O
Governo continua a ser acusado de não ser transparente na partilha de
informações com o público, nomeadamente em situações como a da construção de um
prédio no Alto de Coloane
Os
deputados do hemiciclo aproveitaram o plenário de ontem na Assembleia
Legislativa para tecerem críticas ao Executivo, que acusam de tomar decisões às
escondidas da população. O projecto do Alto de Coloane foi um dos exemplos mais
apontados pelos deputados, com Chan Meng Kam a dizer mesmo que não entende por
que razão o interesse público está a ser menos respeitado do que a privacidade
da empresa. Também Si Ka Lon se atirou ao Governo.
“Um dos pressupostos da boa governação é a transparência e simetria da informação. Além de saber o que a população pensa, talvez o mais importante seja o Governo deixar os residentes saberem o que os responsáveis fazem, onde estão a gastar o erário público e quais os respectivos resultados. Mesmo em relação às políticas menos bem-sucedidas ou suspensas, a população deve ser informada das causas, se se deve à omissão de alguém ou a dificuldades reais”, começa por defender o número três de Chan Meng Kam. “Alguns incidentes nos últimos meses revelaram a insuficiência do Governo neste âmbito.”
O deputado dá como exemplo o caso Pearl Horizon para dizer que o discurso do Governo passou de “caso merecedor de estudo e tratamento especial”, a “é necessário esperar pelo desfecho do processo judicial” e “nada mudou na decisão de proteger os promitentes-compradores”, sem nunca ter, contudo, tornado públicos os planos e medidas para a resolução do problema. Si Ka Lon refere-se, depois, ao projecto no Alto de Coloane para exemplificar situações em que o Governo passa a bola de organismo para organismo.
Também Chan Meng Kam aproveitou o período de antes da ordem do dia para se debruçar sobre o mesmo assunto, referindo – além dos mesmos projectos – situações como a demolição do Quartel de S. Francisco.
“O Quartel foi classificado como monumento. Em 2014, o Governo divulgou poucas informações sobre as obras da primeira fase de ampliação e a população suspeitava que estivessem a ser feitas em segredo, resultando em conflitos. As obras da segunda fase geraram ainda mais conflitos, tendo um arquitecto português criticado o Governo por ser o primeiro a destruir monumentos.”
Chan Meng Kam diz entender que “para desenvolver a cidade, há sempre demolições e construções de prédios”, mas diz não perceber, por exemplo, “porque é que não pode ser divulgado” o conteúdo do relatório do impacto ambiental do projecto no Alto de Coloane, que vai tapar as montanhas. “Afinal, entre a alegada privacidade, o interesse público e o direito à informação, o que é mais importante?”, indagou.
SEMPRE
O MESMO CE
Chan
Meng Kam relembra ainda que as LAG “de quase todos os anos” realçam a
necessidade de elevar a transparência nas acções governativas e apela ao
Governo que isto passe de apenas “promessas verbais”. O mesmo diz Si Ka Lon.
“O próprio Chefe do Executivo, no início do mês, referiu que pretende aumentar a transparência da informação, permitindo maior participação da comunidade, o que demonstra que as autoridades estão conscientes dos seus problemas, só que até agora não houve nenhum avanço.”
A falta de informações não é a única preocupação do número três de Chan Meng Kam no hemiciclo, que faz também menção aos diversos estudos – e “verbas avultadas” neles gastas.
“Os resultados desses estudos devem também ser divulgados. Há serviços com gastos elevados em estudos ao longo dos anos e os respectivos relatórios não foram divulgados.”
Deputados
desafiam Chui Sai On
Ng
Kuok Cheong pediu ao Chefe do Executivo que entregue ao Conselho do Planeamento
Urbanístico o projecto pensado para o Alto de Coloane, que pertence ao
empresário Sio Tak Hong. O deputado relembra que Chui Sai On tem essa
competência, que “não pode passar ao Secretário para as Obras Públicas”, e diz
que só assim se pode perceber qual a opinião dos especialistas sobre esta
construção, que deverá tapar algumas das montanhas de Coloane. A deputada Ella
Lei questionou o Governo sobre se este considera que “os critérios adoptados na
apreciação do projecto e os respectivos procedimentos são legais e razoáveis” e
quer saber “porque é que o local em causa passa de zona com planeamento para
zona sem limite a nível de altura”. A deputada diz que existem muitas dúvidas e
pede para o Governo divulgar mais informações ao público, caracterizando ainda
o Executivo como “inerte” face à protecção dos recursos ecológicos.
Joana
Freitas – Hoje Macau
Sem comentários:
Enviar um comentário