Martinho Júnior, Luanda
1
– Tal como Angola sob a direcção do Presidente José Eduardo dos Santos, se luta
pela paz interna e em África, particularmente em relação a algumas das regiões
mais sensíveis do continente como a RDC e os Grandes Lagos, é Cuba, sob a
direcção do Presidente Raul de Castro que procura fazer o mesmo exercício na
América, particularmente em relação à Colômbia, no âmbito das aspirações
bolivarianas e precisamente numa das regiões mais sensíveis do continente.
A
trajectória de Cuba Revolucionária foi histórica e culturalmente uma assumida
preparação para a paz, no pressuposto que é o socialismo que comporta a paz por
que com ele se vão diluindo as desigualdades e as injustiças sociais.
Cuba
defendeu a sua revolução ao longo desses mais de 50 anos, face a todo o tipo de
ingerências e manipulações levadas a cabo com o concurso aberto ou velado de
sucessivas administrações dos Estados Unidos, com convicções e princípios
conducentes à paz, revertendo até a seu favor factores tão negativos como o
criminoso bloqueio de que tem sido vítima… e tudo isso graças aos processos
culturais profundos que foram desencadeados.
De
facto Cuba Revolucionária está a demonstrar hoje essa vocação, transferindo-a
para todo o espaço continental da América, num momento em que linhas progressistas
despontam e tentam engrenar processos culturais que para sua inspiração contam
sempre com o exemplo de Cuba.
2
– Logo que os revolucionários cubanos assumiram o poder em Cuba, que as
preocupações imediatas de ordem histórica e cultural (no sentido antropológico
do termo), se fizeram sentir em toda a profundidade da sociedade cubana:
-
Em 1961 Cuba declarou ter-se visto livre do anátema do analfabetismo, a
primeira nação na América a atingir essa singular meta humana;
-
As preocupações em relação à vida foram de tal ordem que no que é hoje a
Reserva de Biosfera que dá pelo nome de Ciénaga de Zapata, na primeira
exploração que os comandantes rebeldes fizeram à região preocupados com a
extrema pobreza dos seus habitantes, o jovem comandante Raul de Castro em
resultado dum acidente de helicóptero, andou perdido, sendo resgatado dias
depois…

Essa
imensa inteligência substantiva foi-se consolidando alimentando os processos da
inteligência de vanguarda, assumindo essa vanguarda nos termos hoje dum Não
Alinhamento activo em pleno século XXI.
Por
isso Cuba não se coíbe de levar a outros povos, nações e estados do “terceiro
mundo” essa disposição internacionalista de vanguarda, desde logo por via
da educação e da saúde e os esforços de paz que Angola tem levado a cabo em
África, muito tem a ver com isso, desde o início do percurso comum que se
iniciou a 2 de Janeiro de 1965, no encontro do Che com a direcção do MPLA e
sobretudo a partir da tão decisiva Operação Carlota, que teve seguimento até
nossos dias.
3
– A região norte da América do Sul, o imenso espaço bolivariano, sensível pela
sua história e cultura como pela riqueza na biodiversidade, está em situação de
conflito armado na Colômbia, o mais antigo conflito em toda a América.
As
Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Exército Popular, são a organização
que de armas na mão tem assumido a defesa do campesinato pobre, com ideologias
marxistas-leninistas e bolivarianas, opondo-se à influência, manipulação e
ingerência dos Estados Unidos, nomeadamente através do seu Plano Colômbia.
O
facto de factores sócio-políticos, históricos e antropológicos de ordem
progressista terem influenciado a América Latina no sentido de sua
personalidade livre de ingerências, procurando consensos por via do diálogo e
integração (tornando explícita a visão integradora de Bolivar), está a permitir
que a paz na Colômbia, um dos países com uma das maiores biodiversidades do
globo, seja colocada à mesa de negociações, algo que Cuba assumiu como
prestigiada entidade mediadora (e moderadora).

O
vigor das conversações levaram já o Presidente Barack Hussein Obama a
aproximar-se da nova trilha, de certo modo afastando-se da linha tradicional
trilhada pelos falcões!
Os
avanços na América Latina, em termos de culturas progressistas, estão suspensos
por causa dessa guerra prolongada e dilacerante e por isso o Não Alinhamento
activo em pleno século XXI por parte de Cuba, é em relação à América, uma
questão que está efectivamente na “ordem do dia”.
Essa “ordem
do dia” nos seus amplos esforços, está a merecer um cada vez maior
reconhecimento internacional, pelo que os governos latino americanos, incluindo
o actual governo colombiano, se estão a unir na tentativa de vencer a barreira
que ponha fim a tão longo conflito armado na Colômbia, que se tornou um
poderoso factor retrógrado que só favorece a presença do império e o exercício
sócio-político de suas vetustas oligarquias agenciadas em todo o continente.
O
processo de paz está em curso e as espectativas em alcançar um acordo
mantêm-se, êxitos que continuam a pôr à prova a capacidade cubana em lidar com
assuntos de natureza tão complexa e abrangente, uma capacidade exigente sob o
ponto de vista das inteligências de vanguarda, mas nada que não seja mais um
desafio a acrescentar a tantos outros já ultrapassados pela Revolução Cubana ao
longo da cultura que assumiu durante mais de cinco décadas!
4
– Enquanto Angola, membro não permanente no Conselho de Segurança, levou à
consideração da ONU uma proposta para se porem fim às armas nucleares, Cuba,
que de há vários anos vem sustentando o diálogo com correntes como a da
Teologia de Libertação, apresta-se para receber uma reunião, a 12 de Fevereiro
de 2016, entre o Papa e o Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia, cujas
igrejas se têm vindo a aproximar face a fenómenos como os da pobreza e a
perseguição a cristãos como acontece na Síria por parte do Estado Islâmico à
minoria iazides.
Esta
aproximação pode concorrer no sentido do desanuviamento das relações internacionais
e é mais um marco em direcção à paz global!
Em
saudação ao 4 de Fevereiro de 2016
Fotos:
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Encontro de cúpulas em prol da paz na Colômbia;
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Encontro a 12 de Fevereiro de 2016, em Cuba, entre o Papa e o Patriarca de
Moscovo e de toda a Rússia;
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Encontro dos Presidentes Raul de Castro e José Eduardo dos Santos.