quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ANGOLA: CAMINHOS DO FUTURO (3)




Quando há 200 anos o economista francês J. B. Say criou a palavra “empreendedor” atribuiu-lhe um sentido emancipador. Mais tarde, já no século XX, Joseph Schumpeter – o primeiro economista moderno a considerar a acção do espirito empreendedor – descreveu a actividade empreendedora como um processo de “destruição criativa”.

Estas duas atribuições (estabelecidas por dois economistas de diferentes épocas e origens) coincidem num ponto crucial da actividade empreendedora: a inovação. Para chegar ao novo (e melhor) há que actualizar o velho, identificar o obsoleto (e deitá-lo fora) e tirar lições e ilações sobre os erros e os falhanços cometidos e, também, sobre os sucessos obtidos no passado. Aproveitar do Passado o que pode ser (re) utilizado no Presente. Actualizar o que pode ser actualizado. Desta forma a construção do futuro torna-se um processo simultâneo de ruptura/evolução, impedindo que o passado se torne um peso obsoleto e um obstáculo, inserindo-o na edificação do Amanhã.

As sociedades têm de desembaraçar-se dos seus desperdícios, caso contrário envenenam-se, intoxicam-se a si próprias. Por isso têm de assumir processos não lineares, mas contínuos de evolução, interrompidos por fases de ruptura e por momentos de abandono. Este processo é difícil e complexo porque acaba por afectar as superestruturas culturais da sociedade, ou seja, os seus laços identitários. Um processo idêntico desenrola-se na vida económica, pois também aí são estabelecidos laços de uma forte dependência em relação aos seus produtos e às formas como estes são produzidos.

Para inovar, no entanto, nem sempre é necessário tecnologia. Esta muito pouco representou quando se retirou um contentor de um camião para colocá-lo num barco. Só que esta simples operação quadruplicou a produtividade dos fretes marítimos e tornou possível a colossal expansão do comércio marítimo mundial. Da mesma forma poucas ou nenhumas inovações técnicas competiram com a venda a prestações, processo inserido por um fabricante norte-americano de alfaias agrícolas, que permitiu que os agricultores mais pobres comprassem os seus equipamentos, tal como nenhuma tecnologia existiu quando na Inglaterra do século XIX o movimento cooperativista fundou as primeiras cooperativas de consumo. A inovação científica e tecnológica é, obviamente importante e fundamental, mas não é a única, nem mesmo a mais importante e nem sempre assume a amplitude com que é anunciada. O espirito empreendedor torna possível a inovação sem grandes meios e este é o seu principal atributo.

A actividade empreendedora implica competitividade e cooperação. Esta interacção é produto de um complexo conjunto de condições que operam na realidade económica, politica e social, articuladas de forma a gerar dinâmicas de desenvolvimento. Estas dinâmicas alicerçam-se em oito sectores principais: 1) Agricultura e sector alimentar (pescas, criação de gado, etc., o célebre sector primário); 2) Fontes energéticas; 3) Controlo dos fluxos financeiros; 4) Indústrias extractivas; 5) Tecnologia e Ciência aplicada; 6) Informação e Comunicação; 7) Defesa e Segurança; 8) Turismo e Comércio (nas vertentes nacionais e internacionais).

No seu conjunto estes oito sectores principais constituem o âmago da riqueza das nações, permitindo que estas se integrem na economia-mundo de forma igual. Por sua vez constituem peças estratégicas essenciais para o desenvolvimento de longo-ciclo, permitindo a emancipação das economias periféricas. Mas para este conjunto de sectores se constituir como processo de desenvolvimento (e não como um obstáculo, instrumento de oligopólios) são necessárias políticas de longo-ciclo (conjuntos de politicas de longo-prazo) que assentam na integração dos factores geográficos, ambientais e humanos. E como pode isso acontecer sem uma força política nacional e independente, um núcleo-duro, uma estrutura política de inteligência nacional? E este é o cerne de todo o desenvolvimento integrado. Sem esta “vanguarda”, sem a acção desta inteligência politica, nenhum desenvolvimento é possível.

É neste sentido que a democracia se assume como a melhor forma de governo, ou a menos ruim e ruinosa, porque assenta no pressuposto de que o individuo é a o melhor juiz do seu interesse. Qualquer outra forma de governo é fundada no pressuposto contrário, ou seja, parte do princípio da existência de grupos de indivíduos com uma condição superior, seja por nascimento, educação, formação, riqueza, raça, ou outros factores, grupos que julgam o bem geral da sociedade entendida como um todo. Ao desprezarem os indivíduos singulares, os regimes não democráticos (paternalistas, despóticos e totalitários) desperdiçam as sinergias e as dinâmicas da diferença e da pluralidade. A democracia é um valor em si porque permite o caminho para a criação de condições de progresso e para o desenvolvimento multiforme da personalidade, da responsabilidade do individuo e da sua autonomia enquanto cidadão.

É esta premissa, proclamada pela actual Constituição da República de Angola, cerne da construção do futuro da nação, que permitirá a edificação de uma sociedade mais livre e mais justa, princípio fundamental do movimento de libertação nacional. O Estado Democrático de Direito, a lei constitucional como lei suprema, são os instrumentos fundamentais para que Angola vença a actual crise e prossiga na senda do progresso e da Justiça social.

O desenvolvimento é como um imbondeiro com muitas raízes e muitos ramos. Há os que apenas observam as raízes e os que apenas observam os ramos. Os que assim fazem nunca vislumbram o imbondeiro no seu todo, por muito grande que ele seja, e esquecem que o imbondeiro não cresce sobre qualquer terreno.

A inovação nasce da diversidade e do contraste. Estes são os factores essenciais para as dinâmicas de desenvolvimento. A conquista da Paz permitiu o livre desenrolar destas dinâmicas e foi ao MPLA, como força política nacional e independente, que coube criar as condições para esta conquista, através de uma luta árdua e tenaz, sendo o Grande Arquitecto desta conquista o Presidente José Eduardo dos Santos. Arregacemos, então, as mangas…

Sem comentários:

Mais lidas da semana