José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
Não
compreendo o alvoroço em torno da nomeação de Isabel dos Santos para a
presidência do Conselho de administração da Sonangol. O Presidente
José Eduardo dos Santos teve em atenção apenas a competência da nomeada. Homem
íntegro, sério, impoluto, nem sequer se terá apercebido de que estava nomeando
a própria filha. Ele sempre soube separar a esfera privada da pública. Separa-a
tão bem que jamais confunde Isabel com Isabel. Uma coisa é Isabel dos Santos,
sua filha; outra é a Isabel dos Santos, empresária de sucesso, a mulher mais
rica de África. São, naturalmente, pessoas distintas. Tão distintas, ao menos,
quanto Fernando Pessoa e Alberto Caeiro. Fernando Pessoa deu origem a Alberto
Caeiro, é verdade, mas Alberto Caeiro não era Fernando Pessoa. Isabel dos
Santos, a filha mais velha de José Eduardo dos Santos, deu origem à prestigiada
empresária e agora distinta gestora pública, Isabel dos Santos. Contudo, só um
louco, ou um révu, o que, aliás, é a mesma coisa, se atreve a dizer que Isabel
é Isabel.
José
Eduardo dos Santos ama a filha, Isabel dos Santos, mas mal conhece a empresária
Isabel dos Santos. Nunca conviveu com ela. Jamais a recebeu em casa. O mesmo se
pode dizer relativamente a Zenú dos Santos, Coréon Dú (dos Santos) ou
Welwitschia dos Santos.
Por
outro lado, o Presidente é o pai da Nação. Somos todos seus filhos. Assim, ao
nomear qualquer angolano para um determinado cargo público, José Eduardo dos
Santos estará inevitavelmente a nomear um filho. É isto nepotismo? Não, meus
senhores, é patriotismo.
Outra
objecção que os loucos, os révus e todo um imenso bando de antipatriotas (são a
mesma coisa) repetem, é que a empresária Isabel dos Santos não poderia nunca
ser nomeada para um cargo público, visto tratarem-se de funções concorrentes.
Disparate. Mais uma vez, estamos a falar de pessoas diferentes: uma pessoa é
Isabel, a empresária competente, e outra é Isabel, a gestora pública de
reconhecidos méritos. São pessoas tão distintas quanto, digamos assim, Nossa
Senhora Aparecida e Nossa Senhora da Muxima. As duas são a Virgem Maria, mãe de
Jesus, certo, mas uma é negra e brasileira e a outra branca e angolana.
Isabel,
a empresária, a mulher mais rica de África, mal conhece Isabel, a competente
gestora pública. Nem sequer se frequentam. Não há uma única fotografia – uma
única! – que mostre a empresária Isabel dos Santos ao lado da gestora pública
Isabel dos Santos. Desafio qualquer révu a mostrar-me uma fotografia das duas
juntas num mesmo evento.
Temos,
portanto, que uma coisa é Isabel, outra a Isabel, e outra ainda a Isabel.
Finalmente:
embora o Presidente José Eduardo dos Santos não tenha ligação alguma com a
Isabel, muito menos com a Isabel, conhece muito bem o pai de ambas – e confia
nele.
Entenderam,
ou é preciso fazer um desenho?
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