Centenas
de pessoas marcharam hoje em Maputo contra a situação política e económica em
Moçambique, exigindo a responsabilização dos autores das dívidas escondidas e o
fim das confrontações militares entre o Governo e a Renamo, principal partido
de oposição.
A
manifestação, convocada por organizações da sociedade civil iniciou-se por
volta das 08:30 (07:30 de Lisboa), quando dezenas de pessoas começaram a
reunir-se em frente à estátua do fundador da Frente de Libertação de Moçambique
(Frelimo), partido no poder, Eduardo Mondlane, numa das principais avenidas da
capital moçambicana.
Empunhando
cartazes com mensagens de repúdio à guerra e pedindo a responsabilização dos
autores das chamadas dívidas escondidas, os manifestantes exigiram a cessação
imediata dos confrontos militares entre as forças de defesa e segurança e o
braço armado da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo).
Num
percurso de mais de dois quilómetros, sob forte escolta policial, os
manifestantes entoaram hinos de exaltação à liberdade e à transparência, e
frases como "essa dívida não vamos pagar" e "queremos o nosso
dinheiro".
"Nós
exigimos a responsabilização, aonde é que estão os rostos das pessoas que
contraíram essa dívida", questionou Alice Mabota, presidente da Liga dos
Direitos Humanos em Moçambique, uma das responsáveis pela marcha, que teve como
ponto de chegada a Praça da Independência, onde a forças policiais com cães
estavam estrategicamente posicionadas desde as primeiras horas da manhã.
No
manifesto distribuído ao público e lido na estátua do primeiro Presidente de
Moçambique independente, Samora Machel, na Praça da Independência, as
organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma
auditoria forense à dívida pública, visando a responsabilização criminal dos
autores das dívidas.
"Nós
queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por
estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças a
ativistas sociais não vão "amedrontar o povo".
Além
da dívida e da crise política, as organizações da sociedade civil
manifestaram-se preocupados com as liberdades de expressão e imprensa, num
momento em que atentados contra académicos, analistas, jornalistas e
personalidades políticas têm abalado o país.
A
vala comum denunciada em abril por camponeses no centro de Moçambique e os
raptos foram também temas visíveis nos cartazes dos manifestantes, que exigiam
o esclarecimento das circunstâncias em foram depositados corpos recentemente
encontrados ao abandono no centro de Moçambique e a captura dos mandantes dos
sequestros que abalam as cidades de Maputo e Beira nos últimos anos.
"Estamos
a ficar sem esperança com tantas notícias más nos últimos tempos",
lamentou à Lusa Sheila Mutobene, ativista do Centro de Estudos Moçambicanos e
Internacionais.
Empréstimos
contraídos entre 2013 e 2014 pelo anterior Governo fizeram disparar a dívida
pública de Moçambique para mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB), levando
os principais doadores ao Orçamento de Estado (OE) a suspenderem o seu apoio,
exigindo um esclarecimento.
Por
outro lado, o país enfrenta uma crise política e militar, marcada por
confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e o braço armado da Renamo,
incidentes que já vitimaram várias pessoas no centro de Moçambique.
EYAC
// VM - Lusa
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