sábado, 2 de janeiro de 2016

PASSADO, PRESENTE E FUTURO DOS PAÍSES LUSÓFONOS – BALANÇO E PERSPETIVAS




Portugal. PASSADO, PRESENTE E FUTURO DE UM PAÍS À BEIRA-MAR ESPOLIADO

A terminar. Adeus 2015. Ano de excelência para políticos em conluio com a ditadura dos Mercados, das Agências de Rating, da Banca. Enfim, ano de excelência para os terroristas e ladrões que presidem, ministram, gerem, manipulam a favor dos do grande capital global, do capital nacional (por consequência). Ano excelso em Portugal para aqueles que espoliaram os portugueses até à exaustão e que em conluio com a máfia financeira sepultaram Portugal e portugueses no lodo da miséria roubando aos pobres para entregar aos ricos. Sobressaem daqui Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas como cabecilhas dos roubos perpetrados a milhões de portugueses. Serão esses que veremos um dia mais ou menos próximo serem condecorados por um qualquer dos seus cúmplices partidários e ideológicos. Cerimónia à medida de Marcelo Rebelo de Sousa, a ser eleito presidente da República em breve, como ditam as sondagens e, principalmente, toda a máquina maquiavélica de propaganda e promoção (comunicação social) que há anos transporta aquele sujeito saído das entranhas do salazarismo. Cavaco vai embora de Belém mas fica. Sai um ex-PIDE fica um doutorado em expedientes avançados e atualizados do salazarismo que lhe está nas tripas, no coração e na mete. Esse é o odor que lhe trespassa a pele. Não existe desodorizante que disfarce o pivete. É aos portugueses eleitores que compete decidir se querem substituir Cavaco Silva por Cavaco Marcelo Silva Rebelo de Sousa.

PAÍSES LUSÓFONOS

Com novo título nesta postagem Página Global optou por reeditar o constante em 2015, O ANO DO GRANDE AFUNDANÇO DOS PORTUGUESES. 2016, MAIS DO MESMO?. Parcialmente podem deparar com a reedição de alguns dos textos do referido título mas se bem repararem há matéria novo. Matéria que corresponde a textos de autores do nosso coletivo que tiveram a amabilidade de participar numa postagem alargada que a seu modo cumpre a proposta de existência do Página: primeiro a lusofonia ou destaque à lusofonia.

É assim que agora neste novo título pode conferir a existência de Timor-Leste, de Moçambique e de Angola em algumas notas sobre o passado (2015), presente e futuro (2016) daqueles países, por enquanto. Contamos que outros autores do PG, noutros países da CPLP, se juntem a este post coletivo.

Sejam muito bem-vindos ao mundo em que se fala e escreve na língua portuguesa.

Redação PG

Portugal. 2015, SEQUÊNCIA DE QUATRO ANOS DE DEVASTAÇÃO DO PAÍS

Hélder Semedo, Coimbra

Não trago aqui a retrospetiva dos acontecimentos mais marcantes em Portugal. O que lá vai lá vai. Em 2015 fomos roubados com a pomposa classificação de contribuintes. Os golpes de mão foram de autores já conhecidos, com destaque para os mais ardilosos responsáveis pelos furtos que geraram desemprego, fome e miséria: Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, com a cumplicidade de Cavaco Silva no mais elevado grau de responsabilidades. Aqui também cabe referir outros altos responsáveis pela miséria causada: os deputados da maioria PSD / CDS.

Os roubos dos banqueiros, que levaram os bancos à falência foram cobertos pelo roubo posterior aos contribuintes portugueses. Roubo com a chancela do então governo. Vimos o festival de debulho durante os quatro anos de vigência desse governo. Fomos roubados para salvar bancos e banqueiros, senhores da alta finança, escumalha de colarinhos brancos que tem sido premiada com a impunidade proporcionada pela justiça portuguesa, que é forte com os fracos e fraca com os fortes. Fraca ou cúmplice, é igual.

Pela Europa e pelo resto do mundo também tudo isso aconteceu. Temos assistido a roubos à escala global. É a globalização. Globalização engendrada com os propósitos que estão à vista, numa versão de Robin dos Bosques inversa: roubar aos pobres para dar aos ricos. Referem produtos tóxicos que deram cabo do canastro à economia global. Referem bolhas imobiliárias. Referem todo o género de justificações ardilosas, não referem a corrupção, as operações das lavagens de capital criminosas, capital com origens em tráfico de estupefacientes, de tráfico de seres humanos, de tráfico de armamento, de medicamentos falseados, de tráfico de crianças e correlativa pedofilia, etc., etc. Nem falam dos paraísos fiscais para onde canalizam o produto dos seus crimes económicos. E esses, os criminosos, estão postados em grandes e globais empresas, em grandes e globais bancos, em maiores ou menores governos, de maiores ou menores países. A todos esses crimes a justiça dos países reage quase sempre com impunidade. Em Portugal também. Aliás, é suposto por grande parte dos cidadãos do mundo que os setores de justiça estão comprados e comprometidos. Não serão todos os operadores de justiça, apenas alguns, mas os suficientes para permitirem proporcionar a impunidades aos maiores criminosos do mundo, aos que atentam contra a humanidade. Obviamente que Portugal não é exceção. O grande capital tem as mãos sujas de fuligem dos roubos e de sangue. Em Portugal os políticos em concluio com o grande capital também estão sujos. As políticas impostas e seguidas por Passos e Portas são a prova mais que suficiente de que foram causadores da fome, miséria, violação de direitos fundamentais dos portugueses.

Os setores que asseguravam bens sociais justos, como a saúde, a habitação, os transportes, a educação, o emprego, vieram sendo destruição por via de uma alegada liberalização que roça o fascismo e não é mais nem menos que a ditadura do grande capital imposta a milhões de seres humanos. A democracia já foi. Extinguiu-se no ato da votação após campanhas manipulatórias pejadas de mentirosos, de vigaristas, de ardis como aqueles que Passos e Portas aplicaram e, ainda hoje aplicam com os maiores descaramentos. A tudo isso, a esse quadro de tenebrosos seres humanos e políticos soma-se Cavaco Silva e os ministros de um governo de quatro anos que cometeu crimes nas urgências dos hospitais matando velhos e novos, numa estatística que está por fazer e que deverá chegar a centenas de vítimas desses crimes por via dos cortes financeiros e de recursos que devem ser garante do Serviço Nacional de Saúde. Nesse capítulo um ministro sobresaiu, o da Saúde. Paulo Macedo, também conhecido pelo Doutor Morte, teve vários troféus pela mortandade conseguida devido ao setor da saúde quase destruído. Ainda agora, que já não é ministro, que o governo de Passos já se foi, a saúde continua a matar nas urgências pelas causas conhecidas: os cortes deliberados a qualquer preço. Preço que tem custado muitas vidas. Quantas? A estimativa é de algumas centenas. Talvez se venha a saber com maior exatidão.

Este foi o 2015,  sequência de quatro anos da fase de completa devastação do país por uma seita que sempre encontrou apoio num pseudo presidente da República e num grupo maioritário de deputados que defenderam interesses de cores e razões traidoras e devastadoras do país e dos portugueses. Este ano que agora finda foi o culminar dessas políticas de devassa de direitos constitucionais, até algumas vezes desrespeitados por Cavaco Silva, presidente do descalabro e do descrédito da instituição que devia honrar, a República.

Temos novo governo, dito das esquerdas. Duvido. O Bloco Central está vivo, somente hibernado. O Arco da Governação continua a existir, está somente envolvido numa grande e ardilosa trapaça. A tal iremos assistir com Costa em PM e o PS no governo. A austeridade continua. Os roubos aos portugueses também, com o aval de Costa e do PS. Vide caso do Banif, mais do mesmo. (HS / PG)

Portugal. ASSIS ASCO E COMPANHIA, PENDURAS QUE ADERIRAM AO PS POR TACHO

Mário Motta, Lisboa

Para terminar o ano em beleza e perceber um pouco da chafarica que vai no Partido Socialista temos a oportunidade, mais uma, de analisar um pendura que nada tem de comum com o referido partido mas ali se alapou e ascendeu a deputado do parlamento em Portugal e em seguida no parlamento europeu. Assis mostra que não é socialista, diz-se democrático mas sem convicção, nas práticas e declarações é um natural sujeito de direita sem vergonha, continuando a ser um mistério as razões porque aderiu ao Partido Socialista e não ao CDS ou ao PSD. Tal mistério só se desvanece quando lembramos que o sujeito se filiou no PS à procura de tacho, sendo ali, no PS, que a existia melhor oportunidade de saltar lá para dentro (do tacho).

O fim do ano 2015 em beleza tem que ver com a entrevista de Assis ao Público e referida no semanário Sol. Sol que destaca: “Em tempo de balanços, Francisco Assis arrisca uma previsão sobre a queda do Governo de Costa e não poupa nos elogios a Passos Coelho e à bancada parlamentar do CDS.”

E mais: “António Costa, para ter sucesso, terá de ter condições para escolher o tema e o momento da crise política anunciadora do seu fim. É aí que tudo se vai jogar e tal poderá suceder muito mais cedo do que antevê a maioria dos especialistas”, escreve Assis no Público”

É legitimo que Assis faça as declarações que muito bem entender. Cabe-nos aceitar democraticamente que o faça, assim como também é legítimo que o critiquemos. O quie não se compreende é que um deputado socialista elogie carrascos dos direitos, liberdades e garantias constitucionais que esbulharam os portugueses e os votaram à fome, ao desemprego, à miséria e até à morte. Ao admirar Passos e Portas, o PSD e o CDS, Assis assume-se um dos deles e não um socialista, e não um militante PS de facto. Porque aderiu ao PS em vez de ter aderir enquanto militante ao CDS ou ao PSD? Só pode ter sido por uma questão de oportunidade na obtenção de um tacho, de uma forma de vida fácil e nababa à custa dos contribuintes. Pelos vistos no PS a ascenção foi mais rápida que se aderisse ao CDS ou ao PSD. Outros há no PS que usaram os mesmos expedientes que Assis.

Os Assis, os Sousa Pinto e mais do bando - Sousa Pinto que já tem a sua dose opinativa aqui no PG (SOUSA PINTO, DEPUTADO E SOCIALISTAZINHO PORTUGUÊS EM PROL DA DEMOCRACIAZINHA) compõe a facção dos socialistazinhos em prol da democraciazinha. E está tudo dito. Por eles o PS jamais vingará naquilo que declara ser e fazer. Mal alguém no PS dá um passo para a esquerda a alcateia socialistazinha faz o trabalho do CDS e do PSD, da direita ressabiada. Tão ressabiada como os Assis e os Sérgios.

Que não hajam ilusões. O PS é um partido de pleno direito mas possui por definição um esse enganador, é socialista só por esse esse (S), por essa letra, e não na realidade. O PS é um partido a ver se se safa num eterno arco da governação, num eterno arco da corrupção, numa eterna política de ilusão para os portugueses. Afinal pouca diferença existe entre o PS e o PSD ou o CDS. O PS não é um partido político de esquerda.

Desiludam-se. O arco da governação está em funções. Temos mais do mesmo, independentemente de muitos no Partido Socialista querem e tudo fazerem para que as políticas tenham a componente possível de esquerda e que dignifiquem o PS.

A perspetiva é quase uma certeza: 2016 vai ser um ano de tormentos para os portugueses. Também vai ser um ano de tormentos para António Costa, ao querer convencer os portugueses que está a governar à esquerda quando na realidade governa à direita, tal qual os cânones do arco da governação. Temos a evidência do caso Banif, do apoio do PSD ao PS no parlamento, temos os aumentos de preços de bens essenciais, temos cortes a manterem-se no pessoal da administração (por exemplo) temos aumentos irrisórios aos pensionistas, de pura desconsideração à dignidade de quem tudo deu a este país durante a vida, etc.

Grande parte dos atuais políticos são de uma geração pendura, parasitária, que se revê em ascos como Assis, por isso os promove… e os profissionais da comunicação social também têm as suas responsabilidades nisso. A geração do 25 de Abril é para abater. Essa é a imagem que passa. Abater os velhos que deram seguimento à luta dos seus antecessores pela democracia e pela liberdade. Que suportaram durante 13 anos uma guerra colonial injusta e se rebelaram. Que numa manhã de Abril conquistaram os direitos de cidadania republicana numa sociedade livre que se pretendia justa, com o usufruto natural dos direitos humanos reconhecidos a toda a humanidade na carta das Nações Unidas - de que Portugal é signatário.

Atente, 2016 não vai ser ano pêra doce. Vai haver muito atropelo aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e, consequentemente, muita luta pela frente. Como é costume dizer-se: mais do mesmo.

Timor-Leste. 2016 JÁ CHEGOU ÀS TERRAS DO SOL NASCENTE, SOMOS SEMPRE OS PRIMEIROS A DAR AS BOAS-VINDAS AO NOVO ANO

Beatriz Gambôa, Díli

Pouco falta em Portugal e por todo o ocidente para darem as boas-vindas ao novo ano, por aqui, em Timor-Leste, já o fizemos há cerca de 9 horas. Houve muita folia, dormir pouco e ver que nos esperava uma manhã radiosa. Feliz ano novo!

Não me alongarei como o fizeram os meus companheiros anteriores desta postagem coletiva. Chega um novo ano e o optimismo paira nos ares. Timor-Leste está em paz, socialmente verificam-se melhorias, porém, ainda são poucos os que delas beneficiam. Cabe ao novo governo ampliá-las e acreditamos que o novo governo terá a necessária sensibilidade para o fazer.

Em 2017 é ano de eleições. O resultado é uma incógnita mas a perspetiva reside num partido político que, segundo apontam os rumores, está a ser construído à medida do atual Presidente da República, Taur Matan Ruak. Confiamos nele, oxalá isso aconteça e ele venha a ser chefe do futuro governo a partir do ano que vem.

Como vêem deixo aqui plasmado o meu optimismo. A vida deve ser condimentada com muita esperança e fé. É o que aqui fazemos em Timor-Leste. É o que desejo para os meus irmãos portugueses, para quem a vida não tem sido nada fácil durante estes últimos anos. Melhores dias virão.

Feliz ano novo, meus irmãos dos países da lusofonia! (BG / PG)

EM 2016 A LUTA VAI CONTINUAR EM MOÇAMBIQUE


Moçambique em 2015 reviveu a insurgência armada da Renamo. No centro do país foram mortos e feridos vários moçambicanos civis que nada tinham que ver com a contenda contra o Estado de Direito moçambicano movida pelos marginais chefiados por Afonso Dhlakama, também chefe da Renamo.

Quando se aproximaram as eleições e consequente possibilidade de mudança de Presidente da República, Dhlakama suspendeu as hostilidades. Foi a votos e foi preterido novamente pelos moçambicanos, assim como o seu partido, a Renamo.

De peripécia em peripécia Dhalakama delineou regressar progressivamente às hostilidades. A Renamo, na pessoa de Dhlakama, é um entrave à paz, à democratização e desenvolvimento do país. No final de 2015 a realidade demonstrou que o centro de Moçambique tem intermitentemente o quotidiano dos seus habitantes entre a paz e a guerra, entre o estar vivo e morto, conforme a vontade de Afonso Dhlakama.

Neste cenário Moçambique não pode ter esperança de poder enfrentar a crise económico-financeira que perturba todo o mundo com as forças com que enfrentaria normalmente se houvesse paz. A preocupação dos moçambicanos é evidente e absolutamente justificada. O centro de Moçambique está novamente a viver um cenário de ferro e fogo, as Forças Armadas de Moçambique, o governo, o Presidente da República, envidam todos os esforços para que a vida dos cidadãos no centro do país seja normalizada e a viver em paz. Não são esforços gorados mas sim muito difíceis, devido a ataques surpresa dos bandos armados que dão corpo às vontades destruidoras e sanguinárias de Afonso Dhlakama.

2015 reserva para os moçambicanos tempos difíceis (como em todo o mundo). Tempos difíceis que Afonso Dhlakama agrava ainda mais com as suas ações terrorista.

Em muitos de nós, moçambicanos, reina o pessimismo. Antevê-se um ano 2016 complicado. Uma coisa é certa: é no combate ao despotismo que se reforça a democracia, maior justiça na distribuição da riqueza, melhores condições sociais, etc. Portanto, a luta, em Moçambique, continua. (LV / PG)

Angola. SEM ESQUECER O PASSADO, VENCER OS DESAFIOS DO PRESENTE E EDIFICAR O FUTURO

Rui Peralta, Luanda

Angola atravessou um ano difícil. 2015 foi, sem dúvida, um ano difícil para Angola. Pela conjuntura internacional, que mostrou-se adversa e por erros internos, que são agora lidos, analisados e corrigidos. A actual situação angolana representa um desafio para a criatividade nacional, que deverá encontrar soluções alternativas e medidas eficazes que conduzam Angola a um futuro promissor e supere as actuais dificuldades. Para que isso aconteça é necessário consolidar e aprofundar a democracia, a participação, efectivar os direitos, liberdades e garantias, construir o bem-estar social e incentivar a cultura da Paz.

Desenvolvimento humano, conhecimento e criatividade são os factores-chave para o progresso, o desenvolvimento integrado e sustentável e a consequente transformação social. E aqui assume particular importância a cultura. É nesta, e mediante a sua acção, que a cidadania se realiza. A cultura surge da evolução e opera alterações na evolução. Torna-se evolutiva através da inovação, da organização, da técnica e das múltiplas e livres expressões individuais e sociais. O individuo evolui mentalmente, psicologicamente e afectivamente no seio da cultura. As sociedades evoluem, progridem, atingem metas e cumprem objectivos mediante a cultura.

Hábitos, costumes, práticas, saber-fazer, linguagem, relações, regras, valores, normas, ideias, mitos, rupturas, são elementos da cultura, que se perpetuam em constante reprodução e que geram a complexidade social, a pluridimensionalidade do Homem e a construção da cidadania. Sem cultura, recurso primordial, o Ser Humano é apenas “homo-sapiens”, um primata. Alimentada, protegida, assegurada, a cultura encontra na sociedade o veiculo que permite e gera as dinâmicas de progresso, instaurando e/ou regenerando normas, princípios, regras e valores.

A formação profissional, a formação intelectual e a educação cívica são, também, factores fundamentais para a construção da cidadania. A relação entre o sistema escolar e o sistema ocupacional é uma das “interfaces” estratégicas decisivas para o desenvolvimento socioeconómico. A educação – recebida pelo individuo no meio familiar e social, na instituição escolar, etc. – é um factor de produção essencial mas é, também, um passo vital para a construção da cidadania, da consciência cívica e patriótica e da convivência democrática. Por outro lado as novas dinâmicas económicas e sociais exigem um alargamento da formação profissional, seja em sistema pós-escolar seja em sistema escolar integrado, alicerçada em elevados critérios de qualificação (o saber, a qualificação académica) e de competência (o saber-fazer, a aptidão para trabalhar em grupo, a capacidade de ajuizar e de decidir, etc.).

Acelerar a diversificação económica, incrementar as exportações e reconstruir o mercado interno são prioridades que implicam maior investimento na educação e na formação técnico-profissional. Mas para que este processo possa ocorrer é necessário rigor nas finanças públicas e na gestão do erário público. Este é um processo que implica uma consistente reforma administrativa e uma profunda transformação nas políticas fiscais e nos mecanismos tributários e de arrecadação de receitas.

Esta nova dinâmica nacional implica, ainda, uma optimização da política social, que deverá ser alicerçada no reforço e implementação da segurança social, do sistema nacional de saúde pública e na revisão das políticas de emprego. O desemprego é uma realidade que não pode ser escamoteada e para a qual deverão ser criados mecanismos que permitam a subsistência dos cidadãos que caírem temporariamente nesta situação. É certo que as políticas de diversificação económica irão criar emprego, mas se não for efectuada uma correcta análise do contexto do processo de diversificação e se este for baseado na premissa exclusiva de combate ao desemprego, o risco de se gerar uma falsa descolagem da economia é elevado. A diversificação para resultar (e principalmente nos sectores da exportação) implica índices elevados de produtividade que apenas poderão ser atingidos através da introdução das novas tecnologias nos processos de produção, o que implica uma redução considerável da mão-de-obra.

As actividades relacionadas com a produção, distribuição, comercialização e serviços para o mercado interno poderão não absorver a mão-de-obra excedente o que originará bolsas de desemprego de longo-prazo. Este é um factor de desestabilização social pelo que torna-se prudente a criação de mecanismos financeiros que permitam a criação de um fundo de desemprego, medida que deverá ser integrada nas políticas de formação profissional e de reciclagem profissional, baseadas em processos de flexibilização das actividades profissionais.

Por fim, esta batalha necessita de racionalizar as políticas de segurança e de defesa. Esta racionalização deve ser não só inserida nas medidas de rigor da gestão pública, como também no reforço dos princípios e valores do Estado Democrático de Direito, consagrados na Constituição.

Angola vencerá, sem qualquer dúvida, esta batalha pelo desenvolvimento. A diversificação económica será cumprida e este momento difícil será superado pelo povo angolano, tal como foram superados todos os obstáculos que se atravessaram no caminho da nação. O Executivo angolano, sob a direcção do Presidente José Eduardo dos Santos, é a tradução visível deste esforço conjunto.

Em Paz, Liberdade e nos valores do Trabalho, princípios Históricos intrínsecos á luta do Povo Angolano serão vencidos os desafios do Presente e edificado o Futuro. E este é o contributo da Nação Angolana para um mundo melhor. (RP / PG)

Texto em edição e atualização progressiva, trabalhado por alguns autores do coletivo PG

O desempenho dos actores no teatro do FMI - Christine Lagarde sobe ao palco pela última vez?



Valentin Katasonov

Nos últimos anos o trabalho do Fundo Monetário Internacional tornou-se um drama infindável, dirigido por Washington, o qual também é conhecido como "o accionista principal da sociedade anónima" chamada FMI. A todos aos outros accionistas, assim como à equipe do Fundo, está destinado o papel de actores numa peça escrita pelo Tio Sam.

Um dos papéis mais importantes é dado ao director-gerente do fundo. Habitualmente é convidado um actor francês para desempenhar esse papel. O director de cena assegura-se de que o director-gerente cinge-se ao roteiro e que não se permitirá o improviso. Do contrário, um novo actor será encontrado para desempenhar o papel de director-gerente, enquanto o antigo é sumariamente despedido do teatro. 

A última vez que isto aconteceu foi em 2011, quando o director-gerente, Dominique Strauss-Kahn , foi demasiado longe e começou a declamar no palco linhas que não estavam no roteiro. Era a impressão que se tinha ao assistir às improvisações do francês, nas quais afirmava que o sistema global do dólar havia-se tornado ultrapassado e estava em crise, bem como que era necessário diversificar o conjunto de divisas que servem como moeda de curso legal no mundo. Ele levantou o nome de John Maynard Keynes, um inglês que na conferência de Bretton Woods propôs a criação de um sistema monetário global baseado no bancor – uma divisa supranacional. Também estava loucamente fora do roteiro o apoio de Strauss-Kahn à sugestão do líder da Líbia, Muammar Gaddafi, de que o gold dinar fosse introduzindo na circulação. E outro movimento muito imprudente foi aquele francês recordar ao director principal que podia ser uma boa ideia acelerar a ratificação pelo Congresso dos EUA da revisão das quotas assinaladas aos membros do Fundo e duplicar o capital do FMI.

Tudo isso terminou penosamente para aquele francês – ele não só perdeu o seu papel principal como foi chutado para fora do teatro. Houve mesmo possibilidade de que acabasse sentado na sarjeta. As acusações foram abandonadas posteriormente, mas ninguém se lembra disso. Strauss-Kahn agora tem um estigma e já é quase impossível encontrar um bom emprego para aquele antigo actor principal. E ele planeava tornar-se o presidente da França.

No dia 5 de Julho de 2011, Christine Lagarde, também ela nativa da França, assumiu o comando como directora-gerente. Exactamente um mês depois de ser faustosamente saudada, Christine Lagarde recebeu notificação de que procedimentos legais haviam sido iniciados contra ela, embora não num tribunal americano (como fora o caso de Strauss-Kahn), mas num francês. Nessa altura, muitos peritos e teóricos da conspiração começaram a especular que o processo em tribunal fora aberto por iniciativa do mesmo director de cena do FMI, o qual estava a actuar através dos seus agentes nos tribunais franceses. O objectivo da operação era inocular o novo director-gerente contra o risco de quaisquer surpresas que o actor mais importante pudesse imaginar para o director de cena. Após esta vacinação, a fase activa dos procedimentos do tribunal chegaram ao fim, embora as acusações não fossem abandonadas. Durante os últimos quatro anos os media muito raramente lembraram-se de se interessar por este pobre, mas ainda activo, caso judicial. A sua vida não era fácil. Basta lembrar como Christine Lagarde implorou a Washington a que ratificasse a decisão de reformar o FMI, chegando até a prometer em troca uma dança do ventre . 

A corrida da Madame Lagarde para a desgraça começou em Fevereiro último, quando o Tio Sam começou a arrastar o Fundo para os jogos que estava a fazer na Ucrânia. O roteiro estava constantemente a ser reescrito. O FMI começou a ser transformado num teatro do absurdo.

Mas em 17 de Dezembro a investigação judicial às acções da Madame Lagarde, a qual perdurou ao longo de quatro anos, subitamente terminaram. O tribunal francês de la République,uma corte especial que julga ministros do governo, intimou-a a testemunhar no que está a ser chamado o caso Tapie. A história daquele caso remonta ao princípio da década de 1990, quando a Madame Lagarde ainda trabalhava para a firma de consultores jurídicos Baker & McKenzie, ainda longe do FMI.

As partes principais nesta estória são o banco francês Crédit Lyonnais e o homem de negócios francês Bernard Tapie. Em 1993 aquele banco comprou a Tapie uma grande participação na companhia Adidas. Após um período de tempo, o banco revendeu aquela participação pelo dobro do preço. Bernard Tapie viu sinais de engano e fraude nas acções do banco e abriu um processo legal contra o Crédit Lyonnais pedindo compensação por danos. O sr. Tapie é uma figura muito interessante – ele é não só um empresário como também um político, teve a função de ministro no governo de esquerda do presidente Mitterrand, e tem uma condenação anterior por fraude pela qual passou seis meses na prisão. Ao longo de muitos anos ele persistiu com as suas demandas legais por compensação do Crédit Lyonnais. Não posso ter certeza de que na década de 1990Christine Lagarde houvesse sequer ouvido falar acerca deste escândalo, pois estava ocupada com os casos da Baker & McKenzie e a construir sua carreira nos EUA. Quando Nicolas Sarkoy assumiu, foi convidada a retornar à França, onde começou a trabalhar para várias entidades governamentais, incluindo uma permanência como ministro das Finanças.

Em 2007, ela examinou a história da disputa entre Bernard Tapie e o Crédit Lyonnais e insistiu em resolver o caso num tribunal arbitral. Uma vez que o Estado mantinha uma participação no capital do banco, tratava-se realmente de uma disputa entre um empresário privado e o governo. Em 2008, o tribunal tomou o partido de Tapie, concedendo-lhe um total de aproximadamente 400 milhões de euros, incluindo 100 milhões em juros e 45 milhões por sofrimentos físicos e morais. O seu pagamento saiu dos cofres do Estado – naquele tempo o banco já não existia. Levantaram-se suspeitas de que a sra. Lagarde havia pressionado o tribunal, procurando uma decisão em favor de Tapie. As acções da senhora podiam ser explicadas pelo facto de que seguia ordens do seu patrão – o presidente Nicolas Sarkozy. E Sarkozy intercedeu em favor de Tapie porque aquele homem de negócios providenciara substancial assistência financeira ao presidente da República Francesa durante a sua campanha eleitoral.

Peritos nos pormenores do caso Tapie que entendem as tecnicalidades dos procedimentos legais na República Francesa notam que o caso podia arrastar-se indefinidamente, por muito mais tempo do que aquele em que Christine Lagarde ficará como directora-gerente do FMI. O impulso dramático na actividade do tribunal quando em 2015 o processo chegou ao fim deveu-se ao facto de o comportamento da francesa durante o ano passado – apesar de toda a sua lealdade para com o maior accionista do Fundo – começar claramente a aborrecer o Tio Sam.

Em primeiro lugar, ela irritara Washington profundamente com seu constantes lembretes da necessidade de ratificar a decisão do FMI, de cinco anos antes, de reformar aquela organização. Um actor não tem o direito de dizer ao dono do teatro e ao director principal como alterar o diálogo que já foi impresso.

Em segundo lugar, o Tim Sam estava desgostoso com o comportamento obstinado da Madame Lagarde na cimeira G20 na Turquia. Como é de conhecimento público, ela efectuou uma reunião com o presidente Putin durante a qual "intercedeu" pela Ucrânia, pedindo uma prorrogação (deferment) do reembolso dos US$3 mil milhões da dívida de Kiev à Rússia. Mas Madame Lagarde acabou assim por colocar o Tio Sam numa posição muito incómoda, porque Washington foi então forçado a admitir que não podia garantir a capacidade de a Ucrânia pagar sua dívida à Rússia.

Em terceiro lugar, nem toda a gente em Washington ficou feliz no dia 30 de Novembro quando o Fundo decidiu incluir o yuan no seu cabaz de divisas de reserva. E a directora-gerente do FMI foi culpada daquele erro crasso.

Em quarto lugar, o Tio Sam ficou extremamente irritado quando o Fundo reconheceu oficialmente que a Rússia cumpria o critério de um credor oficial em relação ao seu empréstimo de US$3 mil milhões à Ucrânia. O que programa um incumprimento soberano a verificar-se na Ucrânia.

O Tio Sam está apreensivo, teme que ocorra outro erro crasso. Depois de 20 de Dezembro, quando Kiev obedeceu à ordem de Washington de ignorar sua obrigação de reembolsar sua dívida a Moscovo, a Ucrânia efectivamente entrou num estado de incumprimento soberano. Washington está insistentemente a exigir que o FMI continue a emprestar a Kiev mesmo após tal incumprimento. Esta é a razão porque Washington forçou o Fundo a tomar a decisão de mudar as regras do jogo que haviam vigorado durante décadas. As novas regras tornam possível ao Fundo oferecer empréstimos a um país mesmo que este país esteja em bancarrota quanto às suas obrigações a credores oficiais. As regras foram reescritas especificamente para se aplicarem à dívida da Ucrânia para com a Rússia. Contudo, mesmo a nova versão das regras não estipula que empréstimos a um país em bancarrota continuem automaticamente. O Fundo deve "exercer julgamento baseado nas circunstâncias específicas do caso". E o Tio Sam não quer mais quaisquer surpresas. Ao intimar (subpoenaing) Madame Lagarde também se está a emitir um recordatório muito claro da decisão que dela se espera. Se ela não quiser tomar isto como um indício claro, então no princípio do próximo ano estaremos a assistir a um drama fascinante, uma mistura de teatro e vida real, intitulado "O despedimento da mais recente directora-gerente do FMI".

Alguns cépticos afirmam que as minhas teorias sofrem de um sério viés: Madame Lagarde não foi intimada a aparecer num tribunal americano, mas sim num francês, a milhares de quilómetros de Washington. Bem – e daí? A residência oficial do presidente francês está igualmente longe da Casa Branca, mas é duvidoso que pudéssemos apresentar um [outro] exemplo de um tempo como este quando o actual presidente francês, François Hollande, não actuava às ordens da Casa Branca. É improvável que o Tribunal Francês de la République se comporte a este respeito de modo diferente daquele do presidente da República Francesa. Naturalmente, o êxito de qualquer produção depende não só da peça, como do director de cena e dos actores, como também daqueles que garantem que o prosseguimento do show, enquanto permanecem nos bastidores, por trás das cortinas. Isto aplica-se plenamente ao desempenho teatral do FMI. 

Do mesmo autor: 

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ 

2015, O ANO DAS TEMPESTADES



A falta de visão e de capacidade de agir em conjunto dos dirigentes europeus caraterizou um ano marcado por várias crises que abalaram violentamente a Europa. Precisamos de um abanão em termos de solidariedade e cooperação, estima um economista francês.

Thierry Vissol - VoxEurop

2015 acabou. E ainda bem, pois não foi um dos melhores anos que tivemos.

Foi um ano de tempestades de todos os tipos: climáticas, terroristas, migratórias, económicas e políticas.

Na verdade, todas estas tempestades eram previsíveis. E, para cada uma delas, existem eventuais soluções que os nossos líderes políticos – a nível mundial e europeu – não foram capazes de implementar. Vejamos dois exemplos.

Desde o início da era industrial, as temperaturas globais aumentaram cerca de 0,8 °C. Pode não parecer muito, mas, segundo a ONU, 90% das catástrofes naturais estão atualmente ligadas ao clima. Desde 1995, estas catástrofes custaram a vida a 606 mil pessoas e afetaram 4,1 mil milhões de pessoas. Nos primeiros seis meses deste ano, cerca de 16 mil pessoas perderam a vida e os desastres climáticos estão avaliados em cerca de 40 mil milhões de euros.

COP21 foi um sucesso, pois o acordo alcançado em Paris permitirá limitar o aquecimento global a 1,5 °C até ao final do século. No entanto, precisamos de esperar para ver como o acordo será implementado. O texto ainda tem de ser ratificado pelos signatários, algumas medidas restritivas ainda estão suspensas e a ajuda aos países mais pobres só deverá chegar em 2020. Além disso, a descarbonização não está em causa.

Na Europa, a estratégia energética foca-se nas políticas de proteção ambiental e isto representa por si só uma grande vitória. No entanto, cabe a cada país decidir o seu cabaz energético e se pretende ou não continuar a utilizar carvão.

Mas, se o impacto de um aquecimento de 0,8 °C já foi dramático, o que acontecerá quando este valor se duplicar, conforme o limite acordado em Paris?

A outra grande questão que marcou 2015 foi o terrorismo islamita, que também já é familiar. Há mais de 20 anos que se tem vindo a desenvolver no mundo, expandindo-se desde o Médio Oriente ao norte de África e à África subsariana.

Desde o início do ano, já ocorreram mais de 30 atentados islamitas, 9 na Europa. Contam-se 152 vítimas na Europa e 1087 no resto do mundo. Portanto, desde os atentados do 11 de setembro de 2001, apesar das guerras travadas no Afeganistão, no Iraque e na Líbia – e dos seus resultados duvidosos –, foi feito muito pouco para enfrentar verdadeiramente o problema. Precisamos de estratégias globais e de instrumentos de cooperação eficazes.

Na Europa, dispomos de vários mecanismos de cooperação, tal como o SIS, a Interpol, a Europol, a Eurojust, etc. No entanto, estes não são suficientes, pois os países recusam-se a cooperar de forma verdadeiramente solidária. O responsável europeu para a luta contra o terrorismo, Gilles de Kerchove, observou com amargura que temos serviços pertinentes e avançados, mas continuamos sem vontade de cooperar e de implementar uma política conjunta. Segundo este, 95% das responsabilidades permanecem a nível nacional.

Podíamos dizer o mesmo da gestão do fluxo migratório, tendo em conta o caráter dramático da situação, o número de pessoas que morreram a tentar chegar à Europa e o impacto deste novo fluxo nas comunidades europeias.

Perante esta aparente incapacidade de reação dos responsáveis políticos, perante o poder de uma indústria financeira globalizada – que decididamente não tem o interesse público como principal prioridade –, não admira que a abstenção eleitoral se tenha tornado a principal escolha política e que o medo e a ira dos eleitores se traduzam na crescente ascensão de partidos nacionalistas, antieuropeus e xenófobos.

Não nos podemos esquecer de que todas as ditaduras começaram após situações de crise e que conquistaram o poder nas urnas. Precisamos urgentemente que os partidos democráticos mudem de direção, para que as nossas frágeis democracias deixem de ser ameaçadas por estas tempestades. Para tal, os europeus precisam de dar provas de mais solidariedade e cooperação.


A RÚSSIA EM UMA GUERRA INVISÍVEL



Rostislav Ischenko

Como poderia a Rússia, em apenas 20 anos, sem guerras ou outras perturbações, erguer-se de uma posição de meia-colônia a uma reconhecida posição de líder mundial, de igual entre as mais altas?

"Esrategistas" abrangentes [do inglês ‘kitchen ‘strategists’’; uma alusão à expressão ‘everything, but the kitchen sink’: ‘tudo, mas a pia da cozinha’; tudo o que pode ser concebido de uma dada situação (dicionário Collins)], que acreditam sinceramente que um maciço ataque nuclear é a solução universal para qualquer problema internacional (ou mesmo um confronto bem quente, perto de confronto militar), estão insatisfeitos com a posição moderada da liderança russa na crise com a Turquia. No entanto, eles consideram insuficiente até mesmo a participação direta do exército russo no conflito sírio. Eles também estão insatisfeitos com as atividades de Moscou na frente ucraniana.

Mas, por alguma razão... ninguém faz uma pergunta simples: Como aconteceu que, de repente, a Rússia começou não só a se levantar ativamente frente ao poder hegemônico do mundo, mas a ganhar com sucesso contra ele em todas as frentes?

Por que agora

No final da década de 1990, a Rússia era um estado que econômica e financeiramente estava a nível de Terceiro Mundo. Uma rebelião anti-oligarcas estava se formando no país. Ela estava lutando uma guerra sem fim e sem esperança com chechenos, que se espalhou ao Daguestão. A segurança nacional era garantida apenas por armas nucleares, pois para realizar qualquer operação séria, mesmo dentro de suas próprias fronteiras, o exército não tinha nem pessoal treinado nem equipamentos modernos, a frota não poderia navegar, e a aviação não poderia voar.

Com certeza, qualquer um pode dizer como a indústria, incluindo a militar, foi revivida gradualmente, como o crescente nível de vida estabilizou a situação interna, como o exército foi modernizado.

Mas, a pergunta-chave não é quem fez mais para reconstruir o exército russo: Shoygu, Serdukov ou o Estado-Maior. A questão fundamental não é quem é o melhor economista, Glaziev ou Kudrin, e se seria possível alocar ainda mais recursos para as despesas sociais.
O fator chave desconhecido nessa empreitada é o tempo. Mas, como a Rússia teve tempo? Por que os EUA deram tempo à Rússia para preparar a resistência, para crescer o músculo econômico e militar, para aniquilar o lobby pró-americano financiado pelo Departamento de Estado na política e nos meios de comunicação?

Por que o confronto aberto, no qual estamos agora à frente de Washington, não começou mais cedo, 10 a 15 anos atrás, quando a Rússia não tinha chance de suportar sanções? Na realidade, os EUA, na década de 1990 ou de 2000. começaram a instalar regimes fantoches no espaço pós-soviético, incluindo Moscou, que foi considerada uma das várias capitais da Rússia desmembrada.

O conservadorismo saudável dos diplomatas

As condições do sucesso militar e diplomático de hoje foram construídas por décadas na frente invisível (diplomática).

Deve ser dito que, entre ministérios centrais, o Ministério dos Assuntos Exteriores foi o primeiro a recuperar-se da confusão administrativa decorrente do colapso do fim da década de 1990. Ainda em 1996, Evgeny Primakov tornou-se Ministro dos Assuntos Exteriores, e, além de virar de volta o avião do governo sobre o Atlântico ao saber da agressão dos EUA contra a Jugoslávia, virou também a política externa russa que, depois disso, nunca mais seguiu o curso dos Estados Unidos.

Dois anos e meio mais tarde, ele recomendou Igor Ivanov como seu sucessor, o qual lentamente (de forma quase imperceptível), mas certamente, continuou a fortalecer a diplomacia russa. Ele foi sucedido em 2004 pelo atual ministro Sergey Lavrov, sob cuja liderança a diplomacia acumulou recursos suficientes para mudar de uma posição de defesa para uma contundente posição ofensiva.

Entre estes três ministros, só Ivanov recebeu a medalha Estrela de Herói; mas, tenho certeza de que seu antecessor e seu sucessor são igualmente merecedores desse prêmio.

Deve ser dito que a tradicional proximidade de castas e o conservadorismo saudável do corpo diplomático contribuíram para o rápido restabelecimento do trabalho do Ministério dos Assuntos Exteriores. O tradicionalismo e a paciência de que os diplomatas são acusados ajudaram. "Kozyrevshchina" [a palavra é derivada do nome de Andrei Kozyrev, Ministro dos Assuntos Exteriores de 1990 a 1996; a palavra significa "agir como Kozyrev", ou seja, de forma subserviente, contra seus próprios interesses – nota do tradutor] nunca pegou no Ministério dos Assuntos Exteriores porque não se encaixava.

Período de consolidação interna

Vamos voltar a 1996. A Rússia está no fundo do poço, economicamente, mas o padrão de 1998 ainda está à frente. Os EUA desconsideram totalmente o direito internacional, substituindo-o por suas ações arbitrárias. A OTAN e a UE estão se preparando para mover-se para a fronteira russa.

A Rússia não tem nada com o que responder. A Rússia (como a URSS antes dela) pode aniquilar qualquer agressor em 20 minutos; mas, ninguém planeja combatê-la. Qualquer desvio da linha aprovada por Washington, qualquer tentativa de conduzir uma política externa independente, conduziria ao estrangulamento econômico e à desestabilização interna subsequente – naquele tempo, o país dependia de créditos ocidentais.

A situação é ainda mais complicada pelo fato de que, até 1999, o poder está nas mãos da elite compradora em dívida com os EUA (como o atual poder ucraniano), e, até 2004-2005, os compradores ainda estão lutando pelo poder com a burocracia patriótica de Putin. A última batalha na retaguarda, dada pelos compradores a perder, foi uma tentativa de revolução em 2011, na Praça Bolotnaya. O que será que teria acontecido se eles tivessem feito essa insurreição em 2000, quando tinham uma vantagem esmagadora?

Os líderes russos precisavam de tempo para consolidação interna; para restauração dos sistemas econômico e financeiro, garantindo sua autossuficiência e independência do Ocidente; e para reconstruir um exército moderno. Finalmente, Rússia precisava de aliados.

Os diplomatas tinham uma missão quase impossível. Era necessário, sem recuar sobre questões-chave, consolidar a influência da Rússia nos Estados pós-soviéticos, aliar-se com outros governos resistindo os EEUU, reforçando-os, se possível, e ao mesmo tempo criar uma ilusão em Washington de que a Rússia era fraca e estaria pronta a fazer concessões estratégicas.

A ilusão da fraqueza da Rússia

Uma demonstração do fato de que essa tarefa foi alcançada com êxito são os mitos que ainda estão vivos entre alguns analistas Ocidentais e "oposição" russa pró-americana. Por exemplo, se a Rússia se opõe a alguma instância do aventureirismo ocidental, está "blefando para salvar a pele"; as elites russas são totalmente dependentes do Ocidente porque "o dinheiro está lá"; "a Rússia trai seus aliados".

No entanto, os mitos de que "foguetes enferrujados não voam", "soldados com fome estão construindo moradias para generais", e sobre "economia em frangalhos" praticamente desapareceram. Apenas marginais [os que estão ‘fora dos livros’, aquém do limite dos discursos; com referência à posição filosófica – N.T.] acreditam nisso – esses marginais não são realmente incapazes, mas têm medo de reconhecer a realidade.

Essas ilusões de fraqueza e prontidão para retroceder que enganaram o Ocidente na crença de que a questão russa fora resolvida e detiveram rápidos ataques políticos e econômicos em Moscou deram à liderança russa o precioso tempo para reformas.

Naturalmente, nunca há muito tempo, e a Rússia teria preferido adiar o confronto direto com os EUA, que começou em 2012-13, por mais 3-5 anos, ou até mesmo evitá-lo completamente; mas, a diplomacia ganhou 12 a 15 anos para o país – um enorme período de tempo no mundo rapidamente em mudança de hoje.

Diplomacia russa na Ucrânia

Para economizar espaço, vou dar apenas um exemplo muito claro, muito relevante na situação política atual.

As pessoas ainda culpam a Rússia por não conter os EUA na Ucrânia de forma suficientemente ativa, por não conseguir criar uma "quinta coluna" pró-russa para contrabalançar a pró-americana, por trabalhar com as elites e não com as pessoas, etc. Avaliemos a situação com base em capacidades reais, ao invés de ilusões.

Apesar de todas as referências aos cidadãos, é a elite que determina a política do Estado. A elite ucraniana, em todas as suas ações, sempre foi e ainda é anti-russa. A diferença é que a elite ideologicamente nacionalista (gradualmente se tornando nazista) era abertamente russofóbica, enquanto que a elite econômica (compradora, oligárquica) era simplesmente pró-ocidental mas não se opunha às ligações lucrativas com a Rússia.

Eu gostaria de lembrá-lo que não foram outras pessoas, mas representantes do supostamente pró-russo Partido das Regiões que gabavam-se de que não permitiriam negócios russos em Donbass. Eles também eram aqueles que tentaram convencer o mundo que eram melhores para a integração europeia do que os nacionalistas.

O regime de Yanukovich-Azarov precipitou o confronto econômico com a Rússia em 2013, exigindo que apesar de a Ucrânia assinar o tratado de associação com a EU, a Rússia retivesse e até mesmo aprimorasse um regime favorável à Ucrânia. Afinal de contas, Yanukovich e seus companheiros no Partido das Regiões, enquanto tinham poder absoluto (2010-2013), suportaram nazistas informativamente, financeiramente e politicamente. Eles os trouxeram de nicho marginal à política dominante a fim de ter um adversário conveniente nas eleições presidenciais, em 2015, enquanto suprimiram qualquer atividade informativa pró-Rússia (para não mencionar atividade política).

O partido comunista ucraniano, mantendo a retórica pro-Rússia, nunca teve uma chance no poder e desempenhou um papel de oposição leal conveniente indiretamente apoiando oligarcas, canalizando a atividade de protesto em locais seguros para qualquer poder (incluindo o atual).

Nessas condições, qualquer tentativa russa de trabalhar com ONGs ou criar uma mídia pró-Rússia seria percebida como uma invasão dos direitos dos oligarcas ucranianos para roubar o país sozinha, o que causaria outro deslize do oficialismo ucraniano em direção ao Ocidente, visto por Kiev como um contrapeso para a Rússia. Os EUA, muito naturalmente, veriam isso como transição da Rússia para o confronto direto e iriam redobrar seus esforços para desestabilizar a Rússia e apoiar elites pró-ocidentais em todo o espaço pós-soviético.

Nem em 2000, ou em 2004, a Rússia estava pronta para confrontar abertamente os EUA. Mesmo quando (não por escolha de Moscou) isso aconteceu em 2013, a Rússia precisava ainda de cerca de dois anos para mobilizar seus recursos a fim de dar uma forte resposta ao conflito na Síria. A elite Síria, em contraste à ucraniana, desde o início (2011-2012) rejeitou a opção de se comprometer com o Ocidente.

É por isso que, durante 12 anos (a partir de ação "Ucrânia sem Kuchma", que foi a primeira tentativa de golpe pró-americano na Ucrânia), a diplomacia russa trabalhou em duas frentes principais.

Primeiro, ela procurou manter a situação na Ucrânia em equilíbrio instável; segundo, ela procurou convencer a elite ucraniana de que o Ocidente era um perigo para seu bem-estar, enquanto que uma reorientação para a Rússia seria a única forma de estabilizar a situação e salvar o país, bem como a posição da elite em si.

A primeira tarefa foi alcançada com êxito. Os EUA conseguiram alternar o modo multidirecional da Ucrânia para o modo anti-russo somente em 2013, tendo gasto uma enorme quantidade de tempo e recursos e tendo adquirido um regime com enormes contradições internas, incapaz de existir independentemente (sem crescente apoio americano). Em vez de usar recursos ucranianos em seu benefício, os EUA é forçado agora a gastar seus próprios recursos para prolongar a agonia do Estado ucraniano destruído pelo golpe de estado.

A segunda tarefa não foi realizada devido a razões objetivas (independente dos esforços da Rússia). A elite ucraniana acabou por ser totalmente inadequada, incapaz de pensamento estratégico, de avaliar os riscos reais e as vantagens, mas vivendo e agindo sob a influência de dois mitos: primeiro – o Ocidente vai facilmente ganhar em qualquer confronto com a Rússia e partilhar os despojos com a Ucrânia; segundo – nenhum esforço, exceto a inabalável posição anti-russa, é necessário para uma existência confortável (às custas de financiamento ocidental). Na situação de escolha entre voltar-se para a Rússia e sobreviver, ou tomar o lado do Ocidente e morrer, a elite ucraniana escolheu a morte.

No entanto, mesmo com a escolha negativa da elite ucraniana, a diplomacia russa conseguiu vantagem máxima. A Rússia não se deixou atolar num confronto com regime ucraniano, forçando Kiev e o Ocidente a um processo de negociação cansativo tendo como pano de fundo uma guerra civil moderada e excluindo os EUA do formato de Minsk. Centrando-se nas contradições entre Washington e a UE, a Rússia conseguiu sobrecarregar financeiramente a Ocidente com a Ucrânia.

Como resultado, a posição consolidada inicialmente de Washington e Bruxelas se desintegrou. Quanto à ofensiva-relâmpago [blitzkrieg] político-diplomática, os políticos europeus não estavam preparados para um confronto prolongado; a economia da UE simplesmente não podia apoiá-lo. Por sua vez, os EUA não estavam prontos a aceitar Kiev exclusivamente na própria folha de pagamento.

Hoje, após um ano e meio de esforços, a "velha Europa", que determina a posição da UE, como a Alemanha e a França, abandonou a Ucrânia completamente e está procurando uma maneira de estender uma mão para a Rússia sobre as cabeças limítrofes do Leste Europeu pró-americano (Polônia e Países Bálticos). Até Varsóvia, que costumava ser o principal "defensor" de Kiev na União Europeia, abertamente (embora semi-oficialmente) sugere a possibilidade de dividir a Ucrânia, tendo perdido a fé na capacidade das autoridades de Kiev a manter o país unido.

Na comunidade política e de especialistas ucraniana, a histeria sobre "a traição da Europa" está crescendo. O ex-governador da região de Donetsk (nomeado pelo regime nazista) e oligarca Taruta Sergey afirma que seu país tem mais oito meses de existência. O oligarca Dmitry Firtash (que tinha a reputação de "rei criador" ucraniano) prevê a desintegração na primavera.

Tudo isso, silenciosa e imperceptivelmente, sem o uso de tanques e da aviação estratégica, foi conseguido pela diplomacia russa. Alcançado em um confronto difícil com o bloco dos países mais poderosos, militar e economicamente, a partir de uma posição muito mais fraca e com os aliados mais peculiares, nem todos felizes sobre o crescimento do poder russo.

Avanço no Médio Oriente

Em paralelo, a Rússia conseguiu: retornar ao Oriente; reter e desenvolver a integração dentro do espaço pós-soviético (União Econômica Eurasiana); juntamente com a China, implantar um projeto de integração da Eurásia (Organização de Cooperação de Xangai); e dar início a um projeto de integração global através do grupo BRICS.

Infelizmente, o espaço limitado não nos permite discutir em detalhes todas as ações estratégicas da diplomacia russa nos últimos 20 anos (a partir de Primakov até hoje). Um estudo abrangente tomaria muitos volumes.

No entanto, quem quiser tentar responder honestamente como Rússia conseguiu, dentro de 20 anos, sem guerras ou convulsões, levantar-se de uma posição de semicolônia a uma posição de líder reconhecida do mundo, teria que reconhecer as contribuições de muitas pessoas na Smolenskaya Square [onde o Ministério dos negócios estrangeiros está localizado – nota do tradutor]. Seus esforços não toleram barulho ou publicidade; mas, sem sangue e sem vítimas, produzir resultados comparáveis aos obtidos por exércitos de milhões em muitos anos.


FELIZ ANO NOVO NO CÉU: OPERAÇÃO RUSSA NA SÍRIA NÃO PÁRA



Em 31 de dezembro, os soldados russos comemoraram o Ano Novo na base aérea de Hmeymim na Síria e receberam presentes enviados pelo Ministério da Defesa russo, de acordo com a RIA Novosti.

Os militares festejaram a chegada do Ano Novo às 00:00, horário de Moscou, e ouviram o discurso anual do presidente russo Vladimir Putin perto de uma árvore de Natal de 15 metros de altura.

É de notar que a virada do ano na base foi acompanhada pelo forte ruído dos motores dos aviões de combate, já que os pilotos russos continuaram fazendo surtidas apesar do feriado.

Na base militar, os festejos incluíram até a participação de um Papai Noel e da sua neta Snegurochka (personagem tradicional na Rússia).

«Desejo-lhes o fim ao terrorismo na República Árabe da Síria logo que possível e que voltem para casa como heróis», desejou o Papai Noel.

Cada soldado foi presenteado com uma mala de viagem, uma caneca térmica, uma pequena cesta de Natal com linguiça, queijo, caviar vermelho e doces, e ainda com uma camiseta com uma imagem do avião Su-30 e a data de início da campanha aérea.

A campanha aérea da Rússia foi lançada no dia 30 de setembro de 2015, quando mais de cinquenta aviões de guerra russos, incluindo Su-24M, Su-25 e Su-34, iniciaram ataques aéreos de precisão contra alvos do Estado Islâmico na Síria, a pedido do presidente sírio, Bashar Assad.

No final de dezembro, o Ministério da Defesa informou que os aviões de combate russos tinham completado um total de 5.240 missões desde o início da operação aérea contra os militantes do Daesh na Síria.

Sputnik – Foto: Dmitry Vinogradov

AL – QAEDA USA VÍDEO DE DONALD TRUMP PARA RECRUTAR JOVENS AMERICANOS



A filial da al-Qaeda no oeste da África lançou um vídeo para recrutar negros americanos e muçulmanos, que inclui um clipe do candidato presidencial Donald Trump defendendo que muçulmanos sejam proibidos de entrar nos Estados Unidos.

O vídeo de 51 minutos produzido pelo grupo militante al-Shabab, baseado na Somália, diz que há racismo institucionalizado e segregação religiosa nos EUA, e que o fundamentalismo é a maneira de combater isso.
 No clipe de Trump, ele defende a paralisação "total e completa da entrada de muçulmanos nos Estados Unidos". 

O vídeo, que segundo o grupo de monitoramento SITE Intel, que foi lançado pela extremistas na sexta-feira, apresenta vários americanos que morreram lutando pelo islamismo radical na Somália, e encoraja jovens norte-americanos a seguir o exemplo dos que morreram. O Al-Shabab combate o atual governo somali, que é apoiado por tropas da União Africana.

Sputnik – Foto: REUTERS/ Brendan McDermid

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