Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Os
sancionalistas usam um pin da bandeira portuguesa na lapela. Quando um
governante alemão mente em público para atiçar os especuladores contra
Portugal, o sancionalista compreende. Quando um eurocrata ataca a maioria
parlamentar portuguesa para desviar as atenções da crise do Deutsche Bank, o
sancionalista confirma as suas preocupações e diz, como Maria Luís Albuquerque:
"Se eu fosse ministra, não havia sanções". Quando um responsável
eleito pelo povo se insurge contra a ingerência de Bruxelas em opções da democracia
portuguesa, o sancionalista franze as sobrancelhas e, como Passos Coelho,
condena quem "usa tese do inimigo externo" contra os nossos
protetores de Berlim.
Os
sancionalistas adoram as palavras "credibilidade" e
"compromisso". Quando um organismo não eleito e sem existência
prevista em qualquer tratado, o Eurogrupo, recusa dados oficiais e pretende
ditar alterações de orientação económica de um Governo legítimo, o
sancionalista explica que Portugal tem um problema de
"credibilidade". Quando um banqueiro do centro da Europa, depois de
salvar mais um grande banco europeu, explica que "regras são regras"
e "todos temos de cumprir os nossos compromissos", o sancionalista
sorri e recorda o tempo em que escrevia Orçamentos do Estado violando compromissos
constitucionais e contratos sociais (e, ainda assim, sem cumprir as metas do
défice).
Os
sancionalistas dizem que não atiram as culpas para os outros. Mas não aceitam
que as sanções da Comissão Europeia às contas portuguesas entre 2013 e 2015 se
baseiam nos anos da sua governação. Para sacudir a água do capote, aliam-se à
estratégia europeia para denegrir o país e chantagear o atual Governo.
Os
sancionalistas falam sempre em nome do interesse nacional. Só não percebem, ou
fingem não perceber, que interesse nacional é um país poder escolher o seu
Governo e as suas políticas, sem ter que ser sujeito a pressões, ameaças e
humilhações. Aceitar a chantagem, participar nela, não é patriotismo, é
colaboracionismo. Assim são os nossos sancionalistas. Mas sempre, é claro, de
pin com a bandeira portuguesa na lapela.
*
Deputada do BE
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