Ana
Alexandra Gonçalves*
A
direita anda de cabeça perdida e quando considerávamos que tudo estava a ir a
descarrilar, Passos Coelho,consegue ir ainda mais longe, muito longe, longe
demais. Clamar por uma revisão constitucional extraordinária “para que o
Parlamento possa ser dissolvido” é simplesmente ridículo, mas utilizar
expressões como “ Se não querem governar como golpistas...” e “… se preferirem
governar como quem assalta o poder...” ou ainda “fraude eleitoral e um golpe” é
absolutamente irresponsável e inaceitável. Passos Coelho não é um comentador, é
ainda primeiro-ministro (derrotado) e tem naturalmente responsabilidades
acrescidas.
Paralelamente,
toda a retórica de Passos Coelho é falsa. Existe não só legitimidade, como tudo
isto, num país com alguma cultura democrática, seria considerado normal, ao
contrário do que o ainda primeiro-ministro insiste em afirmar.
Coelho
e os seus acólitos preferem acicatar os ânimos de uma direita desesperada que
alimenta a esperança – a última – que Cavaco Silva não indigite António Costa.
De resto, há muito a perder quando o poder lhes foge das mãos.
Esta
crise, alimentada por Cavaco Silva, tem tido o condão de nos conceder uma
multiplicidade de ensinamentos: a direita consegue arrumar a democracia na
gaveta, com uma facilidade extraordinária, embora já tivesse existido no
passado sinais inquietantes – afinal de contas, este foi o Executivo que mais
governou contra a Constituição da República Portuguesa. Esta crise mostra
também que o famigerado interesse nacional, quando necessário, é igualmente
arrumado numa gaveta. E, finalmente, esta crise é sintomática de uma gravíssima
ausência de cultura democrática, também daqueles que são representantes eleitos
do povo.
Tudo
isto é triste e tudo isto continuará a ser alimentado por um Presidente da República
que envergonha os próprios valores republicanos, desde logo ao não respeitar a
vontade dos cidadãos.
*Ana
Alexandra Gonçalves – Triunfo da Razão – Imagem em canal #moritz
@Ptnet
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