
Numa
entrevista que concedeu a jornalistas brasileiros após o encontro, o Presidente
da República Dominicana diz ter recebido luz verde do Governo brasileiro para
obter financiamento para a construção de duas fábricas no país — o projecto foi
feito com financiamento parcial do BNDES; entre os anos de 2003 e 2015 empresas
brasileiras conseguiram contratos na República Dominicana, com dois mil milhões
de dólares (1,78 mil milhões de euros) a serem “desembolsados a favor da
Odebrecht”.
Em
2005, na véspera de uma visita de José Eduardo dos Santos, Marcelo Odebrecht
pediu a Lula da Silva que reconhecesse o papel do Presidente de Angola como
“pacificador e líder regional”, e fizesse referência às acções realizadas por
empresas brasileiras em Angola, com destaque para a Odebrecht. “Dr. Alex, aqui
está o documento. O dr. Marcelo pede-lhe a gentileza de encaminhar ao
seminarista”, escreveu Darci Luz, secretária de Marcelo, a Alexandrino Alencar.
“Seminarista” surge sempre como nome de código para o intermediário das
mensagens, que neste caso seria o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho.
No
dia seguinte, o Presidente brasileiro disse publicamente que Eduardo dos Santos
“soube liderar Angola na conquista da paz” e elogiou a sua “perseverança e
visão de futuro” – também mencionou o projecto da central hidroeléctrica de
Capanda, referido no e-mail de Marcelo Odebrecht como um exemplo da cooperação
entre os dois países.
Em
2007, Lula da Silva visitou Angola e, depois da análise dos e-mails, a Polícia
Federal, citada pelo jornal Estado de São Paulo, conclui: “Aparentemente, os
executivos da Odebecht mantêm contactos com autoridades da embaixada a fim de
colocar na agenda, no encontro, assuntos de interesse da construtora”.
Há
também e-mails que mostram Marcelo Odebrecht a participar activamente nas
discussões sobre contratos da Petrobras.
A
Lava Jato é uma investigação a uma gigantesca rede de corrupção que envolve a
empresa estatal petrolífera, Petrobras, e o pagamento de subornos por parte de
empresas para a obtenção de contratos. Envolve políticos do Partido dos
Trabalhadores (no poder), mas também de outros. A investigação já levou à
prisão de dezenas de responsáveis políticos – entre eles o ex-tesoureiro do PT,
João Vaccari – , de administradores de empresas e de empresários: além de
Odebrecht (entretanto envolvida também num caso de corrupção em torno da
construção dos estádios do Mundial 2014 e condenada no Brasil por uso de
trabalho escravo em Angola) está também detido o dono da construtora Andrade
Gutierrez.
(*)
In: Público - retirado de Folha 8
Sem comentários:
Enviar um comentário