A
existência da ES Enterprise foi pela primeira vez referida pelo PÚBLICO em 2014
no quadro de uma investigação que concluiu que durante vários anos o Grupo
Espírito Santo usou este veículo para proceder a “pagamentos extras” e “não
documentados”.
O Expresso e
a TVI revelam que a ES Enterprises, usada como saco azul do GES para pagamentos
fora dos circuitos oficiais, consta dos Panama Papers. Um dos nomes
referidos é o de Ricardo Salgado, que movimentou fundos através do Estado
sul-americano.
A
existência da ES Enterprises foi
pela primeira vez referida pelo PÚBLICO a 7 de Novembro de 2014 (e a
12/12/2014) no quadro de uma investigação que concluiu que durante vários anos
o Grupo Espírito Santo (GES) usou este veículo para proceder a “pagamentos
extras” e “não documentados”. Os fundos transitavam entre várias praças
financeiras, nomeadamente Suíça, Luxemburgo, Miami e Panamá.
O
PÚBLICO referia então que a confirmação do “saco azul” do GES era susceptível
de abrir uma outra frente de inquirições que podia culminar em novas revelações
sensíveis. A ES Enterprises terá ainda servido para fazer circular verbas
provenientes de Angola, designadamente, associadas a “contas” de Ricardo
Salgado, do construtor José Guilherme e do presidente da Escom, Hélder
Bataglia.
O
Ministério Público está há mais de um ano a averiguar o quadro de acção do
veículo, o que poderá ajudar à clarificação das relações entre elementos
do núcleo duro do GES e entidades fora da esfera familiar, nomeadamente
políticas. Tal como o PÚBLICO noticiou na altura, a ES Enterprises, que nunca
constou do organograma oficial do GES, recebia fundos via sociedades suíças
(veículos Eurofin) e as verbas movimentadas poderão estar perto dos 300 milhões
de euros, quantia confirmada pelos Panama Papersexpostos pelo Expresso e
pela TVI.
Já
antes, a 21 de Junho, 3 e 23
de Julho de 2014, o PÚBLICO mencionava a existência de buscas nas sucursais do
BES de Nova Iorque e Miami onde seprocurava documentação e suporte informático
associado a operações relacionadas, nomeadamente, com as unidades da
Venezuela e do Panamá. No BES Miami e no BES Panamá, uma das figuras que fazia
a articulação das operações do BES nestas geografias era Jorge Espírito Santo,
do núcleo do grupo do GES. A outra era o contabilista Machado da Cruz, que
Ricardo Salgado acusou de ter ajudado a ocultar dívida de ESI no valor de 1300
milhões de euros.
Segundo
o Expresso e a TVI, os documentos da investigação Panama Papers
indicam que a firma de advogados Mossack Fonseca fazia a gestão fiduciária da
ES Enterprises desde 2007 (e tinha, por isso, a documentação relativa aos anos
anteriores) e também que criou mais de 300 empresas offshorerelacionadas
com o universo Espírito Santo.
O
Grupo Espírito Santo tinha quatro empresas fiduciárias (a ES Services, a
Gestar, a Eurofin e o Banque Privée Espírito Santo), que recorriam à Mossack
Fonseca para criar empresas offshore. O esquema funcionava numa
complexa cascata: a ES Enterprises era, de acordo com a investigação, dona de
outras empresas offshore, que por sua vez também detinham outras
empresas. Muitas, porém, não tinham sede no Panamá, mas sim noutros
paraísos fiscais, como é o caso de Niue, uma minúscula ilha no Pacífico Sul,
das Ilhas Virgens Britânicas, das Bahamas e de Samoa.
Cristina
Ferreira – Público – Foto: Enric Vives-Rubio
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