quinta-feira, 3 de março de 2016

GOVERNO NÃO IMPEDE MOÇAMBICANOS DE SEREM INUNDADOS E MORREREM À FOME



Governo no Parlamento fala aos esfomeados mas não diz como evitar que sejam inundados e morram à fome

O Governo, encabeçado pelo Primeiro-Ministro, Carlos Agostinho do Rosário, esteve no Parlamento, na quarta-feira (02), para mais uma sessão de perguntas em torno da seca, cheias e da crise política entre si e a Renamo. Ouviu-se mais explicações paliativas e sobre as suas acções efémeras, mas não ficou claro de que forma os moçambicanos deixarão de depender ciclicamente da chuva para comer, nem como atenuar/ultrapassar os crónicos efeitos nefastos em cada época chuvosa e tão-pouco esclareceu para que precipício se pretende arrastar o país com a guerra.

As respostas às questões colocadas pelas três bancadas, com a Frelimo a mostrar a sua serventia de costume, foram como "virar o disco" e tocá-lo novamente, pois, pese embora tenha-se desdobrado em explicações, os problemas de fundo ainda persistem sem resposta e não há novidade em tudo o que se disse, pois há décadas que a seca e fome flagelam os moçambicanos. Na verdade, foi mais uma sessão de dirigentes com as barrigas cheias a falarem para o povo sem no entanto dizê-lo como irá tirá-lo da miséria a que está sujeita, em parte pela força da natureza e, também, por incompetência do próprio Executivo, que volta esta quinta-feira (03) à Casa do Povo para as perguntas de insistência.

Moçambique e demais países da África Austral e Oriental são assolados pela seca desde o segundo semestre do ano passado. E segundo Carlos Agostinho, em "caso da prevalência da escassez de chuva até ao final da presente época chuvosa [Março corrente], em que não se venha a registar nenhuma colheita, prevê-se um cenário de insegurança alimentar severa, afetando 1.785.132 pessoas".

"Em caso de ocorrência de um cenário de insegurança alimentar severo, em que o número previsto de pessoas atinja 1.785.132 pessoas, o Governo, sob proposta do Conselho Técnico de Gestão de Calamidades", no qual os "parceiros internacionais têm assento, avaliará e decidirá sobre o tipo de intervenção ou alerta a adotar", disse o governante.

Contudo, estas previsões do Executivo por mais realísticas que sejam não afastam, de forma alguma, a sua incapacidade em relação à adopção de políticas claras no sentido de garantir alimentos para o povo. Há gente pelo vasto Moçambique que não sabe o que é uma refeição por dia.

Aliás, há anos que os mapeamentos do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional sugerem que alguns distritos da província de Maputo, que hoje é considerada uma das mais afectadas pela estiagem e fome, não dispõem de reservas alimentares. O mesmo cenário verifica-se em Gaza, onde as populações de distritos como Chigubo, Chucualacuala e Guijá encontram-se em constante sobrevivência.

Por sua vez, ao contrário do que tem sido nos anos anteriores, as autoridades meteorológicas antevêem que a queda de chuva "será abaixo do normal e as temperaturas altas irão prevalecer" até ao fim da campanha agrícola 2015/2016. Diante desta situação, o Governo, que refere ter desembolsado 580 milhões de meticais para a monitoria, assistência humanitária, busca e salvamento e pré-posicionamento de meios, espera que se, milagrosamente, a chuva cair até ao fim deste Março haja "alguma colheita" e a insegurança alimentar será moderada, com 396.855 pessoas afectadas.

O que o Executivo tem vindo a propalar de lés a lés em torno da seca e fome não constitui novidade para um país como nosso, onde apesar de a agricultura ser constitucionalmente considerada "a base do desenvolvimento", não alimenta o povo.

Já em 2012, um Relatório de Monitoria da Situação de Segurança Alimentar e Nutricional (RMSSAN), do Ministério da Agricultura, apontava que os distritos mais críticos em termos de insegurança alimentar são Magude, Moamba, Namaacha e Boane (Maputo), Chigubo e Chicualacula (Gaza), Funhalouro, Panda e Mabote (Inhambane), Búzi, Machanga, Muanza, Nhamatanda, Chemba, e Gorongosa (Sofala) e Mutarara, Changara, Cahora Bassa, Chiúta, Moatize e Magoe (Tete). Em suma, em todo o país havia na altura 255.300 estão em situação de insegurança alimentar. Este número tem vindo a aumentar, o que atesta que as acções do Governo não surtem efeitos desejados.

De acordo com aquele documento, os baixos níveis da resiliência dos agregados familiares, devido à pobreza causada por vários factores, tais como a imprevisibilidade dos rendimentos e o esgotamento das reservas alimentares e de outros bens produtivos (...) e seca, provocaram baixos níveis de poder de compra o que limita o acesso económico aos alimentos, especialmente provenientes de mercados.

Para o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), "a situação calamitosa em que se encontra parte das populações das três regiões do país, devido à seca e às cheias, é causada pelo falhanço de 40 anos" de governação da Frelimo, disse Armando Artur, deputado desta formação política.

Não há soluções para acabar com a guerra

Relativamente à tensão político-militar, Carlos Agostinho também não disse nada de revolvo, pelo contrário, deixou um sinal de que mais inocentes continuarão a morrer e mais bens serão destruídos por conta da falta de um entendimento entre as partes em braço-de-ferro. Ele acusou a "Perdiz" de recorrer às armas para chantagear o Estado e a população.

"A posse de armas pela Renamo para chantagear o Estado e a população e forçar a ascensão ao poder por via da força é contrária à convivência democrática num Estado como o nosso. Não faz sentido que a Renamo, volvidos mais de 20 anos, período durante o qual o país já realizou cinco eleições gerais, venha hoje sustentar a legalidade e legitimidade da posse de armas de fogo, com base no Acordo Geral de Paz".

Para a Renamo, "com a sua arrogância e prepotência, a Frelimo destruiu as bases com que o país vinha construindo a sua democracia até à actual situação de crise, com consequências nefastas para a economia do país", afirmou o deputado André Majibire.

Emídio Sambo - @Verdade

Sem comentários:

Mais lidas da semana