quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

AUTONOMIA E LIVRE COOPERAÇÃO: DUAS PRÁTICAS DA NOVA CULTURA POLÍTICA



Rui Peralta, Luanda

As práticas de comunização do saber, de assistência mutua e de trabalho cooperativos esboçam lógicas alternativas de vida social e económica. A lógica normativa dominante caracteriza-se: 1) pela difusão de normas de concorrência ao conjunto das actividades, em todos os sectores, difundidas por todo o mercado através das grandes empresas e grupos empresarias e do Estado (que promove estas normas nos serviços públicos); 2) modelo exclusivo, único, de empresa. Nada é feito fora da empresa, transformada em micro-universo concentracionário, onde cada um identifica-se com a empresa ou com o capital que deve autovalorizar-se.

O problema mais grave nas democracias representativas do Ocidente, nos tempos que correm, é o entrelaçamento entre as oligarquias económicas e as oligarquias políticas, entrelaçamento que a crise permanente acabou por originar uma oligarquia de duas faces. Como resultado a dominação oligárquica tem, paulatinamente, sobreposto às formas democráticas de representação e de participação. Este domínio é muito mais visível no plano económico (austeridade, privatizações, etc.) do que no plano político (embora neste nível as oligarquias têm tido “empurrões” diversos com base nos atentados terroristas dos grupos fascista islâmicos e no fortalecimento da “industria da segurança”).

Na tentativa de estancar este processo a esquerda política tenta a fórmula tradicional que aponta o Estado contra o mercado, fórmula errónea, que retirou o mercado da vida social e empurrou-o abertamente para o domínio oligárquico, perante os falhanços e as falências estatistas. As democracias representativas estão a ser esvaziadas. A primazia do Poder Legislativo desapareceu, em benefício da primazia do executivo, ameaçando o equilíbrio originado pela divisão de poderes. A adulteração das relações de mercado originou que este ultrapassasse a sua esfera social.

As empresas devem reassumir o seu lugar como projectos, com princípios de gestão alicerçados na participação e na cooperação. O mercado tem a sua construção histórica e pluridimensional. Não é responsável pelos males que afectam a sociedade contemporânea, na medida em que o mercado foi destruturado pela lógica oligárquica que assumiu o controlo das operações. É uma esfera da vida social que prima pelas relações de troca, pelas práticas de comercialização e da produção. Não é o centro da actividade social, assim como o Estado não é o centro da actividade politica e muito menos da sociedade.

Não existe um fosso que separa irremediavelmente a esfera económica da esfera jurídica. Há que romper com essa ideia, de que o direito, o jurídico, é uma superestrutura e a produção uma infra-estrutura. As relações jurídicas são parte integrante das relações de produção e estas têm a sua esfera específica na vida social, que é o mercado, mas as relações jurídicas não se esgotam aí, estendem-se por todas as esferas da vida social.

A democratização da vida económica implica serviços e bens que favorecem o bem-estar de todos. Este pressuposto foi muitas vezes confundido com o conceito de Estado Social (Welfare State) o que desapossou os actores sociais da sua capacidade de deliberação e de decisão. Como resultado o Estado Social acabou por cavar a sua própria sepultura e hoje vive a agonia da falta de sustentabilidade. A resposta não consiste em reconstruir o Estado Social mas em como criar sustentabilidade e ao mesmo tempo ampliar os seus benefícios, não sob a forma exclusiva de um serviço de Estado, mas sob a forma de um Serviço Público socialmente autónomo.

É necessário criar instituições novas que permitam aos usuários (consumidores, produtores e prestadores) dar a sua opinião, controlar as suas decisões e gerir os seus recursos. Quanto às empresas - privadas, mistas ou públicas – devem ser projectos de reinvenção constante assentes em valores inovadores, alternativos e criativos, que optimizem os seus níveis de produtividade e que criem novos paradigmas de competitividade e de cooperação. Projectos para o sujeito e em função do sujeito e não para a extrapolação do objecto. Experimentem…

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