O
politólogo moçambicano João Pereira considerou hoje que as crises que
Moçambique atravessa descredibilizam fortemente a Frelimo, considerando que o
partido no poder há mais de 40 anos revela-se incapaz de apresentar soluções
para os problemas do povo moçambicano.
"Estas
situações todas descredibilizaram fortemente a Frelimo [Frente de Libertação de
Moçambique]", disse à Lusa o professor de Ciência Política na Universidade
Eduardo Mondlane, à margem de uma manifestação contra a crise política e a
situação económica do país, organizada hoje em Maputo.
Para
o académico moçambicano, os valores pelos quais a Frelimo lutou pela
independência foram esquecidos e, nos últimos tempos, o partido liderado por
Filipe Nyusi, também chefe de Estado, passou de uma organização política que
responde às necessidades do seu povo para uma simples máquina eleitoral.
Incapaz
de responder às necessidades básicas do seu povo e sem reformas políticas que
respondam ao dinamismo dos novos tempos, observou o politólogo, a Frelimo
arrisca-se a perder os próximos pleitos eleitorais, na medida em que a
insatisfação da população cresce gradualmente.
"Se
a crise económica aumentar, sem dúvida, a probabilidade de vitória é muito
reduzida para a Frelimo", afirmou o académico, alertando que os níveis de
abstenção eleitoral no último escrutínio revelam uma descrença na política por
parte dos moçambicanos.
Cético
quanto aos resultados das negociações recentemente restabelecidas entre o
Governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), João Pereira entende que
o processo para o fim da crise política e militar será demasiadamente longo,
observando que, enquanto as partes não restabelecerem a confiança, Afonso
Dhlakama não vai sair do mato para negociar com o Presidente da República,
Filipe Nyusi.
"Não
sei se estas comissões vão conseguir chegar a acordos que facilitem a saída de
Afonso Dhlakama", afirmou, apontando a exigência da Renamo de governar as
seis províncias onde reivindica vitória nas eleições de 2014 e as inserção de
quadros do partido de Afonso Dhlakama na polícia e no exército como os aspetos
que mais vão criar dissensos no processo negocial.
"Nós
ainda vamos ter momentos muito difíceis", declarou, observando que nos
próximos tempos a situação vai deteriorar, apesar de os líderes das duas partes
terem manifestado recentemente a ambição de acabar com a crise política em
Moçambique.
Na
quinta-feira, o Presidente moçambicano disse que aceitará a presença de
mediadores nas negociações entre o Governo e a Renamo, apontando o fim imediato
dos confrontos como uma prioridade.
O
líder do principal partido de oposição moçambicano disse, na sexta-feira, que
alcançou, por telefone, consensos com o chefe de Estado moçambicano, Filipe
Nyusi, sobre a paz, mas fez depender o fim dos confrontos armados de garantias
de segurança.
Moçambique
tem conhecido um agravamento dos confrontos entre as Forças de Defesa e
Segurança e o braço armado da Renamo, além de acusações mútuas de raptos e
assassínios de militantes dos dois lados.
O
principal partido da oposição recusa-se a aceitar os resultados das eleições
gerais de 2014, ameaçando governar em seis províncias onde reivindica vitória
no escrutínio.
EYAC
// VM - Lusa
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