domingo, 28 de fevereiro de 2016

Angola. MORREU LÚCIO LARA



O Bureau Político do MPLA anunciou ontem, em comunicado, a morte de Lúcio Lara, por doença, aos 86 anos. Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara foi um dos pilares fundamentais do amplo Movimento Popular de Libertação de Angola, que lutou pela liberdade do povo e guiou a sua luta pela independência nacional, conquistada em 11 de Novembro de 1975.

No comunicado, o Bureau Político do MPLA refere-se a Lúcio Lara como um dos artífices da luta pela independência de Angola, ao lado do Primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, e  de outros eminentes nacionalistas que “escreveu o seu nome com letras de ouro na História de Angola, pela sua inestimável participação na árdua caminhada em prol da liberdade, da autodeterminação e da independência nacional”.

“Pelo infausto acontecimento, o Bureau Político do Comité Central do MPLA inclina-se perante a memória deste ilustre combatente da pátria angolana e, em nome dos militantes, simpatizantes e amigos do partido, endereça à família enlutada as mais sentidas condolências”, lê-se no comunicado.

Nascido no Huambo, em 9 de Abril de 1929, Lúcio Lara, ou Tchiweka (pseudónimo de guerra escolhido por Lara em homenagem à terra da sua mãe - sendo Tchiweka o nome da aldeia de origem da mãe, era filho de pai português - comerciante e funcionário público -, e mãe angolana.

Tendo terminado o ensino secundário no Huambo e Lubango, partiu para Portugal para prosseguir estudos em Química e Física nas Faculdades de Ciências da Universidade de Coimbra e em Lisboa. Em 1949, na Casa dos Estudantes do Império, iniciou as suas actividades políticas e fez parte da direcção da “casa” em Coimbra. Fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem e outros nacionalistas das colónias portuguesas, clube que na década de 1950 desempenhou um papel significativo na mobilização dos naturais das colónias e na circulação de informações e documentos.

Como um dos fundadores do MAC (Movimento Anti-Colonialista), que também incluiu Agostinho Neto, Amílcar Cabral, Mário de Andrade, Noémia de Sousa, Humberto Machado e Eduardo dos Santos, entre outros, Lara dedicou-se ainda mais à actividade política.

Em Março de 1959 foi forçado a sair de Portugal para escapar à prisão, encontrando refúgio na Alemanha. Depois disso, participou na Conferência de Tunes em Janeiro de 1960 como representante do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) e a recém-criada FRAIN (Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional).

Depois de uma estada em Casablanca em 1960, Lara estabeleceu-se em Conakry para constituir o primeiro Comité Central do MPLA no exterior de Angola. São desse período de turbulência os documentos publicados no primeiro volume das suas memórias políticas, “Um amplo movimento: Itinerário do MPLA através de documentos e anotações de Lúcio Lara”, que nos permitem acompanhar Lara, como ele sobreviveu economicamente como trabalhador não-qualificado e professor, apoiado por sua esposa, que também trabalhava como professora.

Ao mesmo tempo, ganhou acesso à literatura que tinha sido proibida em Portugal. Os contactos então estabelecidos foram muito influentes para o seu contínuo desenvolvimento político. Além dos atrás mencionados, este agrupamento incluía pessoas como Viriato da Cruz, Cheik Anta Diop, Ousmane Sembène e Franz Fanon, bem como os intelectuais mais renomados, políticos ou sindicalistas das colónias africanas ou países recentemente independentes.

Os três volumes cobrem três diferentes períodos (até Fevereiro de 1961, 1961-1962 e 1963-1964), e contêm correspondência e cartas, manuscritos, memorandos, recortes de imprensa e fotografias. A maioria dos materiais são em português, mas alguns exemplares originalmente escritos em outras línguas estão traduzidos para o português nesses volumes. Entre 1962 e 1974 desenvolveu a sua actividade política clandestina em Cabinda e no leste de Angola, mas também no território da actual República do Congo, junto de refugiados angolanos que ali se encontravam.

Lúcio Lara retirou-se da política activa em finais de 2003, por razões de saúde. No ano seguinte, foi alvo de uma homenagem do MPLA, que fez coincidir o tributo ao herói da luta pela independência com a data em que se assinalou 30 anos desde a sua chegada a Luanda, à frente da primeira delegação do MPLA que se deslocou à capital angolana depois da queda da ditadura em Portugal.


Jornal de Angola - Foto: JAimagens

IMPRESCINDÍVEIS!...



Martinho Júnior, Luanda 

1 – Há palavras e conceitos densos e intemporais, que ao colocar o homem enquanto indivíduo perante seu trânsito pela vida, o obrigam a ir muito para além de si próprio, o obrigam a agarrar os sonhos com mãos seguras, o obrigam a desvendar e correr exigentes e sacrificados trilhos solidários, o obrigam a enfrentar todo o tipo de riscos, o obrigam a lançar-se nas imensas sendas da sabedoria, da humildade e do amor rigoroso, o único que se conseguirá manter viçoso durante todos os percursos perenes no libertário colectivo!

Assim os homens que trilham caminhos imprescindíveis, são moldados até ao limite físico de sua passagem pela vida dessa substância quase inalcançável, mas tão completa, tão integral, tão íntegra, acima de qualquer suspeita e quando desaparecerem, ficam os sinais de seus passos vincados na memória e sobretudo nas decisivas opções das horas mais difíceis das nações e dos povos!

Sabemos por que o camarada Lúcio Lara no seu percurso humano singular se soube afirmar e se soube afastar, sabemos quando ele se expunha a toda a responsável visibilidade, quanto à ainda mais responsável ausência, sabemos as razões da luz e da sombra (e de quanto ele é luz, mesmo que hajam ao derredor universos de sombra)…

… A propósito de luz e sombra, sabemos quanto a luz dos caminhos imprescindíveis iluminam na sombra, mesmo que em nome da luz os que alimentam as supérfluas luzes que são sombra queiram fazer o colectivo ir na direcção das trevas de onde se partiu!

Em Angola não há que chorar: há que compreender as lições da filosofia tão substantiva da libertação, há que cultivar suas trilhas, há que nelas ser clarividente e humilde sábio, mesmo que se passe à sombra quando houver um ocaso, mesmo que se desapareça de todas as visibilidades, por que há que ganhar consciência crítica e reflexiva das opções para que aquelas que são justas algum vez se consolidem!

Essa é uma sabedoria imprescindível!...
  
2 – Alguém disse um dia, de forma sonoramente ampliada e multiplicada, que a luta continua… é possível que sim que ela continue, mas de forma clarividente e sábia só com a cultura imprescindível e com homens que se afirmem nela até ao fim de seu ciclo singular de vida, (por que só assim eles se tornam também imprescindíveis)!

Longo, muito longo e carregado de luz e de sombra é o caminho do resgate histórico e antropológico que se impõe a Angola, mas vale a pena integrar esse fluxo de luz, via única para se fazer luz, quando o sentido da lógica da vida teve já passos tão exemplarmente peregrinos! 

Foto: O Camarada Lúcio Lara: uma pequena e imprescindível luz quando as sombras querem remeter Angola de novo para o caminho das trevas!

Angola. A PERDA DE UM GRANDE COMBATENTE



Jornal de Angola, opinião

Angola acaba de registar a perda de um grande combatente pela liberdade do seu povo. Morreu ontem em Luanda, por doença, aos 86 anos de idade, Lúcio Rodrigo Leite Barreto de Lara.

Também conhecido por Tchiweka, pseudónimo de guerra escolhido em homenagem à terra da sua mãe, uma aldeia situada no Huambo, a morte de Lúcio Lara é a partida de uma das principais figuras da luta pela independência do país do jugo colonial.

Lúcio Lara foi o exemplo de jovens que, na década de 40 do século XX, abraçaram os ideais de liberdade e de progresso e, determinados, formaram um amplo movimento de libertação nacional com o objectivo de quebrar as algemas da repressão e devolver ao povo angolano o sonho de independência que a implantação do colonialismo havia roubado.

A repressão colonial fascista fez emergir uma geração de angolanos que procurou, dentro e fora do país, criar as condições para que o processo de luta anti-colonial ganhasse uma outra dinâmica e reconhecimento a nível africano e internacional.

É neste contexto que Lúcio Lara se destaca como um dos impulsionadores de todo o processo de organização política que veio a desenvolver-se, tendo como ponto de partida a Casa dos Estudantes do Império, em Coimbra, onde se encontrava a estudar e onde deu início à actividade política, em 1949. Com Agostinho Neto, Humberto Machado, Zito Van-Dúnem, e outros nacionalistas, Lara fazia também parte do Clube Marítimo Africano, em Lisboa, importante ponto de encontro para troca de informações, de documentos e de coordenação da luta clandestina contra o poder colonial.

Quando a PIDE (polícia secreta portuguesa) desencadeia uma vaga de perseguições e detenções, entre 1950 e 1959, Lúcio Lara refugia-se na Alemanha. É seguindo, depois,  a rota Tunes (Tunísia), Rabat (Marrocos) e Conacry (Guiné Conacry) que faz o regresso ao continente. A partir desta última capital, enceta um intenso trabalho político que, em conjunto com Agostinho Neto e demais nacionalistas, o vai guindar à posição de co-fundador do Movimento Popular de Libertação de Angola.

A participação na luta de libertação nacional, a entrega total à causa do povo angolano, o empenho para tornar Angola um país uno e indivisível, fizeram de Lúcio Lara uma figura incontornável no seio do MPLA.

A luta gloriosa levada a cabo ao longo de 14 anos de guerrilha em Angola, que se espalhou praticamente por todo o país, a par das guerras de libertação que teve de enfrentar nas outras ex-colónias, levaram o poder colonial a claudicar. O golpe de Estado que em 25 de Abril de 1974 pôs fim à ditadura colonial fascista em Portugal foi o corolário de todo esse longo processo de desarticulação da máquina que Salazar havia montado.

Como resultado, a 8 de Novembro de 1974 Lúcio Lara aterrava em Luanda à frente da primeira delegação do MPLA que se deslocou à capital angolana depois do derrube da ditadura em Portugal.  Viria então preparar o regresso de Agostinho Neto, que teria lugar em Fevereiro de 1975.

Foi Lúcio Lara quem empossou Agostinho Neto como primeiro Presidente de Angola, e foi também Lúcio Lara quem deu posse ao Presidente José Eduardo dos Santos, depois do desaparecimento físico do fundador da nação.

Falar de Lúcio Lara é tão somente falar de um dos grandes vultos da política angolana que, ao lado de Agostinho Neto, marcou de forma inapagável um dos mais ricos períodos da história da luta pela autodeterminação do povo angolano e pela afirmação de Angola como país soberano no concerto das nações.

Com a sua morte, parte o último fundador até então vivo do Movimento Popular de Libertação de Angola.

Não é este texto, como é óbvio, suficiente para traduzir a dimensão política de um homem da envergadura de Lúcio Lara.

Os grandes homens podem partir, mas as suas obras ficam para a eternidade como testemunho da sua grandeza, da sua estatura política, cultural, moral e cívica invulgares. Angola agradece por tudo quanto Lúcio Lara foi capaz de fazer para engrandecer o país e tornar os angolanos cidadãos dignos no mundo, sem vergonha da sua própria identidade.

TCHIWEKA




Foi longa a sua participação activa na luta pela independência de Angola. Dele retiramos lições de coragem abnegada, de empenho inquebrantável, de coerência lúcida. Com ele aprendemos a noção de sermos cidadãos patriotas universais. A sua postura impoluta, a sua frugalidade, modéstia autêntica, simplicidade, o seu modo solidário de ser e de estar, a sua vida dedicada à defesa dos nossos sonhos, (os quais, certamente, eram os sonhos dele), os princípios elementares (difíceis decerto) de patriotismo, militância, trabalho, honestidade, competência e rectidão de carácter, constituíram um raro exemplo de tenacidade, que forjou o carácter do povo angolano e que ecoou pelo continente africano e além das fronteiras de África.

Lúcio Lara foi um combatente cuja arma assentava na sua postura de intelectual e nas suas qualidades humanas. Como guerrilheiro palmilhou as florestas de Cabinda e as Chanas do Leste e falou ao povo numa vida melhor, acreditou na construção de uma Angola libertada, onde a vida digna fosse uma conquista do povo.

Certa da vitória, Angola libertou-se do colonialismo, forjada na luta contínua, sempre em busca de Paz, contribuindo para um mundo melhor, livre das algemas do imperialismo, do neocolonialismo e da exploração do Homem pelo Homem. Esta Revolução Angolana de ontem prossegue hoje e continuará amanhã, de forma persistente, decidida e permanente. E nela (nesta bela e grandiosa Revolução Angolana, uma das páginas históricas da epopeia de África e da Humanidade) está a marca da extraordinária sabedoria, da integridade notável, da dedicação inquestionável de Lúcio Lara.

Toda a sua acção fundamentou-se nos princípios da ampla participação democrática de todas as camadas e grupos sociais da população interessados na construção de uma Angola de Liberdade e de Justiça. Os seus ideais foram baseados nas ricas tradições de luta do povo Angolano, nas suas experiências e nos valores democráticos universais aplicados, de forma criativa, à realidade nacional.

Realça-se os seus sentimentos patrióticos, a sua fidelidade sem limites aos ideais de todo o povo, sobretudo a sua preocupação com as camadas mais desfavorecidas e o seu cuidado com a defesa dos legítimos interesses nacionais.

As suas palavras, ditas e escritas, deram um sentido profundo á luta. A superficialidade estava banida do seu léxico e da sua acção. Homem de vanguarda, confrontou-se, de forma ousada, com a realidade. Visionário, colocou-se á frente, no tempo e no espaço. Decidido, seguiu o caminho que trilhou, sempre com verticalidade.

As condições que levaram ao surgimento de combatentes que ao lado do povo angolano levaram Angola à vitória sobre o colonialismo estão, hoje, transformadas. Foram criados novos desafios, é certo, mas continuam os mesmos ideais, que nos guiam contra os novos obstáculos e dificuldades. Os ideais que nortearam a luta dirigida por Agostinho Neto, um dos companheiros de sempre de Lúcio Lara, os ideais que tornaram Angola uma realidade.

São estes mesmos ideais que tornam possível derrubar as novas barreiras e que possibilitam novas soluções, respostas adequadas ao turbilhão dos tempos presentes. E neles, nos ideais libertadores e transformadores, estão inscritos, gravados, os nomes dos heróis, dos que combateram por uma causa justa, dos que assumiram a justiça no seu comportamento e atitude.

O nome de Lúcio Lara estará, para todo o sempre, neste panteão que reside na memória dos povos.

Twasanselako, Tchiweka.

COMO A TURQUIA APOIA OS JIADISTAS



Thierry Meyssan*

A Rússia colocou a questão do futuro da Turquia enviando ao Conselho de Segurança um relatório de serviço de Inteligência sobre as actividades do apoio deste país aos jiadistas. O documento compreende uma dezena de revelações pondo em causa as actuações do MIT (Serviço Secreto Turco-ndT). O problema é que cada uma destas operações citadas liga-se a outras operações nas quais os mesmos actores operaram junto com os Estados Unidos, ou seus aliados, contra a Rússia. Estas informações juntam-se às já disponíveis sobre os laços pessoais do Presidente Erdoğan com o banqueiro da Al-Qaida, e sobre a receptação pelo seu filho do petróleo roubado pelo Daesh (E.I.).

ússia remeteu aos membros do Conselho de Segurança da Onu um relatório de Inteligência sobre as actividades da Turquia a favor dos jiadistas operando na Síria [1]. Este documento fornece uma dezena de factos em que cada um, por si, viola uma ou várias resoluções do Conselho.

Ao fazê-lo, a Rússia coloca o Conselho perante as suas responsabilidades e, por extensão, várias outras organizações inter-governamentais. Pelos princípios do Direito, o Conselho devia exigir as provas correspondentes a estas asserções e convocar a Turquia para dar explicações. No caso da culpabilidade da Turquia ser estabelecida, deveria decidir as sanções a tomar segundo o capítulo VII da Carta, quer dizer recorrendo à força. Pelo seu lado, a Organização do Tratado do Atlântico-Norte e a Organização da Cooperação Islâmica deveriam excluir das suas fileiras este Estado criminoso, enquanto a União Europeia deveria cessar as negociações de adesão.

No entanto, uma leitura atenta do relatório da Inteligência russa mostra que os factos alegados são susceptíveis de abrir muito outros dossiês, e de pôr em causa outras potências. De tal modo que é mais provável que não se discuta publicamente este relatório, mas que se negociará à porta fechada o futuro da Turquia.

O caso Mahdi Al-Harati

Nascido na Líbia, em 1973, Mahdi al-Harati emigrou para a Irlanda e aí construiu uma família.

Em Maio de 2010, ele estava a bordo do Mavi Marmara, o navio almirante da «Flotilha da Liberdade», organizada pela ONG turca IHH para fornecer ajuda humanitária a Gaza. Os barcos foram pirateados em alto mar pelo exército israelita, provocando um escândalo internacional. Os passageiros foram raptados pelo Tsahal, sequestrados em Israel, depois, finalmente libertados [2]. O Primeiro-ministro de então, Recep Tayyip Erdoğan, dirigiu-se a um hospital para reconfortar os militantes feridos. O seu gabinete difunde uma fotografia onde se vê um, de entre eles, a abraçá-lo como se fosse seu pai. Seria um turco-irlandês, El Mehdi El Hamid El Hamdi, mas, na realidade era o líbio-irlandês Mahdi al-Harati.

Em julho de 2011, a sua casa em Rathkeale (Irlanda) é assaltada. A sua companheira, Eftaima al-Najar, chama a polícia e diz que os ladrões se apoderaram de ricas jóias egípcias e líbias e de 200 000 euros em notas de 500. Contactado por telefone, Mahdi al-Harati confirma à polícia ter-se encontrado com autoridades do Catar, da França e dos Estados Unidos e ter recebido esta soma da CIA para ajudar ao derrube de Muammar al-Kaddafi [3]. Posteriormente, ele irá desmentir as suas primeiras declarações assim que a Resistência líbia se apropriou do assunto [4].

Em julho-agosto de 2011, ele comanda a Brigada Tripoli —da qual também era membro o seu cunhado, Hosam al-Najjair—, uma unidade da Al-Qaida enquadrada por legionários franceses, encarregue pela Otan de tomar o Hotel Rixos [5]. Oficialmente, o hotel é o centro da imprensa internacional, mas a Aliança foi informada, pelo construtor turco do edifício. que ele inclui uma cave(porão-br) arranjada, acessível a partir do exterior, onde se refugiam vários membros da família Kaddafi e dirigentes da Jamahiriya. Durante vários dias, ele bate-se junto com os franceses contra os soldados de Khamis Kaddafi [6]

Em Setembro de 2011, a Otan nomeia-o adjunto de Abdelhakim Belhaj, o chefe histórico da Al-Qaida tornado «governador militar de Tripoli» [7]. Ele demite-se a 11 de Outubro, pretensamente no seguimento a um diferendo com Belhaj [8].

No entanto em Novembro de 2011, ao lado de Abdel Hakim Belhadj, comanda um grupo de 600 a 1.500 jiadistas da Al-Qaida na Líbia —anteriormente do Grupo Islâmico Combatente na Líbia (GICL)— que são registados como refugiados e transportados por mar para a Turquia sob a supervisão de Ian Martin, antigo secretário-geral da Fabian Society e da Amnistia Internacional, tornado representante especial de Ban Ki-moon.

Chegados à Turquia, os jiadistas são transferidos de autocarro (ônibus-br), escoltados pelo MIT (serviços secretos turcos), para a Síria. Eles instalam-se em Jabal al-Zouia, onde criam, por conta da França, o Exército Sírio Livre (FSA). Durante quase dois meses, Abdel Hakim Belhadj e Mahdi al-Harati recebem todos os jornalistas ocidentais que passando pela Turquia tentam cobrir o acontecimento, naquilo que eles transformam numa «aldeia Potemkin» [9]. O gabinete do Primeiro-ministro Erdoğan coloca-os em conexão com contrabandistas que os transportam de moto a Jabal al-Zouia. Lá, eles vêem com os seus próprios olhos milhares de pessoas manifestarem-se «contra a ditadura de Bashar Assad e pela democracia». Conquistada, a imprensa ocidental conclui tratar-se de uma revolução, até que um jornalista do jornal espanholABC, Daniel Iriarte, constata que os manifestantes não são maioritariamente sírios e reconhece os seus chefes líbios Abdel Hakim Belhadj e Mahdi al-Harati [10]. Pouco importa, o espectáculo da Brigada Falcões do Levante (Suqour al-Sham Brigade) conseguiu o seu efeito. O mito de um ESL composto de «desertores do Exército Árabe Sírio» nasceu e os jornalistas, que o alimentaram, nunca reconhecerão ter sido enrolados.

Em setembro de 2012, Mahdi al-Harati voltou à Líbia por razões médicas, não sem antes ter formado, junto com o seu cunhado, um novo grupo de jiadistas, Liwa al-Umma (a Brigada do Ummah) [11].

Em Março de 2014, Mahdi al-Harati escolta um novo grupo de jiadistas líbios que vêm para a Turquia por mar. Segundo o relatório da Inteligência russa, ele é apoiado pelo número 2 do regime, Hakan Fidan, chefe do MIT (serviços secretos), que acaba de retomar funções. Eles juntam-se ao Daesh (E.I.) pelo posto fronteiriço de Barsai. Esta decisão surge na sequência da reunião organizada, em Washington, pela conselheira de Segurança Nacional, Susan Rice, com os chefes dos Serviços Secretos do Golfo e da Turquia, a fim de lhes confiar o prosseguimento da guerra contra a Síria, pretensamente sem ter de usar a Al-Qaida e o Daesh [12].

Em Agosto de 2014, Mahdi al-Harati é «eleito» presidente da câmara(prefeito-br) de Tripoli, com o apoio do Catar, do Sudão e da Turquia. Ele depende do governo de Tripoli, dominado pela Irmandade Muçulmana, e rejeita o de Tobruk, apoiado pelo Egipto e pelos Emirados Árabes Unidos.

A transferência de combatentes do Daesh da Síria para o Iémene

O relatório de Inteligência revela que os serviços secretos turcos organizaram a transferência dos combatentes do Daesh da Síria para o Iémene. Eles teriam, segundo o caso, sido transportados por avião ou por barco para Áden.

Esta imputação havia já sido formulada, a 27 de Outubro de 2015, pelo porta-voz do Exército Árabe Sírio, o general Ali Mayhub. Segundo ele, pelo menos 500 jiadistas do Daesh tinham sido auxiliados pelo MIT turco a dirigirem-se para o Iémene. Tinham sido embarcados em dois aviões da Turkish Airlines, um da Catar Airways e um dos Emirados. Chegados à Áden, os jiadistas foram divididos em três grupos. O primeiro dirigiu-se para o estreito de Bab-el-Mandeb, o segundo para Marib, e o terceiro foi enviado para a Arábia Saudita.

Esta informação, que foi amplamente desenvolvida pelos média árabes pró-Sírios, foi ignorada pela imprensa ocidental. Do lado iemenita, o general Sharaf Luqman, porta-voz dos militares fiéis ao antigo presidente Saleh, confirmou a acusação síria e acrescentou que os jiadistas tinham sido acolhidos no Iémene por mercenários da Blackwater-Academi.
A « aldeia tártara»

O relatório de Inteligência russo evoca igualmente o caso da «aldeia Tártara», um grupo étnico Tártaro, inicialmente baseado em Antalya, depois deslocado pelo MIT mais para norte, para Eskisehir. Muito embora ele precise que é formado por combatentes da Al-Qaida e que ajuda combatentes islamistas na Síria, não explica porquê é que este grupo foi movido para mais longe da Síria, nem quais são as suas actividades específicas.

Os tártaros formam a segunda minoria russa e muito poucos são os que aderem à ideologia jiadista dos Irmãos Muçulmanos ou do Hizb-ut-Tahrir. 

- Entretanto, em Março de 2012, os islamistas árabes do Tartaristão atacaram uma exposição sobre a Síria «berço da civilização» no museu de Kazan. Um pouco mais tarde, a 5 de Agosto de 2012, jiadistas, ao mesmo árabes e tártaros, reuniram-se secretamente em Kazan, incluindo representantes da Al-Qaida. 

- Em Dezembro de 2013, jiadistas tártaros pan-turcos, do movimento Azatlyk (Liberdade), deixam o teatro sírio para irem para a Ucrânia e assegurarem o serviço de ordem na praça Maidan, na tentativa de golpe de Estado; enquanto outros militantes da mesma organização se manifestavam em Kazan. 

- No 1º de Agosto de 2015, um Congresso Mundial de Tártaros é organizado em Ancara, com o apoio e a participação dos governos ucraniano e turco. É presidido pelo agente da CIA célebre durante a Guerra Fria, Mustafa Dzhemilev, e decide a criação de uma «Brigada muçulmana internacional» para «libertar» a Crimeia. Djemilev é, de imediato, recebido oficialmente pelo presidente Recep Tayyip Erdoğan [13]. A Brigada dispõe de instalações em Kherson (Ucrânia). Ela organiza diversos actos de sabotagem na Crimeia, entre os quais uma gigantesca falha de electricidade(cortada a partir da Ucrânia), depois, não conseguindo entrar em massa na Rússia, vai reforçar as tropas ucranianas no Donbass.

Os Turcomanos da Brigada Sultão Abdulhamid

Enquanto a Turquia não levantou o dedo mínimo para socorrer os Turcomanos iraquianos, massacrados pelo Daesh, ela, apoiou-se nos Turcomanos sírios contra a República Árabe da Síria. Eles são organizados pelos «Lobos Cinzentos», um partido político paramilitar turco, historicamente ligado aos serviços secretos da OTAN na sua luta contra o comunismo (a «Gládio»). Foram eles, por exemplo, quem organizou a tentativa de assassínio do Papa João Paulo II, em 1981 [14]. Os Lobos cinzentos estão presentes na Europa, nomeadamente no seio dos sociais-democratas belgas e dos socialistas neerlandeses. Eles instalaram em Frankfurt uma coordenação europeia. Na realidade, não são um partido em si mesmo, antes, formam o ramo paramilitar do Partido de Ação Nacionalista (MHP Milliyetçi Hareket Partisi).

As Brigadas Turcomanas organizam com o MIT a pilhagem das fábricas de Alepo. Peritos turcos desmantelam as máquinas-ferramentas que são expedidas e remontadas na Turquia. Simultaneamente, eles, ocupam a zona fronteiriça da Turquia onde o MIT instala e controla campos de treino de jiadistas.

Em Novembro de 2015, é a estrela dos Turcomanos sírios, o turco Alparslan Çelik —membro dos Lobos cinzentos e um dos comandantes da Brigada Sultão Abdoulhamid— , quem dará a ordem para abater os dois pilotos do Sukoi-24, que acabava de ser destruído pela aviação de caça Turca assistida por um avião-radar AWACS Saudita. Um, de entre eles, acabará efectivamente executado.

Acontece que, em 1995, os Lobos Cinzentos tinham organizado, com a empresa imobiliária turco-americana Celebiler isaat (que financia as campanhas eleitorais de Hillary Clinton), um vasto programa de recrutamento de 10.000 jiadistas para irem combater na Tchechénia. Uma base de treino fora instalada na cidade universitária de Top Kopa, em Istambul. Um dos filhos do general Djokhar Dudaiev dirigia a transferência a partir da Turquia, via Azerbaijão, ao lado do MIT.

O relatório de Inteligência russo revela que o MIT constituiu a Brigada Sultão Abdoulhamid —que agrupa as principais milícias turcomanas— e que treinou os seus elementos na base de Bayır-Bucak, sob a direção de instrutores das forças especiais de intervenção do Estado-Maior do Exército turco e de agentes do MIT. Ele precisa que a Brigada Turcomana colabora com a Al-Qaida.

O IHH e o İmkander

O relatório de Inteligência russo revela o papel de três ONGs humanitárias turcas no fornecimento de armas aos jiadistas, a IHH, a İmkander e a Oncu Nesil. A Declaração Final do Grupo de Apoio Internacional à Síria (GSIS), reunido em Munique, nos dias 11 e 12 de Fevereiro, parece validar esta acusação pois estipula que, doravante, os Estados Unidos e a Rússia velarão para que os comboios humanitários na Síria só transportem materiais humanitários. Até então, o governo de Damasco e a imprensa não paravam de acusar estas ONGs de apoio aos jiadistas, mas, ninguém os escutava. Em Setembro de 2012, um cargueiro fretado pela IHH transportou armas para a Síria por conta dos Irmãos Muçulmanos [15].

Das organizações citadas eu apenas conhecia as duas primeiras.

A IHH é uma associação fundada e animada pelo Partido da Prosperidade turco (o “Refah”) de Necmettin Erbakan, mas sem vínculo estatutário ou orgânico com ele. Foi primeiro registada na Alemanha, em Freiburg-Im-Breisgau, em 1992, sob o nome Internacional Humanitäre Hilfe (HHI), em seguida na Turquia, em Istambul, em 1995, sob o nome İnsani Yardım Vakfı. Sendo o seu novo acrónimo IYV e não IHH, ela fez preceder o seu nome por Insan Hak ve Hürriyetleri, ou seja, em turco «Direitos do homem e liberdades». Sob o disfarce de ajuda humanitária aos muçulmanos da Bósnia e do Afeganistão, ela fornecia-os em armas, o que se inscrevia na estratégia da Otan. Depois disso, ela apoiou militarmente o Emirado islâmico da Ichquéria (Tchechénia) [16]. Em 2006, ela, organizou na mesquita de Fatih, em Istambul, grandes exéquias fúnebres sem corpo, mas, com dezenas de milhar de militantes, pelo jiadista tchecheno Shamil Bassayev, que acabava de ser morto pelas Forças russas após o massacre que tinha comanditado na escola de Beslan [17].

A IHH ganhou renome mundial ao organizar, com o AKP (sucessor do Refah), a «Flotilha da Liberdade», que devia levar ajuda humanitária a Gaza quebrando o bloqueio israelita, novamente com o aval da Casa Branca que procurava humilhar o Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Entre os passageiros da flotilha estava o já referido Mahdi al-Harati. O relatório da Comissão das Nações Unidas, presidida por Geoffrey Palmer, atesta que, contrariamente às alegações, a flotilha não transportava nenhuma carga humanitária. O que leva à concluir que a IHH sabia que ela jamais chegaria a Gaza, e coloca, pois, a questão dos objectivos reais desta expedição.
A 2 de Janeiro de 2014, a polícia turca —que acaba de interpelar os filhos de três ministros, e o director de um grande banco, por branqueamento de dinheiro— intercepta um camião(caminhão-br) de armas da IHH destinado aos jiadistas sírios [18]. Em seguida ela revista a sede da IHH. Interpela, nos seus escritórios, Halis B., suspeito de ser o líder da Al-Qaida na Turquia, e İbrahim S, comandante-adjunto da organização para o Próximo-Oriente. [19]. O governo consegue despedir os polícias e ordena a libertação dos suspeitos.

A İmkander(em turco Irmandade, por referência à Irmandade Muçulmana) é uma outra associação «humanitária», fundada em 2009, em Istambul. Ela especializou-se na ajuda aos Tchechenos e na defesa dos jiadistas do Cáucaso. Assim, organizou uma campanha mediática na Turquia quando o representante de Doku Umarov (o auto-proclamado «emir do Cáucaso»), Berg-Khazh Musaev (dito Emir Khamzat), foi assassinado em Istambul. À época, o FSB considerava-se em guerra contra os Estados que apoiavam militarmente os jiadistas e não hesitava em liquidá-los nesses países (como Zelimkhan Yandarbiyev no Catar, e Umar Israilov na Áustria). A İmkander organizou grande exéquias fúnebres na mesquita de Fatih, em Istambul.

A 12 e 13 de Maio de 2012, com o apoio do município(prefeitura-br) de Istambul, a İmkander organizou um congresso internacional ---na tradição dos congressos da CIA durante a Guerra Fria--- para apoiar os independentistas do Cáucaso. No fim do evento, foi criado de forma permanente o Congresso dos Povos do Cáucaso, reconhecendo como autoridade única o Emirado do Cáucaso de Doku Umarov. Os delegados acusaram o Império Russo, a União Soviética e a Federação Russa de ter praticado e continuar a praticar o genocídio dos Caucasianos. Num vídeo, o Emir Doku Umarov apelou a todos os povos do Cáucaso para se juntarem à Jiade. A Rússia reagiu vivamente [20].

Em 2013, a Rússia exigiu ao Comité pelas sanções 1267/1989, do Conselho de Segurança colocar a İmkander na lista de organizações ligadas à Al-Qaida. O Reino Unido, a França e o Luxemburgo opuseram-se a isso [21]. Com efeito, se a İmkander reivindica apoiar politicamente a Al-Qaida no Cáucaso, a Rússia não traz provas consideradas suficientes pelos Ocidentais de uma participação em operações militares.

Que fazer do relatório da Inteligência russa ?

É pouco provável que o Conselho de Segurança considere o relatório de Inteligência russo. A questão do papel dos serviços secretos é geralmente tratada em segredo. De qualquer forma, os EUA terão de esclarecer o que pretendem fazer do seu aliado turco, que se deixou apanhar violando as resoluções do Conselho.

Estas informações somam-se às já disponíveis sobre os laços pessoais do Presidente Recep Tayyip Erdoğan com Yasin al-Qadi, o banqueiro da Al-Qaida [22], e sobre o papel do seu filho, Bilal, no comércio do petróleo roubado pelo Daesh [23].

Não se duvide, as bravatas turcas, anunciando uma possível invasão militar na Síria, não são mais que um meio de criar diversão. Seja com fôr, se uma guerra viesse a irromper entre a Turquia e a Rússia este relatório de inteligência seria suficiente para privar Ancara do apoio da Aliança Atlântica (artigo 5 da Carta Otan).

Thierry Meyssan* - Voltaire.net - Tradução Alva

Notas:
 [1] “Relatório da inteligência russa sobre a atual assistência da Turquia ao Daesh”, Tradução Marisa Choguill, Rede Voltaire, 19 de Fevereiro de 2016.
[2] « Flottille de la liberté : le détail que Netanyahu ignorait », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 6 juin 2010.
[3] “Tinker raiders, Soldier, Spy”, Sunday World, November 7, 2011.
[4] “Dublin man denies receiving funds from US to assist overthrow of Gadafy”, Mary Fitzgerald, Irish Times, November 22, 2011.
[5] “Irish Libyans join rebels trying to oust Gadafy”, Paulo Nunes Dos Santos, Irish Times, August 13, 2011.
[6] Segundo a sua ordem de missão, que havia sido determinada aquando de uma reunião secreta da Aliança, em Nápoles, na qual participava Alain Juppé, Mahdi Al-Harati devia aproveitar a confusão no Rixos para me eliminar.
[7] «Comment les hommes d’Al-Qaida sont arrivés au pouvoir en Libye», par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 6 septembre 2011.
[8] “Libyan-Irish commander resigns as deputy head of Tripoli military council”, Mary Fitzgerald, Irish Times, October 11, 2011.
[9] No XVIIIº século, o ministro russo Grigori Potemkine mandou erigir luxuosas fachadas, em cartão-machê, afim de mascarar a pobreza das aldeias aquando da visita da imperatriz Catherine II à Crimeia. Desde aí, a expressão «aldeia Potemkine» designa a criação de um lugar fictício para fins de propaganda.
[10] «Islamistas libios se desplazan a Siria para «ayudar» a la revolución», por Daniel Iriarte, ABC (España) , Red Voltaire , 19 de diciembre de 2011.
[11] “Irish Syrian fighters pass on lessons of revolution”, Mary Fitzgerald,Irish Times, August 1, 2012.
[12] “Spymasters gather to discuss Syria”, David Ignatius, Washington Post, February 19, 2014.
[13] « L’Ukraine et la Turquie créent une Brigade internationale islamique contre la Russie », par Thierry Meyssan, Réseau Voltaire, 12 août 2015.
[14] Tratava-se de forçar a Santa Sé a abandonar a Ostpolitk que o cardeal secretário de Estado Agostino Casaroli prosseguia na mesma óptica que Willy Brandt.
[15] “Brotherhood ‘buying influence with arms’”, Sheera Frenkel, The Times, September 14, 2012.
[16] «The role of Islamic charities in international terrorist recruitment and financing», Evan F. Kohlmann, Danish Institute for International Studies, 2006.
[17] “Turkey pays homage to Basayev”, IHH, July 14, 2006.
[19] « La Justice turque accuse l’IHH de liens avec Al-Qaïda », Réseau Voltaire, 15 janvier 2014.
[20] «De "la Conférence Internationale sur le Caucase" à Istanbul», in «Le briefing d’A.K. Loukachevitch, porte-parole du Ministère des Affaires étrangères de la Russie, le 18 mai 2012».
[22] “Erdogan reunia-se em segredo com o banqueiro da al-Qaeda”; “Al-Qaida, eterna reserva da Otan”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Al-Watan(Síria) , Rede Voltaire, 6 de Janeiro de 2014.
[23] “O papel da família Erdoğan no seio do Daesh”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 3 de Agosto de 2015; « La Russie expose les preuves du trafic de pétrole de Daesh via la Turquie », par Valentin Vasilescu, Traduction Avic,Réseau Voltaire, 3 décembre 2015.

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Terroristas do Oriente Médio são treinados pelos EUA, Reino Unido e Israel - Khamenei



O líder da Revolução islâmica do Irã alertou que todos os grupos terroristas que operam atualmente no Oriente Médio e na África são treinados por agências de inteligência dos EUA, Grã-Bretanha e Israel.

"Os poderes arrogantes do mundo perseguem os seus interesses, criando insegurança e provocando guerras em diferentes regiões do mundo (...). O atual nível de insegurança e instabilidade que vivem a Ásia Ocidental e a África têm suas origens nos ações de grupos terroristas que, está claro, recebem todos os tipos de formações e treinamentos por parte das agências de inteligência dos EUA, Grã-Bretanha e o regime sionista (Israel)", disse no domingo o aiatolá Seyed Ali Khamenei.

Durante um encontro mantido em Teerã (Irã) com o Presidente do Gana, John Dramani Mahama, o Líder da Revolução Islâmica indicou que as potencias hegemônicas estão se opõem à aproximação dos países independentes, - neste caso, Irã e os Estados africanos-, porque "entra em contradição com os seus interesses.".

Para poder enfrentar aqueles que são a fonte principal de guerras e conflitos, os países que não estão sob o jugo de "arrogância global" devem tomar medidas para interromper as fileiras dos poderes intimidadores, analisou o líder, que em sua opinião a maior cooperação entre o Irã e África "arruinaria os planos dos inimigos".

Depois de se perguntar como desfrutam os terroristas de uma gama de apoio financeiro e armas desenvolvidas que ameaçam a vida diária de milhões de pessoas inocentes, o aiatolá Khamenei assinalou: "a raiz de tudo isso é políticas de maliciosos dos EUA e o regime israelense, expoentes de maldade".

"No que diz respeita à" Síria, um país devastado pela presença de grupos de terroristas takfiríes, Líder reiterou que a República Islâmica do Irã sempre adotou uma "política de paz" em relação ao conflito no país árabe, insistindo que o destino de Síria somente compete ao povo sírio.

"Nem os americanos nem os europeus podem determinar o futuro da nação síria. Apenas o povo (sírio) pode decidir quem vai governar", disse ele.

Em qualquer caso, a seu critério, para resolver a crise síria deve antes de tudo destruir a raiz do terrorismo.

Enquanto isso, o presidente ganês elogiou as declarações do líder da Revolução Islâmica do Irã, considerando que "favorecem o estabelecimento de um mundo de paz e estabilidade", e salientou que a política externa iraniana "baseia-se no respeito pelos direitos das nações para determinar o seu próprio destino".

Referindo-se a uma escalada da tensão no Médio Oriente e África provocada por atividade terrorista, Dramani Mahama agradeceu o papel transcendental de Teerã na luta contra este flagelo, pelo qual pode ser alcançado, tem estimado, a total eliminação do terrorismo, particularmente na Síria.

No final do seu discurso, o dignitário Africano manifestou preocupado com o aumento dos abusos israelenses nos territórios palestinos ocupados, por isso pediu a cooperação a nível regional, para defender os direitos do povo palestino.

Fonte: IRIB, em Pravda ru

Movimentos antimonarquia lutam por república e democracia mais participativa na Espanha



Bárbara Libório, Madri – Opera Mundi

Impasse político beneficia monarquia espanhola, herança do franquismo; 'É inadmissível uma democracia onde o cargo de chefe de Estado seja hereditário', diz ativista

Quando Juan Carlos I abdicou o título de rei da Espanha, em junho de 2014, ressaltou em seu discurso os esforços feitos para que os cidadãos espanhóis “viessem a ser os protagonistas de seu próprio destino”, e recordou que, durante seu reinado, a Espanha se tornou uma “democracia moderna, plenamente integrada na Europa”.

No entanto, apenas um mês antes, uma pesquisa do Centro de Investigaciones Sociológicas (CIS) mostrava que esses feitos não bastavam para manter a popularidade de Casa Real em tempos de crise financeira e escândalos de corrupção: em uma escala de confiança de zero a 10, os espanhóis davam nota 3,72 à monarquia.

Em 2011, o 15-M, movimento dos Indignados que tomou as ruas do centro de Madrid pedindo uma democracia mais participativa, já antecipava que parte da população não estava contente com a democracia espanhola, posicionando-se contra o sistema monárquico. Não foi uma surpresa que, logo após o anúncio de abdicação, as ruas fossem novamente palco de manifestações a favor da república.

Duas semanas depois, Felipe VI, príncipe das Astúrias, era coroado o novo rei. E mesmo que em apenas um ano a popularidade da Casa Real tenha aumentado significativamente, com 57,4% de aprovação em maio de 2015, os movimentos antimonárquicos continuam pedindo uma democracia mais participativa no país.

“É inadmissível uma democracia onde o cargo de chefe de Estado seja hereditário. Além disso, a monarquia falha com os direitos humanos, já que todas as pessoas são iguais sem que seu nascimento, sexo, raça e etc lhe deem vantagens institucionais sobre as demais. No caso da abdicação ao trono pelo antigo rei Juan Carlos I, os cidadãos deveriam ter sido perguntados sobre o que desejavam, com um referendo”, diz Diego S., membro do movimento DemocraciaRealYa, coletivo que faz parte do 15M.

Uma herança do franquismo

Juan Carlos I tinha apenas dez anos quando deixou sua família, exilada na Itália após a proclamação da Segunda República espanhola, e mudou-se para a Espanha, então governada pelo ditador Francisco Franco, para receber uma educação franquista.

Foi o ditador que, em 1969, o nomeou como seu sucessor. Nesse mesmo ano, Juan Carlos I jurou fidelidade ao franquismo, aos princípios do Movimento Nacional (partido criado por Franco) e às leis impostas pelo general durante seu tempo no poder.

“A monarquia, além de carecer de legitimidade democrática, é uma herança do franquismo. E isso não é segredo, há fotos do rei jurando fidelidade ao regime de Franco nos livros de história. Na transição da ditadura para a monarquia não houve uma reforma das instituições. Elas apenas mudaram de uniforme”, afirma Renê Otaduy, porta-voz do Coordinadora25s, outro movimento popular que levanta a bandeira do fim da monarquia espanhola e realiza manifestações como a que rodeou o Congresso Nacional em 2013.

Já para Juan José Laborda, diretor da Cátedra sobre Monarquia Parlamentaria na Universidad Rey Juan Carlos e ex-presidente do Senado da Espanha, as mudanças foram significativas. “Quando Juan Carlos I é coroado, ele tem os mesmos poderes que Franco: executivo, legislativo e judiciário. Pouco tempo depois, em 1978, ele assina uma Constituição que o deixa apenas com autoridade. Hoje, a Espanha se converteu em um país laico, com multiplicidade de partidos políticos, aberto para questões como divórcio, aborto e matrimônio homossexual. O oposto da ditadura franquista”, acredita.

“O que aconteceu na Espanha é um caso raro. A monarquia não representa a fundação de um novo sistema político, mas a restauração, já que a monarquia existia e foi derrubada em 1931. Grande parte das revoluções em diversos países foram feitas contra a monarquia, mas aqui a revolução impulsionou a coroa. Houve um rei que colaborou no estabelecimento de instituições mais democráticas e, quando isso se esgotou, abdicou a seu filho”, afirma Javier Gomá, filósofo espanhol e diretor da Fundación Juan March.

Juan Carlos x Felipe

Se por um lado Felipe VI não possui o carisma do pai, o distanciamento de sua imagem da ditadura franquista pode colaborar para sua maior popularidade. Para os movimentos antimonárquicos, no entanto, sua presença na Casa Real continua sendo uma afronta à democracia.

“Passou-se de uma figura que tinha muitos segredos escondidos a outra que parece limpa de responsabilidades políticas anteriores. Mas isso seria reconhecer que Felipe foi um ignorante em relação ao que acontecia na Casa Real durante essas décadas. Se foi assim, seu valor como chefe de Estado é duplamente questionável. Se você não se intera do que acontece em sua casa, dificilmente poderá se interar do que acontece em seu país”, diz Diego S., da Democracia Real Ya.

Para Otaduy, da Coordinadora25s, a mudança no poder foi uma tentativa de reestabelecer a imagem da monarquia, mas lembra que a corrupção no sistema é um problema estrutural. “A monarquia é uma instituição medieval que está salpicada por casos de corrupção”, afirma.

“A sucessão é um respiro, mas a monarquia tem deficiências estruturais. Juan Carlos I abdicou não porque queria, mas porque estava esgotado. Mas o que vai passar se Felipe falhar? Esse é o último cartucho da monarquia”, questiona Miguel Pastrana, presidente da Unidad Cívica por La República.

Para Gomá, Felipe tem como desafios a criação de rotinas opostas as do pai. “Juan Carlos I teve uma intervenção muito carismática, era muito popular. Muitas pessoas se diziam ‘carlistas’ mas ‘não monárquicas’. Felipe tem que, pelo contrário, suavizar os traços pessoais e criar rotinas democráticas menos espetaculares. Evitar informações sobre a vida privada, negócios particulares e vida sentimental e cumprir com suas funções institucionais de forma mais madura.”

O filósofo também ressalta que o debate que acontece na Espanha não é apenas sobre ser republicano ou não, e sim, partidário ou não da Constituição que o país tem hoje. “Com a Constituição que temos, sem reformar os artigos que falam sobre a monarquia, é impossível instaurar uma república. Por questões práticas, estar a favor da ordem política da Constituição é estar a favor da monarquia”, explica.

Sobre isso, Pastrana diz que a Constituição não pode ser uma “camisa de força”. “Faz falta um processo constituinte, mas não podemos nos adiantar. Precisa haver uma república mesmo que seja à margem de uma constituição monárquica. Constituições se mudam, não são sagradas.”

Blindagem

Outro ponto bastante discutido entre os movimentos antimonárquicos é a blindagem que a Casa Real recebeu durante décadas da imprensa espanhola. O caso Nóos, denunciado pelos grandes jornais espanhóis e que implica os negócios particulares da infanta Cristina, filha de Juan Carlos I, e seu marido, Iñaki Urdangarín, parece ter sido o ponto de rompimento de um “pacto de não agressão” à família real espanhola.

“A Espanha, durante o reinado de Juan Carlos I, significou a submissão de instituições democráticas e poderes midiáticos. Construiu-se a figura do rei como uma ponte salvadora entre Franco e a velha guarda e a democracia, e toda crítica passou a ser um tabu”, diz Diego S.

Além disso, se nas ruas há movimentos populares que pedem o fim da monarquia, na política a representação da causa é pequena.

Os dois maiores e mais tradicionais partidos espanhóis, PP e PSOE, que ganharam mais da metade das cadeiras do Congresso Nacional nas eleições de 20 de dezembro de 2015, apoiam a monarquia espanhola.

Já o Podemos, que nasceu do movimento dos Indignados no 15M, não se posiciona claramente sobre o assunto. Em 2014, logo após a abdicação de Juan Carlos I, Pablo Iglesias, líder do partido, afirmou que a monarquia estava vinculada “ao passado e à corrupção” e pediu um referendo. No entanto, em 2015, o partido posicionou-se afirmando que essa não era uma questão que interessava à cidadania naquele momento.

“É como ter um carro com uma carroceria incrível e um motor ruim. As ideias e intenções são boas, mas não funcionam no sistema que temos. Há republicanos em partidos como PSOE, Podemos, etc, mas existe uma autorrepressão. Os políticos não se atrevem a falar de república”, diz Pastrana.

A Unidad Popular, coalizão de esquerda em que está integrado o partido Izquierda Unida, que pede o fim da monarquia, conseguiu apenas duas cadeiras no Congresso nas últimas eleições. Assim como o Eh Bildu, outro partido que levanta a bandeira de uma democracia mais participativa.

Um país sem governo

Dois meses após as eleições gerais, a Espanha continua sem governo. Mariano Rajoy, candidato do PP, partido que teve o maior número de votos da população espanhola, renunciou à investidura porque não contava com apoio suficiente para formar um governo. O rei Felipe VI ofereceu então a possibilidade a Pedro Sánchez, do PSOE. Ele tem até o dia 1º de março para tentar acordos e alianças com o restante dos partidos políticos.

Com essa situação de instabilidade, muito se questionou sobre o poder de Felipe VI para resolver a situação. Laborda lembra, no entanto, que o monarca é uma figura neutra e deve permanecer assim. “Ele está cumprindo a Constituição. O rei não vota, está acima dos partidos políticos. E, nesse momento, é importante que alguma instância do poder tenha certa neutralidade”.

Para Pastrana, a situação é interessante para o rei. “Exemplifica a imagem que a monarquia quer passar: que o rei está acima da política e é importante para resolver impasses como esse.”

Otaduy ressalta que a figura do rei não é apenas simbólica como pode parecer para quem não vive o regime monárquico. “Ele é chefe do Estado e comanda o Exército, que é quem tem soberania sobre as fronteiras territoriais.”

“O poder do rei não é simbólico, mas potencial. Ele pode não exercê-lo, mas o simples fato de tê-lo muda o cenário e as atitudes de quem está a sua volta. Ele é uma parte que se manifesta quando as outras não se entendem. Age como um árbitro, mas os árbitros sempre têm poderes. Além disso, diante de determinadas circunstâncias, ele pode chegar a ter todos os poderes do país em suas mãos. E há mais uma questão: os presidentes de governos passam, mas o rei fica. Com quem as pessoas querem negociar?”, diz Pastrana.

Para ele, o caminho para uma república espanhola é o ativismo. “Precisamos criar uma maioria social republicana que antes ou depois tenha um reflexo político.”

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