Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
No
final de 2013, o Governo Passos Coelho injetou 1100 milhões de euros no Banif.
Assegurou sempre que a operação não teria qualquer custo para os contribuintes
e até renderia vantajosos juros a favor do Estado. Feito dono do banco, com a
maioria do capital, o Governo preferiu deixar no banco a gestão privada, e
Passos colocou no Banif um só administrador, sem poderes executivos, António
Varela.
Durante
os anos em que o Banif beneficiou da ajuda do Estado, apresentou nada menos que
oito planos de reestruturação às autoridades europeias, todos chumbados. Apesar
disso, ao fim de quase dois anos como administrador do Banif, António Varela
foi promovido e recebeu a responsabilidade pela supervisão prudencial no Banco
de Portugal. Sob a governação de Carlos Costa, um dedo especial parece escolher
os protegidos de Passos e Portas.
Enquanto
o Banif escrevia planos para o caixote do lixo de Bruxelas, o Governo de
PSD/CDS dedicava-se a fazer cara de saída limpa. Já tinha sido difícil arrastar
o BES até à saída oficial da troika e deixá-lo explodir só depois. Agora, no
início de 2015, tudo estaria em jogo nas eleições. Nessa altura, uma resolução
ainda seria uma hipótese relativamente tranquila, a liquidez do banco ainda não
se tinha degradado, e era ainda possível desenhar uma solução que, penalizando
acionistas e outros grandes credores, minimizasse custos para os contribuintes.
Havia, acima de tudo, tempo para planear a integração dos ativos bons na Caixa
Geral de Depósitos, preservando os postos de trabalho.
Com
a colaboração do Banco de Portugal e da Comissão Europeia, a Direita, cujo
argumentário central passa por rejeitar a devolução de rendimentos porque isso
implicaria mais impostos no futuro, passou aos contribuintes de hoje a fatura
da sua "saída limpa".
Por
muito que esta história se repita, o tempo nunca volta atrás. Mas podemos
apurar e punir os responsáveis. O sistema bancário precisa de uma enorme
limpeza e de ficar sob controlo público de facto, não de novo reforço da esfera
privada. Os contribuintes não podem continuar a ser a garantia de que, na banca
privada, a má gestão é um crime que compensa.
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