COMENTARISTA
DO REGIME COM DECLARAÇÃO INTERESSANTE
O
comentarista de plantão do regime, Belarmino Van-Dúnem, sobre os ataques
terroristas em Paris, que fizerem mais de uma centena de mortos, fez uma
comparação hilariante e que não pode, numa sociedade civilizada, passar como se
não tivesses sido feita.
Diz
Belarmino Van-Dúnem que os membros do Estado Islâmico respondem desta maneira
face aos ataques da comunidade internacional nos seus respectivos países.
Ouvindo
o que diz este comentarista bajulador é caso para dizer que os extremistas têm
legitimidade porque a Europa Ocidental e os EUA invadem e bombardeiam os seus
países, esquecendo-se de dizer que também abre portas à recepção dos seus
refugiados.
Importa,
contudo, atentar que sssa declaração, que pode ser considerada irresponsável,
legitima os radicais da República Democrática do Congo, Costa do Marfim,
Guiné-Bissau e da República do Congo-Brazzaville a virem colocar bombas em
Angola e espalhar o luto e a dor ao nosso já sofrido povo.
Como
a bajulação tem memória curta, importa rememorar Belarmino Van-Dúnem, que
foram as tropas angolanas que entraram no ex-Zaire (actual República
Democrática do Congo), que derrubaram Mobutu Sesse Sekou, para colocarem no
poder Kabila pai.
Também
foram as FAA, que entraram na República do Congo Brazzaville e destituíram um
presidente democraticamente eleito, Pascal Lissouba, para recolocar no poder o
ditador, Dennis Sassou Nguesso.
Tal
como foram as mesmas tropas que invadiram a Costa do Marfim para ajudar
Laurent Gbagbo a continuar a guerra no seu país para se perpetuar no poder,
recusando-se a cumprir o resultado eleitoral e, ainda, na Guiné-Bissau, a
inspirar um golpe de Estado, por apoio excessivo a Carlos Gomes Júnior, com a
entrada de material bélico e militares, sem conhecimento dos outros órgãos do
poder guineense.
Ora
na lógica de Belarmino, os radicais destes países podem vir a Angola e
começar a colocar bombas a torto e a direito, porque as tropas do regime foram
invadir os seus países.
É
isso, caro Belarmino? Às vezes a bajulação cega leva a darmos tiros nos próprios
pés.
Laurent
Gbagbo pôs o povo a votar, mas como não explicaram tudo, ele esqueceu-se (como
fez em Angola o seu grande amigo José Eduardo dos Santos) de pôr os mortos a
votar. Vai daí, perdeu. Perdeu mas não saiu.
Relembre-se
a Belarmino Van-Dúnem, mas não só, que Laurent Gbagbo ordenou a “requisição”
das agências no país do Banco Central dos Estados da África Ocidental (BCEAO),
ao que o presidente eleito, Alassane Ouattara, respondeu ordenando o seu “encerramento”.
O
pessoal das agências do BCEAO foi requisitado para “assegurar os serviços
ordinários” dos estabelecimentos, lê-se num decreto presidencial assinado por
Gbagbo, que se autoproclamou presidente.
Acrescente-se
que Laurent Gbagbo não só se autoproclamou presidente como recebeu o apoio,
sobretudo militar, dos seus amigos mais democratas, casos de Eduardo dos
Santos e Robert Mugabe.
Alassane
Ouattara, o presidente reconhecido pela comunidade internacional mas que se
arriscou a ser presidente de coisa nenhuma, reagiu a esta medida
qualificando-a de “ilegítima, ilegal e, como tal, sem efeito” e anunciou “o encerramento”
das agências do banco regional no país.
O
decreto de Laurent Gbagbo foi conhecido depois de Philippe-Henry Dacoury-Tabley,
governador costa-marfinense do BCEAO, considerado um próximo do presidente
cessante, ter sido forçado a demitir-se. O governador foi acusado de ter
desrespeitado as ordens da União Económica e Monetária da África Ocidental,
que considerou Ouattara o presidente legítimo, e ter autorizado o levantamento
de cerca de 90 milhões de euros para o regime de Gbagbo.
No
caso de Joseph Kabila, relembre-se que ele não acreditou na capacidade do seu
exército, e muito menos nas forças da ONU, para fazer frente ao general
Laurent Nkunda. Acreditou, contudo, na capacidade bélica do maior e melhor
exército da região, o de Angola. E este, pela calada da noite e entre os
devaneios de uma solução política sugerida pelos enviados de Paris e Londres,
Bernard Kouchner e David Miliband, mandou para Kinshasa o melhor do seu
exército.
O
general Nkunda foi obrigado a perceber que as FAA não são as FARDC - Forças
Armadas da RDCongo. Kabila para se defender do lobo Nkunda pediu ajuda ao leão
angolano. E esse leão derrotou o lobo e quando entender vai comer o Kabila.
Isto
se, interpretando a tese de Belarmino Van-Dúnem, não resolveram vir para cá
fazer uns atentados terroristas, legitimados pela teoria de que a política a
seguir deve ser a de olho por olho, dente por dente. Se o fizerem ainda vamos
ver os “belarminos” da praça ficar cegos e desdentados.
Folha
8 digital
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