O
antigo representante do secretário-geral da ONU em África Victor Ângelo alertou
hoje que o grande fluxo de refugiados para a Europa se vai manter nos próximos
anos e que outro se seguirá, devido à "explosão demográfica" africana.
Para
Victor Ângelo, a solução para este problema "não é fácil" porque
passa por "travar o fluxo" na sua origem, ou seja, países como a
Síria, "onde há uma crise profunda há cinco anos", onde estão
instalados 1.300 grupos armados e onde um processo político vai levar um ano ou
dois a desenvolver-se e completar-se.
"Não
vai ser possível travá-lo já [o fluxo de refugiados para a Europa], vai demorar
algum tempo. Certamente, o ano de 2016 vai ser semelhante ao ano 2015 em termos
de grandes movimentos de massas. Provavelmente, em 2017, vamos ver um
afrouxamento desses movimentos. Mas na realidade, mesmo que se consiga resolver
o problema do Médio oriente, depois começa a surgir o problema de África",
afirmou.
Victor
Ângelo falava aos jornalistas à margem de uma conferência em Macau, em que foi
orador, dedicada ao tema dos refugiados e aos desafios que coloca à Europa.
O
antigo representante do secretário-geral da ONU em países como o Chade,
Zimbabué, Serra Leoa ou República Centro-Africana sublinhou que "do lado africano
há uma explosão demográfica que está em curso" e, "mais tarde ou mais
cedo", os jovens daquele continente procurarão uma solução de vida na
Europa.
A
este propósito, lamentou, durante a conferência, que a Europa tenha, por
exemplo, deixado de apoiar e financiar na década de 1980 programas agrícolas em
África, essenciais para fixar populações.
Para
Victor Ângelo, a resposta europeia à crise dos refugiados passa ainda, entre
outros aspetos, por uma "resposta comum", sublinhando que a questão
pode ter implicações ao nível da coesão da União Europeia e abrir espaço à
desintegração.
Outra
consequência que pode surgir é este problema ser explorado por partidos
europeus radicais "profundamente racistas" e "profundamente
antieuropeus", uma "combinação explosiva" que, aliás, é já uma
"tendência cada vez mais visível", considerou.
Para
Victor Ângelo, a resposta imediata que a UE tem tentado dar ao fluxo de
refugiados "não tem estado de modo algum à altura, antes pelo
contrário", apontando que apenas uma ou duas centenas de pessoas, das
centenas de milhares que chegaram em 2015 à Europa, viram os seus casos
encaminhados.
"Temos
de lado um 'iceberg' e do outro lado um cubo de gelo", ilustrou.
Victor
Ângelo sublinhou ainda, na conferência, a importância dos apoios às agências da
Nações Unidas que lidam com os refugiados, dizendo que a crise migratória deste
ano também coincidiu com uma "quebra muito importante" nas verbas do
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e outras
estruturas da ONU, que levaram à saída de milhares de pessoas dos campos de
refugiados onde se encontravam.
Esta
conferência foi organizada pelo Programa Académico da União Europeia para
Macau, em parceria com a Fundação Rui Cunha e a Associação de Imprensa em
Língua Portuguesa e Inglesa de Macau.
Victor
Ângelo integra atualmente a organização não-governamental suíça PeaceNexus e é
consultor da NATO.
MP
// EL - Lusa
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