terça-feira, 5 de julho de 2016

O BREXIT REDEFINE A GEOPOLÍTICA MUNDIAL



Thierry Meyssan*

Enquanto a imprensa internacional procura meios para relançar a construção europeia sempre sem a Rússia, e agora sem o Reino Unido, Thierry Meyssan considera que nada mais poderá evitar o afundamento do sistema. Entretanto, sublinha ele, aquilo que está em jogo não é a União Europeia, em si mesma, mas o conjunto das instituições que permitem a dominação dos Estados Unidos no mundo e a própria integridade dos Estados Unidos.

nguém parece compreender as consequências da decisão britânica de sair da União Europeia. Os comentadores, que interpretam a política politiqueira e perderam desde há muito tempo a noção dos jogos políticos internacionais, focaram-se nos elementos de uma campanha absurda: de um lado os adversários da imigração sem contrôlo, e do outro, os pais do «homem do saco» assustando o Reino Unido com as piores desgraças.

Ora, as motivações desta decisão não tem nenhuma conexão com estes temas. A diferença entre a realidade e o discurso político-mediático ilustra a doença da qual sofrem as elites ocidentais: a sua incompetência.

Enquanto a cortina se abre diante dos nossos olhos, as nossas elites não conseguem compreender a situação em que o Partido comunista da União Soviética estava ao não encarar as consequências da queda do Muro de Berlim, em Novembro de 1989: a dissolução da URSS em Dezembro de 1991, depois a do Conselho de Assistência Económica Mútua (Comecon) e do Pacto de Varsóvia seis meses mais tarde, depois, ainda as tentativas de desmantelamento da Rússia, ela mesma, em que quase perdia a Tchechénia.
Num futuro muito próximo, assistiremos identicamente à dissolução da União Europeia, depois da OTAN, e, se eles não tiverem cuidado, ao desmantelamento dos Estados Unidos.

Quais os interesses por trás do Brexit?

Contrariamente às bravatas de Nigel Farage, o UKIP não está na origem do referendo que ele acaba de ganhar. Esta decisão foi imposta a David Cameron por membros do Partido Conservador.

Para eles, a política de Londres deve ser uma adaptação pragmática às evoluções do mundo. Esta «nação de merceeiros», assim a qualificava Napoleão, constata que os Estados Unidos não são mais nem a primeira economia mundial, nem a primeira potência militar. Não têm portanto, mais, razão nenhuma para serem os parceiros privilegiados.

Da mesma maneira que Margaret Thatcher não hesitara em destruir a indústria britânica para transformar o seu país num centro financeiro mundial; da mesma forma estes Conservadores não hesitaram em abrir a via para a independência da Escócia e da Irlanda do Norte e, portanto, à perda do petróleo do mar do Norte, para fazer da City o primeiro centro financeiro off-shore do yuan.

A campanha do Brexit foi largamente apoiada pela Gentry e pelo Palácio de Buckingham que mobilizaram a imprensa popular para apelar ao regresso à independência.

Contrariamente ao que a imprensa europeia propaga a saída dos Britânicos da UE não se fará lentamente, porque a UE vai afundar-se mais rápido que o tempo necessário para as negociações burocráticas da sua saída. Os Estados do Comecon não tiveram que negociar a sua saída, porque o Comecon parou de funcionar uma vez desencadeado o movimento centrífugo. Os Estados-membros da UE que se agarram aos destroços, e persistem em salvar o que resta da UE, vão perder o tempo de adaptação necessário aos novos dados, com o risco de experimentar as dolorosas convulsões dos primeiros anos da nova Rússia: queda vertiginosa do nível de vida e da esperança de vida.

Para as centenas de milhares de funcionários, de eleitos, e de colaboradores europeus que irão, inevitavelmente, perder os seus empregos, e para as elites nacionais que são igualmente dependentes deste sistema, convinha reformar com urgência as instituições para os salvar. Todos consideram, erradamente, que o Brexit abre uma brecha na qual os Eurocépticos se vão infiltrar. Ora, o Brexit não é mais que uma resposta ao declínio dos Estados Unidos.

O Pentágono, que prepara a Cimeira da OTAN em Varsóvia, também não compreendeu que já não estava em posição de impôr aos seus aliados o aumento do orçamento de Defesa, e o apoio às suas aventuras militares. O domínio de Washington sobre o resto do mundo está acabado.

Mudamos de era.

O que é que vai mudar?

A queda do bloco soviético foi, antes de mais, a morte de uma visão do mundo. Os Soviéticos, e os seus aliados, queriam construir uma sociedade solidária onde se colocava o máximo possível de coisas em comum. Eles acabaram numa burocracia gigantesca e com dirigentes esclerosados.

O Muro de Berlim não foi derrubado pelos anti-comunistas, mas por uma coligação (coalizão-br) das Juventudes comunistas e das Igrejas luteranas. Eles pretendiam refundar o ideal comunista descartado da tutela soviética, da polícia política e da burocracia. Foram traídos pelas suas elites, as quais após terem servido os interesses dos Soviéticos se precipitaram, com o mesmo ardor, para servir os dos Norte-americanos. Os eleitores do Brexit, os mais empenhados, procuram antes de mais recuperar a sua soberania nacional, e fazer pagar aos dirigentes oeste-europeus a arrogância de que fizeram prova ao imporem o Tratado de Lisboa, após a rejeição popular da Constituição Europeia (2004-07). Mas, também eles poderão vir a ficar decepcionados por aquilo que se vai seguir.

O Brexit marca o fim da dominação ideológica dos Estados Unidos, a da democracia de desvalorização das «Quatro liberdades». No seu discurso sobre o estado da União de 1941, o Presidente Roosevelt tinha-as definido como (1) liberdade de palavra e de expressão, (2) a liberdade de cada um honrar a Deus como lhe aprouvesse, (3) a liberdade da necessidade, (4) a liberdade do medo [de uma agressão estrangeira]. Se os Ingleses vão regressar às suas tradições, os Europeus continentais irão reencontrar as questões postas pelas revoluções francesa e russa sobre a legitimidade do poder e subverter as suas instituições, correndo o risco de ver ressurgir o conflito franco-alemão.

O Brexit também marca o fim da dominação económica-militar dos EUA; não sendo a OTAN e a UE mais que as duas faces de uma única e mesma moeda, mesmo se a construção da Política externa e da Segurança comum levou mais tempo a implementar que a do livre comércio. Recentemente, eu escrevi uma nota sobre esta política face à Síria. Nela, eu examinava todos os documentos internos da UE, quer fossem públicos ou não publicados, para chegar à conclusão que foram redigidos sem nenhum conhecimento da realidade no terreno, mas, antes, a partir de notas do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, ele próprio reproduzindo as instruções do Departamento de Estado dos EUA. Há alguns anos atrás, tive que efectuar a mesma diligência por um outro Estado e eu chegara a uma conclusão semelhante (salvo que que nesse outro caso, o intermediário não fora o governo alemão, mas o francês).

Primeiras consequências no seio da U.E.

Actualmente, os sindicatos franceses rejeitam o projecto de lei sobre o Trabalho que foi redigido pelo governo Valls, com base num relatório da União Europeia, sendo este inspirado por instruções do Departamento de Estado dos EUA. Se a mobilização da CGT permitiu aos Franceses descobrir o papel da UE neste assunto, nem sempre eles se têm apercebido da articulação UE-EUA. Eles perceberam que invertendo as normas e colocando os acordos de empresa acima dos acordos de filial, o governo, na realidade, punha em causa a proeminência da Lei sobre o Contrato, mas, eles ignoram a estratégia de Joseph Korbel e dos seus dois filhos, a sua filha natural, a democrata Madeleine Albright, e a sua filha adoptiva, a republicana Condoleezza Rice. O professor Korbel assegurava que, para dominar o mundo, bastava que Washington impusesse uma reescrita das relações internacionais em termos jurídicos anglo-saxónicos. Com efeito, ao colocar o Contrato acima da Lei o Direito anglo-saxónico privilegia, no longo prazo, os ricos e os poderosos em relação aos pobres e aos miseráveis.

É provável que os Franceses, os Holandeses, os Dinamarqueses e outros, ainda tentarão separar-se da UE. Para isso, eles terão que enfrentar a sua classe dirigente. Mesmo que a duração deste combate seja imprevisível, o seu resultado não mais levanta qualquer dúvida. Seja como fôr, no período de turbulência que se anuncia, os trabalhadores franceses dificilmente serão manipuláveis, em contraste com os seus homólogos ingleses, actualmente desorganizados.

Primeiras consequências para o Reino Unido

O Primeiro-Ministro David Cameron, desculpou-se com as férias de verão para diferir a sua demissão para Outubro. O seu sucessor, em princípio, Boris Johnson, pode pois preparar a mudança de modo a aplicá-la instantaneamente após a sua chegada a Downing Street. O Reino Unido não esperará pela saída definitiva da UE para conduzir a sua própria política. Começando por se dissociar das sanções tomadas em relação à Rússia e à Síria.

Contrariamente aquilo que escreveu a imprensa europeia, a City de Londres não é directamente envolvida no Brexit. Tendo em conta o seu estatuto particular de Estado independente colocado sob a autoridade da Coroa, ela jamais fez parte da União Europeia. Claro, ela não poderá, mais, abrigar as sedes sociais de certas companhias que se irão transferir para a União, mas, por outro lado, ela poderá usar a soberania de Londres para desenvolver o mercado do yuan. Já em Abril, ela obteve os privilégios necessários, assinando para tal um acordo com o Banco Central da China. Além disso, deverá desenvolver as suas atividades como um paraíso fiscal para os Europeus.

Mesmo que o Brexit vá temporariamente desorganizar a economia britânica, à espera de novas regras, é provável que o Reino Unido –-ou, pelo menos, a Inglaterra--- se reorganize rapidamente, para seu total benefício. Resta saber se os mentores deste terramoto terão a sabedoria de fazer o seu povo beneficiar disso: o Brexit é um regresso à soberania nacional, mas não garante a soberania do povo.

O panorama internacional pode evoluir de formas muito diferentes, segundo as reações que se vão seguir. Mesmo que isso corra mal para alguns povos, é sempre preferível ligar-se à realidade, como o fazem os Britânicos, mais do que persistir num sonho, até que ele se desfaça.

Thierry Meyssan – Voltaire.net - Tradução Alva

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

DRONES MATARAM CENTENAS DE CIVIS “POR ERRO” DURANTE MANDATO DE OBAMA



A administração de Barack Obama publicou na sexta-feira (1/7) pela primeira vez dados oficiais sobre as vítimas civis causadas pelos drones dos Estados Unidos. A Casa Branca revelou que desde 2009 foram mortas vítimas de ataques com drones entre 64 e 116 civis, número que não inclui os casos registrados no Afeganistão, no Iraque e na Síria.

As vítimas foram registradas em países que, oficialmente, não estão em guerra com os Estados Unidos, como Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen, entre outras nações africanas. Os civis que morreram por ataques de drones no Afeganistão, no Iraque e na Síria não fazem parte dessa lista trágica.

O número de vítimas assumido pela administração Obama é muito menor que o denunciado por distintas Ong's, como a britânica Bureau of Investigative Journalism (Birô de Jornalismo Investigativo), que fala de até 1,1 mil civis mortos.

Portal Vermelho, com agências – em Pravda.ru

EUA. 66% DOS NORTE-AMERICANOS CONSIDERAM HILLARY CLINTON “DESONESTA”



Mais de 60% dos eleitores dos Estados Unidos consideram a candidata à presidência norte-americana pelo Partido Democrata, Hillary Clinton, como desonesta e pouco confiável, de acordo com uma pesquisa realizada pela rede de televisão Fox.

Os entrevistados responderam à pergunta: "Será Hillary Clinton honesta e confiável?". 66% dos entrevistados disseram que não, enquanto apenas 30% foram favoráveis à ex-secretária de Estado.

A pesquisa contepmlou 1.017 eleitores registrados. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.

O candidato do Partido Republicano Donald Trump, falou através de sua conta no Twitter sobre os resultados do inquérito.

"A desonesta Hillary Clinton é mais culpada do que ninguém, mas o sistema é totalmente manipulado e é corrupto, onde estão os 33.000 e-mails perdidos?", escreveu Trump.

O FBI investiga Clinton por eliminar 33 mil email do seu servidor privado, referente ao período em que Clinton era secretária de Estado. 

Uma parte destas mensagens com informação confidencial chegava ao seu correio eletrônico particular, de modo que o FBI teme que o servidor pessoal Clinton era menos seguro do que o do governo.

Sputnik

WikiLeaks publica 1.250 emails de Hillary sobre invasão no Iraque

O portal WikiLeaks publicou mais de 1.250 emails privados da ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton sobre a Guerra do Iraque antes da apresentação de um relatório britânico sobre a invasão de 2003.

As mensagens, obtidas pelo site, foram divulgadas um dia antes da apresentação, na Grã-Bretanha, de um relatório independente sobre a Guerra do Iraque.

A investigação, presidida por John Chilcot, começou em 2009. A publicação de seu relatório foi adiada em várias ocasiões, dando origem a suspeitas sobre uma possível operação para encobrir as questões mais controversas e proteger políticos e militares.

O Relatório Chilcot será finalmente divulgado nesta quarta-feira, 6 de julho. A versão completa em papel custará quase mil euros e contém 2,6 milhões de palavras.

EUA e seus aliados invadiram o Iraque em Março de 2003, em busca de armas de destruição em massa que estariam em mãos de Saddam Hussein. Tais armas nunca foram encontradas, e os soldados foram retirados do Iraque oficialmente em 2011. Cerca de 200 mil soldados e civis morreram durante a guerra que terminou com a queda de Saddam Hussein. Segundo o Ministério da Defesa do Reino Unido, 179 militares britânicos morreram na Guerra do Iraque.

Sputnik – Foto: AP

Portugal. OS SANCIONALISTAS



Mariana Mortágua – Jornal de Notícias, opinião

Os sancionalistas usam um pin da bandeira portuguesa na lapela. Quando um governante alemão mente em público para atiçar os especuladores contra Portugal, o sancionalista compreende. Quando um eurocrata ataca a maioria parlamentar portuguesa para desviar as atenções da crise do Deutsche Bank, o sancionalista confirma as suas preocupações e diz, como Maria Luís Albuquerque: "Se eu fosse ministra, não havia sanções". Quando um responsável eleito pelo povo se insurge contra a ingerência de Bruxelas em opções da democracia portuguesa, o sancionalista franze as sobrancelhas e, como Passos Coelho, condena quem "usa tese do inimigo externo" contra os nossos protetores de Berlim.

Os sancionalistas adoram as palavras "credibilidade" e "compromisso". Quando um organismo não eleito e sem existência prevista em qualquer tratado, o Eurogrupo, recusa dados oficiais e pretende ditar alterações de orientação económica de um Governo legítimo, o sancionalista explica que Portugal tem um problema de "credibilidade". Quando um banqueiro do centro da Europa, depois de salvar mais um grande banco europeu, explica que "regras são regras" e "todos temos de cumprir os nossos compromissos", o sancionalista sorri e recorda o tempo em que escrevia Orçamentos do Estado violando compromissos constitucionais e contratos sociais (e, ainda assim, sem cumprir as metas do défice).

Os sancionalistas dizem que não atiram as culpas para os outros. Mas não aceitam que as sanções da Comissão Europeia às contas portuguesas entre 2013 e 2015 se baseiam nos anos da sua governação. Para sacudir a água do capote, aliam-se à estratégia europeia para denegrir o país e chantagear o atual Governo.

Os sancionalistas falam sempre em nome do interesse nacional. Só não percebem, ou fingem não perceber, que interesse nacional é um país poder escolher o seu Governo e as suas políticas, sem ter que ser sujeito a pressões, ameaças e humilhações. Aceitar a chantagem, participar nela, não é patriotismo, é colaboracionismo. Assim são os nossos sancionalistas. Mas sempre, é claro, de pin com a bandeira portuguesa na lapela.

* Deputada do BE

Portugal. “É CONSENSUAL A IMORALIDADE DE PASSOS COELHO”



Isabel Moreira não aceita que o anterior primeiro-ministro culpe o atual Governo pela eventual aplicação de sanções a Portugal.
Entendimentos diferentes sobre as mais variadas matérias são recorrentes entre Governo e oposição. Mas há um assunto que marca a atualidade no qual se tem registado consenso: a aplicação de sanções a Portugal por parte de Bruxelas.

O facto de Executivo e partidos da oposição terem uma opinião semelhante não dispensa, contudo, um atirar de responsabilidades. Se PS atira culpas ao PSD/CDS, estes fazem o mesmo, no sentido inverso.

Na sua página no Facebook, Isabel Moreira disse acreditar que “é consensual a imoralidade da aplicação de qualquer tipo de sanção a Portugal”, assim como “é consensual a imoralidade de Passos Coelho quando se junta ao ‘patriotismo’ tentando sugerir pelo meio que a virem as sanções ‘injustas’ poderão ser (afinal) por causa da ação deste governo”. “Definitivamente , Passos Coelho acabou”, escreveu a deputada socialista.

Pela mesma via, a socialista brincou ainda com as palavras do ministro alemão das Finanças – relativamente a um segundo resgate – e com as mais recentes declarações da ex-ministra homóloga em Portugal.

“Está ali a Maria Luís, ex-ministra das Finanças, a dizer que se fosse ministra não havia sanções, mas as sanções que estão a ser discutidas resultam do incumprimento da ação governativa dela. Cale-se. Isso agora não interessa nada”, atirou, em jeito de provocação, depois de recordar as palavras de António Costa, que classifica as possíveis sanções como “imorais e fora de tempo”.

Goreti Pera – Notícias ao Minuto

UE-PT. “SANÇÕES E REFERENDO: O IMPOSSÍVEL SERÁ INEVITÁVEL” - Louçã




Eventual decisão de sanções é ilegal - o ato sancionado não pode ser julgado em função de atos posteriores, escreve ex-coordenador do BE e atual Conselheiro de Estado

Francisco Louçã – Diário de Notícias, opinião

Confesso que nem esperava que o tremor provocado pelo Brexit em Portugal fosse tão profundo entre as elites, nem que a discussão sobre o futuro da União fosse tão assustada. Afinal, o Reino Unido sempre foi visto como uma extravagância no concerto europeu e a sua economia está protegida do euro, o que indiciaria uma saída fácil e sem riscos de maior. Tudo poderia ser arrumado a contento, mas não: a Comissão é um pandemónio e ninguém parece saber o que fazer agora. Ora, lamento muito, mas o susto não tem que ver com as desventuras do reino de Sua Majestade Isabel II, tem antes que ver com a percepção trágica e continental do falhanço do "projecto europeu". Foi o espelho que atraiçoou os palácios de Bruxelas e foi deste lado da Mancha.

A UE como projecto falhado

Para discutir algumas implicações deste falhanço, parto de três premissas explícitas.

Primeira, o "projecto europeu" ganhou uma forte hegemonia social porque prometia tudo: paz e prosperidade com convergência. Enquanto na Europa se acreditou na imitação do sucesso e na escada da mobilidade social, os pobres adoraram a União e dispuseram-se a pagar qualquer preço pelo ingresso. Os seus maiores entusiastas passaram a ser os que à esquerda pregam esta miragem de melhorismo transcendental.

Segunda, e aqui começa o problema, este projecto revelou-se outra coisa que nem é paz nem pão e não melhora nada: constitucionalizou a liberdade dos capitais (e portanto desemprego permanente) e instituiu um regime punitivo contra qualquer desvio da lógica da acumulação alemã. Os evangelistas deste poder são perigosos, pois nada fazem se não pedir-nos que ajoelhemos, esperando a redenção do que sabem estar perdido.

Terceira, a União é deste modo uma história de desigualdade e de divergência. A escada social e a imitação do sucesso não funcionam. Pior, a União acentuou sempre a divergência quando confrontada com cada crise. Sempre foi assim e nesta crise não vai ser diferente. O risco da União não é o Reino Unido, é ela própria.

Por isso mesmo, o debate sobre "isto" só se podia tornar mais agreste. De um lado, não há um consistente Plano B para o Brexit, mesmo quando os sintomas de novas crises de regime já se espalham pela Europa. Do outro lado, os defensores do "projecto europeu" desesperam: só têm a oferecer uma miragem que é desmentida cruelmente pelos factos, só têm a pedir paciência e sofrimento para mais divergência. Por isso, os euroadoradores radicalizam-se: Raposo escreveu no Expresso que o Brexit é uma "traição à Europa enquanto espaço civilizacional". Quem lê jornais sabe que quando se chega a esta enfatuação é porque não sobra muito mais.

Antes de prosseguir, devo sublinhar que um dos argumentos mais lúcidos nesta polémica foi o do deputado do CDS, Michel Seufert, que condenou os que querem fazer do Reino Unido a besta odiosa: "Por outro lado, também não vale a pena ter grandes ilusões: o mercado comum existe porque as regulamentações mantêm em equilíbrio os, a meu ver maioritariamente ilegítimos, interesses de vários intervenientes. O mesmo se diga para as regras da moeda única que quase por definição existem para garantir que a coexistência numa zona monetária comum é sequer possível. (...) Contra este tipo de UE vale a pena lutar. Resta saber se dentro, se fora." Pois é, o "espaço civilizacional" tem que se lhe diga.

Mas o que é preciso é acreditar

Com este lastro, toda a questão Brexit se coagulou em Portugal no debate sobre as sanções (escrevo na véspera de se saber da decisão da Comissão), para incómodo do argumento bruxelense. E foi mais um episódio de radicalização, não será o último.

Quanto às instituições, responderam até hoje unidas. O Presidente viajou, discursou e pressionou, puxando por um consenso frágil. O Primeiro-ministro manteve a atitude de recusar a punição do "bom aluno" que fez os recados da troika e de recusar as ameaças que buscam condicionar a política nacional.

Do lado da direita, a coisa está mais difícil. O PSD e o CDS respondem defensivamente ao evidente incómodo de serem os responsáveis pelos actos sancionáveis e, sobretudo, por ser o seu partido europeu a promover as sanções, assestando baterias contra o governo. Se para isso a sua única munição for a prosápia de Maria Luís Albuquerque, que ficou aprisionada no tempo a lastimar não ser ministra, então não vai ser difícil a Costa capitalizar contra Passos Coelho.

Porque a pergunta, se houver sanções, será esta e vai ser Passos quem vai ter que responder: o PSD continuará a fazer parte do PPE que domina a Comissão Europeia e que agrava o défice português como punição pelo seu anterior governo? Aceitará que os contribuintes tenham que pagar a factura da exibição política de Schauble?

Sendo a eventual decisão de sanções absolutamente ilegal - o acto sancionado, que é a execução orçamental de 2013 a 2015, não pode ser julgado em função de actos posteriores, como a decisão de um parlamento eleito depois - torna-se ainda mais arbitrária se for o pretexto para condicionar o Orçamento em curso. Nesse caso, a União evidenciaria o perigo de uma instituição sem regras, em que qualquer discricionariedade é permitida. Esse é o reino do príncipe maquiavélico, o poder manda e é tudo.

As sanções e o referendo

Então, o que fazer? No seu discurso no final da Convenção do Bloco, Catarina Martins repetiu que não havia que reagir ao Brexit replicando esse referendo e que, para o que conta, a maioria tem agora que resolver o problema do Orçamento, que serão negociações difíceis. Acrescentou que uma única circunstância colocaria o referendo na agenda imediata e essa seria a das sanções ilegítimas, ilegais e abusivas. O assunto incendiou os comentadores e animou os seus adversários, que não foram poucos.

A direita multiplicou a sua indignação, um referendo nunca, seria indigno que os eleitores se pronunciassem sobre assuntos tão elevados (em 2005 isso era prometido por CDS e PSD, mas paciência). Francisco Assis, que usa o truque de atacar Costa atacando Catarina, chama-lhe um "número de circo", achando que distribuir uma bordoada é suficiente para estabelecer as suas próprias credenciais europeias.

Mas foi no PCP que se revelou uma distinção mais surpreendente. Jerónimo reagiu com sobriedade, questionando a oportunidade e perguntando detalhes sobre o objecto. É natural num partido que sempre viu com alguma reserva os referendos (por temer derivas plebiscitárias, o que aplaudo), que sempre se evitou expor neste domínio (contrariou o segundo referendo sobre o aborto, no que creio que não teve razão) e que escolhe a sua tática com autonomia.

Mas, contrariando Jerónimo, outros dirigentes escolheram o insulto: João Oliveira ("Isto é táctica para desviar a atenção dos disparates que fazem ou é sintoma da doença infantil de que não se conseguem libertar?"), João Ferreira ("O referendo é um instrumento demasiado sério para ser usado para levar a água ao moinho de estreitas e oportunistas agendas mediáticas (...) Lamento, mas quedai-vos sozinhos em tal pântano") e Ângelo Alves ("brincadeiras mediáticas, de um indisfarçável populismo e politicamente desonestas"). Tudo elegante.

Ora, este jogo tem dois problemas. Um é o insulto em si: se um dirigente quer falar só para os seus militantes neste tom, pode eventualmente ter sucesso interno; mas não está a falar para o povo. O segundo é que o PCP tem no seu programa eleitoral europeu o compromisso com o "direito inalienável do povo português de debater e se pronunciar de forma esclarecida, incluindo por referendo, sobre o conteúdo e objectivos dos acordos e tratados, actuais e futuros". Ao argumentar agora que o referendo de um Tratado actual é inconstitucional, o PCP muda de opinião. Se tivesse hoje razão, então porque é que o seu programa propunha um referendo inconstitucional? E, se tiver razão, o que nos diz é que vai depender sempre de uma maioria parlamentar, ou seja do PS, para combater as imposições europeias?

Deixemos esse debate, porque o mais relevante até é outro tema: como é que Portugal vai responder às sanções, se elas existirem? O que as críticas que citei aliás revelaram é uma grande dificuldade em alinhar estratégias concretas no combate às sanções. Não é uma boa notícia.

Quanto ao referendo, cada demonstração política da Comissão vai-nos relembrar como ele é incontornável. Pois ficará a questão: mesmo que as autoridades europeias ainda tenham o discernimento de recuar nas sanções, amanhã e depois haverá mais. E como é que Portugal vai escolher o seu futuro, no meio do euro que nos amarra ao empobrecimento e de uma União que nos prende ao autoritarismo?

Um referendo, que nos dizem impossível, será inevitável. A minha conclusão é para a política que vem: a luta pela democracia para nos libertar das imposições vai ser um factor chave na reconstituição da política nacional com a crise da União Europeia.

Portugal. PSD “TENTOU VARRER PARA DEBAIXO DO TAPETE MUITOS PROBLEMAS”



Com o tema das sanções a marcar o debate político, Tiago Barbosa Ribeiro comentou a posição do PSD face a este assunto.

Tiago Barbosa Ribeiro é claro: a culpa de existir a possibilidade de haver ou não sanções é única e exclusivamente do PSD. Num comentário publicado no seu Facebook afirma mesmo que para os sociais-democratas, “o interesse nacional nunca foi a sua prioridade”.

“Só há debate sobre possíveis sanções porque o governo da direita falhou as suas metas. Foi incompetente do primeiro ao último ano e ainda tentou varrer para debaixo do tapete muitos problemas, sobretudo no sistema financeiro. É por isso que as declarações de Passos e Maria Luís revelam bem o espírito de subjugação que os anima”, explicou.

Argumentando que “não é possível corrigir o incorrigível”, apenas resta a todos os outros “resistir, resistir, resistir”.

E concluiu: “É inaceitável e imoral que certas autoridades europeias aproveitem o ensejo para tentar condicionar um Governo democrático pela sua orientação política, aguçando o apetite dos especuladores, já que todos os dados da execução demonstram uma melhoria face ao passado, que essas autoridades apoiaram enquanto falhavam”.

De recordar que, no passado sábado, a ex-ministra das Finanças Maria Luís Albuquerque responsabilizou o Governo pela atual situação do setor financeiro e pediu à maioria de esquerda para pôr "a mão na consciência".

Inês Esparteiro Araújo – Notícias ao Minuto

OBVIAMENTE DEMITO-ME



Bom dia, este é o seu Expresso Curto

João Vieira Pereira – Expresso

Obviamente demito-me

Bom dia,

Começo com a notícia que faz nesta altura a delícia de quase todos os grandes jornais internacionais. A sonda Juno entrou na órbita de Júpiter. Demorou cinco anos para que esta nave espacial alimentada a energia solar, e uma das mais rápidas de sempre,percorresse 2,8 mil milhões de quilómetros antes de entrar com sucesso na órbita daquele planeta. “Welcome to jupiter” gritou-se às 3.18, hora de Lisboa, no centro de controlo da Nasa.

Voltemos à Terra.

Entre as muitas perguntas que gostaria de colocar ao agora ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos, José de Matos, a primeira era esta: Porque levou tanto tempo a apresentar a sua demissão?

O Governo não podia ter tratado pior a Caixa, a sua administração e os seus colaboradores. Nomearam um sucessor que nunca mais toma posse, todos os dias dizem que o banco público está pior do que se pensa ao não conseguirem fechar o dossier de recapitalização do banco, dão conferências de imprensa onde alertam para a redução de pessoas, de balcões e de atividade. E durante todo este processo, nem uma palavra para com a gestão. Pior era difícil. É mesmo um mistério o tempo que Matos e os seus colegas de administração aguentaram.

E assim, no dia em que arranca a Comissão Parlamentar de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos, fica-se a saber que afinal já não há administração. Esta demitiu-se. Portanto o banco público está, oficialmente, paralisado. Na prática há várias semanas, meses até, que a incapacidade de resolver esta questão congelou a Caixa.

Ontem, José de Matos quebrou o silêncio que manteve durante os anos que presidiu aos destinos da Caixa Geral de Depósitos. Mas apenas por carta, que enviou ao colaboradores, e assinada também pelo charmain, o professor Álvaro Nascimento. Foi a forma encontrada para a administração se despedir dos colaboradores.

Afinal há ou não sanções? A Europa parece estar numa estratégia de “agarrem-me se não vou-me a eles” para com Espanha e Portugal.Um processo que tem tanto de demorado como de louco. Uma demência a que a Europa já nos habituou.

Esta terça-feira a situação orçamental de Portugal e Espanhaestará em análise na reunião número 2176 da Comissão e que terá lugar em Estrasburgo. É o ponto 16º. Mas uma decisão sobre o tema só mais lá para o fim da semana. Ou mesmo em Outubro. Para já, marque estes dias no seu calendário. Só para ir acompanhando o tema.

Até hoje permanece uma grande dúvida. Está Bruxelas preocupada com o défice do ano passado ou com o deste ano? Costa e Passos divergem também neste ponto, com o primeiro-ministro a continuar a defender que tudo está a correr bem com as contas de 2016, e que por isso não são necessárias mais medidas.

Também Marcelo Rebelo de Sousa acha que tudo está bem. Primeiro, porque acredita que não haverá sanções até porque “se for para sancionar o Governo de Pedro Passos Coelho, é injusto porque esse Governo fez tudo o que era possível para cumprir." E depois porque, "se for para sancionar o Governo de António Costa, é prematuro neste momento". Esperemos então. Parece que são necessários mais uns meses para todos perceberem.

OUTRAS NOTÍCIAS

Entre as personagens absolutamente fantásticas criadas por Uderzo e Goscinny uma das minhas preferidas é Caius Detritus. O pequeno, discreto, rude, e aparentemente insignificante homem que tem o poder de semear a discórdia por todos os sítios que passa. Quando li a notícia que Nigel Farage se tinha demitido da liderança doUKIP — (e já agora, não perca o texto de Ricardo Marques sobre este aparente fim de Farage) —, não consegui deixar de imaginar que estava de volta às páginas do livro Astérix — A Zaragata. O paralelismo é perfeito. Nada como dividir um país e depois sair de fininho.

Enquanto uns regressam à sua vidinha, outros fazem contas à vida. O Wall Street Journal diz que várias empresas europeiassuspenderam os seus projetos de investimento até perceberem o que irá acontecer. E adianta que o nível de créditos em incumprimento nos bancos italianos será a próxima bomba. Já o Financial Timesdescreve as nove formas como os bancos estrangeiros vão ser afetados pelo Brexit.

Ainda sobre o mesmo assunto, o governo britânico recusa-se a garantir aos cidadãos da União Europeia que poderão continuar naquele território. Para já a única garantia é que, por agora, podem continuar a residir no Reino Unido.

“O tempo das cerejas” valeu-lhe uma Palma de Ouro em 1997. Mas Abbas Kiarostami era muito mais. Reconhecido como o realizador poeta, os seus filmes não eram fáceis. Mas criaram seguidores e uma imagem de culto potenciada por ter sobrevivido no Irão durante um dos períodos mais negros da sua história moderna. Aconselho vivamente que leiam o que Peter Bradshaw tem para nos contar sobre Kiarostami.

Depois de mais um dia sangrento no Médio Oriente, com três ataques suicidas contra mesquitas e um consulado dos EUA na Arábia Saudita em apenas 24 horas, continuam-se a contabilizar os mortos do enorme atentado no centro de Bagdade — 157 vítimas, o ataque mas mortífero do último ano. O governo iraquiano mandou suspender a utilização dos detetores de bombas britânicos vendidos ao Iraque por 53 milhões de libras e que se revelaram falsos. Negócio que levou James McCormick a ser condenado a 10 anos de prisão.

Lembram-se das obras do túnel do Marquês? Caóticas, caso a memória vos traia. A verdade é que valeu a pena o sacrifício. Normalmente é sempre assim. Pode ser que as obras de Fernando Medina também se venham a revelar fantásticas. Até pode. Mas, hoje, morar em Lisboa é sinónimo de dormir num estaleiro e despertar num trânsito terrível. Ontem arrancaram as obras dasegunda circular. Que sejam breves.

Há vários momentos que vão marcar o Euro 2016. A homenagem, na despedida, dos adeptos islandeses à sua equipa, o golo de Shaqiri, eeste, de Cristiano Ronaldo. Sem bola, a fazer o seu trabalho.

Lourenço, o bebé milagre que nasceu 15 semanas depois de a mãe ter sido declarada morta, já foi para casa. Com o seu pai.

Em Espanha tudo na mesma. Rajoy diz que pode governar mesmo em minoria e o PP está a abrandar nas críticas ao PSOE na esperança que este partido se abstenha e permita que forme governo. Essa decisão dos socialistas poderá ser tomada já no próximo sábado na reunião do Comité Federal.

OS JORNAIS DO DIA

Marcelo faz quase o pleno na capa dos principais jornais. Estabrilhante foto captada pela câmara de José Coelho da Lusa, faz capa do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias. O tema é o mesmo, os elogios do presidente a José Sócrates.

A manchete do DN vai para um texto de opinião de Francisco Louçã onde o ex-líder do Bloco de Esquerda diz que um referendo sobre a Europa é incontornável. Já o JN escreve que a alteração para acarta por pontos levou a uma diminuição das multas aplicadas. OCorreio de Manhã destaca o contrato que a presidência fez com uma empresa de Paulo Duarte, suposto namorado de Diogo Gaspar — o diretor do Museu da Presidência suspenso de funções por suspeitas de tráfico de influência, falsificação de documento, peculato e abuso de poder.

“Cem personalidades pedem alternativas à praxe nas universidades” é a machete desta terça-feira do Público. O destaque fotográfico é, claro está, Marcelo.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

3.767.054 — o número de pessoas desempregadas em Espanha. Este valor é o mais baixo desde setembro de 2009. O El Mundoexplica-lhe como foi possível atingi-lo.

6,1 milhões de euros é o montante pago pela Mota Engil para fugir às acusações no âmbito da investigações da Operação Furacão.

9,34% dos alunos do 2º ano chumbaram no ano letivo de 2014/2015. O valor baixou, uma constante em todos os anos, segundo os dados divulgados pela Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.

FRASES

“Eu não quero mudar o que sou. Eu fui o melhor de sempre” – Lula da Silva em entrevista ao 'The Guardian' onde fala sobre a sua presidência, a impugnação de Dilma e os processos que enfrenta.

“Durante a campanha para o referendo o que eu disse foi: Eu quero o meu país de volta. O que eu estou a dizer hoje é que quero a minha vida de volta. E isso começa agora mesmo” – Nigel Farage durante o breve discurso onde apresentou as razões para se demitir da liderança do Ukip.

O QUE EU ANDO A LER

Piter Mateus tinha 4 anos. Na ruas as pessoas comentavam que havia algo estranho naquele menino. A forma como um dos seus braços se comportava não era normal. A mãe nada tinha notado, achava que tudo estava normal. Não estava. Piter tinha nascido com uma deficiência naquele braço. O mesmo que acabou por ser operado por uma equipa de médicos ortopedistas portugueses. “Hoje ele já pega em tudo com esse braço”, conta a sua mãe.

A leitura de hoje é uma homenagem. Devida a centenas de voluntários que ao longo de 27 anos levaram a S. Tomé e Príncipe esperança sob a forma de melhores cuidados médicos. O Instituto Marquês de Valle Flôr é uma organização não-governamental para o desenvolvimento e, apesar de se dedicar a inúmeras áreas de cooperação com os países da CPLP, foi em S. Tomé e Príncipe que iniciou um projeto que é caso de sucesso em todo o mundo. Saúde para todos conta parte da história feita por esta organização.

Hoje, graças à coragem e determinação de muitos, é possível, através das mais modernas tecnológicas, transformar milhares de quilómetros em poucos centímetros que nos separam de um écran e realizar consultas, fazer diagnósticos e receitar à distância o melhor tratamento. Evitando a deslocação dos doentes a Portugal, um procedimento caro para todos. Os doentes eram separados da família, vinham para um país diferente, hostil, tendo por companhia, muitas vezes, apenas a sua doença. Além de que as deslocações representavam 40% do orçamento Ministério santomense da Saúde.

Piter Mateus deve ter hoje 8 anos. Não o conheço mas tenho a certeza que o seu sorriso se deve em grande parte ao trabalho contado neste livro. Dê uma espreitadela. Tenho a certeza que irá partilhar um sorriso com algum santomense.

Este Expresso Curto fica por aqui. Tenha uma ótima terça-feira. E boas férias se é o seu caso.

Amanhã voltamos pela mão da Helena Pereira. Até lá não deixe de passar pelo site do Expresso e às 18 horas pelo Expresso Diário. E se gosta de futebol acompanhe o site especial do Europeu que fizemos só para si. O Pedro Candeias agradece.

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