David
Mendes protesta pelo facto de a procuradora usar uma máscara que lhe esconde o
rosto. Domingos da Cruz foi ouvido hoje.
O
julgamento dos 17 activistas prosseguiu hoje no Tribunal Provincial de Luanda,
em Benfica, com o depoimento de Domingos da Cruz, o autor do livro Ferramentas
para destruir o ditador e evitar nova ditadura, que tem sido usado pelo
Ministério Público como uma das provas para acusar os arguidos dos crimes de
actos preparatórios de rebelião e atentado contra o presidente da República. A
sessão de hoje acabou por volta das 16h50.
No
entanto, a grande novidade do dia é a de o facto da defesa dos activistas
desconfiar que só lhes foi permitido ter acesso ao processo no primeiro dia do
julgamento porque a filha de David Mendes, um dos advogados que defende os
activistas, pode estar implicada no caso.
“Hoje
compreendi uma das coisas que levou a não nos darem o processo: a confiança.
Está no processo uma fotografia da minha filha, onde está escrito filha de
David Mendes. Porquê?”, questiona sem dizer qual filha, mas tudo leva a crer
que é a também activista Rosa Mendes, que até agora nunca havia sido
citada no processo. Até agora o advogado não sabe a razão para a inclusão da
fotografia no processo.
“Estamos
só no terceiro declarante. Quem está a ser ouvido agora é o Domingos da Cruz.
Esperamos que o depoimento dele termine hoje, mas a verdade é que esse
julgamento não termina nos próximos dias. Estamos a ver que teremos por aí duas
semanas no mínimo para esse julgamento terminar”, reforçou o advogado David
Mendes o que já havia declarado anteriormente ao Rede Angola.
De
acordo com o despacho da pronúncia nº 0041/15, do Processo nº0125-A / 15, a
participação dos 17 arguidos num curso, que tinha como base o livro de Domingos
da Cruz, tinha como finalidade promover, através de acções específicas com
o envolvimento de diferentes grupos da sociedade civil, a paralisação da
acção política, administrativa e jurídica do Estado angolano e desencadearia a
formação de um Governo de Salvação Nacional.
Para
o Ministério Público, o curso de oito semanas, baseado em pesquisas, debates e
discussão das tácticas abordadas no manual Ferramentas para destituir o
ditador e evitar nova ditadura – Filosofia Política da Libertação para
Angola (disponível
aqui), tinha como objectivo a “destituição dos órgãos de soberania e a
substituição dos seus titulares por outros da conivência” do grupo.
Durante
toda a manhã, os juízes ouviram o arguido Hitler Chiconda, que começou o
seu depoimento ontem, a seguir ao activista Manuel Chivonde Baptista Nito
Alves, que foi ouvido por cerca de nove horas.
“O
julgamento está indo bem no meu entender. Estamos a fazer uma mistura de
perguntas, mas também a debater as provas, a questionar vários elementos
acarretados como elementos de prova”, informou David Mendes. Mas reconheceu que
“em termos processuais estão a ser cometidos alguns erros que podem vir a
dar anulação no processo, se continuar, mas na generalidade o juiz está-se a
portar bem”.
David
Mendes disse também que “uma questão não muito clara” marcou ainda o julgamento
na tarde de ontem e voltou a ser colocada hoje: “A procuradora está a usar
uma máscara e ninguém sabe quem está lá escondida. Para nós isso é muito
grave. A procuradora representa o Estado e o Estado não pode se esconder. A
procuradora está a esconder o seu rosto, não quer que ninguém saiba quem ela é
e isso é grave”, lamentou o advogado fazendo menção ao corte de cabelo usado
pela procuradora, que esconde parte do seu rosto.
Rede
Angola – Foto: David Mendes com Luís Nascimento, outro dos advogados de defesa
- Ampe Rogério/RA
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