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A nova sede da Aliança, em Bruxelas, acaba de ser
construida pela módica soma de mil milhões (um bilião-br) de dólares.
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Thierry
Meyssan*
A
história da Otan e as suas acções actuais permitem compreender como o Ocidente
construiu as suas mentiras e porquê está agora refém delas. Os elementos
contidos neste artigo são chocantes, mas é impossível desmentir os factos.
Quando muito podem-se agarrar às mentiras e persistir em manter-se nelas.
O
que é a Aliança é hoje em dia
Cada
Estado-membro é solicitado a armar-se para participar nas próximas guerras e a
isso consagrar 2% do seu PIB, mesmo se ainda se está, na realidade, longe do
exigido. Como estes armamentos devem ser compatíveis com as normas da OTAN
solicita-se que sejam comprados em Washington.
Claro,
restam ainda algumas produções nacionais de armamento, mas não por muito tempo.
No decurso dos últimos vinte anos, a OTAN forçou sistematicamente o encerrar
das fábricas de aeronáutica militar dos seus Estados-Membros, salvo a dos
Estados Unidos. O Pentágono anunciou a criação de um avião multi-tarefas, a um
preço imbatível, o F-35 Joint Strike Fighter. Todos os Estados o encomendaram e
fecharam as suas próprias fábricas. Vinte anos mais tarde, o Pentágono ainda
não está em condições de produzir um único destes aviões multi-tarefa e
continua a apresentar durante as feiras de armamento aviões F-22 reciclados. Os
clientes são constantemente solicitados a financiar as pesquisas, enquanto o
Congresso estuda o relançamento da produção de antigos aviões porque,
provavelmente, o F-35 jamais verá a luz do dia.
A
OTAN funciona, portanto, como uma empresa de extorsão: os que não paguem terão
de enfrentar atentados terroristas.
Tendo
os EUA empurrado os seus aliados para se tornarem dependentes da sua indústria
militar cessaram de a aperfeiçoar. No entretanto, a Rússia reconstituiu a sua
indústria de armamento e a China está prestes a fazê-lo. No momento, o exército
russo já ultrapassou o Pentágono em matéria de armamento convencional. O
sistema que pôde colocar no Oeste da Síria, no mar Negro e em Kaliningrado
permite-lhe desactivar os sistemas de comando da OTAN, os quais tiveram que
renunciar a vigiá-la nestas regiões. E, em material aeronáutico, ela produz já
aviões multi-função de deixar verdes de inveja os pilotos da Aliança. A China,
por sua vez, deverá ultrapassar a OTAN em material convencional daqui a dois
anos.
Os
Aliados assistem, pois, à decrepitude da Aliança, que é também a sua, sem
reagir, com a excepção do Reino Unido.
O
caso do Daesh (E.I.)
Após
a histeria dos anos 2000 a propósito da Al-Qaida, um novo inimigo nos ameaça: o
Emirado Islâmico no Iraque e no Levante, conhecido como «Daesh». Foi pedido a
Todos os Estados-Membros foram solicitados a juntarem-se à «Coligação Mundial»
(sic) para o derrotar. A cimeira de Varsóvia felicitou-se pelas vitórias
conseguidas no Iraque, e mesmo na Síria, apesar «da intervenção militar da
Rússia, a sua significativa presença militar, o seu apoio ao regime» que
constituem uma «fonte de riscos e [de] desafios suplementares para a segurança
dos Aliados» (sic) [1].
Tendo
toda a gente percebido muito bem que o Emirado Islâmico tinha sido criado, em
2006, pelos Estados Unidos, garantem-nos que a organização hoje em dia se
voltou contra eles, como nos tinham impingido a propósito da al-Qaida. Mesmo
assim, a 8 de Julho, enquanto o Exército árabe sírio combatia contra grupos
terroristas, entre os quais o Daesh (EI), a Leste de Homs, a Força aérea
americana veio apoiá-los durante quatro horas. Desta vez para benefício do
Daesh com o propósito de destruir metodicamente o “pipeline” ligando a Síria ao
Iraque e o Irão. Ou, novamente, aquando dos atentados de 4 de Julho na Arábia
Saudita (nomeadamente face ao Consulado norte-americano de Jeddah, do outro
lado da rua) o Daesh utilizou explosivos militares high tech (alta tecnologia)
que actualmente só o Pentágono possui. Não é, pois, difícil compreender que com
uma mão o Pentágono combate o Emirado Islâmico em certas zonas, enquanto, com a
outra, lhe fornece armas e um apoio logístico em outras zonas.
O
exemplo ucraniano
O
outro bicho-papão é a Rússia. As suas «acções agressivas (…) e incluindo as
suas provocadoras actividades militares na periferia do território da OTAN, e a
sua vontade revelada de atingir objectivos políticos através da ameaça ou do
emprego da força, constituem uma fonte de instabilidade regional, representam
um desafio fundamental para a Aliança» (sic).
A
Aliança reprova-lhe ter anexado a Crimeia, o que é exacto, negando aqui o
contexto desta anexação: o golpe de Estado organizado pela CIA em Kiev e a
instalação de um governo que inclui nazis. Em suma, os membros da OTAN têm
todos os direitos, enquanto a Rússia violaria os acordos que tinha concluído
com a Aliança.
A
cimeira de Varsóvia
A
cimeira não permitiu a Washington colmatar as brechas. O Reino Unido que acaba
de pôr um fim à sua «relação especial» saindo da União Europeia recusou-se a
aumentar a sua participação na Aliança para compensar o esforço que cancelou no
seio da UE. Londres refugiou-se atrás da sua próxima mudança de governo para
iludir as questões.
No
máximo puderam tomar duas decisões: instalar bases permanentes na fronteira
russa e desenvolver o escudo anti-míssil. Sendo a primeira decisão contrária
aos compromissos da OTAN, agirão instalando tropas que alternarão de modo que
não haverá aí nenhum contingente permanente, mas, em que as tropas estarão
sempre presentes. A segunda consiste em utilizar o território de Aliados para
aí colocar soldados norte-americanos e um sistema de armas. Para não vexar os
povos que ocuparão, os Estados Unidos aceitaram colocar o escudo anti-míssil
não não sob o seu comando, mas sob o da OTAN.
O
que apenas muda no papel, já que o Comandante supremo da Aliança, actualmente o
general Curtis Scaparrotti, é obrigatoriamente um oficial norte-americano
nomeado unicamente pelo Presidente dos Estados Unidos.
Thierry Meyssan* –
Voltaire.net - Tradução Alva
*Intelectual
francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace.
As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe,
latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable
imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand,
2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y
desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).
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