Mário Motta, Lisboa
Sabemos
que é ilegal governantes receberem “favores” ou “presentes” de terceiros (a lei
até é mais abrangente e inclui outros com grandes responsabilidades na coisa
pública), se assim é não se compreende que secretários de estado e deputados
tenham recebido de presente da Galp viagens a Paris (e que mais?) para
assistirem a jogos do Euro 2016. Mas receberam. Infringiram a lei. O que lhes
resta é terem a decência de se demitirem. Já deviam ter-se demitido em vez de
encarnarem em desavergonhados impunes que consideram não ter feito nada de mal,
de errado, de ilegal.
Nesta
altura do campeonato não importa se voltaram atrás e pagaram de seus bolsos, obviamente que à
posteriori, as despesas correspondentes que foram “oferta” da Galp. Importa que
pularam a cerca da lei e, principalmente, da decência. Até porque só avançaram
com o pagamento à Galp depois de os “presentes” serem do conhecimento público.
Caso contrário as suas consciências estavam tranquilas e repousadas num falso
indicador de “muito honestos” (como Cavaco, p. ex.). Não, de modo algum são dos
que interessam para desempenhar cargos que devem cuidar da coisa pública e
cumprir escrupulosamente a lei. Esta é a verdade de La Palisse. Não há volta a
dar.
Sabemos
que o governo PS tem andado a assobiar para o lado e que a sua faceta
inescrupulosa relativamente a príncipios éticos e legais sobressaiu com este
caso dos “presentes” da Galp. Todos vimos que o governo PS quer à viva força
manter aqueles secretários de estado no ativo (há ainda deputados neste
imbróglio?) não os demitindo ou convidando-os a demitirem-se – o que vai dar no
mesmo para a República que se livra deles.
Também
sabemos que os partidos de esquerda que apoiam o governo no parlamento, BE e
PCP, alinham na marcha do assobiar para o lado em vez de tomarem a posição
habitual e declarada anteriormente em outros casos que envolviam a direita,
exigindo a demissão dos prevaricadores. Podiam fazê-lo sem alarde para não
ferir suscetibilidades do PS e do governo Costa mas a coerência exige que
mantenham a exigência da transparência e respeito pelas leis da República.
Em
vez disso o que vimos é um silêncio ensurdecedor da violação de princípios
básicos das regras democráticas e republicanas. Vimos a direita num ataque
constante com razões evidentes, independentemente de ser useira e vezeira neste
tipo de casos e de outros muito mais graves, por que tem passado impunemente –
assim como o PS. Vimos o governo de Costa e os partidos que parlamentarmente
apoiam o governo a serem atacados e a entregar munições para mais ataques. Em
política o que parece é. O que parece é que o Bloco e o PCP estão a engolir um
elefante que vão ter de vomitar.
Penosamente
assistimos ao Bloco de Esquerda e ao PCP a responder ‘nim’ sobre a
inquestionável demissão dos secretários de estado ‘”presenteados”. È público e
notório que isso envergonha a esquerda e, principalmente, descredibiliza-a por
demonstrar ter dois pesos e duas medidas. Envergonha a esquerda que sempre se
tem pronunciado contra a impunidade e branqueamento de casos semelhantes
ocorridos anteriormente, principalmente envolvendo governantes da direita PSD /
CDS, mas também do PS.
O
que está a acontecer é o florescer de algo que devia ter sido cortado cerce
logo ao despontar. E a iniciativa devia ter partido dos secretários de estado
“presenteados”. Caso não tomassem a iniciativa, competia ao PM tomá-la. Como
assim não aconteceu é demonstrado que para o governo a transparência, o rigor e
cumprimento da lei, a correção, a honestidade, não são assim tão importantes como
andou a propalar. E o mesmo podemos dizer do BE e do PCP, ao não corresponderem
aos critérios por eles anteriormente expostos e defendidos como justificáveis e
inquestionáveis princípios.
Enquistando
o tema devemos ou não perguntar se os “presentes”, os “favores” a corrupção –
de maior ou menor vulto – se for prática de elementos supostamente de esquerda
deixa de ser corrupção, deixa de ser ato ilegal e violador da ética que deve
orientar os que são eleitos ou nomeados para governar e proteger a coisa
pública e a democracia?
O
Partido Socialista, tal como o PSD e o CDS, são useiros e vezeiros nestas
promiscuidades com o poder económico e financeiro. Para eles é de sua génese
estas situações. Só por uma questão política de desgaste do governo é que o CDS e o PSD se armam
em prostitutas sérias. Todos o sabemos. Assim como sabemos que o Bloco de
Esquerda e o PCP não devem alinhar nestes “comboios”. António Costa, se quer o
apoio parlamentar daqueles partidos de esquerda e manter o governo, deve
clarificar a situação, torná-la limpinha-limpinha e transmitir conforto aos
partidos que o apoiam, assim como ao seu partido e, principalmente, ao governo
de que é primeiro-ministro. Não há dúvida que quer o Bloco, quer o PCP estão
muito desconfortáveis nesta situação, o PS e o governo também. Se bem que o PS
já tenha calo naquelas andanças dos “presentes”.
Afirmaram que iam melhorar a
vida dos portugueses e aqui têm uma boa oportunidade, além das que já tiveram
de positivas e das que ambicionamos ainda melhores no presente e no futuro. Os
senhores secretários de estado que meteram a “pata na poça” que se demitam. Façam esse favor a
Portugal e aos portugueses! Pela continuidade impoluta e defesa deste governo.
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