Leston
Bandeira – África Monitor, opinião
A
situação social e política de Angola aproxima-se rapidamente da incerteza e de
acontecimentos até há bem pouco tempo inesperados. O precipício económico que
se abre aos olhos da maioria dos angolanos está a provocar a estupefacção,
sobretudo entre os que até agora dispunham do suficiente para fazer uma vida
normal, embora não pertencendo às classes endinheiradas.
Em
menos de um ano, o pais é outro. O aumento dos combustíveis teve uma escalada
insustentável no princípio de 2016: o gasóleo aumentou 80% e a gasolina 40%; o
kwanza desvalorizou em mais de 50 por cento e todos os dias cai no mercado
paralelo, na troca por dólar, um pouco à semelhança dos anos oitenta.
Com
o desmembramento dos sistemas de abastecimento, com o desemprego galopante, sem
alternativas económicas que substituam o petróleo, a situação de Angola
aproxima-se muito de outras vividas em países africanos, outrora ricos e
aparentemente num caminho de prosperidade contínua. E em países árabes, cujas
populações aspiraram a outros modos de vida e a outras formas de distribuição
das riquezas existentes.
Mas
há grupos de pessoas para quem isto não faz nenhuma diferença. Há mesmo gente
que vai, de um momento para o outro, desaparecer. Vai passar férias num paraíso
qualquer para não ter que ver e sentir o que se vai passar. Esses são os que ao
longo dos longos anos de Independência foram construindo as suas próprias
fortunas, lutando arduamente para colher os favores de quem foi governando os
excessos da monocultura nacional: o petróleo.
Vão
deixar para trás as greves prometidas dos taxistas, as manifestações populares
contra o aumento do gás, do petrólo de iluminação dos bens essenciais para o
dia a dia. Não querem sentir que, por todo o país, o povo vai voltar a ter
medo. Medo, desta vez, dos seus.
Em
Angola, chegada a hora, o Exército vai sair à rua para proteger quem não sentiu
os aumentos e a desvalorização da moeda, quem não sentiu faltas de
abastecimento em casa ou quem deixou a bom recato os carros de alta cilindrada
e as grandes casas protegidas por armas que já podem ser chinesas. E o Povo de
Angola, que está a sentir a penúria da falta de petróleo também está com medo.
E a situação vai apodrecer.
Com
o aparecimento de divisões, encabeçadas por quem espera a oportunidade para
criar o seu pequeno ou grande reino, a ausência total de valores autênticos de
amor à terra, de orgulho pelo Estado nascido e criado numa luta nem sempre
limpa, substituídos pelo deus do consumo, do exibicionismo, da convicção da
indispensabilidade, da autosuficiência, o povo vai correr atrás de quem
garantir segurança e comida para a família.
Todas
as promessas, todavia, tombarão perante o verdadeiro poder de quem terá as
armas na mão. Angola, eventualmente, voltará a ser uma terra de medo e de
ódios, atrasando-se no tempo e perdendo o futuro risonho que ainda há pouco
tempo se lhe adivinhava.
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