sábado, 9 de abril de 2016

“SACO AZUL” DO GES CONFIRMADO NA INVESTIGAÇÃO DAS OFFSHORES



A existência da ES Enterprise foi pela primeira vez referida pelo PÚBLICO em 2014 no quadro de uma investigação que concluiu que durante vários anos o Grupo Espírito Santo usou este veículo para proceder a “pagamentos extras” e “não documentados”.

O Expresso e a TVI revelam que a ES Enterprises, usada como saco azul do GES para pagamentos fora dos circuitos oficiais, consta dos Panama Papers. Um dos nomes referidos é o de Ricardo Salgado, que movimentou fundos através do Estado sul-americano.

A existência da ES Enterprises foi pela primeira vez referida pelo PÚBLICO a 7 de Novembro de 2014 (e a 12/12/2014) no quadro de uma investigação que concluiu que durante vários anos o Grupo Espírito Santo (GES) usou este veículo para proceder a “pagamentos extras” e “não documentados”. Os fundos transitavam entre várias praças financeiras, nomeadamente Suíça, Luxemburgo, Miami e Panamá.

O PÚBLICO referia então que a confirmação do “saco azul” do GES era susceptível de abrir uma outra frente de inquirições que podia culminar em novas revelações sensíveis. A ES Enterprises terá ainda servido para fazer circular verbas provenientes de Angola, designadamente, associadas a “contas” de Ricardo Salgado, do construtor José Guilherme e do presidente da Escom, Hélder Bataglia.

O Ministério Público está há mais de um ano a averiguar o quadro de acção do veículo, o que poderá ajudar à clarificação das relações entre elementos do núcleo duro do GES e entidades fora da esfera familiar, nomeadamente políticas. Tal como o PÚBLICO noticiou na altura, a ES Enterprises, que nunca constou do organograma oficial do GES, recebia fundos via sociedades suíças (veículos Eurofin) e as verbas movimentadas poderão estar perto dos 300 milhões de euros, quantia confirmada pelos Panama Papersexpostos pelo Expresso e pela TVI.

Já antes, a 21 de Junho, 3 e 23 de Julho de 2014, o PÚBLICO mencionava a existência de buscas nas sucursais do BES de Nova Iorque e Miami onde seprocurava documentação e suporte informático associado a operações relacionadas, nomeadamente, com as unidades da Venezuela e do Panamá. No BES Miami e no BES Panamá, uma das figuras que fazia a articulação das operações do BES nestas geografias era Jorge Espírito Santo, do núcleo do grupo do GES. A outra era o contabilista Machado da Cruz, que Ricardo Salgado acusou de ter ajudado a ocultar dívida de ESI no valor de 1300 milhões de euros.

Segundo o Expresso e a TVI, os documentos da investigação Panama Papers indicam que a firma de advogados Mossack Fonseca fazia a gestão fiduciária da ES Enterprises desde 2007 (e tinha, por isso, a documentação relativa aos anos anteriores) e também que criou mais de 300 empresas offshorerelacionadas com o universo Espírito Santo.

O Grupo Espírito Santo tinha quatro empresas fiduciárias (a ES Services, a Gestar, a Eurofin e o Banque Privée Espírito Santo), que recorriam à Mossack Fonseca para criar empresas offshore. O esquema funcionava numa complexa cascata: a ES Enterprises era, de acordo com a investigação, dona de outras empresas offshore, que por sua vez também detinham outras empresas. Muitas, porém, não tinham sede no Panamá, mas sim noutros paraísos fiscais, como é o caso de Niue, uma minúscula ilha no Pacífico Sul, das Ilhas Virgens Britânicas, das Bahamas e de Samoa. 

Cristina Ferreira – Público – Foto: Enric Vives-Rubio

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Isaías põe causa solidária na mochila e vai caminhar durante um mês



Engenheiro civil, de Santa Maria da Feira, quer angariar fundos para a Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica

A 15 de Abril, Isaías Martins de Sá, engenheiro civil de 35 anos, de Santa Maria da Feira, mete-se num comboio em direcção a Saint Jean Pied de Port, em França. No dia seguinte, coloca os pés ao Caminho. Sozinho, com uma mochila às costas, 800 quilómetros pela frente até Santiago de Compostela, Espanha, e uma causa que lhe diz muito ao coração. Um mês depois, a 16 de Maio, chegará ao destino após palmilhar 30 etapas traçadas pelos caminhos de Santiago.

Esta não é apenas mais uma viagem para quem está habituado a percorrer vários continentes de mochila e sem companhia. Este percurso tem uma causa solidária e um nome de baptismo. Um Caminho pela APELA, Um Passo por Ela, é a designação que Isaías escolheu para angariar fundos para a Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA). Os motivos são pessoais, familiares, o pai morreu da doença em 2003. “Foi a motivação para escolher esta causa”, conta.

Depois do desafio dos banhos de água gelada, que correu mundo com vídeos na internet, Isaías Sá poderá voltar a sensibilizar para esta doença rara e degenerativa. A quanto mais gente chegar, melhor. A sua viagem será relatada na página que criou no Facebook, com o mesmo nome da iniciativa, com fotos, vídeos e textos na primeira pessoa. E o engenheiro civil, atleta amador há 10 anos, promete sensibilizar quem encontrar pelo caminho. Falar da doença, das maneiras de ajudar quem sofre com ela. “É necessário divulgar esta viagem para tentar chegar a potenciais donativos”. A viagem de um mês, com dormidas em albergues e cerca de 25 quilómetros diários, conta com o patrocínio dos vinhos da Quinta do Noval, além da APELA.

Não há um valor estipulado na sua cabeça, há uma conta da APELA onde se pode depositar donativos. “O objectivo é angariar o máximo possível”. E o dinheiro não é para ficar guardado porque amanhã pode ser tarde demais. “Como é uma doença progressiva, a ajuda tem de ser imediata”, refere. A ideia é que os donativos sejam aplicados em cadeiras de rodas e noutros materiais necessários de forma facilitar a vida a doentes e suas famílias. A ajuda psicológica também é importante. Tudo o que angariar vai direitinho para APELA, 100% dos donativos. “Tudo o que vier será bem-vindo”, reforça.

Isaías está habituado a viajar de mochilas às costas. A vontade de viajar sozinho é antiga, um desejo adiado durante anos que se concretizou depois de uma temporada em África por motivos profissionais. Em 2012 e 2013, esteve na Guiné Equatorial numa empreitada de construção de uma estrada. Regressou diferente e com a decisão de não mais adiar projectos que andavam a navegar na sua cabeça. Ficou sensibilizado com o que viu, passou a relativizar problemas. “Na Guiné Equatorial, as preocupações eram bem maiores e eram outras. Não consegui ficar indiferente, voltei com outra mentalidade”, revela. Decidiu não desperdiçar tempo, aproveitar todos os momentos.

E assim foi. Em 2013, esteve 40 dias no continente asiático. De mochilas às costas e sozinho, claro está. Passou por Hong-Kong, Macau, Cambodja, Bangecoque, Vietname, Tailândia. Em 2014, fez duas vezes o Caminho Português de Santiago. No ano passado, esteve na América do Sul, no Peru, na Argentina, no Chile, na Patagónia. Criou o blog “claro que vou” para partilhar fotos e contar as suas experiências e aventuras. E confirmou a sua ideia. “Viajar sozinho não é um problema, antes uma oportunidade. Conhecemos mais pessoas, temos mais liberdade para fazer e alterar planos e, na verdade, se ficarmos à espera de companhia para viajar acabamos por ficar em casa”. Isaías sabe o que quer. A 16 de Abril, inicia mais uma expedição, mas desta vez com um propósito solidário porque o sofrimento da doença também lhe bateu à porta. E isso não se esquece.

Sara Dias Oliveira - Público - Foto: Manuel Roberto

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