Sánchez
e Rajoy vão recandidatar-se à liderança dos partidos. Iglesias impõe condições
aos socialistas, enquanto Rivera avisa que não irá para o governo
No
meio da incerteza política saída das eleições em Espanha deste domingo, ontem
havia já duas certezas: o PSOE vai votar sempre contra um governo de Mariano
Rajoy e do PP, o partido mais votado, mas com apenas 123 dos 176 deputados
necessários para uma maioria absoluta, enquanto Albert Rivera garante que o
Ciudadanos vai estar na oposição. O Podemos de Pablo Iglesias, o grande
vencedor deste escrutínio, está disposto a apoiar um executivo socialista, mas
mediante algumas condições. Proposta que Pedro Sánchez não rejeita por
completo.
"O
PSOE atuará com prudência e responsabilidade e é o PP que deve tentar formar
governo, mas o PSOE vai votar não à tomada de posse de Mariano Rajoy",
afirmou ontem o secretário de Ação Política do PSOE, César Luena, transmitindo
uma decisão de Sánchez.
Como
partido mais votado, cabe ao PP tentar formar governo. Mas a perda da sua
maioria absoluta obrigará Mariano Rajoy a negociar alianças - precisaria do
apoio ou abstenção do Ciudadanos e a abstenção do PSOE para evitar que todas as
outras forças políticas bloqueassem a sua tomada de posse.
"Deve
governar o partido com mais votos. Desde 1977 que sempre governou o partido com
mais apoio", afirmou Rajoy, ontem ao início da noite, numa reunião da
comissão executiva do PP. "Não falei nem tomei a decisão de começar
negociações, mas não vou aceitar que se viole a soberania nacional",
acrescentou, referindo que já havia falado com Sánchez, trocado mensagens com
Rivera e recebido um sms de Iglesias. E admitiu que "não se pode governar
sem apoio".
Esta
reunião do PP ficou marcada pela presença de José María Aznar, após uma
ausência de quatro anos. O ex-governante pediu a Rajoy para realizar um
congresso "aberto" e garantiu que não iria candidatar-se à liderança.
No final do encontro de ontem, Rajoy anunciou que vai recandidatar-se à chefia
do PP no congresso, que se realiza na primavera, mas não disse se iria fazer a
vontade a Aznar.
Do
lado do Ciudadanos, agora o quarto maior partido de Espanha, com 40 deputados,
uma coligação com o PP é carta fora do baralho. "Não vamos fazer parte de
nenhum governo. Estaremos na oposição", declarou ontem à tarde o líder do
partido.
Albert
Rivera pediu ainda aos socialistas para esclarecerem o mais depressa possível
se vão coligar-se à esquerda para formar governo, pois "a Espanha não pode
esperar". "Precisamos de saber se o PSOE quer esta legislatura ou
bloqueá-la, levando a novas eleições", afirmou. "Este país não pode
estar parado. Peço ao PP e ao PSOE que pensem em Espanha e permitam o início da
legislatura", acrescentou.
Outro
cenário possível é uma coligação entre PSOE e Podemos, algo que, de acordo com
o ABC, Pedro Sánchez admite como possibilidade, apesar da pressão de
Felipe González e outros barões socialistas. Do lado dos socialistas, sabe-se
já também que Sánchez irá concorrer à reeleição como secretário-geral no
próximo congresso do partido.
Enquanto
o PSOE não se decide publicamente sobre uma coligação com o Podemos, Pablo
Iglesias garantiu ontem que não irão viabilizar, "nem com voto contra nem
com abstenção", qualquer governo de Rajoy. E deixou um recado aos
socialistas: só terão o apoio do Podemos se concordarem com um referendo na
Catalunha.
Derrota
da austeridade
Bruxelas
reagiu ontem com cautela aos resultados das eleições em Espanha, pedindo que o
novo governo seja "estável" apesar de "todas as dificuldades".
"A Comissão Europeia toma nota dos resultados das eleições em Espanha.
Felicitamos o presidente Rajoy por ter ganho o maior número de deputados",
declarou uma porta-voz comunitária.
Cautela
também parece ser a palavra de ordem na Alemanha. "A situação neste
momento só nos permite felicitar o povo espanhol pela elevada participação, no
entanto, não é claro quem se deve felicitar nesta situação", afirmou fonte
do gabinete de Angela Merkel.
Já
para o primeiro-ministro italiano, de centro-esquerda, o falhanço do PP em
manter a maioria absoluta é a prova da insuficiência da austeridade
implementada pela União Europeia. "Vai ser interessante ver se a Europa se
aperceberá de que a política tacanha de rigor económico e austeridade não leva
a lado nenhum", disse Matteo Renzi.
Também
Alexis Tsipras, que ao contrário de Pablo Iglesias nas legislativas gregas não
apoiou presencialmente a campanha do Podemos, considerou que os resultados das
eleições espanholas foram um sinal de que "a Europa está a mudar".
"A austeridade foi derrotada politicamente também em Espanha. As forças da
defesa da sociedade entraram ativamente na cena política", afirmou o
primeiro-ministro grego e líder do Syriza.
Ana
Meireles – Diário de Notícias - Foto: Reuters / Sergio Perez
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