Manlio
Dinucci*, Roma
Bandeiras
a meio mastro nos países da Otan pelo "11 de setembro da França",
enquanto o presidente Obama anunncia aos meios de comunicação : "Nós lhes
forneceremos informações sérias sobre quem são os responsáveis". Sem que
seja necessário esperar, já está claro. O enésimo massacre de inocentes foi
provocado pela série de bombas de fragmentação geopolítica, que explodiram
segundo uma estratégia precisa.
Esta
foi aplicada desde que os Estados Unidos, depois de terem vencido a
confrontação com a União Soviética, autonomearam-se "o único Estado com
uma força, uma envergadura e uma influência em todas as dimensões – política,
econômica, militar – realmente globais", propondo-se "impedir que
qualquer potência hostil domine uma região – a Europa ocidental, a Ásia
oriental, o território da ex-União Soviética e a Ásia sudoeste - onde os
recursos seriam suficientes para gerar uma potência global". Com esse
objetivo, os Estados Unidos reorientaram desde 1991 a sua própria estratégia e,
em acordo com as potências europeias, a da Otan.
Desde
então, foram fragmentados ou demolidos com a guerra (aberta ou encoberta), uns
após outros, os Estados considerados como um obstáculo ao plano de dominação
global - Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia etc. – enquanto
que outros mais (incluindo o Irã) ainda estão na mira. Essas guerras, que
esmagaram milhões de vítimas, desagregaram sociedades inteiras, criando uma
massa enorme de desesperados, cuja frustração e rebelião conduzem, de uma
parte, a uma resistência real, mas de outra são exploradas pela CIA e outros
serviços secretos (inclusive franceses) para seduzir os combatentes a uma
"jihad" de fato funcional à estratégia dos Estados Unidos e da Otan.
Assim
se formou um exército sombrio, constituído por grupos islamitas (frequentemente
concorrentes) utilizados para minar desde o interior o Estado líbio enquanto a
Otan o atacava, depois por uma operação análoga na Síria e no Iraque. Disto
nasceu o Isis (EI), no qual confluíram os "foreign fighters" (combatentes
estrangeiros), entre os quais agentes de serviços secretos, que recebeu bilhões
de dólares e de armas modernas da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes,
aliadas dos EUA e em particular da França. Esta estratégia não é nova: há mais
de 35 anos, para derrubar a URSS na "armadilha afegã", foram
recrutados por meio da CIA dezenas de milhares de mudjahedins de mais de 40
países. Entre esses o saudita rico Osama Bin Laden, chegado ao Afeganistão com
quatro mil homens, o mesmo que iria em seguida fundar a Al Qaeda tornando-se o
"inimigo número um" dos EUA. Washington não é o aprendiz de
feiticeiro incapaz de controlar as forças postas em ação. Ele é o centro
propulsor de uma estratégia que, demolindo Estados inteiros, provoca uma reação
caótica em cadeia de divisões e conflitos a utilizar segundo o método de
«dividir para reinar».
O
ataque terrorista em Paris, cometido por uma mão de obra convencida de golpear
o Ocident, aconteceu numa perfeita oportunidade no momento em que a Rússia,
intervindo militarmente, bloqueou o plano dos EUA e da Otan de demolição do
Estado sírio e anunciou contramedidas militares à crescente expansão da Otan
para o Leste. O ataque terrorista, criando na Europa um clima de estado de
sítio, «justifica» um crescimento em poder militar acelerado dos países
europeus da Otan, incluindo o aumento de suas despesas militares reclamadas
pelos EUA, e abre o caminho a outras guerras sob o comando estadunidense.
A
França que até o presente tinha conduzido "contra o Estado Islâmico na
Síria apenas ataques esporádicos", escreve o New York Times, efetuou na
noite de domingo "em represália, o ataque aéreo mais agressivo contra a
cidade síria de Raqqa, atingindo alvos do EI indicados pelos Estados
Unidos". Entre os quais, esclarecem funcionários estadunidenses,
"algumas clínicas e um museu".
Manlio Dinucci*
- Voltaire.net - Tradução José Reinaldo
Carvalho - Editor do site Vermelho -
Fonte: Il
Manifesto (Itália)
*
Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações :Laboratorio
di geografia, Zanichelli 2014 ;Geocommunity Ed.
Zanichelli 2013 ; Escalation.
Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005.
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