sábado, 20 de junho de 2015

Palavra por palavra, proposta por proposta: o que Varoufakis pediu e a Europa rejeitou




Para que se informe e então avalie, para que se questione e depois o questione, para que possa elogiar ou criticar, caso pretenda lamentar ou exaltar, o Expresso traduziu na íntegra o que Varoufakis leu e apresentou na reunião de Eurogrupo de quinta-feira, que acabou como começou: em desacordo. A leitura é longa, mas recomendável e necessária para se perceber o que a Europa rejeitou e o que a Grécia pediu

Nota de Varoufakis no seu blogue pessoal, onde disponibilizou o discurso: “O único antídoto para a propaganda e para as 'fugas' malévolas é a transparência. Depois de tanta desinformação em torno da apresentação que fiz no Eurogrupo da posição do governo grego, a única resposta é publicar exatamente as palavras que proferi. Leiam-nas e julguem por si mesmos se as propostas do governo grego constituem ou não uma base para um acordo”. 

Colegas, 

Há cinco meses, na minha primeira intervenção no Eurogrupo, disse-vos que o novo governo grego enfrentava uma tarefa dupla: 

Temos de ganhar uma moeda preciosa sem desbaratar um importante capital.  

A moeda preciosa que tínhamos de ganhar era um sentimento de confiança, aqui, entre os nossos parceiros europeus e junto das instituições. Para obter essa moeda necessitaríamos de um pacote de reformas significativo e um plano de consolidação fiscal credível. 

Quanto ao capital  importante que não podíamos dar-nos ao luxo de desbaratar, esse era a confiança do povo grego, que teria de ser o pano de fundo de qualquer programa de reformas acordado que pusesse fim à crise grega. O pré-requisito para que esse capital não se perdesse era, e continua a ser, um só: a esperança tangível de que o acordo que levamos para Atenas:

. é o último a ser forjado em condições de crise;
. compreende um pacote de reformas que põe fim a uma recessão ininterrupta de seis anos;
. não atinge selvaticamente os pobres como as anteriores reformas atingiram;
. torna a nossa dívida sustentável, criando assim perspetivas genuínas do regresso da Grécia aos mercados, terminando a nossa dependência pouco digna dos nossos parceiros para pagar os empréstimos que deles recebemos.


Cinco meses passaram, o fim da estrada está à vista, mas este derradeiro ato de equilíbrio não se materializou. Sim, no Grupo de Bruxelas estivemos quase. Quase é quanto? Do lado dos impostos, as posições são realmente próximas, especialmente para 2015. Para 2016, o fosso restante representa 0,5% do PIB. Propusemos medidas paramétricas de 2% contra os 2,5% em que as instituições insistem. Esta diferença de meio por cento propomos eliminá-la através de medidas administrativas. Seria, digo-vos, um erro tremendo deixar que esta minúscula diferença causasse danos massivos na integridade da Zona Euro. A convergência foi também alcançada num vasto leque de questões. 

Ainda assim, não nego que as nossas propostas não instilaram em vós a confiança de que precisais. E, ao mesmo tempo, as propostas das instituições que o Sr. Juncker transmitiu ao primeiro-ministro Tsipras não podem gerar a esperança de que os nossos cidadãos necessitam. Assim, chegámos perto de um impasse. 

Assim, no último minuto e neste estado de negociação, antes de que acontecimentos incontroláveis tomem conta da situação, temos o dever moral, para não falar do dever político e económico, de ultrapassar este impasse. Não é altura para recriminações nem acusações. Os cidadãos europeus responsabilizar-nos-ão coletivamente, todos os que não conseguirem encontrar uma solução viável. 

Mesmo que, mal orientados por rumores de que a saída da Grécia pode não ser assim tão terrível, ou que possa até beneficiar o resto da Zona Euro, alguns estejam resignados a que isso aconteça, é um acontecimento que desencadeará poderes destrutivos que ninguém pode travar. Os cidadãos de toda a Europa não apontarão às instituições, mas aos seus ministros das Finanças, aos seus primeiros-ministros, aos seus presidentes. Ao fim e ao cabo, elegeram-nos para promover a prosperidade partilhada da Europa e para evitar  buracos que possam ferir a Europa. 

O nosso mandato político é encontrar um compromisso honroso e trabalhável. É assim tão difícil conseguir isto? Achamos que não. Há poucos dias, Olivier Blanchard, o economista-chefe do FMI, publicou um artigo intitulado "Grécia: um acordo credível vai requerer decisões difíceis de todas as partes". Tem razão. As quatro palavras significativas são "de todas as partes". O Dr. Blanchard acrescentava que: "no coração das negociações está uma questão simples. Que ajustamento tem de ser feito pela Grécia, que ajustamento tem de ser feito pelos seus credores oficiais?".  

Que a Grécia precisa de se ajustar não há dúvidas. A questão, porém, não é a quantidade de ajustamento que a Grécia precisa de fazer. É, pelo contrário, que tipo de ajustamento. Se por "ajustamento" queremos dizer consolidação fiscal, cortes de salários e pensões e aumento das taxas de juro, é claro que fizemos mais disso do que qualquer outro país em tempo de paz. 

. o défice fiscal, estrutural ou ciclicamente ajustado do setor público passou a superavit à custa de um ajustamento de 20% que bateu recordes mundiais;
. os salários caíram 37%;
. as pensões foram reduzidas até 48%;
. o número de funcionários públicos diminui em 30%;
. o consumo caiu 33%;
. até o crónico défice corrente do país caiu 16%.


Ninguém pode dizer que a Grécia não se ajustou às suas novas circunstâncias, do pós-2008. Mas o que podemos dizer é que este gigantesco ajustamento, necessário ou não, criou mais problemas do que resolveu: 

. o PIB agregado real caiu 27%, enquanto o PIB nominal continuou a cair quadrimestre sim, quadrimestre não ao longo de 18 quadrimestres sem parar até hoje;
. o desemprego disparou para os 27%;
. o trabalho não-declarado atingiu os 34%;
. a banca trabalha sob empréstimos não-produtivos que excedem em valor os 40%;
. a dívida pública ultrapassa os 180% do PIB;
. as pessoas jovens e bem qualificadas abandonam a Grécia aos magotes;
. a pobreza, a fome e a falta de energia registaram aumentos normalmente associados a estados de guerra;
. o investimento na capacidade produtiva evaporou-se.


Portanto, a primeira parte da pergunta do Dr. Blanchard - "que ajustamento tem de ser feito pela Grécia?" - precisa de ser respondida. A Grécia precisa de uma grande dose de ajustamento. Mas não do mesmo tipo que teve no passado. Precisamos de mais reformas, não precisamos de mais cortes. Por exemplo, 

. precisamos de nos ajustar a uma nova cultura de pagamento de impostos, não de elevar as taxas do IVA, que reforçam o incentivo para fugir ao pagamento e conduzem os cidadãos respeitadores da lei a uma maior pobreza;
. precisamos de tornar o sistema de pensões sustentável, erradicando o trabalho não remunerado, minimizando as reformas antecipadas, eliminando a fraude no fundo de pensões, fazendo aumentar o emprego - não erradicando a tranche solidária das mais baixas das baixas pensões, como as instituições exigem, empurrando dessa forma os mais pobres dos pobres para uma pobreza ainda maior e convocando uma hostilidade popular massiva contra outro conjunto de ditas reformas.


Nas nossas propostas às instituições oferecemos: 

. uma extensa (mas otimizada) agenda de privatizações abrangendo o período entre 2015 e 2025;
. a criação de uma autoridade de Impostos e Alfândegas completamente independente (sob a égide e supervisão do Parlamento)
. um Conselho Fiscal que supervisione o orçamento do Estado;
. um programa a curto prazo que limite o crédito mal parado e gira empréstimos não produtivos
. reformas dos códigos do processo judicial e civil
. liberalização de vários mercados de produtos e serviços (com salvaguardas para os valores da classe média e profissões que deles fazem parte e parcela do tecido social);
. reformas da administração pública (introduzindo sistemas limpos de avaliação dos funcionários, reduzindo custos não-salariais, modernizando e unificando as carreiras do setor público).


Juntamente com estas reformas, as autoridades gregas pediram à OCDE que ajudasse Atenas a desenhar, implementar e monitorizar uma segunda série de reformas. Quarta-feira, encontrei-me com o secretário-geral da OCDE, o Sr. Angel Gurria, e a sua equipa para anunciar esta agenda conjunta de reformas, completada com um mapa específico:

. um grande movimento anticorrupção e instituições relevantes para o apoiar;
. liberalização do setor da construção, incluindo o mercado e padrões de materiais de construção;
. liberalização do comércio por grosso;
. código de práticas dos media, eletrónicos e impressos;
. centros de negócios na hora que erradiquem os obstáculos burocráticos ao negócio na Grécia;
. reforma do sistema de pensões - onde a ênfase esteja num estudo completo, atual e a longo prazo, no faseamento das reformas antecipadas, na redução dos custos operacionais dos fundos de pensões, na consolidação da segurança social - em vez de nos meros cortes de pensões. 


Sim, colegas, os gregos precisam de se ajustar mais. Precisamos desesperadamente de reformas profundas. Mas exorto-vos a levarem seriamente em consideração esta importante diferença entre: 

. reformas que ataquem ineficiências ou comportamentos parasitas e oportunistas,
e
. mudanças de parâmetros que aumentem as taxas de juro e reduzem os benefícios dos mais fracos. 


Precisamos muito mais de reformas reais e muito menos de reformas de parâmetros. 

Muito se disse e escreveu acerca do nosso "recuo" na reforma do mercado de trabalho e quanto à nossa determinação para reintroduzir a proteção dos trabalhadores assalariados através da negociação coletiva. Será isto uma fixação de esquerda nossa que faz perigar a eficiência? Não, colegas, não é. Veja-se por exemplo a provação dos jovens trabalhadores em várias cadeias de lojas que são despedidos quando se avizinha o seu 24º aniversário, para que os empregadores possam contratar funcionários mais jovens e assim evitar pagar-lhes o salário mínimo normal que é inferior para empregados menores de 24 anos. Ou vejam o caso dos empregados que são contratados em part time por 300 euros ao mês, mas são obrigados a trabalhar a tempo inteiro e são ameaçados com a dispensa se se queixarem. Sem contratação coletiva, estes abusos abundam com efeitos nefastos na concorrência (uma vez que os patrões decentes competem em desvantagem com os que não têm escrúpulos), mas também com efeitos negativos nos fundos de pensões e na receita pública. Alguém seriamente pensa que a introdução de uma negociação laboral bem concebida, em colaboração com a OIT e a OCDE, constitui "reversão das reformas", um exemplo de "recuo"? 

Voltando por instantes à questão das pensões de reforma, muito foi feito para que as pensões contem por mais do que contavam no passado; tanto quanto 16% do PIB. Mas consideremos o seguinte: as pensões diminuíram 40% e o número de pensionistas mantém-se estável. Portanto, os gastos com pensões diminuíram, não aumentaram. Esses 16% do PIB não se devem a gastar mais em pensões, mas, pelo contrário, à dramática queda do PIB que trouxe com ela uma igualmente dramática redução nas contribuições devido à perda de empregos e ao crescimento do trabalho informal não-declarado.

O nosso alegado recuo na "reforma das pensões" é que suspendemos a ulterior redução das pensões que já perderam 40% do seu valor, enquanto os preços dos bens e serviços de que os pensionistas precisam, isto é, medicamentos, mal foram alterados. Considerem este facto relativamente desconhecido: cerca de um milhão de famílias gregas sobrevive hoje à custa da magra pensão de um avô ou de uma avó, dado que o resto da família está desempregada num país onde apenas 9% dos desempregados recebem qualquer subsídio de desemprego. Cortar essa única, solitária pensão corresponde a lançar uma família nas ruas. 

É por isso que continuamos a dizer às instituições que sim, precisamos de uma reforma do sistema de pensões, mas não, não podemos cortar 1% do PIB às pensões sem causar uma nova e massiva miséria e mais um ciclo recessivo, uma vez que estes 1,8 mil milhões multiplicados por um grande multiplicador fiscal (de até 1,5) é retirado do fluxo circular da receita. Se ainda existissem grandes pensões, cujo corte faria diferença a nível fiscal, cortá-las-íamos. Mas a distribuição das pensões está tão comprimida que poupanças dessa magnitude teriam de ir comer nas pensões dos mais pobres. É por esta razão, suponho, que as instituições nos pedem para eliminarmos o complemento solidário de reforma para os mais pobres dos pobres. E é por essa razão que contrapropomos reformas decentes: uma redução drástica, quase eliminação, das reformas antecipadas, consolidação dos fundos de pensões e intervenções no mercado de trabalho que reduzam o trabalho na economia paralela. 

Reformas estruturais promovem o crescimento potencial. Mas meros cortes numa economia como a grega só promovem a recessão. A Grécia deve ajustar-se através da introdução de reformas genuínas. Mas ao mesmo tempo, voltando à resposta à pergunta do Dr. Blanchard, as instituições têm de ajustar as suas definições de reforma promotora do crescimento - para reconhecerem que cortes de parâmetros e aumentos de impostos não são reformas e que, pelo menos no caso da Grécia, minaram o crescimento económico. 

Alguns colegas notaram no passado, e podem voltar a fazê-lo, que as nossas pensões são demasiado altas em comparação com os idosos dos seus países e que é inaceitável que o governo grego espere que eles mantenham o nosso nível de pensões de reforma. Deixem-me ser claro acerca disto: nunca vos pediremos para subsidiarem o nosso Estado, os nossos salários, as nossas reformas, a nossa despesa pública. O Estado grego vive dentro dos seus meios. Nos últimos cinco meses conseguimos mesmo, apesar de termos zero acesso aos mercados, pagar aos nossos credores. Tencionamos continuar a pagar. 

Compreendo as preocupações de que o nosso governo possa cair de novo no défice primário e que é essa a razão que leva as instituições a pressionarem-nos para aceitar grandes aumentos do IVA e grandes cortes nas reformas. Embora seja nosso entender que um acordo viável seria suficiente para fazer disparar a atividade económica o suficiente para produzir um saudável superavit primário, percebo perfeitamente bem que os nossos credores e parceiros possam ter razões para ser céticos e exigir salvaguardas; uma apólice de seguro contra o eventual resvalar do nosso governo para o desperdício de recursos. É o que está por detrás do apelo do Dr. Blanchard ao governo grego para que ofereça "medidas verdadeiramente credíveis". Então, ouçam esta ideia. Uma "medida verdadeiramente credível". 

Em vez de se discutir meio ponto percentual de medidas (ou se estas medidas fiscais devem ser ou não do tipo paramétrico), que tal uma reforma mais profunda, mais abrangente, mais permanente? Um teto para o défice que seja legislado e monitorizado pelo Conselho Fiscal independente com que nós e as instituições já concordámos. O Conselho Fiscal monitorizaria a execução do orçamento de Estado numa base semanal, lançaria avisos se uma meta de superavit primário parecesse estar a ser violada e, em certas ocasiões, lançaria reduções automáticas horizontais a todos os níveis para evitar a derrapagem abaixo do limiar previamente acordado. Dessa forma está ativado um sistema de alerta que assegura a solvência do Estado grego enquanto o governo grego mantém o seu espaço político de que precisa para manter a soberania e ser capaz de governar num contexto democrático. Este é um firme propósito que o nosso governo implementará imediatamente após um acordo. 

Dado que o nosso governo nunca mais precisará de pedir emprestado dinheiro aos vossos contribuintes nem aos contribuintes que estão atrás do FMI, não faz sentido um debate entre Estados-membros que competem para ver quem tem pensionistas mais pobres, instigando um nivelamento por baixo. Em vez disso, o debate avança para os pagamentos da dívida. Quão grandes têm de ser os nossos superavits? Alguém acredita seriamente que a taxa de crescimento é independente do conjunto de metas primárias? O FMI sabe bem que os dois números andam juntos e é por isso que a dívida pública grega deve ser olhada de uma só vez. 

O nosso grande serviço da dívida deveria ser encarado como uma grande labilidade fiscal infundada. Embora seja verdade que as partes EFSF e GLF da nossa dívida têm maturidades elevadas e a taxa de juro não é grande, a labilidade fiscal infundada do Estado grego, a nossa dívida, constitui um componente poderoso que impede hoje a recuperação e o investimento. Refiro-me aos 27 mil milhões de obrigações ainda detidos pelo BCE. É uma labilidade infundada a curto prazo que os potenciais investidores na Grécia olham e viram costas porque podem ver o fosso de fundos que esta parte da dívida cria instantaneamente e porque reconhecem que estes 27 mil milhões na contabilidade do BCE travam a Grécia e não a deixam aproveitar o programa de financiamento do BCE quando este programa está em desenvolvimento e atinge a sua máxima capacidade para vir em auxílio dos países ameaçados pela deflação. É uma cruel ironia que o país mais afetado pela deflação seja precisamente o que é excluído do remédio antideflacionário do BCE. E é excluído por causa destes 27 mil milhões. 

A nossa proposta é simples, eficaz e mutuamente vantajosa. Não propomos mais dinheiro, nem um euro para o nosso Estado. Imaginem o seguinte acordo em três partes a anunciar nos próximos poucos dias: 

Parte 1: Reformas profundas, incluindo o plafonamento do défice  que já mencionei. 

Parte 2: Racionalização do calendário de pagamentos da dívida grega segundo as seguintes linhas. Primeiro, para efetuar uma RECOMPRA DA DÍVIDA, a Grécia pede um novo empréstimo ao ESM, depois compra as obrigações ao BCE e retira-as. Para renegociar este novo empréstimo, concordamos que a agenda de reformas profundas é a condição comum para completar com êxito o atual programa e para assegurar o novo acordo ESM que entra em prática imediatamente depois e corre em concorrência com o continuado programa FMI até ao final de 2016. Os fundos a curto prazo assentes no cumprimento do programa corrente e no financiamento a longo prazo é completado com o retorno dos lucros SMP, ascendendo a 9 mil dos restantes 27 mil milhões, que vão para uma conta usada para satisfazer os pagamentos da Grécia ao FMI. 

Parte 3: Um programa de investimentos que impulsione a economia grega, fundado no Plano Juncker, o Banco de Investimento Europeu - com quem já estamos em conversações - o EBRD e outros parceiros que serão convidados a participar também em ligação com o nosso programa de privatizações e o estabelecimento de um banco de desenvolvimento que procure desenvolver, reformar e colateralizar bens públicos, incluindo propriedades imobiliárias. 

Alguém duvida verdadeiramente de que este anúncio em três partes mudaria dramaticamente o espírito, inspiraria os gregos a trabalharem duramente na esperança de um futuro melhor, convidaria investidores para um país cuja Bolsa caiu tanto e daria confiança aos europeus de que a Europa pode, no momento decisivo, fazer as coisas certas? 

Colegas, nesta encruzilhada é perigosamente fácil pensar que não há nada a fazer. Não caiamos na armadilha deste estado de espírito. Podemos forjar ainda um bom acordo. O nosso governo está de pé, com ideias e com a determinação de cultivar as duas formas de confiança necessárias para pôr fim ao drama grego: a vossa confiança em nós e a confiança do nosso povo na capacidade da Europa para produzir políticas que joguem a seu favor e não contra ele. 

Expresso – foto Francois Lenoir/Reuters

Portugal. ACUSAÇÃO A SÓCRATES SÓ EM 2016




MP admite que a acusação não estará concluída até ao final deste ano. José Sócrates terá de ser libertado antes, em novembro. Entretanto decorrem duas eleições

Na resposta enviada ao tribunal da Relação que analisou um recurso de José Sócrates sobre a especial complexidade do processo Marquês, o procurador Rosário Teixeira admite que a investigação ainda não está terminada, sendo a sua conclusão "imprevisível" mas "certamente" não antes da conclusão "do presente ano civil".  

O procurador do caso argumenta que ainda está à espera de uma reposta a uma carta rogatória enviada à Suíça e que há complexos circuitos financeiros ainda a reconstituir. E pessoas a ouvoir que estao " ausentes no estrangeiro". Mesmo assim garante ter " prova consolidada". Como Sócrates está preso preventivamente desde novembro do ano passado, o mais provável é que seja libertado antes da acusação estar pronta. O processo deverá atravessar as eleições legislativas, em setembro ou outubro. As presidenciais estão marcadas para janeiro. 

RUI GUSTAVO - Expresso

SÓCRATES E PASSOS SÃO GÉMEOS NA MALDADE – Paulo Morais



Gémeos do Mal

Em apenas dez anos, Sócrates e Passos destruíram as finanças públicas e desbarataram o património do estado. Podem ter nascido em partidos diferentes, mas são gémeos na maldade e no dano que provocaram ao país. Em primeiro lugar, temos José Sócrates a levar o estado à bancarrota, com os negócios ruinosos que celebrou. Foi no seu consulado que se contratou a maioria das parcerias público-privadas. Neste modelo de negócio, o estado assumiu todos os riscos e aos privados permitiram-se todos os ganhos. Vimos assim construtoras como a Mota-Engil a acumular ganhos obscenos e a ascensão meteórica do Grupo Lena.


Foi ainda da sua responsabilidade a nacionalização do BPN do grupo SLN (Sociedade Lusa de Negócios), com o estado a assumir prejuízos de cerca de sete mil milhões, enquanto os accionistas da SLN mantiveram intacto até hoje o seu património milionário.

Com as finanças públicas de rastos, chegou Passos que usou a bancarrota como pretexto para dividir os despojos pelos abutres. Passos privatizou tudo que restava, desde a EDP, num processo manchado pela promiscuidade entre decisores públicos que vendem e os adquirentes privados – aos CTT, pondo assim fim à única rede territorial de contacto do estado com os cidadãos. Com a venda ao desbarato da REN aos chineses, o estado perdeu o controlo sobre a rede eléctrica, um recurso estratégico vital. O governo chegou ao ponto de entregar os aeroportos ao grupo Vinci, que controla também a Lusoponte e, desta forma, os principais acessos a Lisboa. Em fim de mandato, privatiza a TAP, com o argumento de que é deficitária. Mais uma mentira, mais uma pechincha.

Entre 2005 e 2015, as PPP de Sócrates e as privatizações de Passos lesaram talvez irremediavelmente o estado português. Esta dupla de malfeitores provocou prejuízos que, se não arrepiarmos caminho, iremos pagar por toda uma geração. O que se impõe pois é a criação urgente de uma unidade de missão que reavalie todos os grandes negócios do estado realizados nos últimos dez anos. E, em cada caso, proponha a solução que mais interessa ao povo.

Paulo Morais – Portugal Glorioso

EDUARDO DOS SANTOS VENDE ANGOLA AOS CHINESES



VERDADE OU MENTIRA

Folha 8 digital (ao) – 20 junho 2015

O Presidente José Eduardo dos Santos foi à China munido de “armas” (propostas de venda do país) e bagagens vazias (para trazer milhões de dólares). Prestar contas da viagem de negócios é algo que, por só se aplicar nas democracias e nos estados de direito, não se enquadra em Angola. Mesmo quando os acordos valem por mais de uma centena de anos, penhorando o futuro de muitas gerações e incluem património público.

Angola foi, é e será um dos países prio­ritários para a China em África, con­tinente com o qual Pequim continuará a aprofundar o seu envol­vimento, de acordo com o centro de estudos norte­-americano Brookings. Num contexto de instabi­lidade crónica, a robustez petrolífera angolana agrada aos chineses.

Pequim garante todo o apoio ao MPLA (o que não é, ou não deveria ser, sinó­nimo de Angola), dizendo mesmo que a eventual ajuda abarca tudo quanto for necessário. Por outras palavras, baste um sinal de Luanda e a ajuda – seja ela qual for – aterra de imediato na nossa capital.

No artigo “África na Po­lítica Externa da China”, publicado pela Brookings, o analista Yun Sun identifi­ca como sinais de evolução na relação entre a China e os países africanos o au­mento do investimento na formação de recursos hu­manos africanos e ainda o fomento de programas de responsabilidade social no continente.

“Nos próximos anos, o en­volvimento da China em África deverá crescer”, diz o analista, prevendo que o sistema actual se “actualize adoptando soluções rápi­das para alguns problemas sociais”.

Actualmente, afirma o do­cumento, “as actividades económicas da China estão a um nível sem preceden­tes”, uma tendência que também coloca desafios.

Para Yun Sun, recomenda­-se uma reconsideração es­tratégica mais profunda da relação, na qual é hoje prioritário aceder a recursos naturais africanos e a este mercado em crescimento, como estímulo ao crescimento económico chinês.

Sendo Angola em África o maior fornecedor de petró­leo à China, a par do Sudão, o estudo dá grande desta­que ao papel do nosso país, antevendo que Luanda funcionará como um entre­posto para todas as activi­dades chinesas, sobretudo as de índole económica.

Os dois países estabelece­ram em 2010 uma parceria estratégica, com a China a fornecer linhas de crédito e Angola a pagar com petró­leo, que fez com que o co­mércio bilateral aumentas­se mais de 2 mil por cento entre 2002, final da guerra civil, e 2012, fazendo de An­gola o segundo principal parceiro da China de en­tre os oito países de língua portuguesa. Esse acordo foi agora alargado pelo punho divino de Eduardo dos San­tos, dando a Pequim hecta­res e hectares e hectares de terras aráveis e de subsolo muito rico, por um período que vai chegar ao Século 22.

De acordo com os dados oficiais, as trocas comerciais entre os dois países ascenderam a 35,91 mil mi­lhões de dólares em 2013, com a China a vender a Angola produtos no valor de 3,96 mil milhões de dó­lares e a comprar mercadoria (pe­tróleo) cujo valor ascendeu a 31,94 mil milhões de dólares.

Segundo Yun Sun, as priorida­des de Pequim fazem com que o Ministério do Comércio chinês se mostre “natural­mente inclinado” a consig­nar grande parte dos apoios externos a países que ofe­recem mais oportunidades e benefícios comerciais à China.

Uma vez que o interesse económico chinês está vi­rado para recursos naturais africanos, são os países ri­cos em recursos a mere­cer mais atenção, como é o caso de Angola. Eduardo dos Santos ter-se-à curva­do, assinado e vislumbrado logo os benefícios para o seu clã.

O nível de apoio a Angola foi de tal ordem e o regi­me de ajuda tão eficaz que acabou por ser alargado a outros países com o nome de “Modelo Angola” – acor­dos de financiamento com baixas taxas de juro para os países africanos, garantidos com o fornecimento de matérias-primas e explora­ção directa de tudo e mais alguma coisa.

“Estes países têm grande dificuldade em obter finan­ciamento nos mercados fi­nanceiros internacionais e a China fez com que esse financiamento estivesse relativamente disponível”, escreveu Yun Sun.

Angola completou o pri­meiro empréstimo ga­rantido por petróleo em Março de 2004 e, segun­do o analista, as linhas de financiamento ajudaram as petrolíferas chinesas a assegurar contratos de ex­ploração.

Em 2005, a aquisição pela Sinopec do Bloco 3/80 coincidiu com o anúncio de um novo empréstimo de 2 mil milhões de dóla­res a Angola, e em 2010, a mesma petrolífera estatal chinesa comprou 50 por cento do Bloco 18, ao mes­mo tempo que a primeira parcela de um empréstimo do Banco de Exportações e Importações da China.

Entre 2004 e 2011, segundo a investigadora Deborah Brautigam, a China efec­tuou negócios sem prece­dentes com pelo menos 7 países ricos em matérias­-primas, com um valor próximo de 14 mil milhões de dólares.

Luanda recebeu no iní­cio de Maio do ano pas­sado a visita oficial do primeiro-ministro chinês Li Keqiang, inserida numa digressão pelo continente africano que o levou à Etió­pia, Nigéria e terminou no Kénia.

Os países assinaram dois acordos, um para a supres­são de vistos diplomáticos e o segundo no domínio financeiro, após um en­contro entre Li Keqiang e o Presidente angolano José Eduardo dos Santos.

Entre 2009 e 2013, as ex­portações chinesas de ar­mas cresceram para 6 por cento do total, ultrapassan­do a França (5 por cento), e ficaram a apenas um ponto percentual da Alemanha (7 por cento), o terceiro ex­portador mundial do sec­tor, indicou o China Daily, citando um relatório do Stockholm International Peace Research Institute. Antes daquele período, a China detinha 2 por cen­to do mercado, precisou o Global Times.

“O progresso da indús­tria militar foi consegui­do graças ao aumento do investimento nesta área”, disse um investigador da Academia de Ciências Mi­litares das Forças Armadas chinesas.

Além disso, “o preço das armadas produzidas pela China é competitivo e o país é hábil na combinação das tecnologias usadas por outros”, salientou o mesmo especialista.

Nos últimos cinco anos, EUA e Rússia asseguraram mais de metade das ven­das, com 29 por cento e 27 por cento do total, respec­tivamente.

A China vendeu armas a 35 países, com o Paquistão, Bangladesh e Birmânia a representarem quase três quartos das vendas.

Juntamente com o Paquis­tão, a China é também um dos maiores importadores de armamento, a seguir à vizinha Índia, indicou a mesma fonte. Emiratos Árabes Unidos e Arábia Saudita ocupam o quarto e quintos lugares na lista de importadores de arma­mento.

Embora, como acontece desde que José Eduardo dos Santos chegou ao po­der (1979), o segredo seja a alma das negociatas do re­gime, sabe-se que o recen­te acordo entre a Chima e Eduardo dos Santos, prevê a entrega de, pelo menos, 500 mil hectares de terra arável e de subsolo rico aos chineses, situada na pro­víncia do Kuando Kubango e com uma validade de uso e controlo superior a 100 anos.

Dizem alguns observado­res que, por deficiência de informação, ainda não per­ceberam que Angola não é um país mas, apenas, um reino unipessoal de José Eduardo dos Santos, o acto do rei (não ) é um crime de lesa pátria (mas se tra­tando de um Presidente da República), é um crime contra os angolanos que, assim, não só vêem o que é seu nas mãos dos chine­ses, como se transformam em escravos na sua própria terra.

É claro que Eduardo dos Santos parece não estar nada preocupado. Sabe que tem uma oposição domesticada, rendida aos benefícios da lagosta, e uma sociedade civil que por força da barriga vazia vai continuar serena. Além disso, goza dos privilégios de quem é rei de um “país” que até está no Conselho de Segurança da ONU.

Para dar um ar de que não estão domesticados, oposi­ção e líderes da sociedade civil, aparecem a dizer que Eduardo dos Santos violou a Constituição e até pôs em causa a soberania angola­na. Tudo isso é verdade. Mas não passa disso. E isso não fará com que Eduardo dos Santos caia do pedes­tal, não fará com que An­gola seja uma democracia e um Estado de Direito.

Tendo na mão todos os cordelinhos que movi­mentam o rei, os chineses já não se contentam com o petróleo e querem mais, muito mais. Pequim orde­na e Luanda aceita, servil­mente. A bem dos angola­nos? Não. A bem apenas do clã presidencial.

Oficialmente, como man­dam as regras, a China diz – e o MPLA confirma – que se trata de uma ajuda quase filantrópica para que Angola ultrapasse as difi­culdades. Talvez se possa dizer, certamente pecando por defeito, que o regime recebe desta vez qualquer coisa como 30 mil milhões de dólares. Coisa pouca, obviamente.

Certo parece ser que as transacções financeiras serão feitas em yuan e não em dólares norte-ameri­canos, adequando – pois claro - a nossa economia à moeda chinesa.

Recorde-se que, nos úl­timos anos, os chineses ocuparam mais de 15 mil hectares no Kuando Ku­bango com um projecto experimental de plantação de arroz. Isso significou que os camponeses ango­lanos perderam terrenos de pasto para milhares de cabeças de gado. Mas isso é irrelevante.

Menos submissos estão os independentistas de Ca­binda. O braço armado da Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) exige a retirada dos cida­dãos chineses de Cabinda, garantindo que essa pre­sença “será severamente punida”.

Em comunicado enviado à Redacção do F8, a FLEC “exige que o Governo da República Popular da Chi­na repatrie urgentemente todos os seus nacionais do território de Cabinda num prazo de 63 dias”.

“Não sendo respeitada esta exigência, todo o tipo de empresas chinesas são alvos da resistência ca­bindesa e toda a presença chinesa no território de Cabinda caucionada pelo Governo angolano será se­veramente punida”, adver­te a direcção político-mili­tar da FLEC/FAC (Forças Armadas de Cabinda), bra­ço armado da organização independentista.

No mesmo comunicado, assinado pelo comandante da FLEC/FLAC Nzombu Terminator, é recordado ao Governo chinês “que todos os compromissos e acordos assinados com o Governo angolano não são válidos no território de Cabinda”. “Cabinda é um território em guerra”, lê-se ainda.

Recorde-se que a FLEC/FLAC assumiu em Janeiro de 2010 a autoria do ata­que, ocorrido nessa altura, em Cabinda, à selecção de futebol do Togo, durante a Taça das Nações Africanas. O incidente acon­teceu à entrada naquele território, envolvendo ti­ros de metralhadora que provocaram um morto e nove feridos na comitiva togolesa.

A FLEC luta pela indepen­dência de Cabinda, região de onde provém a maior parte do petróleo angola­no, e considera que o en­clave é um protectorado português, tal como ficou estabelecido no Tratado de Simulambuco, assinado em 1885.


Angola. O QUE VAI MAL NO REINO NÃO TEM CURA COM SILÊNCIO



William Tonet – Folha 8 digital (ao) – 20 junho 2015

O país cho­ra, o país sangra, o país está a rebentar pelas cos­turas, logo, clama por uma posição clara, patriótica, pragmáti­ca e nacionalista dos prin­cipais actores políticos angolanos. Não importa a barricada ideológica, quando o destino comum apela a uma nova visão.

Os rumores sobre uma eventual venda, ainda que a título precário, de terras, em contrapartida a um novo financiamento chinês, não pode acomo­dar todos os militantes do MPLA, pelo contrário, deve apelar ao seu nacio­nalismo, para não vazar a sensação de comodismo, nas grandes questões do país.

A oposição, por sua vez, deve questionar, de for­ma contundente, pese as elucubrações constitucio­nais, os própositos de um novo empréstimo milio­nário da China, contraí­do pelo actual regime de Eduardo dos Santos, que gere Angola, com base no absolutismo, tal qual fazia a monarquia de Luís XIV, na França.

É importante saber qual as contrapartidas dadas em nome de Angola e dos an­golanos, sob pena de tudo, na rota da esperança e to­lerância claudicar, fazendo resvalar a precária estabi­lidade social.

Numa altura em que se co­memorou os 800 anos da Magna Carta assinada em 15 de Junho de 1215, entre o monarca inglês João Sem Terra e os súbditos, em Londres, no século XIII, deveríamos fazer uma análise da vitalidade desse texto constitucional, que continua solene e perene a vigorar, nos marcos dos princípios acordados.

Esta postura de fidelida­de, mostra a maturida­de de um povo, logo dos seus políticos, porquanto, quando um outro monar­ca, 413 anos depois; Rei Carlos I, pretendeu alte­rar alguns dos 60 artigos das regras constitucio­nais, inseridas na Magna Carta, em sede parlamen­tar, numa clara demons­tração, de que todos acto­res, incluindo o monarca, deve respeito a separação de poderes, foi-lhe exibi­da a “Petition of Rights” (em 1628), para lhe recor­dar os direitos imemoriais do povo inglês.

Em Angola, não havendo consagração de uma mo­narquia constitucional, na prática, o sistema republi­cano é fiel aos pressupos­tos monárquicos, por ser de fachada a sua aposição na actual constituição.


Angola. Ministério das Finanças confirma melhoria nas condições do crédito chinês




Ministro garantiu que não foi solicitada qualquer moratória sobre o pagamento

O Ministério das Finanças confirmou ontem a negociação com o governo da China da melhoria das condições do crédito chinês, mas garantiu que não foi solicitada qualquer moratória sobre o pagamento.

Em comunicado, o ministério liderado por Armando Manuel refere-se à visita oficial de cinco dias do presidente José Eduardo dos Santos, à China, que terminou a 13 de Junho, durante a qual foi negociado um reforço do apoio financeiro chinês a Luanda.

Os contornos deste acordo são ainda desconhecidos, tendo sido noticiado o pedido de uma moratória de dois anos sobre o pagamento da dívida – apoio financeiro obtido depois do fim da guerra civil, em 2002 – junto de entidades chinesas.

“Estes relatos não são verídicos”, garante o ministério das Finanças, no primeiro pronunciamento sobre os acordos com a China, e numa altura em que a oposição e economistas questionam o teor e contrapartidas deste novo entendimento.

No mesmo comunicado é esclarecido que os ministros que integraram a comitiva de José Eduardo dos Santos discutiram com os homólogos chineses “maneiras para expandir a capacidade fiscal” e para prosseguir com a execução do Plano Nacional de Desenvolvimento,  “sem comprometer a actual carteira de dívida, dada as circunstâncias actuais de baixa dos preços do petróleo no mercado internacional”.

“A estratégia adoptada incluiu a exploração de novas formas de financiamento, expansão do limite de exposição ao risco oferecido pela Agência de Crédito de Exportação Chinesa, expansão das oportunidades de financiamento, melhorando os termos e condições das facilidades de crédito anteriores para reflectir as condições actuais mercados, bem como a identificação de projectos estratégicos nas áreas de energia eléctrica, abastecimento e tratamento de água, saneamento, e agricultura”, lê-se no mesmo comunicado.

A crise da cotação internacional do barril de crude fez diminuir as receitas fiscais com a exportação do petróleo, cujo peso passará de mais de 70 por cento em 2014 para cerca de 36,5 por cento este ano, com o governo a tentar diversificar as fontes de financiamento internacional.

Apesar das “actuais condições adversas de mercado”, o Ministério das Finanças afirma que o Executivo “continua focado na implementação de políticas fiscais e monetárias sólidas” para garantir a estabilidade do ambiente macroeconómico, dos programas de investimento público e as reformas “necessárias para estimular o crescimento económico e a sustentabilidade da dívida pública”.

O presidente visitou a China pela quarta vez em 27 anos, em termos oficiais.

Após as conversações entre Eduardo dos Santos e o homólogo chinês, Xi Jinping, foi anunciado que a China vai ajudar financeiramente Angola a “superar as dificuldades” criadas pela queda do preço do petróleo e consequente “diminuição das receitas do governo”, mas ambas as partes recusaram falar em montantes da ajuda.

Lusa, em Rede Angola

PRESIDENTE FRANCÊS VISITA LUANDA A 2 DE JULHO




François Hollande irá retribuir a viagem de José Eduardo dos Santos a Paris em 2014

O presidente de França, François Hollande, visita Luanda a 02 e 03 de Julho, informou a embaixada francesa em Angola, retribuindo a viagem de José Eduardo dos Santos a Paris em 2014.

Esta visita, cujo programa oficial ainda não é conhecido, surge na sequência a reaproximação entre os dois países, que culminou em Dezembro passado com a assinatura de acordos para o reforço da cooperação bilateral, de parceria económica e facilitação de vistos nos passaportes ordinários.

As deslocações dos dois chefes de Estado às respectivas capitais – Eduardo dos Santos esteve em Abril de 2014 em Paris e Hollande visita Luanda em Julho – marca uma nova etapa nas relações entre Paris e Luanda, uma década depois do escândalo do “Angolagate”, o nome dado ao processo sobre o alegado tráfico de armas da Europa de Leste para Angola, entre 1993 e 2000.

A França foi em 2014 o nono destino das exportações nacionais, com Kz 191.108 milhões (USD 1,5 mil milhões), e o oitavo país das importações de Angola, num total de Kz 113.480 milhões (USD 951 milhões).

A 29 de Abril, no final da visita de dois dias a Paris, num encontro com meia centena de empresários franceses, José Eduardo dos Santos lançou um convite ao investimento em Angola, para “diversificar e industrializar a economia e combater as assimetrias regionais, o desemprego e a baixa qualificação técnica e profissional”.

“A França é um dos países mais desenvolvidos do planeta e tem laços históricos com África. Neste contexto, Angola pretende alargar a cooperação com a França”, disse, na ocasião, o presidente angolano.

Também na mesma altura, os presidentes francês e angolano decidiram relançar parcerias para diversificar a economia angolana e no âmbito da segurança marítima.

Segundo números de Paris, cerca de 25.000 franceses trabalham actualmente em Angola.
A França é o terceiro maior investidor em Angola, tendo investido nos últimos dez anos mais de USD 11,3 mil milhões, sobretudo no sector dos petróleos.

Lusa, em Rede Angola (ao)

Angola. O caso Kalupeteka e as suas consequências internacionais – Comentário




Por norma não gosto de analisar e comentar certas informações de sensível melindre a seco e em cima do acontecimento de modo a que possa evitar análises a quente, que,, por vezes, se tornam contraproducentes e inconvenientes, o que limita a credibilidade de quem as faz.

Essa foi uma das razões por, até agora, me ter abstido de analisar e comentar o problema político-militar ocorrido em São Pedro de Sumé (ou monte Sumi), província do Huambo, em Abril passado, que terá colocado frente-a-frente um representante governador da província do Huambo, o senhor Kundi Paihama, polícias e militares, face aos seguidores da não convencional “Igreja dos Adventistas do Sétimo Dia, A Luz do Mundo”, liderada por José Julino Kalupeteca (ou Kalupeteka) e criada em 2007

Sobre esta seita, segundo alguns dos eus seguidores ela estaria legal e ser atendida pelo próprio governador da província – terá havido, em Outubro de 2014, a assinatura de um convénio entre Kalupeteka e Paihama –, enquanto outros dizem-na ilegal como dezenas de outras seitas e ditas igrejas evangélicas que pululem pelo país.

Sobre as hipotéticas relações entre a seita liderada por Kalupeteka e algumas autoridades locais, a direcção da UNITA acusa que a seita estaria a funcionar «… à margem da lei há alguns anos, com o beneplácito das autoridades locais com quem desenvolveu, desde 2011, laços privilegiados ao abrigo dos quais o cidadão Kalupeteka beneficiou de bens materiais e espaços de intervenção nos órgãos de comunicação social públicos»; fim de citação.

De assinalar que esta seita está (ou estava) disseminada por Luanda, Bié, Benguela, Huambo e Kwanza Sul.

Segundo constam os registos oficiais que se seguiram aos acontecimentos vários polícias, mais concretamente, nove membros da Polícia Nacional, teriam sido mortos por elementos, dito armados, da seita, tanto no Huambo como em Benguela, com o repúdio imediato do senhor Presidente da República, que exigiu a rápida captura destes «indivíduos perigosos» e a sua entrega imediata à Justiça porque a seita estabeleceria «uma ameaça à paz e à unidade nacional e que a sua doutrina constitui uma perturbação à ordem social».

Estranhamente, e a nível oficial, só terão ocorrido mortos entre os membros da autoridade. Fontes externas, dizem que a retaliação que se terá seguido, e confirmado pelas autoridades que dizem terem abatido 13 seguidores da seita, apontam para dezenas, se não mesmo, centenas, de mortos entre os fiéis da seita.

E aqui entra a questão que levou ao título desta análise/comentário.

Face à disparidade de números de vítimas e como terão ocorrido e às acusações de fontes independentes políticas, eclesiásticas – a Igreja Católica já se terá oferecido para ajudar ao cabal esclarecimento do caso – e sociais, que terão exigido tanto um inquérito parlamentar, como independentes, a comunidade internacional começou a interessar-se pelo caso e a solicitar investigações independentes externas sobre o caso.

De entre as que mais tem solicitado essa intervenção externa independente está e continua a estar o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) em Genebra, Suíça, que tem reafirmado ser do interesse de Angola que haja «transparência na investigação sobre o alegado massacre no Huambo, facto não só negado pelas autoridades nacionais como exigido por estas uma desculpa pública e retracção da ACNUDH, dado que esta basear-se-á em informações prestadas «… por falsas declarações prestadas por elementos tendenciosos e absolutamente irresponsáveis, com a intenção de difamar o país».

Ora a ACNUDH tem-se recusado em se retractar e apresentar desculpas porque, segundo esta organização, o que interessa é que a situação fosse esclarecida, para do interesse de todos, dado que há «muitos relatórios diferentes sobre o que aconteceu e não podem ser todos verdadeiros. Só precisamos de mais clareza sobre o que aconteceu».

Porque quem não deve não teme, neste caso acompanho todos aqueles que desejam uma investigação supranacional com supervisão internacional para que a nossa imagem não fique beliscada por dúvidas apoucadas devido a sectores que se considerarão mais credíveis que toda uma sociedade angolana que quer um esclarecimento total e oficial dos acontecimentos.

Todos se recordam como foram manipulados – e até hoje continuam em segredo dos deuses – os factos do 27 de Maio de 1977, e ninguém quer que isso continue a ocorrer.

Se houve culpados, se houve massacre injustificado – seja de que parte tiver ocorrido – os executantes devem ser presentes à Justiça e esta terá de ser implacável com os prevaricadores.
  
Só a verdade interessa! Só a verdade mantém a credibilidade política e institucional de Angola no seio da comunidade internacional, tão assinalada, ainda recentemente, pela Sub-secretátia de Estado norte-americana para os Assuntos Africanos, Linda Thomas-Greenfield, que considerou Angola como um importante parceiro estratégico em África.

Na foto: HUAMBO. Fiéis da seita liderada por Kalupeteka durante o encontro com o governador Kundi Paihama; foto ©ANGOP, em 1/Out./2014.

Nota: Texto escrito em 15 de Junho de 2015 e só hoje publicado!

Reproduzido no jornal digital angolano Folha 8 (ao)

*Investigador do CEI-IUL e CINAMIL 
 

**Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa. 

Um ano depois, ninguém sabe quem ficou com os milhares de milhões do BES Angola




Foi há um ano que se tornou conhecido o descontrolo na concessão de crédito do Banco Espírito Santo Angola (BESA), um dos factores que levaria à implosão do banco português. Milhares de milhões de euros desapareceram, alegadamente em empréstimos a elementos da elite angolana. Hoje, o BESA é controlado pelo Estado e é provável que nunca venham a ser conhecidos os nomes de todos os beneficiários.

Se os nomes continuam envoltos em mistério, os esforços das autoridades angolanas para os manter longe da praça pública são hoje claros. Na quinta-feira, o Correio da Manhã relatava em Lisboa que o ex- governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, mandou calar os presidentes de bancos portugueses com negócios em Angola sobre o assunto.

Em carta datada de 27 de março de 2014, Massano afirmava que os banqueiros não estavam autorizados, sob nenhuma forma, a identificar as contas ou revelar o nome de clientes com quem trabalhassem. Caso o fizessem, quebrando o dever se sigilo, a autorização para trabalhar em Angola poderia caducar imediatamente.

Massano ia ainda mais longe, segundo a mesma fonte. Se o Banco de Portugal quisesse apurar algo junto das instituições, teria de comunicá-lo ao BNA. O facto é que até hoje, e mesmo depois de em agosto de 2014 o Banco de Portugal ter avançado para a resolução do BES, o supervisor bancário português não conseguiu lista dos principais beneficiários de créditos do BESA.

Em fevereiro de 2014, o assunto foi discutido no conselho superior do BES, presidido por Ricardo Salgado. O crédito malparado estava avaliado em 5,7 mil milhões de euros. E a liderança do banco acreditava que mais de 500 milhões de euros tivessem sido distribuídos pela elite angolana, em troca de apoio e favores. Tudo na gestão de Álvaro Sobrinho, que presidiu durante anos ao BESA.

As ligações do BESA à elite angolana são bem conhecidas. Segundo o site Club K, entre os beneficiários dos créditos estão “figuras do regime, com destaque para membros do Bureau Político do MPLA”

África Monitor

Moçambique. NYUSI AGASTADO COM FALTA DE “EXERCÍCIO DE PODER” EM CHIÚRE



Elias Samo Gudo, da AIM, em Chiúre

Chiúre
(Moçambique), 19 Jun (AIM)
O Presidente moçambicano, manifestou hoje a sua frustração e desagrado com a degradação da Escola Secundária de Chiúre, localizada na vila municipal de Chiúre, província de Cabo Delgado, que considera ser fruto de má gestão e falta de exercício de poder por parte das autoridades locais.

O estadista moçambicano exprimiu este sentimento durante uma visita surpresa àquele estabelecimento de ensino, na sequência de denúncias feitas pela população local durante um comício realizado na manhã desta sexta-feira, no âmbito da visita presidêncial a Chiúre.

Numa mensagem dirigida ao estadista moçambicano, lida por Benjamim Benedito, os residentes daquela vila municipal exprimem a sua preocupação com a
degradação acentuada do tecto da Escola Secundária de Chiúre, que levou ao encerramento do respectivo centro internato.

Por isso, Nyusi decidiu visitar aquele estabelecimento de ensino no fim da tarde de hoje para melhor se inteirar sobre o estado real daquela infra-estrutura.

Eis que chegado ao local, o mais alto magistrado da nação depara-se com uma enorme e impressionante infra-estrutura, parte da qual se encontra por baixo de uma árvore frondosa, cujos ramos estão a danificar o tecto que ameaça desabar a qualquer momento.

Este triste cenário é exacerbado com o capim que cresce no tecto e a olhos vistos perante a indiferença do director da escola e das autoridades do distrito.

Por isso, dirigindo-se ao administrador do distrito de Chiúre e ao director daquela instituição de ensino, o Presidente da República, exclamou num tom verdadeiramente agastado
estão a assassinar a escola. Aqui o poder não se exerce.

Como é que se exerce? questionou, para de seguida responder, é resolvendo as preocupações (do povo) .

O Presidente da República indagou ao administrador do distrito se costumava visitar regularmente aquela escola, tendo recebido uma resposta positiva.

Em declarações a imprensa no final da visita, o estadista moçambicano disse que, mais uma vez, ficou claro de que a população participa na governação.

O facto de ter convidado para visitar pessoal a escola na presença de todos também é prova irrefutável que a população confia no Governo para a resolução das suas preocupações.

Aquilo que estamos a ver aqui é que a escola merece uma reabilitação ou reconstrução em alguns aspectos, disse Nyusi, para de seguida acrescentar que há outra parte e que é a falta de conservação.

Pois como viram se o tecto tem capim bloqueia a evacuação das águas que, naturalmente fica estagnada, disse.

Asseverou que o Governo vai efectuar a sua reabilitação. Na ocasião, também chamou a atenção sobre o caos no interior das salas de aulas com carteiras espalhadas por todo o lado, mesmo naquelas onde não há indícios de infiltração das águas da chuva.

Advertiu que o facto de alguém ser bom professor não significa que o mesmo seja um bom gestor.

Segundo o director daquela escola, Saíde Abubacar, aquele estabelecimento de ensino acolhe actualmente 2.095 alunos no curso diurno, que frequentam da 8ª a 10ª classe e outros 250 no curso nocturno.

As aulas decorrem nos sete dormitórios ora transformados em salas de aulas, devido ao elevado estado de degradação das salas existentes.

A semelhança de outros distritos que Nyusi escalou no âmbito da sua visita presidencial, a população de Chiúre também clama pela paz.

A guerra, que para alguns dos nossos concidadãos é um modo de vida só nos retrocederá para um momento como aquele da longa noite de colonial, disse a mensagem da população dirigida ao Chefe de Estado.

Os residentes afirmam ainda que não querem mais a guerra, porque desejam trabalhar em paz e querem que os seus filhos brinquem a
cabra cega e joguem a bola, tenham alegria, ternura e paz. Também rejeitam a divisão do país, apenas para a satisfação dos apetites políticos de algumas pessoas.

Ainda na manhã desta sexta-feira, o mais alto magistrado da nação manteve um encontro com os vendedores informais do mercado de Chiúre.

O encontro tinha como objectivo auscultar os problemas que os apoquentam, bem como ouvir as suas propostas para catapultar a produção e actividade económica na região.

(AIM) SG/DT

MOÇAMBICANA BALEADA NA ÁFRICA DO SUL




Maputo, 20 Jun (AIM) Uma cidadã de nacionalidade moçambicana, cuja identidade não foi possível apurar, sofreu ferimentos ligeiros, na sequência de um baleamento ocorrido sexta-feira em Joanesburgo, capital económica da África do Sul.

Segundo o Jornal sul-africano “Lowvelder”, citado pela rádio Voz de América (VOA), a vítima encontrava-se a fazer compras no centro comercial “The Grove Shopping Centre”.

A cidadã encontrava-se a fazer compras no centro comercial The Grove Shopping Centre, quando viu uma viatura a movimentar-se perto da saída. De seguida, vários disparos foram efectuados a partir do interior da viatura, noticia a rádio, citando testemunhas. 

Entretanto, a polícia sul-africana procura, neste momento, identificar as causas do ataque e os indivíduos que o teriam protagonizado.

O baleamento acontece quatro dias depois de um outro cidadão moçambicano, identificado pelo nome de Justice Malati, ter sido encontrado morto nas celas da esquadra Daveyton.

A área de Daveyton é, por coincidência, o local onde um outro jovem moçambicano, de nome Mido Macia, perderia, em 2013, a vida depois de ser agredido e arrastado pela estrada por agetes da polícia sul-africana. 

(AIM) Alberto massango (AHM)/le

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