segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Portugal. OBVIAMENTE, DEMITIDOS



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Entre a falsa novidade de que a exposição solar iria influenciar a avaliação das casas e os Jogos Olímpicos, eis que se publica na revista “Sábado” que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Rocha Andrade, foi ver a final do Euro 2016 à conta da Galp - empresa com a qual o Estado, soube-se agora, tem um litígio de 100 milhões de euros por não pagamento de impostos.

Mais tarde, veio a saber-se que mais dois secretários de Estado do atual governo integraram este grupo de 50 convivas amigos da gasolineira. Da lista revelada cirurgicamente para atingir o governo desconhecem-se os outros 47. Ainda mais curioso é que os convites da Galp poderão ter chegado pela mão do administrador responsável pelos serviços corporativos, Carlos Costa Pina, ex-secretário de Estado do Tesouro e Finanças entre 2005 e 2011.

A indignação pública centra-se nos governantes. Escapa-me quando é que passou a ser tolerável que uma empresa convide ou dê prendas a quem a tutela ou regula. Ministério Público, está alguém a ouvir?

Mas há mais.

Passados dois dias, o “Observador” revela que três deputados do PSD, entre os quais o líder do grupo parlamentar, fizeram o mesmo roteiro à conta da Olivedesportos. Num primeiro momento, Luís Campos Ferreira evita comentar alegando tratar-se da sua “vida privada” e, mais tarde, os três assinam uma declaração afirmando que a notícia é falsa. Nos registos da Assembleia da República, assumem as faltas. Montenegro e Campos Ferreira afirmam ter estado em “trabalho político”. Hugo Soares declara “motivo de força maior” para ir ver o jogo da bola.

Parece-me importante que se desenhe um código de ética para deputados, governantes e ex-governantes, mas nada do que se escreva poderá prevalecer se estes casos forem tolerados. Nenhum dos nomeados demonstrou arrependimento, nem sequer o entendimento sobre o conflito de interesses em que se colocou. Permito-me arriscar que olharão para esta polémica como um aborrecimento que passará com o tempo e não como uma questão de princípios. Não aprenderam nada e a empresa manterá a sua lógica de convites a quem importa.

Não há lei que possa prevalecer no território da impunidade. 

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