Agarrada
à austeridade como palavra mágica para jogar a crise do poder financeiro sobre
os trabalhadores e suas famílias, a direita sob o comando externo da Comissão
Europeia, agora empenha-se em defender os privilégios dos ricos como se fossem
os criadores do desenvolvimento da produção, dos empregos e da independência
nacional. Não entendeu que a austeridade nacional com adequada distribuição dos
meios de sobrevivência terá de acabar com os privilégios de uma elite apátrida.
Qualquer pessoa que faça poupança, qualquer gestor(a) da economia familiar,
entende o que é austeridade e a diferença em relação à exploração.
Surpreende
a cegueira mental de Passos Coelho que diz ter o atual governo "dado com
uma mão o que tirou com a outra, para manter a austeridade". Deixa de ver
que a população tem dois lados: ricos e pobres, que a política tem dois lados:
esquerda e direita, e que a opção de favorecer a maioria dos portugueses e não
uma elite privilegiada, ou seja a nação como um todo e não o poder financeiro
gerido por uma elite sob o comando de Bruxelas, é uma mudança fundamental no
Governo de Portugal. A esquerda no Parlamento abriu o único caminho para que
Portugal possa reconstruir as forças produtivas nacionais e superar a via do
atolamento em créditos e corrupções adotada como mão única pela direita
submissa à União Europeia.
Mas
há muitas outras questões que a direita representada pelo PSD de Passos Coelho
reduziu à expressão mais medíocre da submissão às ordens da Troika. A formação
da União Europeia tem também duas faces: a da solidariedade entre nações e a
unificação do poder financeiro nas mãos das elites dos países mais ricos. Com o
aprofundamento da crise sistémica a união começou a desvendar as suas contradições
que foram cobertas pelo asfalto das grandes estradas, o uso da língua inglesa
como idioma predominante, os mega-shows de uma suposta arte global, a transformação
do futebol em primeira notícia, a exportação de bens e de mão de obra
qualificada em troca do turismo como fonte de renda, tudo com moderna
tecnologia em substituição à produção das riquezas e ao desenvolvimento
nacionais. Enfim, veio à tona com as consequências das guerras promovidas pela
NATO, as verdadeiras intenções da elite mundial que se reuniu em Bildemberg
para traçar o caminho da subordinação das nações europeias a um poder
financeiro imperial que deu à luz o Euro como símbolo de uma falsa união dos
povos, que funciona como algema.
À
face rica da UE, que apresenta planos aos governos para aperfeiçoar a gestão
económica e financeira e condicionar a administração pública das nações dependentes,
que autoriza financiamentos e créditos aos bons alunos, que paga régios
salários aos assessores, opõe-se a dramática realidade da escolha oportunista,
dentre os que fogem à guerra em busca de socorro, dos que convém serem reconhecidos
como sobreviventes nas sociedades europeias. O volume descomunal da emigração
desesperada dos refugiados, criada pelas guerras apoiadas pela UE, deixou
visível a incapacidade de organizar recursos para salvar pessoas e o
desinteresse pelos seres humanos que não se oferecem apenas como mão de obra
qualificada e barata aos países de acolhimento, ou seja, a face criminosa e
pobre de humanismo que arrasta as nações para um abismo.
Os
dois lado da realidade, a direita e a esquerda na ação política, as duas faces
de quem exerce o poder, existem sempre para que os seres humanos escolham o seu
caminho na vida. Os disfarces para iludir os mais distraidos acabam por cair
quando a crise atropela os que se agarram ao poder. Não é novidade para
ninguém, a não ser para os distraidos como Passos Coelho e seus seguidores, ou
os que julgam que os povos são cegos.
Em
Portugal hoje está claro que os créditos recebidos foram aplicados
principalmente em bancos que, mal geridos e protegidos pelo Banco de Portugal
(que assina em cruz o que Bruxelas manda), pagaram grandes salários aos seus
executivos, congelaram os depósitos de clientes populares e foram à falência. A
austeridade deveria ter sido aplicada no setor financeiro e nos rendimentos dos
mais ricos. Austero quer dizer responsável, controlado, capaz de bem gerir os recursos
existentes. E a favor de Portugal independente, não de uma Troika que anda experimentando
planos de desenvolvimento financeiro sem conhecer os efeitos econômicos e sociais
sobre a população portuguesa, como hoje fazem os laboratórios da indústria
química internacional inventando medicamentos que matam e fertilizantes que
destroem o solo produtivo.
*Zillah
Branco - Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de
vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.
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