A
Fundação Bertelsmann coloca o governo angolano nas últimas posições entre os
129 países analisados, devido à repressão e à deterioração económica. Conflitos
entre Renamo e a Frelimo e desigualdades rebaixam Moçambique.
As
avaliações de Angola e Moçambique pioraram no Índice de Transformação Política
e Económica da fundação alemã Bertelsmann, que avalia 129 países em
desenvolvimento, revela a Deutsche Welle num trabalho de Karina Gomes.
Prisões
arbitrárias, torturas e perseguições, aliadas à má governação, arrasam a nota
de Angola, levando a que a governação de José Eduardo dos Santos (no poder
deste 1979 sem nunca ter sido nominalmente eleito) tenha caído da posição 97,
em 2014, para a 102.
A
falta de diversificação económica, com foco apenas no petróleo, e a perpetuação
do apropriadamente chamado “Sistema dos Santos” no poder impulsionaram o
desastre.
“Podemos
constatar não só uma perpetuação do sistema que já estava em vigor, mas
sobretudo, nos últimos dois anos, ainda uma aceleração da pilhagem dos bens do
Estado pelos dirigentes do regime”, explica o antropólogo suíço Jon Schubert,
um dos autores do estudo.
“A
repressão é violentíssima”
Para
o investigador da Universidade de Leipzig, na Alemanha, isso está ligado
directamente à fraqueza económica actual do regime: “Com os rendimentos em
baixa e a contestação dentro da classe média e do próprio regime, que estão a
crescer, temos constatado uma repressão violentíssima, como não vimos desde o
fim da guerra.”
Segundo
o relatório, o governo de Angola usa o aparelho do Estado para obter lucros
pessoais em vez de beneficiar a população. Uma transição política nas eleições
gerais de 2017 é urgente, de acordo com a Fundação Bertelsmann. Para Schubert,
a mudança deve ser dirigida pelo MPLA, o partido no poder desde 1975.
“Acredito
que dentro do partido existam ‘forças vivas’ que percebem que esse sistema de
nepotismo é ruinoso ao país, aos próprios interesses económicos da elite e,
sobretudo, à estabilidade social”, afirma.
Para
o especialista, é de se esperar que haja forças dentro do MPLA que consigam um
diálogo com a oposição, os activistas e a sociedade civil para gerir uma
transição mais aberta, que não permita ao país entrar “nesse jogo de sucessão
dinástica de instalar um dos filhos do Presidente como o próximo Presidente”.
Desigualdades
e conflitos em Moçambique
Já
Moçambique perdeu quatro postos, ficando na posição 74 no ranking. O relatório
aponta que o crescimento económico gerado pela exploração de recursos naturais
não reduz a pobreza, pelo contrário, acentua as desigualdades. O desafio do
presidente Filipe Nyusi é duplo: gerir as receitas dos recursos naturais de
maneira harmoniosa e resolver os conflitos com a Renamo.
“Ele
depende de apoio dentro da Frelimo, que é bastante dividido sobre essa questão,
para decidir o rumo que o país deve seguir relativamente aos recursos naturais
e às receitas. Acho que havia de encontrar um compromisso com a ajuda de
mediadores externos”, opina Schubert.
O
documento da Fundação Bertelsmann também diz que Nyusi deve aumentar a
transparência para evitar a evasão de investidores e continuar a atrair
doadores internacionais, que estão a perder a paciência. Há, no entanto, um fio
de esperança.
“Como
houve uma renovação e agora há uma nova geração dentro da Frelimo isso talvez
pode abrir novas portas e impulsionar novas soluções para esses desafios”,
analisa o investigador.
O
Índice Bertelsmann 2016 cobre o período entre Fevereiro de 2013 e Janeiro de
2015. O estudo constatou um retrocesso na democracia e economia na maioria dos
países avaliados, além de um aumento da influência da religião sobre
instituições estatais.
Dos
129 países analisados, apenas a seis foi atribuída a boa qualidade de
governação. Entre eles, estão Taiwan, em primeiro lugar, Chechénia, Uruguai e
Polónia. Já a Síria, Eritreia e Somália são os últimos no ranking.
Folha
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