Rui Peralta,
Luanda
São
centenas de milhões de pessoas, no continente africano, que não têm acesso á
electricidade. De facto, segundo as estatísticas da UA, são mais de 645 milhões
de africanos sem acesso á electricidade. Para superar este panorama o Banco
Africano para o Desenvolvimento (BAD) desenvolve diversos programas como, por
exemplo, o Ilumina e Acende África, com o objectivo de proporcionar o acesso
universal á energia eléctrica no continente no próximo decénio. O programa
pretende atingir os seus objectivos através da expansão da rede eléctrica e
para isso serão investidos cerca de 12 mil milhões de USD nos próximos cinco
anos.
África tem o direito a desenvolver-se e o acesso á energia é um passo
importante, fundamental e impulsionador, para a criação de riqueza e de
bem-estar. Nesse sentido o continente não pode estar sujeito a regimes rígidos
de cortes de emissão de gases ou a outras medidas retiradas das cimeiras
climatéricas internacionais, que a serem aplicadas em África, de forma
inconsequente, serão obstáculos ao desenvolvimento. O acesso á energia é uma
prioridade para o continente africano e não podem ser descuradas quaisquer
fontes e alternativas.
As energias renováveis e as alterações climáticas são questões importantes e
pertinentes, às quais o continente não pode ficar alheio. O problema é se estas
questões serão uma prioridade para África. Para se industrializarem segundo os
novos parâmetros energéticos os países africanos seriam obrigados, por exemplo,
a ocuparem largas centenas de hectares com centrais solares ou eólicas, por
fábrica, para obterem a potência necessária. Não é apenas uma questão do fluxo
de financiamento necessário ou de transferência de tecnologia.
As alterações climáticas são reais e de Norte a Sul do continente concorda-se
por unanimidade que África é vítima desse fenómeno, sem o ter provocado.
Torna-se necessário que o continente africano receba apoio financeiro para
adaptar-se às consequências negativas das alterações climáticas mas, ao mesmo
tempo, esses fluxos de financiamento devem desempenhar um papel-chave nos
esforços de desenvolvimento. O fluxo irregular dos recursos financeiros
disponibilizados (e não concretizados) para adaptação e compensação dos novos
compromissos energéticos, mais o ténue compromisso assumido pelos países
industrializados na redução de emissões de gás carbono são duas questões que
colocam duvidas, apesar dos países africanos terem apoiado plenamente o acordo
climático de Paris.
Mas existe, ainda, uma outra questão fundamental nesta problemática das redes
eléctricas em África: a ineficiência dos serviços públicos, incapazes de
proporcionar o acesso universal á energia e de proporcionar energia fiável,
necessário para o esforço de desenvolvimento. Esta ineficiência advém de
múltiplos factores (corrupção, incompetência, burocracia, etc.), que nada tem a
ver com o facto de os serviços serem públicos. Não é a privatização que vai
resolver essa questão, conforme apregoam por aí alguns “reformadores
estruturantes”. Se esses serviços forem privatizados as coisas pioram e muito.
Torna-se, pois, necessária uma reforma desses serviços e uma nova filosofia de
gestão pública baseada na excelência do serviço público, para optimizar a
prestação de serviço às populações e torná-lo um instrumento de desenvolvimento
e uma ferramenta de equidade.
Até lá persistirá a neocolonização dos electrões e o consequente sofrimento por
parte dos cidadãos africanos.
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