Um
especialista em questões ambientais lamentou hoje que, apesar de Portugal ser
um dos países mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, o tema
não faça parte das preocupações dos responsáveis políticos.
"Achei
algo surpreendente que em toda a campanha eleitoral para as eleições da
Assembleia da República este tema das alterações climáticas tivesse
praticamente omisso porque Portugal é dos países mais vulneráveis" às suas
consequências, argumentou Filipe Duarte Santos.
A
justificação, avançou, pode estar relacionada com o facto de muito do que se
passa e do financiamento atribuído aos efeitos da mudança do clima ser
proveniente da União Europeia e ser tomado como garantido, levando ao
afastamento do tema das análises políticas e partidárias.
"O
que acontece no nosso país é que muito do se passa e do financiamento que
existe para as questões ambientais vem de Bruxelas e, portanto, é uma coisa que
é tomada como garantida, não há propriamente uma discussão no sentido de ver qual
o caminho mais adequado, o melhor do vista de custo-benefício", salientou
à agência Lusa.
O
professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa falava à Lusa a
propósito da realização da conferência das partes das Nações Unidas para as
alterações climáticas (COP21), a partir de 30 de novembro, em Paris, que vai
juntar vários responsáveis políticos de todo o mundo para obter um acordo
visando a redução da emissão dos gases com efeito de estufa.
As
emissões são apontadas como as principais responsáveis pelas alterações
climáticas, provocando fenómenos extremos mais frequentes, das cheias e
inundações, às ondas de calor e tempestades nas orlas costeiras.
Para
Filipe Duarte Santos, "em Portugal, como em Espanha, no sul da Europa e no
norte de África, os impactos são bastantes gravosos".
Aliás,
especificou, no sul do país "tem-se observado desde 1960, ou seja, há mais
de meio século, uma redução da precipitação média anual que, por década, é da
ordem de 39 milímetros, valor significativo tendo em atenção que a precipitação
média anual em certas regiões do Alentejo é da ordem de 500 milímetros".
"Estamos
já a assistir a uma mudança climática significativa que tem impactos ao nível
dos recursos hídricos, da agricultura, aumenta o risco dos incêndios florestais,
devido às ondas de calor e à precipitação mais baixa, e também na zona
costeira", além dos efeitos na saúde, especificou o especialista.
Portugal
tem efetivamente um percurso a fazer na adaptação à mudança climática no
sentido de criar condições para minimizar os seus efeitos adversos, mas também,
defendeu, na tentativa de aproveitar algumas oportunidades que esta possa
trazer em alguns setores sócio económicos.
"Penso
que há bastante a fazer no futuro neste setor no sentido de nos prepararmos
para uma mudança climática que já está em curso e que se poderá, muito
provavelmente, agravar", alertou Filipe Duarte Santos.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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