Tiago
Mota Saraiva – jornal i, opinião
Entre
a falsa novidade de que a exposição solar iria influenciar a avaliação das
casas e os Jogos Olímpicos, eis que se publica na revista “Sábado” que o
secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, foi ver a final do
Euro 2016 à conta da Galp - empresa com a qual o Estado, soube-se agora, tem um
litígio de 100 milhões de euros por não pagamento de impostos.
Mais
tarde, veio a saber-se que mais dois secretários de Estado do atual governo
integraram este grupo de 50 convivas amigos da gasolineira. Da lista revelada
cirurgicamente para atingir o governo desconhecem-se os outros 47. Ainda mais
curioso é que os convites da Galp poderão ter chegado pela mão do administrador
responsável pelos serviços corporativos, Carlos Costa Pina, ex-secretário de Estado
do Tesouro e Finanças entre 2005 e 2011.
A
indignação pública centra-se nos governantes. Escapa-me quando é que passou a
ser tolerável que uma empresa convide ou dê prendas a quem a tutela ou regula.
Ministério Público, está alguém a ouvir?
Mas
há mais.
Passados
dois dias, o “Observador” revela que três deputados do PSD, entre os quais o
líder do grupo parlamentar, fizeram o mesmo roteiro à conta da Olivedesportos.
Num primeiro momento, Luís Campos Ferreira evita comentar alegando tratar-se da
sua “vida privada” e, mais tarde, os três assinam uma declaração afirmando que
a notícia é falsa. Nos registos da Assembleia da República, assumem as faltas.
Montenegro e Campos Ferreira afirmam ter estado em “trabalho político”. Hugo
Soares declara “motivo de força maior” para ir ver o jogo da bola.
Parece-me
importante que se desenhe um código de ética para deputados, governantes e
ex-governantes, mas nada do que se escreva poderá prevalecer se estes casos
forem tolerados. Nenhum dos nomeados demonstrou arrependimento, nem sequer o
entendimento sobre o conflito de interesses em que se colocou. Permito-me
arriscar que olharão para esta polémica como um aborrecimento que passará com o
tempo e não como uma questão de princípios. Não aprenderam nada e a empresa manterá
a sua lógica de convites a quem importa.
Não
há lei que possa prevalecer no território da impunidade.
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