Na
manifestação dos residentes das Palmeiras, no distrito da Manhiça, província de
Maputo, na passada sexta-feira (22), contra a alegada ineficácia dos agentes da
Lei e Ordem no combate ao crime que tem aumentado de forma alarmante, a Polícia
voltou a utilizar, deliberadamente, balas verdadeiras para dispersar gente
desarmada e desprotegida. Todavia, Inácio Dina, porta-voz do Comando-Geral da
Polícia da República de Moçambique (PRM), minimiza a situação e ignora que se
violou um dos princípios básicos de Direitos Humanos – o direito à vida –
quando os seus colegas atingiram mortalmente um jovem cuja família não terá,
certamente, ressarcimento por parte do Estado. Inácio Dina parece achar isso
normal, ao declarar que “a utilização de balas reais” faz parte dos “meios que
a Polícia detém e utiliza” sempre “nas suas actuações”.
O
porta-voz classificou igualmente as pessoas que exteriorizavam o seu desagrado
em relação à ineficiência da Polícia no combate ao crime de “um punhado de
cidadãos” que colocara “em causa a tranquilidade de tantos milhões de outros
cidadãos (...)”. No seu entender, os moradores aproveitaram-se do facto de a Estrada
Nacional número um (EN1) ser vital para a ligação do sul/centro e
norte de Moçambique e montaram barricadas para impedir a circulação de pessoas
de bens, durante três horas, uma “situação grave” que pretensamente ditou a
“paralisação de um Estado”.
Inácio
Dina, ignorando ainda o facto de a Polícia ter o dever de na sua actuação,
mesmo em casos de desobediência civil notória, respeitar os padrões
universalmente aceites, sobretudo de garantia de integridade física dos
cidadãos, disse que a Polícia “usou a força que se julgou proporcional ao tipo
de manifestação que estava ocorrer no local”.
Contudo,
pese embora estas declarações de sacudir a água do capote, em Palmeiras
observou-se o contrário. Algum policial disparou para matar e não será
responsabilizado. Aliás, é por esta e outras razões macabras que a Amnistia
Internacional rotula a Polícia moçambicana como a que “parece pensar que tem
licença para matar e o fraco sistema de responsabilização permite isto”.
Em
Palmeiras, os agentes da Lei e Ordem locais, incapazes de conter a fúria
popular, pediram o reforço da capital do país, de onde foram destacados
elementos da força anti-motim armados até aos dentes, que, para além de não
saberem dialogar com as multidões, fizeram das suas, à semelhança do que tem
acontecido um pouco por todo o país quando há alvoroços.
Um
indivíduo morreu e Inácio Dina disse que “infelizmente lamentamos a perca de
vida (...). Não era intenção policial” que as coisas acabasse de forma trágica,
mas, sim, “repor a ordem pública e restabelecer a circulação que estava
obstruída nalgum troco da EN1.
Ademais,
alegou o porta-voz do Comando-Geral da PRM, à medida que algumas pessoas eram
persuadidas para não se envolverem na agitação, as outras ganhavam ânimo e
ensaiavam exibir a sua “musculatura na tentativa de incapacitar a Polícia, o
que não pode acontecer. A Polícia é um órgão do Estado com poder para que
nenhum cidadão perturbe a tranquilidade dos outros (...)”.
“Repudiamos
as manifestações, ainda que esporádicas, que têm vindo a ganhar terreno em
alguns pontos do país. Populares que pretendia ver feita a justiça decidiram
manifestar-se, infelizmente, de forma violenta. Na manifestação, de acordo com
os colegas posicionados naquele ponto, os populares exigiam que a Polícia,
detivesse um indivíduo suspeito de ter cometido um crime”, porque os seus
comparsas já se encontravam a ver o sol aos quadradinhos, segundo Dina.
Para
a PRM, o sensato, em caso de alguma “ilegalidade e necessidade de a Polícia
intervir”, seria uma “comunicação civilizada para que o suspeito fosse
identificado e detido caso fosse necessário”, explicou o agente da Lei e Ordem,
reiterando que “colocar barricadas numa estrada e impedir a circulação numa via
pública é um crime grave”.
O
porta-voz disse que é também condenável a justiça pelas próprias mãos,
sobretudo o que acontece na Beira, onde populares lincham impiedosamente
supostos ladrões porque, de acordo com eles, a Polícia coloca-lhes em liberdade
e novamente protagonizam assaltos, violações sexuais e vários tipos de
agressões físicas nos bairros.
“Não
é assim como se colabora com a Polícia para garantir a segurança pública. As
esquadras são acessíveis e não deve haver receio” de se dirigir a elas para
comunicar quaisquer anomalias. “Só acreditando na Polícia é que se poder ter o conforto
e segurança” almejados.
Emildo Sambo - @Verdade
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