Quando há 200 anos o economista francês J. B. Say criou a palavra “empreendedor”
atribuiu-lhe um sentido emancipador. Mais tarde, já no século XX, Joseph
Schumpeter – o primeiro economista moderno a considerar a acção do espirito
empreendedor – descreveu a actividade empreendedora como um processo de “destruição
criativa”.
Estas duas atribuições (estabelecidas por dois economistas de diferentes épocas
e origens) coincidem num ponto crucial da actividade empreendedora: a inovação.
Para chegar ao novo (e melhor) há que actualizar o velho, identificar o
obsoleto (e deitá-lo fora) e tirar lições e ilações sobre os erros e os
falhanços cometidos e, também, sobre os sucessos obtidos no passado. Aproveitar
do Passado o que pode ser (re) utilizado no Presente. Actualizar o que pode ser
actualizado. Desta forma a construção do futuro torna-se um processo simultâneo
de ruptura/evolução, impedindo que o passado se torne um peso obsoleto e um
obstáculo, inserindo-o na edificação do Amanhã.
As sociedades têm de desembaraçar-se dos seus desperdícios, caso contrário
envenenam-se, intoxicam-se a si próprias. Por isso têm de assumir processos não
lineares, mas contínuos de evolução, interrompidos por fases de ruptura e por
momentos de abandono. Este processo é difícil e complexo porque acaba por
afectar as superestruturas culturais da sociedade, ou seja, os seus laços
identitários. Um processo idêntico desenrola-se na vida económica, pois também
aí são estabelecidos laços de uma forte dependência em relação aos seus
produtos e às formas como estes são produzidos.
Para inovar, no entanto, nem sempre é necessário tecnologia. Esta muito pouco
representou quando se retirou um contentor de um camião para colocá-lo num
barco. Só que esta simples operação quadruplicou a produtividade dos fretes
marítimos e tornou possível a colossal expansão do comércio marítimo mundial.
Da mesma forma poucas ou nenhumas inovações técnicas competiram com a venda a
prestações, processo inserido por um fabricante norte-americano de alfaias
agrícolas, que permitiu que os agricultores mais pobres comprassem os seus
equipamentos, tal como nenhuma tecnologia existiu quando na Inglaterra do
século XIX o movimento cooperativista fundou as primeiras cooperativas de
consumo. A inovação científica e tecnológica é, obviamente importante e
fundamental, mas não é a única, nem mesmo a mais importante e nem sempre assume
a amplitude com que é anunciada. O espirito empreendedor torna possível a
inovação sem grandes meios e este é o seu principal atributo.
A actividade empreendedora implica competitividade e cooperação. Esta
interacção é produto de um complexo conjunto de condições que operam na
realidade económica, politica e social, articuladas de forma a gerar dinâmicas
de desenvolvimento. Estas dinâmicas alicerçam-se em oito sectores principais:
1) Agricultura e sector alimentar (pescas, criação de gado, etc., o célebre
sector primário); 2) Fontes energéticas; 3) Controlo dos fluxos financeiros; 4)
Indústrias extractivas; 5) Tecnologia e Ciência aplicada; 6) Informação e
Comunicação; 7) Defesa e Segurança; 8) Turismo e Comércio (nas vertentes
nacionais e internacionais).
No seu conjunto estes oito sectores principais constituem o âmago da riqueza
das nações, permitindo que estas se integrem na economia-mundo de forma igual.
Por sua vez constituem peças estratégicas essenciais para o desenvolvimento de
longo-ciclo, permitindo a emancipação das economias periféricas. Mas para este
conjunto de sectores se constituir como processo de desenvolvimento (e não como
um obstáculo, instrumento de oligopólios) são necessárias políticas de
longo-ciclo (conjuntos de politicas de longo-prazo) que assentam na integração
dos factores geográficos, ambientais e humanos. E como pode isso acontecer sem
uma força política nacional e independente, um núcleo-duro, uma estrutura
política de inteligência nacional? E este é o cerne de todo o desenvolvimento
integrado. Sem esta “vanguarda”, sem a acção desta inteligência politica,
nenhum desenvolvimento é possível.
É neste sentido que a democracia se assume como a melhor forma de governo, ou a
menos ruim e ruinosa, porque assenta no pressuposto de que o individuo é a o
melhor juiz do seu interesse. Qualquer outra forma de governo é fundada no
pressuposto contrário, ou seja, parte do princípio da existência de grupos de
indivíduos com uma condição superior, seja por nascimento, educação, formação,
riqueza, raça, ou outros factores, grupos que julgam o bem geral da sociedade
entendida como um todo. Ao desprezarem os indivíduos singulares, os regimes não
democráticos (paternalistas, despóticos e totalitários) desperdiçam as
sinergias e as dinâmicas da diferença e da pluralidade. A democracia é um valor
em si porque permite o caminho para a criação de condições de progresso e para
o desenvolvimento multiforme da personalidade, da responsabilidade do individuo
e da sua autonomia enquanto cidadão.
É esta premissa, proclamada pela actual Constituição da República de Angola,
cerne da construção do futuro da nação, que permitirá a edificação de uma
sociedade mais livre e mais justa, princípio fundamental do movimento de
libertação nacional. O Estado Democrático de Direito, a lei constitucional como
lei suprema, são os instrumentos fundamentais para que Angola vença a actual
crise e prossiga na senda do progresso e da Justiça social.
O
desenvolvimento é como um imbondeiro com muitas raízes e muitos ramos. Há os
que apenas observam as raízes e os que apenas observam os ramos. Os que assim
fazem nunca vislumbram o imbondeiro no seu todo, por muito grande que ele seja,
e esquecem que o imbondeiro não cresce sobre qualquer terreno.
A
inovação nasce da diversidade e do contraste. Estes são os factores essenciais
para as dinâmicas de desenvolvimento. A conquista da Paz permitiu o livre
desenrolar destas dinâmicas e foi ao MPLA, como força política nacional e
independente, que coube criar as condições para esta conquista, através de uma
luta árdua e tenaz, sendo o Grande Arquitecto desta conquista o Presidente José
Eduardo dos Santos. Arregacemos, então, as mangas…
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