Engenheiro
civil, de Santa Maria da Feira, quer angariar fundos para a Associação
Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica
A
15 de Abril, Isaías Martins de Sá, engenheiro civil de 35 anos, de Santa Maria
da Feira, mete-se num comboio em direcção a Saint Jean Pied de Port, em França.
No dia seguinte, coloca os pés ao Caminho. Sozinho, com uma mochila às costas,
800 quilómetros pela frente até Santiago de Compostela, Espanha, e uma causa
que lhe diz muito ao coração. Um mês depois, a 16 de Maio, chegará ao destino
após palmilhar 30 etapas traçadas pelos caminhos de Santiago.
Esta
não é apenas mais uma viagem para quem está habituado a percorrer vários
continentes de mochila e sem companhia. Este percurso tem uma causa solidária e
um nome de baptismo. Um Caminho pela APELA, Um Passo por Ela, é a designação
que Isaías escolheu para angariar fundos para a Associação Portuguesa de Esclerose
Lateral Amiotrófica (APELA). Os motivos são pessoais, familiares, o pai morreu
da doença em 2003. “Foi a motivação para escolher esta causa”, conta.
Depois
do desafio dos banhos de água gelada, que correu mundo com vídeos na internet,
Isaías Sá poderá voltar a sensibilizar para esta doença rara e degenerativa. A
quanto mais gente chegar, melhor. A sua viagem será relatada na página que
criou no Facebook,
com o mesmo nome da iniciativa, com fotos, vídeos e textos na primeira pessoa.
E o engenheiro civil, atleta amador há 10 anos, promete sensibilizar quem
encontrar pelo caminho. Falar da doença, das maneiras de ajudar quem sofre com
ela. “É necessário divulgar esta viagem para tentar chegar a potenciais
donativos”. A viagem de um mês, com dormidas em albergues e cerca de 25
quilómetros diários, conta com o patrocínio dos vinhos da Quinta do Noval, além
da APELA.
Não
há um valor estipulado na sua cabeça, há uma conta da APELA onde se pode
depositar donativos. “O objectivo é angariar o máximo possível”. E o dinheiro
não é para ficar guardado porque amanhã pode ser tarde demais. “Como é uma
doença progressiva, a ajuda tem de ser imediata”, refere. A ideia é que os
donativos sejam aplicados em cadeiras de rodas e noutros materiais necessários
de forma facilitar a vida a doentes e suas famílias. A ajuda psicológica também
é importante. Tudo o que angariar vai direitinho para APELA, 100% dos
donativos. “Tudo o que vier será bem-vindo”, reforça.
Isaías
está habituado a viajar de mochilas às costas. A vontade de viajar sozinho é
antiga, um desejo adiado durante anos que se concretizou depois de uma
temporada em África por motivos profissionais. Em 2012 e 2013, esteve na Guiné
Equatorial numa empreitada de construção de uma estrada. Regressou diferente e
com a decisão de não mais adiar projectos que andavam a navegar na sua cabeça.
Ficou sensibilizado com o que viu, passou a relativizar problemas. “Na Guiné
Equatorial, as preocupações eram bem maiores e eram outras. Não consegui ficar
indiferente, voltei com outra mentalidade”, revela. Decidiu não desperdiçar
tempo, aproveitar todos os momentos.
E
assim foi. Em 2013, esteve 40 dias no continente asiático. De mochilas às
costas e sozinho, claro está. Passou por Hong-Kong, Macau, Cambodja,
Bangecoque, Vietname, Tailândia. Em 2014, fez duas vezes o Caminho Português de
Santiago. No ano passado, esteve na América do Sul, no Peru, na Argentina, no
Chile, na Patagónia. Criou o blog “claro que vou” para partilhar fotos e contar
as suas experiências e aventuras. E confirmou a sua ideia. “Viajar sozinho não
é um problema, antes uma oportunidade. Conhecemos mais pessoas, temos mais liberdade
para fazer e alterar planos e, na verdade, se ficarmos à espera de companhia
para viajar acabamos por ficar em casa”. Isaías sabe o que quer. A 16 de Abril,
inicia mais uma expedição, mas desta vez com um propósito solidário porque o
sofrimento da doença também lhe bateu à porta. E isso não se esquece.
Sara
Dias Oliveira - Público - Foto:
Manuel Roberto
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