quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O LABORATÓRIO AFRICOM – XVII




1 – O surgimento oficial do AFRICOM ainda viria a demorar cerca de 5 anos desde os encontros promovidos pelo “Institute for Advanced Strategic and Political Studies” (“IASPS”) e do trabalho do“Africa Oil Policy Innitiative Group” (“AOPIG”).

Em Fevereiro de 2007 o Presidente George W. Bush, em segundo mandato, tinha já as condições para formalizar o acto do surgimento do Comando África do Pentágono, o AFRICOM e foi isso que fez, impondo um aparentemente tão persuasivo quão inteligentemente manipulador“imperialismo do petróleo”: guerra no Médio Oriente e paz manipulada no Golfo da Guiné!

Passava-se já cinco anos da altura da visita do Presidente José Eduardo dos Santos a Washington, numa viagem sensível, contemporânea aos expedientes do “IASPS” e à maturação do “AOPIG”, estava Angola a inaugurar o fim do conflito da “guerra dos diamantes de sangue”, o fim da “Iª Guerra Mundial Africana” e o AFRICOM em pleno laboratório…

O Pentágono teve de delinear uma abordagem “nova”, distinta de outros comandos regionais, integradora de articulações civis, incorporadora de novas tecnologias, assim como da panóplia dos serviços de inteligência disponíveis no aparelho de estado norte-americano (alguns ainda não disponíveis em África até 2007) e, ao mesmo tempo, trabalhar na aglutinação dos programas militares e de inteligência que estavam em curso.

Essa abordagem subordinava-se aos parâmetros decisivos de protecção e segurança “pacífica” e“periférica” dos interesses na exploração do petróleo e do gás por via das multinacionais anglo-saxónicas e francófonas, num quadro intimamente associado aos parâmetros decisivos de protecção e segurança “guerreiros” no Médio Oriente, tendo como fulcro numa primeira fase, as intervenções no Iraque e no Afeganistão-Paquistão, assim como no Sudão (um processo traumático com graves consequências humanas no Darfur e no Sul, que tem sido de forma deliberada, publicamente desligado da geoestratégia do Pentágono, mas que é uma de suas primeiras experiências perversas post 11 de Setembro de 2001 em África).

2 – Em 2007 não havia que assustar o alvo, ou seja África, do maquiavelismo de políticas cujos“fins justificavam os meios” e começavam com o chamariz do petróleo, a “cenoura”, como catapulta para o desenvolvimento!

A administração republicana de George W. Bush apostou com os falcões de Israel, na desestabilização contínua do Sudão, a partir de plataformas distintas (entre elas, a dos Grandes Lagos, Uganda e Ruanda), a fim de dar início ao projecto do redesenhar das fronteiras políticas do continente africano, em função dos interesses neocoloniais característicos da prioridade em torno dos programas definidos para a construção do “imperialismo do petróleo” no eixo dos processos de hegemonia unipolar, enquanto ensaiava a projecção do “jihadismo” no Médio Oriente e em África, a partir da introdução de “primaveras árabes” que não passavam de versões a sul das “revoluções coloridas”, num quadro de defesa e estímulo de aliados como as monarquias arábicas sunitas e dos reis a ela indexados como os de Marrocos e da Jordânia.

O Sudão do Sul foi para a administração republicana de George W. Bush, a vitória primeira do seu“imperialismo do petróleo”, uma forma de compensar o “Conservative Caucus” (uma ala religiosa ultra conservadora dos republicanos que sempre apoiou Jonas Savimbi, bem como John Garang e, após a sua morte, Salva Kiir Mayardit, ambos do “Sudanese People´s Liberation Army”) e um ensaio para a injecção futura de outros processos traumáticos e caóticos em África, como o destroçar de Kadafi na Líbia e, a partir do seu cadáver, a disseminação das “abelhas jihadistas”por todo o Sahara, Sahel e cada vez mais em direcção a sul (já no post-Bush e com a administração democrata de Barack Hussein Obama).

O Sudão do Sul (a sul do corte do Sahel ao Sudão), riquíssimo em petróleo com exploração de muito baixos custos, consumou a sua independência a 14 de Junho de 2011 e essa veio a ser uma das primeiras vitórias no âmbito do AFRICOM e de acordo com sua génese, filosofia e reais propósitos!

Com esse êxito procurou-se também afastar a concorrência da China em relação ao petróleo, algo que só não foi conseguido graças ao carácter dos relacionamentos da China para com África, um carácter que não questiona nem os acontecimentos, nem o perfil dos frágeis sistemas sócio-políticos e humanos dos poderes nacionais no continente.

3 – No Sudão do Sul encontram-se 75% das reservas de petróleo do antigo Sudão, localizadas sobretudo na região de Abyei, mas é no norte onde se encontram os oleodutos e os portos (Porto Sudão é o maior deles).

O petróleo corresponde hoje a 98% da receita do novo país, que está agora a ser atingido por um sangrento conflito entre clãs, na disputa do poder… fraccionando ainda mais e num processo de decadência que parece irreversível…

As iniciativas de 2002 (“IASPS” e “AOPIG”) permitiram estender a exploração de petróleo ao Chade, um “aliado incondicional” por via do “link” com a França, na guerra secreta contra Kadafi (contemporânea aos conflitos no Sudão) e um dos componentes do leste do Sahel, região transversal de África, que corta o Chade a meio…

Os dois conflitos, Sudão e Chade, misturaram-se e confundiram-se também com a guerra secreta contra Kadafi, que culminou com a retirada do exército líbio em 1987 (derrota no Ogaden)…

Essa guerra secreta contra Kadafi foi intensificada com a administração republicana de Ronald Reagan em estreita conexão com a França, Israel e a Grã-Bretanha, sendo um dos enredos que possibilitaram a mascarada da trajectória de agentes como Hissène Habré e Idriss Débry à frente dos destinos do Chade, eles próprios já um produto neo colonial do capitalismo neo liberal segundo a hegemonia unipolar…

4 – O Dr. Richard Keeble, investigador histórico revela sobre isso: “Seizing power in Libya by ousting King Idris in a 1969 coup, Gadafi (who intriguingly had undertaken a military training course in England in 1966) quickly became the target of massive covert operations by the French, US, Israeli and British. Stephen Dorril, in his recently published book on MI6, records how in 1971 a British plan to invade the country, release political prisoners and restore the monarchy ended in a complete flop. In 1980, the head of the French secret service, Col. Alain de Gaigneronde de Marolles, resigned after a French-led plan ended in disaster when a rebellion by Libyan troops in Tobruk was rapidly suppressed. 

Then in 1982, away from the glare of the media, Hissene Habre, with the backing of the CIA and French troops, overthrew the Chadian government of Goukouni Wedeye. Human Rights Watch records: Under President Reagan, the United States gave covert CIA paramilitary support to help install Habre in order, according to secretary of state Alexander Haig, to bloody Gadafi's nose. Bob Woodward, in his semi-official history of the CIA reveals that the Chad covert operation was the first undertaken by the new CIA chief William Casey and that throughout the decade Libya ranked almost as high as the Soviet Union as the bête noir of the administration.

A recent report from Amnesty, Chad: The Habre Legacy, records massive military and financial support for Habre by the US Congress. It adds: None of the documents presented to Congress and consulted by Amnesty International covering the period 1984 to 1989 make any reference to human rights violations.

US official records indicate that funding for the Chad-based secret war against Libya also came from Saudi Arabia, Egypt, Morocco, Israel and Iraq. The Saudis, for instance, donated $7m to an opposition group, the National Front for the Salvation of Libya (also backed by French intelligence and the CIA). But a plan to assassinate Gadafi and take over the government on 8 May 1984 was crushed. In the following year, the US asked Egypt to invade Libya and overthrow Gadafi but President Mubarak refused. By the end of 1985, the Washington Post had exposed the plan after congressional leaders opposing it wrote in protest to President Reagan.

Frustrated in their covert attempt to topple Gadafi, the US government's strategy suddenly shifted. For 11 minutes in the early morning of 14 April 1986, 30 US Air Force and Navy bombers struck Tripoli and Benghazi in a raid code-named El Dorado Canyon.

Backing Reagan came the ecstatic response of the major media in both the US and UK. Yet the main purpose of the raid was to kill the Libyan president. Middle East specialist David Yallop reported: Nine of 18 F111s that left from the UK were specifically briefed to bomb Gadafi's residence inside the barracks where he was living with his family. In the event, the first bomb to drop on Tripoli hit Gadafi's home. Hana, his adopted daughter aged 15 months, was killed while his eight other children and wife Safiya were all hospitalised, some with serious injuries. The president escaped.

Following the April 1986 attack, reports of US military action against Libya disappeared from the media. But away from the media glare, the CIA launched by far its most extensive effort yet to spark an anti-Gadafi coup. A secret army was recruited from among the many Libyans captured in border battles with Chad during the 1980s. And, as concern grew in MI6 over Gadafi's alleged plans to develop chemical weapons, Britain funded various opposition groups in Libya including the London-based Libyan National Movement.

Then in 1990, with the crisis in the Gulf developing, French troops helped oust Habre and install Idriss Deby as the new president in a secret operation. The French government had tired of Habre's genocidal policies while the Bush administration decided not to frustrate France's objectives in exchange for their co-operation in the war against Iraq. Yet even under Deby the abuses of civil rights by government forces have continued. 

David Shaylerís original allegations over the anti-Gadafi assassination plot were vigorously denied by the government. But within the broad historical context outlined here, they do, indeed, make sense.”

5 – Com a administração republicana de George W. Bush, os fantoches instalados no Chade ganhariam o prémio pela sua fidelidade, a “cereja em cima do bolo”:  a exploração “onshore” no âmbito do rótulo de “petróleo para o desenvolvimento” que implicaria a construção dum oleaduto até ao Atlântico, via Camarões.

Assim sendo, a administração republicana de George W. Bush iniciou um novo programa para com a Líbia, que dispensava a plataforma do Chade nas manobras que iriam provocar em 2011, o derrube de Kadafi e o seu assassinato, já depois da saída de George W. Bush do poder.

A administração democrata de Barack Hussein Obama trouxe para o norte de África e depois para o Sahel, a extensão do conflito no Médio Oriente, fazendo prevalecer a guerra disseminando o caos e confinando às ilhas de paz ao Golfo da Guiné e África Austral.

Essa manobra explorou os vínculos da NATO com o AFRICOM e sincronizou os dados de inteligência entre todos os principais centros da articulação contra Kadafi, sobretudo o Pentágono, a Grã-Bretanha e a França.
Para o Chade o programa era esclarecedor:

“A Exxon Mobil lidera um consórcio entre a Chevron e a Petronas, que investiram 3,7 milhões de dólares na exportação das reservas de petróleo no sul do Chade, estimadas em milhões de barris.

A produção de petróleo começou em 2003 com a realização de um oleoduto (financiado em parte pelo Banco Mundial), que une milhares de jazidas da região sul a terminais da costa atlântica de Camarões.

Como condição à sua assistência, o Banco Mundial insistiu que 80% dos investimentos de petróleo foram gastos em projectos de desenvolvimento humano.

Em Janeiro de 2006, o Banco Mundial suspendeu seu projecto de empréstimos quando o governo do Chade aprovou leis para reduzir os investimentos feitos por esses programas.
Em 14 de julho de 2006, Banco Mundial e Chade firmaram um estudo de entendimento em virtude do qual o governo chadiano se comprometeu a outorgar 70% de seus investimentos em programas que visam a redução a pobreza.”

É claro que os interesses do clã Bush nesses projectos seriam automaticamente integrados.

Os interesses franceses no “pré carré” foram sendo também integrados e uma parte da vigilância, controlo e fiscalização no Golfo da Guiné recaiu sobre os dispositivos franceses em terra como no mar, dispositivos ligados ainda ao ECHELON, tirando partido de Tratados que permitiam a criação de bases e intervenções de toda a ordem, accionados em função das conjunturas que foram sendo fabricadas, agora também já com o concurso do “Laboratório AFRICOM”!

Imagens:
- Foto nocturna de Bagdad sob a acção do bombardeio dos estados Unidos e durante a invasão ao Iraque;
- Mapa que representa a amplitude das acções no âmbito do AFRICOM;
- O Presidente dos Estados Unidos e um dos seus aliados mais geoestratégicos: o Rei da Arábia Saudita.

Quadro clínico de dirigente da Renamo baleado no centro de Moçambique é preocupante



O quadro clinico do secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, baleado ao princípio da tarde de hoje na Beira, centro de Moçambique, continua preocupante, exigindo uma assistência "intensiva e especial", disse à Lusa fonte do maior partido da oposição.

Horácio Calavete, chefe da mobilização da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) na Beira, disse que a última informação clínica indicava que uma das balas perfurou a barriga, tendo atravessado os pulmões e se alojou entre duas costelas, carecendo de uma cirurgia especializada.

O dirigente da Renamo adiantou que o secretário-geral do seu partido e deputado se mantinha numa clínica privada da Beira, sem confirmar informações que dão conta da possibilidade de Bissopo ser transportado para a África do Sul.

O secretário-geral da Renamo foi baleado por desconhecidos no princípio da tarde de hoje na Beira, tendo o seu segurança morrido no local, segundo fontes oficiais do maior partido de oposição.

Ao contrário de informações que davam conta de que Bissopo tinha sido atingido no bairro da Munhava, um bastião da oposição, o incidente ocorreu no bairro da Ponta Gea, centro da Beira, quando saía de uma conferência de imprensa para denunciar alegados raptos e assassínios de quadros da Renamo.

Segundo jornalistas locais ouvidos pela Lusa, os atiradores, que se faziam transportar em duas viaturas, bloquearam o carro em que seguia Bissopo e abriram fogo.

À entrada da clínica, Bissopo estava consciente e fez uma curta declaração à imprensa, descrevendo o incidente.

"Estava a passar em frente dos serviços de viação. Vi um carro de dupla cabine a virar e alguém a tirar uma [arma automática] Kalashnikov e disparar. Me atingiram", disse Bissopo.

O guarda-costas do secretário-geral da Renamo morreu no local, tendo os outros ocupantes da viatura sofrido ferimentos ligeiros.

A polícia na Beira disse que continua a trabalhar para esclarecer o caso, sem mencionar o envolvimento do secretário-geral da Renamo nem de outros membros do partido.

A Frelimo e a Renamo têm vindo a acusar-se mutuamente de sequestro e assassínio dos seus dirigentes na província de Sofala.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

Afonso Dhlakama não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.

Nos pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.

AYAC (HB/PMA) // VM - Lusa

Parlamento da Guiné-Bissau suspenso por falta de condições de segurança – presidente



O presidente do parlamento da Guiné-Bissau, Cipriano Cassamá, suspendeu hoje a sessão extraordinária prevista para quinta-feira na qual devia ser apreciado o programa de Governo, alegando falta de condições de segurança.

Em comunicado a que a Lusa teve acesso, Cassamá informa que o ambiente que se viveu nos últimos dias no parlamento "não é favorável" a um normal funcionamento do órgão, pelo que a sessão fica suspensa até nova indicação.

"As duas tentativas de realização das sessões extraordinárias redundaram num fracasso, motivado pela insuportável perturbação de foram alvo pelos 15 deputados que perderam os mandatos", refere o comunicado.

O dirigente responsabiliza o grupo parlamentar do Partido da Renovação Social (PRS), que lidera oposição, nos desacatos que, diz o comunicado de Cipriano Cassamá, poderiam levar a confrontos generalizados no hemiciclo, caso as sessões não fossem suspensas.

"Perante a prevalência desta situação, persistir na realização da sessão seria uma atitude imprudente", sublinha o comunicado do líder do Parlamento guineense, que promete anunciar uma nova data para a realização da sessão extraordinária.

MB // JPS - Lusa

Brasil. O RACISMO NÃO É SAÍDA, É CILADA



Afropress, editorial

O combate ao racismo é parte da luta do povo brasileiro por  transformações profundas nesta República, que se ergueu e se mantém sob os escombros de quase 400 anos de escravismo, e por democracia. A erradicação das práticas oriundas de uma ideologia – que contraria a constatação científica da inexistência de raças – é fundamental para a superação da desigualdade e a construção de uma sociedade baseada em outros valores, que não os da exploração do homem pelo homem.

No Brasil, contudo, tomou corpo e ganhou fama um certo tipo de ativismo antirracista que acaba por reforçar o sistema racista, ao tomar negros – a maioria da população – em símbolos, meras alegorias. É como se tivéssemos nos reduzido a um grupo étnico, uma minoria, uma comunidade, vítimas, pedintes da compreensão e da piedade públicas.

É comum o uso e o abuso – de modismos conhecidos. Mimetizando a cultura de negros norte-americanos, que autodeclaram afro-americanos, nós, os negros brasileiros, passamos a nos designar afro-brasileiros, afrodescentes, abdicando da condição de brasileiros, em favor desse exotismo despropositado.

Ora, até as pedras sabem: da mesma forma como não existem raças – apenas uma, a humana – (há consenso entre os cientistas) todos os seres humanos são afrodescendentes. O homo sapiens nasceu  na  África, portanto, o termo só serve para uma coisa: folclorizar e confundir.

A origem desse tipo de ativismo sem noção chama-se racialismo. Conhece-se por racialismo a crença na existência de raças biológicas e de racismo as formas de racialismo que afirmam a superioridade de uma raça sobre outra e servem para justificar a dominação social.

Racismo e racialismo não são a mesma coisa, portanto. Mas, são irmãos siameses; guardam entre si relação estreita, quase umbilical. Enquanto um advoga a hierarquia, a superioridade; o segundo  defende que cada raça deve se manter no seu lugar (cada qual no seu quadrado), mas convivendo, se possível,  sem conflitos.

O racialismo, como se vê, flerta com o racismo. Tem em comum com este a mesma crença. Não combate verdadeiramente a mazela do racismo e seus efeitos perversos, o reforça. Ambos nascem do mesmo equívoco. É uma cilada, não uma saída.

No Brasil, desgraçadamente, o racialismo sustenta e mantém as ações e iniciativas dos setores majoritários disso que se apresenta e se conhece por movimento negro chapa branca. Subordinado aos partidos – que praticam e reproduzem o racismo institucional em todas as suas instâncias -,  o racialismo mantém e reforça a ideia dos negros como um grupo separado de uma sociedade cindida por contradições, a principal delas, a contradição de classe. Sua principal contribuição ao sistema racista é subordinar os negros – no caso brasileiro, a maioria da população – à condição de símbolos.

Destituídos de qualquer protagonismo, não tem agenda, não tem programa, não tem líderes confiáveis. São muito comuns e frequentes em reuniões e plenárias, afirmações do tipo “o movimento negro acha”, “o movimento negro decidiu”, “o movimento negro entende”. Tais expressões servem apenas para confundir desinformados ou incautos – bem intencionados ou não – além de uma injustiça histórica às populações indígenas, de quem herdamos parte da nossa herança genética, essas sim, vítimas e alvos de um genocídio que começou com a chegada de Cabral e persiste até hoje.

Tome-se, como exemplo, a atitude das principais entidades negras sobre  o momento político: não se ouviu uma única nota, um único protesto, uma única declaração, sobre o arrocho e a degradação da vida dos mais pobres – que são, por óbvio, negros.

Note-se o silêncio (que não é dos inocentes) das chamadas ONGs negras bancadas pela Fundação Ford. Quando tomam alguma iniciativa é para desembocar na carnavalização típica da ausência de propostas (negros fazendo exibições de capoeira, turbantes afros em profusão e as religiões de matriz africana e sua indumentária, sendo utilizadas de forma esperta e profana), como se viu na recente manifestação das mulheres negras em Brasília, que acabou em performances, beijos, abraços e selfies, com a principal responsável pelo arrocho: a presidente Dilma Rousseff.

E por que? A explicação é simples: subordinadas a agendas dos partidos da base do governo – PT e PC do B – tais iniciativas servem apenas para reforçar a presença negra na sociedade brasileira como simbólica. São os afro isso, afro aquilo;  é como se tivéssemos abdicado da condição de brasileiros submetidos às mais duras condições do capitalismo tupiniquim e ainda alvos da herança maldita da escravidão.

Regressivo e reacionário

Por trás desse “movimento negro” chapa branca, - que se expressa nos partidos em que negros são apenas personagens folclóricos – está a ideologia regressiva e reacionária do racialismo.

Copiado de manuais do movimento negro norte-americano, o Partido do racialismo no Brasil não tem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas ocupa espaços nos governos, na Academia e garante os financiamentos de estatais e da Fundação Ford, a chamadas entidades e intelectuais, que se apresentam como porta-vozes das demandas seculares de milhões de pessoas, sem que jamais tenham tido procuração ou um único voto.

É regressivo e reacionário porque ignora a contradição fundamental na sociedade capitalista: a contradição de classe. Ao fazer regredir a contradição fundamental numa sociedade capitalista, à esfera biológica, transforma negros em vítimas e ou padrões de virtude; reserva a maioria da população o lugar de sempre: o de parcela subalterna, sub-cidadã.

É famosa a frase de uma famosa filósofa e feminista, doutora em Educação pela USP de que, "entre a direita e a esquerda, continuo preta”. (“Caros Amigos” n° 35, fevereiro de 2000). A frase, dita no contexto da campanha em que Celso Pitta, com apoio de Paulo Maluf se elegeu prefeito de S. Paulo, é repetida por jovens inflamados, inclusive, nas redes sociais. Ignorantes (um dos males desse tipo de visão é a despolitização dos mais jovens), prestam um serviço ao sistema de exploração capitalista que tem no racismo um dos seus elementos estruturantes.

O racialismo mimetiza práticas do movimento negro norte-americano, porém, negros americanos representam apenas 12% da população. Sim, nos EUA, os negros podem se auto-denominar uma comunidade – já foram ultrapassados em número, inclusive, pelos hispânicos. Mas, no Brasil, onde representamos 51,7% da população, segundo o Censo do IBGE 2010?!!!

Há algo muito errado quando em um país - que é o de maior população negra no mundo fora da África -, os próprios negros abdicam da condição de brasileiros para se dizerem afro qualquer coisa, se reduzem à condição de minoria, de uma comunidade, o que torna a sua presença apenas simbólica e folclorizada.

O racialismo nunca foi, não é, nem jamais será uma saída para o combate ao racismo. O Partido do racialismo é uma cilada, não uma saída.

Brasil. PELO FIM DA INTOLERÂNCIA E DO RACISMO



Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o racismo como sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo agredida

Fábio Mariano e Roger Cipó do Blog Olhar de Um Cipó - Carta Maior

21 de Janeiro, Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, será marcado por Ato na Av. Paulista

2015 foi um ano em que as crenças de matriz africana sofreram atentados de todas as ordens contra o patrimônio material, físico, moral e espiritual.

Muitos religiosos e seguidores sofreram com a violência e a intolerância religiosa. Invasões de terreiros, demonização ao culto dos orixás e até morte de uma Ialorixá fez deste ano um marco da intolerância religiosa.

Agressões físicas se multiplicaram, dentre elas a de uma criança que, em razão das vestimentas, foi apedrejada quando saía do terreiro. Uma imensa lista de denúncias de injúrias e cerceamento de direitos no âmbito das práticas religiosas, que incluem, entre outras, a realização de rituais sagrados dentro dos terreiros.

Sob o manto do estado democrático de direito, a intolerância demonstrada das mais diversas formas não poupou ninguém. Aquele que pratica a injúria não tem um objetivo maior, senão o de dizer onde aquele que foi injuriado deve estar: no campo da invisibilidade. Não a toa, registra o psiquiatra e filósofo Franzt Fanon em sua obra “Peles Negras, Máscaras Brancas”:

“(…)Enquanto o negro estiver em casa não precisará, salvo por ocasião de pequenas lutas intestinas, confirmar seu ser diante do outro.”

Assim como ocorreu com as mulheres que tiveram determinadas a sua presença no âmbito da vida privada, restando aos homens as disputas no campo público, com negros e não cristãos não foi diferente. Foram e ainda são diversas e poderosas as formas de colonização e exclusão do povo negro e sua religiosidade.

Combater a intolerância religiosa significa rejeitar o racismo como sistema de opressão e dar corpo e voz a uma parcela da população que vem sendo sistematicamente agredida em sua dignidade pelo cerceamento de direito de liberdade de culto.

A questão da liberdade de religião e de culto amplamente requerida pela população negra e pelos religiosos de matriz africana deve ser vista sob a ótica da afirmação e reiteração da identidade negra e de toda a sua ancestralidade. Negar esse direito, compactuar com esta lógica é o mesmo que permitir que os tambores continuem abafados e os adeptos das religiões de matriz africana permaneçam naquilo que o “outro” considera a sua senzala. Não há democracia racial, como não há respeito à diversidade religiosa.

Em 2007, o dia 21 de janeiro foi instituído como a data de Combate à Intolerância Religiosa, em reflexão e memória da Ialorixá Gildásia dos Santos – vítima de um dos casos mais drásticos de intolerância que a história brasileira conheceu. O crime começou em outubro de 1999, quando O jornal Folha Universal estampou em sua capa a imagem de Mãe Gilda, trajada com roupas de sacerdotisa para ilustrar uma matéria cujo título era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. Sua casa foi invadida, seu marido foi agredido verbal e fisicamente, e seu Terreiro, depredado por evangélicos. A Ialorixá não suportou os ataques e, após enfartar, faleceu em 21 de janeiro de 2000.

15 anos após a trágica morte de mãe Gilda, a história se repete, e em Camaçari/BA, Mãe Dede de Iansã, também enfarta após uma noite se insultos protagonizada por um grupo evangélico, na porta de seu terreiro.

Em resposta a tanta violência que, assustadoramente, aumenta a cada dia e tem se mostrado uma das faces mais cruéis do racismo, comunidades religiosas de matriz africana promoverão manifestações em todo Brasil.

Em São Paulo, o Ato de Repúdio, Afirmação e Combate aos Crimes de Intolerância Religiosa, acontecerá neste dia 21 de Janeiro, quinta feira, às 19h. A concentração será no vão do MASP, onde religiosos e simpatizantes tomarão o “coração financeiro da cidade” para um grito pela liberdade de expressão da fé, do direito à crença e por uma sociedade de respeito ao próximo, à natureza e à diversidade.

As ruas serão ocupadas pela promoção da cultura de paz em nossas relações.

Vista-se de Branco e Junte-se a Nós!

Confirme presença e compartilhe: https://www.facebook.com/events/947733955311269/

Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa - 21 de Janeiro, às 19H - 
Vão Livre do MASP  – Avenida Paulista – SP

DEPUTADOS DE MACAU CHUMBAM PELA SÉTIMA VEZ PROJETO DE LEI SINDICAL



Macau, China, 20 jan (Lusa) - A destabilização social e económica foi o principal argumento utilizado pelos deputados de Macau para chumbarem, pela sétima vez, um projeto de lei sindical, apresentado, desta vez, por três membros do hemiciclo.

Ella Lei, Kwan Tsui Hang - da Associação Geral dos Operários de Macau e eleitas diretamente pela população - e Lam Heong Sang - vice-presidente da Assembleia Legislativa e eleito por via indireta, também ligado àquela ala tradicional - apresentaram hoje o sétimo projeto de lei sindical desde a transferência da administração, depois de Jorge Fão ter apresentado o primeiro em 2005 e Pereira Coutinho proposto cinco desde 2007.

Apesar de a Lei Básica de Macau prever o direito à associação sindical e greve, estes nunca foram regulamentados e todas os projetos foram chumbados, ainda que, desta vez, se tenha gerado uma maior expetativa de que o diploma pudesse receber luz verde, devido à maior capacidade de mobilização dos deputados proponentes.

No entanto, num hemiciclo em que o setor empresarial tem forte presença, a criação de associações sindicais foi considerada problemática.

De um total de 33 deputados, 12 votaram a favor, 18 contra e um absteve-se (dois faltaram ao plenário).

"Vai romper o equilíbrio empresarial e as pequenas e médias empresas vão enfrentar mais pressão. Macau já entrou num ajustamento aprofundado. Perante esta pressão da lei sindical, não vai conseguir resistir", disse Ma Chi Seng, deputado nomeado pelo chefe do Executivo.

Tsui Wai Kwan, também nomeado, considerou ainda que a lei "pode assustar os investidores".

"Creio que não é o tempo oportuno", afirmou, referindo-se ao período de queda das receitas dos casinos, motor da economia, que dura há cerca de ano e meio.

Vários deputados lembraram que Macau já conta com cerca de 6.000 associações, muitas de trabalhadores, considerando que efetuam uma mediação satisfatória com os patrões.

"As associações de Macau desempenham vários papéis, algumas são reconhecidas pelo governo. Creio que neste momento o que está equacionado não é ainda amadurecido", defendeu outro nomeado, Gabriel Tong.

No entanto, a mais firme oposição veio, como é já habitual, de Fong Chi Keong, também ele indicado pelo chefe do Executivo: "Uma vez aprovado este projeto, vai levar ao aparecimento de vários problemas. [Os trabalhadores] podem decidir ir ao trabalho ou não, podem faltar [para participar em atividades sindicais] e o empregador tem de pagar o salário".

Para o vice-presidente da Associação Comercial de Macau, "os trabalhadores nunca foram tratados de forma injusta, é uma realidade, um facto", e a lei laboral vigente "inclina-se para a parte laboral".

"Para que que existe o Governo? Assegura sempre os direitos dos trabalhadores, partilha frutos, desempenha um papel de equilíbrio. Precisamos de recorrer aos sindicatos para resolver os problemas? Temos um Governo", defendeu, acusando os proponentes de usarem a Assembleia para defender os seus interesses ao invés dos da sociedade.

O empresário Chan Chak Mo desvalorizou a referência ao direito de associação sindical na Lei Básica: "Não sei se trata de vazio legislativo, já passaram tantos anos desde o retorno. Se fosse mesmo necessário, o Governo Central já nos tinha pressionado. Se estamos a violar o artigo da Lei Básica, porque é que o País não nos chamou à atenção?"

Perante todas estas críticas e reticências, os proponentes sublinharam que se trata apenas de regulamentar o que é de direito.

"Não pretendemos abalar coisa alguma. Pretendemos apenas, como a Lei Básica prevê, regulamentar por lei. Se a economia não consegue desenvolver-se de modo a favorecer a população, então o desenvolvimento económico não passa de uma ilusão", disse Lam Heong Sang.

ISG // EL

Quase 7.000 pessoas multadas em Macau por violarem a lei antitabaco em 2015



Macau, China, 20 jan (Lusa) -- Os Serviços de Saúde de Macau anunciaram hoje que foram registadas, ao longo de 2015, quase 7.000 infrações à lei antitabaco, em vigor há quatro anos.

A esmagadora maioria (99,4 por cento ou 6.935) diz respeito a infratores individuais -- apanhados em fumar em locais proibidos --, aos quais se somam 33 casos de venda de produtos de tabaco que não satisfaziam as normas de rotulagem e seis em que os estabelecimentos de disponibilizavam tabaco por meios diretamente acessíveis aos compradores, detalham os Serviços de Saúde em comunicado.

Os números referentes a 2015 elevam o universo de infratores multados pelas autoridades para 31.126 desde a entrada em vigor da lei.

Só este ano, os Serviços de Saúde indicam que foram realizadas 289.300 inspeções a estabelecimentos, ou seja, uma média de 792 por dia.

A maioria dos infratores detetados em 2015 é do sexo masculino (6.445 ou 92,9%) e residente de Macau (4.242 multas ou 61,2%).

Em 314 casos foi necessário o apoio das forças de segurança, refere o organismo.

Os cibercafés mantêm-se no topo dos locais onde foram detetadas as infrações, com 1.376 casos (19,7%), seguidos dos parques/ jardins e zonas de lazer, com 902 casos (12,9%) e lojas e centros comerciais, com 845 casos (12,1%), segundo os Serviços de Saúde que não especificam onde foram detetadas as restantes irregularidades.

Desde o início do ano passado, 5.636 pessoas (80,8%) pagaram entretanto a multa.

A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo tem vindo a ser aplicada de forma gradual. O regime entrou em vigor a 01 de janeiro de 2012, visando a generalidade dos espaços públicos, prevendo disposições diferentes ou períodos transitórios para outros casos.

A 01 de janeiro de 2015, por exemplo, entrou em vigor a proibição total de fumar em bares, salas de dança, estabelecimentos de saunas e de massagens.

Já os casinos passaram a ser abrangidos dois anos antes, a 01 de janeiro de 2013, mas apenas parcialmente, já que as seis operadoras de jogo foram autorizadas a criar zonas específicas para fumadores, que não podiam ser superiores a 50% do total da área destinada ao público.

Contudo, em outubro de 2014, "as zonas para fumadores" foram substituídas por salas de fumo fechadas, com sistema de pressão negativa e de ventilação independente, passando a ser proibido fumar nas zonas de jogo de massas dos casinos e permitido apenas em algumas áreas das zonas de jogo VIP.

Assim, no que toca ao cumprimento da lei nos casinos, os Serviços de Saúde dão conta de 424 inspeções efetuadas em 2015 em conjunto com a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos, dando conta de 490 acusados de infringirem a lei, sendo que a maioria eram turistas (392 ou 80%).

Atualmente, encontra-se em sede de análise pela 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo, depois de, em julho do ano passado, o hemiciclo ter aprovado, na generalidade, uma proposta de lei no sentido de proibir totalmente o fumo nos casinos, após um longo debate centrado no impacto sobre as receitas da indústria do jogo.

O receio é o de que a proibição de fumar nas salas VIP agrave ainda mais a tendência de queda das receitas dos casinos, que caem ininterruptamente desde junho de 2014.

DM // APN

POLÍCIA DE TIMOR-LESTE LANÇOU ALERTA SOBRE SUSPEITO DO GRUPO ESTADO ISLÂMICO



20 jan (Lusa) -- A polícia de Timor-Leste divulgou um cartaz com a imagem de um suspeito de pertencer ao grupo radical Estado Islâmico (EI), que as autoridades acreditam ter cruzado a fronteira a partir da província indonésia de Timor Ocidental.

O alerta foi lançado a 15 de janeiro, um dia depois dos ataques na capital indonésia que vitimaram oito pessoas e reivindicados por militantes do EI, referindo que o suspeito se chama Fajar, noticiou hoje o portal australiano de notícias News.com.au.

Este aviso pode referir-se a Fajar Firdaus, que foi condenado a quatro anos e meio de prisão em 2010 por acolher um terrorista, Syaifudin Jaelani, que recrutou bombistas suicidas para os ataques aos hotéis JW Marriott e Ritz-Carlton, que mataram sete pessoas em 2009.

Após os atentados, Syaifudin foi morto, juntamente com o terrorista mais procurado na Indonésia, Noordin M Top.

O Departamento de Estado norte-americano acredita que Timor-Leste não tem qualquer organização terrorista ali criada, mas a sua fronteira terrestre com Timor Ocidental é facilmente atravessada -- apesar de o país não ser considerado um local ideal para os terroristas se esconderem.

JH // EL

RAMOS HORTA DIZ QUE EUROPA DEVE ACELERAR RECOLOCAÇÃO DE REFUGIADOS


Évora, 20 jan (Lusa) -- O antigo Presidente da República de Timor-Leste, José Ramos-Horta, defendeu hoje que a Europa tem de "acelerar" o acolhimento dos refugiados e que "é importante" que não vire "as costas" a esta onda migratória.

"O importante é que não virem as costas àqueles que procuram refúgio na Europa" e que criem "condições para que eles se sintam bem-vindos" e possam integrar-se a sociedade, disse Ramos-Horta.

O antigo chefe de Estado timorense falava à agência Lusa, em Évora, após participar numa conferência sobre cooperação e desenvolvimento sustentável, em que discursou sobre "Cooperação: Liberdade, Justiça e Paz no Mundo".

A atual vaga migratória para a Europa foi um dos temas que abordou e, questionado pela Lusa, Ramos-Horta comentou o anúncio da União Europeia (UE) da recolocação, até agora, de 322 refugiados em 10 dos 28 Estados-membros, ao abrigo do mecanismo acordado por chefes de Estado e do Governo da UE para acolher 160 mil pessoas.

Trata-se de um número que "surpreende, mas também em parte não, por causa dos medos, da burocracia existente" na UE, disse o Prémio Nobel da Paz de 1996.

Ramos-Horta reconheceu que, neste processo, é necessário "um certo escrutínio", mas considerou que "é muito pouco" o total de 322 migrantes recolocados.

"Tem que ser acelerado porque estamos a falar de milhares de mulheres e de crianças" e, quanto mais demora [se verificar] nos campos na Turquia e nos lugares de espera e de processamento, mais abusos e traumas essas crianças" sofrem, o que "vai afetar o seu crescimento" e a forma "como percecionam a Europa", afirmou.

Segundo o antigo Presidente da República timorense, a Europa enfrenta "um dilema" devido a esta onda migratória, que ainda apor cima acontece "num período de grande depressão económica", mas tem de "saber gerir esta situação".

"É fácil criticarmos os europeus" por "não terem coração", mas "o desafio maior" que se coloca aos líderes na UE, "primeiro, é terem uma política comum" para os refugiados e "convencerem uma Polónia ou uma Hungria", países do leste que "nunca tiveram relações históricas com países em desenvolvimento", a "aderirem a esse espírito da solidariedade europeia", afirmou.

Os líderes europeus, defendeu, devem também "reinventar ou inventar políticas e mecanismos" para "absorver esta vaga de refugiados", cuja "esmagadora maioria é genuína" e formada por pessoas que "fogem da extrema pobreza e dos conflitos".

"Não tenham medo dos imigrantes e dos refugiados", alertou Ramos-Horta, lembrando que "um dos sucessos dos Estados Unidos", tal como de outros países pelo mundo, é o facto de ser "um país de imigrantes".

"Os imigrantes e refugiados não causam desemprego, não causam pobreza. Eles inventam emprego e criam um restaurante ou outro negócio, quando não conseguem encontrar trabalho numa fábrica. Podem ser uma mais-valia, sobretudo numa Europa envelhecida e que precisa de mão-de-obra", sustentou.

O debate desta manhã na Universidade de Évora intitulou-se "Cooperação e Desenvolvimento Sustentável: Rumo a um Mundo Melhor", organizado pelo polo da cidade alentejana do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais da Universidade Nova.

RRL // PJA

Moçambique. Polícia sem pistas sobre baleamento de secretário-geral da Renamo



A Polícia moçambicana na Beira, centro do país, garantiu estar a tentar esclarecer um tiroteio no bairro da Munhava, onde foi baleado o secretário-geral da Renamo, embora não confirme a identidade das vítimas.

"Até então nós não confirmamos [o baleamento de Manuel Bissopo]" declarou à Lusa Daniel Macuácua, porta-voz do comando provincial da Polícia de Sofala, adiantando apenas que foi registado um tiroteio no bairro da Munhava e admitindo que não tem informação sobre a identidade das vítimas.

"As equipes todas estão despachadas para o terreno", assegurou Daniel Macuácua, remetendo pormenores para mais tarde.

O secretário-geral da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), Manuel Bissopo, foi baleado no princípio da tarde de hoje na Beira, tendo o seu segurança morrido no local.

"O secretário-geral foi baleado, está neste momento no hospital, e uma das pessoas que o acompanhava perdeu a vida e outros dois saíram ilesos", disse à Lusa António Muchanga, porta-voz da Renamo, principal partido da oposição.

Também a líder da bancada parlamentar da Renamo, Ivone Soares, disse que o dirigente da força de oposição e deputado foi atingido a tiro, acusando o Governo da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, de "terrorismo de estado", embora seja desconhecida a identidade dos atiradores.

Manuel Bissopo encontrava-se hoje ao fim da tarde internado numa clinica privada na Beira, depois de ter sido baleado numa das ruas do bairro da Munhava, bastião da oposição, quando saía de uma conferência de imprensa na delegação da cidade do partido.

"Ele denunciou e condenou as atrocidades que têm acontecido na Beira e Nhamatanda. Há nossos chefes de mobilização que foram raptados e apareceram mortos no distrito de Gorongosa. Um outro membro também foi carregado e apareceu morto noutro sitio", disse à Lusa António Muchanga.

A Frelimo e a Renamo tem estado a acusar-se mutuamente de sequestro e abate dos seus dirigentes na província de Sofala.

Moçambique vive uma situação de incerteza política há vários meses e o líder da Renamo ameaça tomar o poder em seis províncias do norte e centro do país, onde o movimento reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.

O paradeiro de Afonso Dhlakama é alvo de debate uma vez que não é visto em público desde 09 de outubro, quando a sua residência na Beira foi invadida pela polícia, que desarmou e deteve, por algumas horas, a sua guarda.

Nos pronunciamentos públicos que tem feito nos últimos dias, Dhlakama afirma ter voltado para Sadjundjira, distrito de Gorongosa, mas alguns círculos questionam a fiabilidade dessa informação, tendo em conta uma alegada forte presença das forças de defesa e segurança moçambicanas nessa zona.

A Renamo pediu recentemente a mediação do Presidente sul-africano, Jacob Zuma, e da Igreja Católica para o diálogo com o Governo e que se encontra bloqueado há vários meses.

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, tem reiterado a sua disponibilidade para se avistar com o líder da Renamo, mas Afonso Dhlakama considera que não há mais nada a conversar depois de a Frelimo ter chumbado a revisão pontual da Constituição para acomodar as novas regiões administrativas reivindicadas pela oposição.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Moçambique. SECRETÁRIO-GERAL DA RENAMO BALEADO NA CIDADE DA BEIRA



O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado hoje por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique, e corre risco de vida, disseram à Lusa fontes do maior partido de oposição.

Maputo, 20 jan (Lusa) - O secretário-geral da Renamo, Manuel Bissopo, foi baleado hoje por desconhecidos na cidade da Beira, centro de Moçambique, e corre risco de vida, disseram à Lusa fontes do maior partido de oposição.

O secretário-geral da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) e deputado foi atingido a tiro quando acabava de realizar uma conferência de imprensa na Beira, tendo o seu guarda-costas morrido no local, informaram o porta-voz do partido, António Muchanga, e a líder parlamentar da força de oposição, Ivone Soares.

Contactado pela Lusa, o porta-voz do comando geral da Polícia da República de Moçambique (PRM) disse desconhecer o caso e o comando da força policial na província de Sofala apenas confirmou a ocorrência de um tiroteio no bairro da Munhava, na cidade da Beira, sem mencionar o envolvimento do dirigente da Renamo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Angola. A NECESSIDADE DE SE APURAR TODA A VERDADE



Reginaldo Silva – Rede Angola, opinião

O caso Kalupeteca é mais um que transita do ano passado, ao lado dos révus e do afundamento do preço do petróleo, para o novo ano, que pelos vistos, nos seus tons mais cinzentos, e como era nossa previsão anterior, vai manter-se muito igual ao seu predecessor.

Estamos a falar do capitulo da crise que prossegue dentro de momentos e da polémica/controvérsia que está aí para durar e para aprofundar um pouco mais a divisão da opinião publica e publicada em torno dos dois fracturantes processos judiciais.

Com o julgamento de José Kalupeteca e dos seus correligionários em marcha no seu terceiro dia na cidade do Huambo, já deu para perceber pelas informações a que tivemos acesso de diferentes fontes, que vamos ter mais um daqueles turbulentos processos, com a diferença de que desta vez não haverá pelo menos ninguém a querer encenar na sala de audiência a  “parábola” da justiça que é cega, protegendo o seu rosto da  identificação imediata por contacto visual.

A primeira nota dissonante deste processo é que, com base na pronúncia, ele apenas pretende apurar quem foi que matou, como foram mortos, ou como morreram os 9 polícias, estando nesta altura ainda em aberto as três opções a ter em conta os primeiros depoimentos já registados pelo Tribunal.

Tudo o resto que se passou naquele dia e nos dias subsequentes na “montanha”, onde se tinham concentrado algumas largas centenas (ou milhares?) de seguidores de Kalupeteca e da sua “Luz do Mundo”, dificilmente será trazido para a audiência por iniciativa do Ministério Público e do colectivo dos Juízes.

Salvo melhor opinião e ulteriores desenvolvimentos, estamos em crer que ainda não será desta vez que será feito o esclarecimento completo e imparcial dos trágicos acontecimentos que tantas versões e cifras já produziram, sendo o famoso video a “prova” que mais nos aproximou dos factos vividos há cerca de um ano em São Pedro do Sumé/Caála.

As cautelosas aspas colocadas na palavra prova têm como justificação o nosso desconhecimento em relação à sua aceitação ou não pelo Tribunal, ou mesmo se ele será ou não introduzido pela defesa no decorrer da audiência.

Depois da defesa já ter visto recusado de forma liminar os seus primeiros requerimentos, tendentes a alargar o âmbito da produção da prova e do consequente apuramento da verdade, restam-nos as declarações dos réus para se fazer o contraditório com a acusação que pende sobre eles no caso da morte dos nove agentes da autoridade.

Dos outros treze mortos do lado dos adeptos de Kalupeteka, que as autoridades assumiram oficialmente, nem o nome deles se conhece, quanto mais as circunstâncias do seu passamento.

De acordo com o que disseram os primeiros arguidos, e enquanto se aguarda pelo depoimento do próprio José Kalupeteka, que será sem dúvidas um dos momentos mais esperados deste julgamento, as versões sobre os factos, de acordo com o que transpirou, parecem-nos ser pouco convergentes quanto às circunstâncias em que ocorreu a morte dos nove policias.

Com todas as dificuldades administrativas que se estão a colocar à cobertura jornalística das audiências, sente-se que a “estratégia” é filtrar ao máximo o acesso da opinião pública ao conteúdo das versões que estão a ser apresentadas pelos réus, pois a outra, a do Ministério Público, já é sobejamente conhecida.

Em nome da transparência, da credibilidade e da independência do próprio Tribunal, seria bom que não fossem colocadas tantas dificuldades aos jornalistas no seu acesso à sala onde decorre o julgamento.

Tais restrições só vão aumentar a margem de especulação e as imprecisões da informação que os nossos colegas que se encontram no Huambo estão a prestar em nome do interesse público.

De nada adiantará a Televisão repetir a dose de Luanda com o julgamento dos révus,  entrevistando pontualmente alguém que passa o tempo todo a dizer que está tudo a correr muito bem de acordo com  a lei e com os procedimentos previstos, pois não é isso que está em causa. É suposto que os julgamentos assim decorram não havendo qualquer necessidade  de se estar a repisar este aspecto, a não ser que aconteça exactamente o contrário.

Também não nos parece que seja de bom tom os comentaristas anteciparem as sentenças no canal público, dando os réus como irremediavelmente culpados de todos os crimes que estão a ser acusados, o que efectivamente configura uma pressão desnecessária sobre o Tribunal.

Sendo o julgamento público, as pessoas têm o direito à informação do que lá se está a passar, o que só os jornalistas podem fazer à escala da opinião pública nacional que, acreditamos, esteja a dedicar a sua melhor e maior atenção ao caso, por razões mais do que óbvias.

Afinal de contas, estamos diante de um confronto sem precedentes na história do pós-independência no que toca ao relacionamento do poder com a religião, por mais que se queira subestimar o que se passou naquela localidade.

Até que ponto a defesa conseguirá convencer o Tribunal a olhar para este caso com uma visão mais abrangente e inclusiva, será, certamente, um dos maiores desafios que David Mendes e os seus colegas terão pela frente ao longo dos próximos dias.

Tudo leva a crer que eles vão continuar a insistir na tecla do apuramento de toda a verdade e não apenas de uma parte dela, que é o que se depreende do conteúdo da acusação do MP e do despacho do Juiz da causa.

Se de facto as coisas se apresentam assim, e enquanto se aguardam por outros esclarecimentos, a única forma que o próprio Executivo tem para “desmontar” os expressivos números da tragédia que tanto o incomodam e continuam a circular, seria aproveitar da melhor forma o actual julgamento, permitindo que fosse feita de forma convincente toda a luz sobre o que realmente se passou na “montanha”.

Seja como for, sempre alimentamos a esperança de que alguma coisa se ficará a saber, no final de mais este polêmico e tormentoso caso.

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