domingo, 13 de novembro de 2016

SALVAR O CLIMA, PARAR O TRUMP



Nenhuma América “Great Again” se fará sob os escombros da devastação climática

João Camargo* – Público, opinião

Começamos pelo que se sabe: Donald Trump prometeu durante a campanha tirar os Estados Unidos do Acordo de Paris e deixar de contribuir para os fundos das Nações Unidas no Combate às Alterações Climáticas, fechar a Agência de Protecção Ambiental americana, retomar projectos como o oleoduto KeyStone XL (que cortaria os EUA para trazer petróleo das areias betuminosas do Canadá até ao Golfo do México) e cancelar o Plano de Energia Limpa de Obama. Segundo Trump, as alterações climáticas são uma invenção da China para prejudicar as exportações dos EUA.

No meio desta informação decorre a Cimeira do Clima, em Marraquexe, a COP-22 que tem como objectivo tornar o Acordo de Paris em algo concreto. Partes, representantes e observadores em Marrocos não escondem a sua apreensão: os EUA são o maior produtor mundial de combustíveis fósseis, desde o início da revolução do fracking. São também o segundo maior emissor de gases. Um abandono do acordo, difícil de conseguir porque foi ratificado por Obama, faria com que a base de acção ficasse ainda mais reduzida. Sem saber exactamente o que fazer, os participantes da cimeira continuam o processo, a negociação para efectivar o acordo, para torná-lo mais vinculativo e reduzir mais as propostas dos países, para garantir a transferência de milhares de milhões de euros dos países ricos para os mais afectados pela radical mudança climática, para contabilizar efectivamente as emissões de dióxido de carbono.

Falta o que não se sabe: por estes dias Trump rodeia-se de um enxame de lobistas da finança, das farmacêuticas, das armas, das petrolíferas, para distribuir lugares no executivo e para construir uma mundivisão mais clara para o seu mandato, mas quando reunir com a NASA não haverá debate sobre as alterações climáticas, quando reunir com o Pentágono ser-lhe-á dito que, acredite ou não, já são consideradas uma das principais ameaças à segurança nacional nos EUA. De que serve isso? Obama sabia-o e admitia-o mas, como W. Bush, considerou ou pelo menos agiu como se o estilo de vida americano não fosse negociável. Os EUA afastam-se da China (o maior emissor de gases com efeito de estufa) com quem assinaram há poucos meses o Acordo de Paris e aproximam-se da Rússia (2º produtor mundial de fósseis e 5º maior emissor de gases com efeito de estufa), que nem sequer ratificou o acordo.

Nenhuma América “Great Again” se fará sob os escombros da devastação climática. Não se sabe se Trump sabe disso, não se sabe se é real ou propaganda a sua posição sobre as alterações climáticas, depois da campanha vista e da ausência do tema dos debates, mas os fenómenos climáticos extremos em território americano agravaram nos últimos anos, com os furacões Katrina, Sandy e Ike, as cheias no Louisiana, e no Midwest, a seca na Califórnia e os incêndios florestais no Alasca, e continuarão.

Fica a lição, para a governança mundial que pretende um acordo climático para salvar os seres humanos que vivem na Terra, mas também para todos os activistas e pessoas preocupadas: a negação de factos já não é razão para se perder debates ou sequer para perder a eleição para o cargo mais poderoso do planeta. Além de ter razão, é preciso ter muita força. Ontem nas ruas em Portugal defendeu-se a espécie humana na Terra: Salvar o Clima, Travar o Petróleo. Parar as concessões de gás e petróleo no país. Hoje sai-se à rua em Marraquexe para pedir que, frente à gigante contrariedade que é a eleição de Trump, se tenha muito mais força. Precisamos dela, não para salvar o planeta, que continuará a existir. Precisamos dessa força para salvar a Humanidade.

*Engenheiro de Ambiente

EUA: Trump anuncia deportação de dois a três milhões de imigrantes



O vencedor das eleições presidenciais norte-americanas, Donald Trump, disse que irá deportar "imediatamente" dois a três milhões de imigrantes ilegais e com cadastro.

"O que vamos fazer é encontrar as pessoas que são criminosas ou têm registo criminal, membros de gangues, traficantes de drogas - provavelmente dois milhões, até podem chegar a três milhões - (...) e ou vamos expulsá-las do nosso país ou vamos encarcerá-las", disse Trump numa entrevista que será transmitida pelo canal televisivo CBS às 22 horas de Portugal continental.

"Mas vamos expulsá-las do nosso país, estão cá ilegalmente", disse o futuro presidente, acrescentando que depois de a fronteira ser "segura", as autoridades responsáveis pela emigração vão fazer uma "determinação" sobre os restantes imigrantes sem documentos que ficarem no país.

"Depois de a fronteira ficar segura e depois tudo estar normalizado, vamos fazer uma determinação sobre as pessoas de quem estão a falar, que são ótimas pessoas, mas vamos fazer uma determinação sobre isso", disse.

Questionado sobre se realmente vai construir um muro ao longo da fronteira com o México, uma das mais mediáticas e controversas propostas eleitorais de Trump, o vencedor das eleições respondeu: "Sim".

Depois da vitória de terça-feira, o Governo do México veio novamente garantir que não iria financiar a construção do muro e o vice-presidente da equipa de transição da nova Presidência, o republicano Newt Gingrich, quando questionado sobre o tema, respondeu que o muro tinha sido "um grande instrumento de campanha".

Na entrevista, a primeira desde que venceu as eleições de terça-feira passada, Trump admitiu ainda que o muro pode ser parcialmente substituído por uma cerca, acolhendo as ideias de alguns congressistas republicanos.

"Para certas áreas, sim, mas noutras áreas, um muro é mais apropriado", disse, acrescentando: "Eu sou muito bom nisto, chama-se construção".

Na conversa com a jornalista, que inclui segmentos com a mulher, Melanie, e os filhos, Trump revelou que ganhou 100 mil seguidores no sábado nas redes sociais Facebook, Twitter e Instagram, e explicou por que razão usa tanto o Twitter, quando foi questionado se iria "continuar a disparar o que lhe passava pela cabeça" quando chegar à Casa Branca.

"Vou ser muito comedido, se o usar sequer", respondeu, referindo-se ao Twitter. "É uma forma moderna de comunicação, não há nada que ter vergonha. Juntando o Twitter, o Facebook e o Instagram, tenho 28 milhões de pessoas, dá para passar a mensagem. Quando alguém escreve uma má história sobre mim, ou a história é imprecisa, tenho um meio de ripostar".

"O facto de (estas redes sociais) terem tanto poder ajudou-me a ganhar as corridas nas quais eles (a campanha democrata) gastaram mais dinheiro do que eu", disse ainda Trump.

Jornal de Notícias

UM SISTEMA EM RUÍNAS E A SAÍDA POSSÍVEL




Vitória de Trump sela o declínio da ordem mundial presidida pelos EUA. Como há um século, virão tempos áridos — e o fascismo é ameaça real. Para enfrentá-lo, é preciso nova esquerda

Jerome Roos, em Jacobine – Outras Palavras - Tradução: Inês Castilho

Um terremoto político acaba de criar uma fenda no mundo. Não pode haver dúvidas de que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos marca um ponto de ruptura na política norte-americana e na ordem liberal internacional estabelecida ao fim da Segunda Guerra Mundial. Nada será igual depois disso. Mas é crucial recordar que este momento vem sendo construído há um longo tempo.

Nos últimos anos, os pilares gêmeos do sistema mundial do pós-guerra – mercados capitalistas globais e instituições democráticas liberais – vêm declinando consistentemente, sob as tensões de uma crise estrutural de financialização e uma crise profunda de legitimação do establishment político neoliberal. O choque dessa eleição indica que a dupla crise finalmente emergiu. O próprio Trump irá ao fim mudar, mas a crise que sua ascensão expressa irá supurar e finalmente transbordar a capacidade regulatória até mesmo do Estado mais poderoso do mundo. Estamos agora nos dirigindo firmemente em direção ao tipo de caos sistêmico mundial previsto pelos sociólogos Giovanni Arrighi e Beverly Silver na virada do século.

Aqui poderíamos dispensar imediatamente um mito disseminado e perigoso: a ascensão de Trump não pode ser atribuída apenas à visão supostamente extremista e retrógrada da classe trabalhadora norte-americana. Nos EUA, pelo menos, a corrida para o populismo de direita parece ser uma resposta da classe média à dupla crise do capitalismo global e da democracia liberal. Como diz Paulo Mason, “Donald Trump ganhou a presidência – não por causa da ‘classe trabalhadora branca’, mas porque milhões de cidadãos norte-americanos de classe média e educados olharam fundo em sua alma e lá encontraram, depois de despir-se de todos os conceitos, um sorridente branco racista. Além de reservas inexploradas de misoginia.”

Foi essa classe média branca, especialmente de homens, que deu a Trump a presidência: a maioria daqueles que ganham menos de US$ 50 mil por ano votou para Hillary, enquanto a maioria daqueles que ganham mais do que isso votou para Trump. Quase dois em cada três homens brancos, 63% no total, votou no candidato de extrema direita republicano. Mas esses números certamente revelam um cenário desconcertante sobre o racismo profundamente enraizado no coração da sociedade americana. Ao fim e ao cabo, Trump de fato amealhou uma parcela do voto popular ainda menor do que Bush, Romney ou McCain. Trump não venceu porque era popular; Hillaryb é que perdeu por ser tão extremamente impopular.

A pergunta que deveríamos fazer agora é por que eleitores brancos de classe média se sentiriam confortáveis com a eleição de um candidato abertamente racista e sexista como Trump. E aqui não poderíamos evitar as complexas interações entre fatores culturais e econômicos. A literatura acadêmica do populismo de direita e do sentimento anti-imigrante tem tratado essa relação, muito frequentemente, como algum tipo de dicotomia. Na verdade, as duas estão profundamente interligadas e não podem ser separadas uma da outra: é o medo existencial gerado pela intensa insegurança socioeconômica que provoca a emersão de preconceitos etnocêntricos profundamente assentados. Num clima de ansiedade, moldado por décadas de reestruturação neoliberal e anos de crise econômica, a sedução de um líder forte e a identificação de um conjunto de bodes expiatórios podem irresistíveis para muitos.

Embora Trump claramente não seja nem carismático nem honesto, Noam Chomsky essencialmente previu, há seis anos, os passos que levariam a uma “enlouquecida” vitória eleitoral republicana de direita:

“Se aparecer alguém carismático e honesto, este país estará em apuros por causa da frustração, desilusão, raiva justificada e ausência de qualquer resposta coerente. O que as pessoas devem supostamente pensar se alguém diz ‘Eu tenho a resposta, nós temos um inimigo’? Já houve os judeus. Agora serão os imigrantes ilegais e os negros. Dirão que temos de nos defender e à honra da nação. As forças militares serão exaltadas. As pessoas serão espancadas. Isso poderia tornar-se uma força avassaladora. E se isso acontecer, será mais perigoso do que na Alemanha. Os Estados Unidos são um poder mundial, a Alemanha era poderosa mas tinha antagonistas mais poderosos. Não acho que isso tudo esteja muito longe. Se as pesquisas são confiáveis, não serão os republicanos, mas os republicanos de direita, os republicanos enlouquecidos que levarão a próxima eleição.”

Por fim, a “frustração, desilusão e raiva justificada” que alimentaram a vitória de Trump têm raiz não apenas na péssima gestão da crise financeira global e da Grande Recessão; mas remonta a quatro décadas de globalização econômica e declínio democrático que a precederam. Esse é um ponto crucial. Afinal, se Trump fosse meramente um sintoma da crise financeira, uma retomada econômica sustentável poderia eventualmente miná-lo. Mas se, ao contrário, sua ascensão é de fato o resultado de um conjunto mais profundo de contradições do capitalismo global e da democracia liberal, os fatores que alimentaram sua vitória irão provavelmente persistir – e o sentimento antiestablishment irá provavelmente intensificar-se.

Em A Grande Transformação, Karl Polanyi identificou um conjunto muito similar de desenvolvimentos que levavam a uma ruptura da ordem mundial liberal no início do século 20. Como ele apontou, o ascenso do fascismo não foi apenas resultado da Grande Depressão, mas, ainda mais importante, da liberalização extensiva dos mercados mundiais na primeira onda de globalização do século dezenove. Para Polanyi, foi a desvinculação das relações econômicas de todas suas restrições sociais, a mercantilização de esferas da vida que estavam até então protegidas dos “caprichos do mercado”, e as profundas inseguranças sociais geradas por essa “grande transformação” que finalmente impulsionaram o crescimento de contramovimentos nacionalistas contra o liberalismo econômico – um retrocesso popular contra as altas finanças cosmopolitas, personificadas pelo estereótipo racista do judeu ganancioso, e contra o establishment político da época.

Donald Trump, o bilionário magnata do setor imobiliário com seu estilo de vida luxuoso e cosmopolita não convencional não é, claramente, um simples fascista ou nacional-socialista do tipo de 1930. Mas embora a história não se repita, literalmente, há ao menos um aspecto importante no qual a situação de hoje ao menos assemelha-se aos tempos de Polanyi. O que estamos testemunhando neste momento parecem ser os estágios iniciais de um prolongado processo de fragmentação política, polarização ideológica e decomposição institucional que serão marcadas pela intensificação do caos sistêmico e uma escalada de conflitos políticos que atingirão a todos. Não é nada improvável que esses desenvolvimentos culminem, ao fim, num colapso gradual da Pax Americana, exatamente como a desordem global do período entre-guerras levou ao fim da Pax Britannica.

Essa crise, em outras palavras, é estrutural – e Trump não deveria ser visto isoladamente. Entre o Brexit, Marine Le Pen na França, Alternativa para Alemanha (AfD), Aurora Dourada na Grécia, Geert Wilders na Holanda e Viktor Orban na Hungria, o nacionalismo de extrema-direita está crescendo em ambos os lados do Atlântico. Se incluímos o golpe constitucional no Brasil e o contragolpe de Erdogan na Turquia, podemos até estender essa mesma linha de análise aos países emergentes. A desordem política prevista por Arrighi e Silver está se tornando consistentemente generalizada. A crise da democracia nacional e o renascimento do nacionalismo econômico são, claramente, um fenômeno internacional. Com razão, o economista político Mark Blyth refere-se a isso como “Trumpismo Global”.

Essa onda de ódio anti-establishment continuará a espalhar-se, e deveríamos esperar novos choques nos meses e anos à frente – talvez mais precisamente na Itália, onde o primeiro ministro Matteo Renzi parece prestes a perder um referendo constitucional no fim deste ano– o que pode ressuscitar a crise da dívida da Eurozona, que ficou latente desde que os governos da União Europeia esmagaram um outro governo antiestablishment de curta duração na Grécia, ao passado. Há poucas dúvidas, portanto, de que 2016 ficará para a história como o corolário político de 2008. A crise do capitalismo global e da democracia liberal vai continuar a aprofundar-se, e as coisas irão ficar provavelmente muito piores antes que venham a melhorar.

Nossa resposta a essa crise deve ser guiada pela observação de Walter Benjamin de que a ascensão do fascismo é sempre um indicador de uma revolução fracassada. Agora, mais que nunca, precisamos de uma esquerda revigorada e movimentos sociais fortes para construir poder coletivo a partir de baixo. Apenas uma democracia radical pode superar as ruínas da ordem liberal decadente e derrotar a direita antes que ela cause dano irreversível a nosso planeta e a seus habitantes. Esse é o momento para nos organizar e intensificar nossas lutas.

QUANDO OS CACIQUES RURAIS SE IMPÕEM!...



  
1 – Apesar dos bons ofícios de Putin para com Donald Trump, no desespero de causa em relação às acumuladas desilusões propiciadas por Barack Hussein Obama (coloco aqui, não por acaso, o nome completo do personagem Nobel da Paz iludida, até por que ele demonstrou, no uso de sua completa entidade, ser tão permeável ao fundamentalismo das monarquias arábicas a ponto de contribuir para incentivar monstros como a Al Qaeda, ou o Estado Islâmico), é evidente que os riscos vão-se apresentar de outro modo, segundo outros métodos e orientações, no sentido de prejudicar ainda mais o tão depauperado estado do mundo e o quadro dos relacionamentos internacionais, em nome dos mesmíssimos 1% de antes!

Por conseguinte: a ruralidade e a “ferrugem” das mensagens de Donald Trump em campanha, demonstram como os Republicanos conseguiram manter o poder nos Estados Unidos da América, refém de seus próprios interesses, ainda que com menos votos dos que alcançados pelos Democratas e ganhando ao mesmo tempo Senado e Congresso!

A ruralidade e a “ferrugem” demonstrados, uma espécie de regresso às origens das culturas anglo-saxónicas protestantes dos velhos tempos da expansão, ou ao sonho do século americano que se perdeu na voragem das desaparecidas fábricas que animaram o apogeu do após IIª Guerra Mundial, teve um casamento quase perfeito com a perdulária inteligência elitista da obstinada Hillary em nome dos Clinton (que tributo fazem ao “rhodesschollarship” de Bill!), bloqueando profeticamente a esperança jovem depositada com Bernie Sanders e atirando-a para uma persectiva de “calendas gregas”!...

Notáveis esses 1%, manipuladores das contradições a esse nível: queimam as gorduras neoliberais de Hillary Clinton, com um maçarico enferrujado caciquismo dum bilionário franco-atirador… que em relação ao neoliberalismo disse nada!!! 

2 – Não pode haver dúvidas: o nacionalismo russo, que parte da expressão atingida por uma União Soviética que atingiu elevados graus de inteligência e sabedoria acumulados nas suas Academias, (que não são nem velharias nem depósitos desabitados), que parte dum legado enorme de infraestruturas e estruturas, indústrias e tecnologias duramente construídas ao longo do século XX e capazes de servir de base a novas projecções “energéticas” (muito visível por exemplo no potencial da Marinha de Guerra com navios cujo casco e só o casco são obra da década de 70 ou 80 do século passado), que produz um “know how” de ponta que nenhuma sanção pode “congelar”, o jovem nacionalismo russo, digo eu, nada tem a ver com a ruralidade do interior profundo dos Estados Unidos, ou com a “ferrugem” do cinturão industrial, feita ilusão nas obstinadas mensagens do Trump candidato, inestimável colector de caciques que terá de abandonar essas vestes e enfrentar os desafios da modernidade de que se afastaram os norte-americanos, em prejuízo de sua própria juventude, tudo por causa dum neoliberalismo que se tem tornado congénito.

A Rússia pode ter muitos defeitos, Putin também, mas aprenderam a lição da precariedade neoliberal conforme ao tandem Gorbatchov-Ieltsin, que foi ao extremo de perder até a Iª Guerra da Chechénia… algo incompreensível para o franco-atirador Donald Trump!

Bernie Sanders será como um fantasma social-democrata para Donald Trump, tanto como para o carácter da inteligência elitista que tolhe os Democratas que se aninharam ao apogeu finalmente desmistificado dos Clinton, ou ao tão “transversal” fracasso nos termos das obscuras alianças arábicas de Barack Hussein Obama, agora com mais uma maturação de quatro anos, uma maturação que se prolongará porventura ainda mais, até que os jovens de hoje, que desiludidos e marginalizados se erguem nas ruas e praças das cidades norte-americanas mais saudavelmente cosmopolitas, com uma desilusão ainda mais acumulada, mas também ainda mais amadurecida por que temperada na radicalização dos termos contraditórios espelhados pelo mapa dos resultados das eleições, assumam a fase adulta dum poder disponível para as suas muito legítimas quão proféticas convicções!

Nem neoliberalismo, nem social-democracias, muito menos caciques nesses futuros e enigmáticos horizontes, é o que nos diz claramente Naom Klein interpretando o “fenómeno Trump” com os sentidos abertos ao futuro:

…”As pessoas têm direito de estar com raiva, e uma agenda de esquerda poderosa e multitemática pode dirigir essa raiva para onde ela deve ser dirigida, enquanto luta por soluções globais que unirão uma sociedade desgastada.

Essa articulação é possível.

No Canadá, começamos a pavimentar essa união sob a bandeira de uma agenda popular denominada The Leap Manifesto (O Manifesto do Salto), endossado por mais de 220 organizações, do Greenpeace do Canadá ao “Black Lives Matter” de Toronto e alguns dos nossos maiores sindicatos.

A surpreendente campanha de Bernie Sanders percorreu um longo caminho na direção de construir esse tipo de coalizão, e demonstrou que há espaço, nos EUA, para o socialismo democrático. Mas Sanders não foi capaz de se comunicar com os eleitores negros mais velhos e latinos que são, demograficamente, os que sofrem mais abuso do nosso modelo econômico atual. Esse fracasso impediu a campanha de atingir seu potencial. Aqueles erros podem ser corrigidos e uma coalizão forte e transformadora pode ser construída.

Essa é a tarefa que temos à frente. O Partido Democrata precisa ser, ou decididamente arrancado dos neoliberais pró-corporações, ou abandonado”...

Internamente nada será pacífico nos Estados Unidos da América nos tempos mais próximos e externamente sua força terá muito menos praticabilidade inteligente, por muito que tentem a inteligência económica e o “soft power” do neoliberal costume!...

Só nessa altura haverá a possibilidade de quebrar efectivamente com os banhos de promessas dirigidas ao pesadelo rural e à “ferrugem” urbana, quebrar com a hegemonia unipolar e por fim quebrar definitivamente com o “estabelishment” de que Trump não se vai desenvencilhar de forma desenvolta, ainda que acionando prioritariamente toda a capacidade da inteligência económica nos seus relacionamentos internos e internacionais, em busca duma outra imagem, afinal no quadro do mesmíssimo posicionamento de domínio!

O segredo de qualquer progresso está numa cultura de inteligência historicamente consolidada mas sempre recriada, que se pode abrir a valores para lá dos simples negócios e desequilibrados relacionamentos, não numa ilusão de cultura meio “hollywoodesca” de inteligência recriada a partir de ilusões suportadas nos desequilíbrios acumulados do passado, desde os tempos duma expansão que foi tão pouco pacífica ao ponto de exterminar as nações autóctones e escravizar a mão-de-obra africana transportada à força pelos esclavagistas… algo que nos traz uma certeza: Putin não se vai deixar equivocar, quando do outro lado está um “candidato” que foi até apoiado pelo Ku Klux Klan!

Resta saber até quando durará a provavelmente tão efémera transitoriedade da aproximação norte-americana / russa, que oxalá se fizesse mesmo assim sobre os escombros das atávicas monarquias arábicas, ou pelo menos dos seus protegidos tornados catapultas de caos e terrorismo, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico!

Será que uma hegemonia unipolar assente num pressuposto de globalização neoliberal, vai chegar ao ponto duma autocondescendência, perdendo gorduras, apenas por causa dum manifesto “flirt” por demais evidente, que ainda não passa dum simples piscar de olhos para com a emergência multipolar?
  
Imagens: Para reflexão conforme as fotos, serão mesmo as armas de Putin e de Trump, desafiadoras da “nova ordem global”, ou estamos na presença de mais um equívoco para toda a humanidade?

A consultar:
El lenguaje gestual revela la verdad de la reunión entre Obama y Trump (Fotos) –  https://actualidad.rt.com/actualidad/223345-lenguaje-corporal-verdad-encuentro-obama-trump
"Bien hecho Putin": ¿Por qué se atribuye a Rusia la victoria de Trump? – https://actualidad.rt.com/actualidad/223310-victoria-trump-putin-rusia-medios
Como se colocou Donald Trump no poder – http://outraspalavras.net/capa/como-se-colocou-donald-trump-no-poder/  

IDEIAS FABRICADAS



Manuel Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Há momentos em que parece haver uma fábrica onde se cozem ideias pronto-a-vestir e empresas que as distribuem rapidamente a todas as casas. A respeito da vitória de Trump, são três as principais ideias deste tipo que os comentadores dos grandes meios de comunicação nos apresentam.

A primeira. Dizem-nos que, na realidade, a vitória de Trump não faz grande diferença, pois nos EUA existem contrapoderes capazes de garantir que o "sistema" funcione sempre de forma idêntica, independentemente de quem ocupa o posto de comando. Veremos se assim é.

Por certo, Wall Street, agora com reforço do poder dos banqueiros e a Goldman Sachs bem à cabeça, continuará a nomear os conselheiros económicos e os lugares-chave da administração. A conceção imperialista e as atuações de intromissão abusiva e violenta do poder norte-americano noutros países não são novas, agora poderão alterar-se as prioridades e ser ainda mais brutal, mas para os produtores destas ideias isso é normal. Ao mesmo tempo escamoteiam ou secundarizam mudanças de maior significado. É que, não é mesma coisa desregular ainda mais o sistema financeiro e descer os impostos para os rendimentos elevados e as grandes empresas, ou deixar de o fazer. Não é a mesma coisa denunciar o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas ou cumpri-lo. Não é a mesma coisa deportar emigrantes ou deixar de o fazer. Não é mesma coisa pôr termo ao débil sistema de saúde pública criado por Obama, ou procurar melhorá-lo. Não é a mesma coisa liberalizar ainda mais o comércio de armas, ou procurar limitá-lo.

Trump sem dúvida significa mudança, significa aprofundamento do retrocesso face a todos os progressos conseguidos desde a 2.ª Guerra Mundial. Trump adiciona ao poder de Wall Street novas e duras doses de violência, de autoritarismo e de ódio, e propõe-se utilizar instrumentos do Estado autoritário de que o poder da finança e dos negócios parece carecer para fazer face à "crise" incubada por esse mesmo poder.

A segunda. A ideia de que quem deu a vitória a Trump foi a "classe média" e a classe trabalhadora, "brancas" e "iletradas". Ora, de facto, o que deu a vitória a Trump foi um voto muito transversal a todas as classes - do 1% do topo que espera ver os seus impostos ainda mais reduzidos, ao 1% da base que tem insatisfações fundadas e naturais desejos de mudança. Trump, embora com demagogia e muita mentira, disse-lhes que vai reconstruir a indústria e criar novos empregos à custa de emigrantes expatriados. O que deu a vitória a Trump foi ter como adversária uma candidata enredada nas malhas da finança, da promiscuidade de interesses e do desrespeito por valores éticos, que personificam o cerne do status quo.

A terceira. Desavergonhadamente é-nos vendida a ideia de que Trump é uma das faces do "protecionismo retrogrado" que se opõe à "globalização" inelutável e progressiva, que está a retirar milhões de pessoas da miséria. A outra face deste protecionismo é a "extrema-esquerda", dizem-nos. Para esses fazedores da "realidade", tudo é "populismo", no mesmo saco. Os factos mostram, entretanto, que a "globalização" de que se fala pouco mais é que um redesenho da divisão internacional do trabalho, muito sustentada em barreiras tecnológicas libertas de decisões políticas que as coloquem ao serviço das pessoas, e escoradas por direitos de propriedade intelectual reforçados. No essencial é um Mundo divido por um muro que tem de um lado trabalho intensivo e sem direitos para muitos - Trump é um antissindicalista primário - e, do outro, "serviços" tecnológicos bem remunerados para uma minoria bem-sucedida e com uma massa de desempregados ou subempregados com cada vez menos direitos. Muitos destes já não são classificados de trabalhadores, mas sim de executores de atividades da "economia colaborativa".

Enquanto o protecionismo de Trump é demagogia que serve o propósito de neutralizar o descontentamento e submeter as pessoas, a proteção social da Esquerda, a busca de regras para a economia e valores éticos e morais para a política, são a resposta necessária a um poder do capital que se torna exorbitante e despótico, quando deixa de ter limites e fronteiras.

*Investigador e professor universitário

FERRAZ DA COSTA, EX-PATRÃO DOS PATRÕES, CRITICA COSTA E ELOGIA PASSOS



CONFISSÕES DE UM NEOLIBERALFASCISTA

Ferraz da Costa, ex-patrão da CIP e agora presidente do Fórum para a Competitividade, mostrou na sua entrevista ao DN / TSF como neste governo está tudo mal, tudo errado. Foi mais longe e elogiou o neoliberalfascista Passos Coelho e o governo de má-memória que durante quatro anos roubou descaradamente e sem o mínimo de pudor aqueles que menos tinham, empurrando para a emigração, para o desemprego, para a fome, para a doença, para a miséria e para a morte os portugueses. Provavelmente Ferraz não percebeu que ao criticar doentia e acerrimamente o governo de António Costa, elogiando Passos Coelho, estava a dar sinal de que afinal Portugal está na rota das melhorias económico-financeiras devidas aos portugueses e na reposição faseada dos seus direitos, liberdades e garantias.

Apesar de tudo que teceu de elogios a Passos, Ferraz da Costa demonstrou que a solução está num caminho muito mais à direita que o que Passos praticou e pratica. Talvez a sua esperança de atingir os objetivos de patrão dos patrões esteja num CDS neofascista ao algo a razar esses condimentos com adaptações à modernidade.

Ver e ouvir

Os que se interessarem pelo tema podem fazê-lo e escutar Ferraz na TSF, na verdade os que o entrevistaram deram-lhe asa para “voar” nos seus céus de negritude e de raios e coriscos apontados para os milhares de trabalhadores que para Ferraz auferem salários avantajados – incluindo os de salários mínimo – que segundo ele só devem receber 60% do valor do salário médio nacional (900.00€). Não mais que 540.00€. Nunca.

O texto da TSF referente à entrevista, a seguir. (PG)

Ferraz da Costa: se administração da CGD cair, Centeno tem de pagar fatura

O presidente do Conselho Diretivo do Fórum para a Competitividade critica, ainda, os custos elevados do banco estatal com os seus recursos humanos.

Com a polémica em torno da Caixa Geral de Depósitos ainda longe do fim, Pedro Ferraz da Costa considera que não existe outra alternativa para o Ministro das Finanças, que não seja a saída do Governo.

O presidente do Fórum para a Competitividade refere, na entrevista TSF/DN que "não há outra penalização que não seja essa", referindo-se à possibilidade de a atual administração do banco público abandonar o cargo, devido à entrega e apresentação da declaração de rendimentos de todos os seus membros.

Pedro Ferraz da Costa lamenta o clima de incerteza que rodeia a CGD, por considerar que este é o pior cenário possível para um banco que deve ser visto como um exemplo, mas que, na sua opinião, não é isso que tem acontecido. Ferraz da Costa lembra que entre 2004 e 2010, a Caixa foi o banco que mais aumentou os ordenados no sistema bancário português, fazendo "disparar os custos e aumentado os prejuízos na atividade corrente".

Nesta entrevista à TSF e ao Diário de Notícias, Ferraz da Costa analisa a situação política em Portugal e não só, fala também sobre a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos.

Uma ano depois da assinatura do acordo que deu origem à "geringonça" (aliança entre Governo, Bloco de Esquerda e PCP), o presidente do Fórum para a Competitividade refere que este é um executivo que pensa, em primeiro lugar, na sua sobrevivência. Porém, adverte, no atual contexto político, esta atitude pode sair cara à economia e o país, porque condiciona o executivo de António Costa a curto prazo.

Outra consequência, no olhar de Ferraz da Costa, reflete-se no sentimento de confiança, já que a influência do Bloco de Esquerda e do PCP gera "receio por parte dos empresários, quer a nível interno, quer a nível externo".

Sobre o tema que marcou a semana, a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, Pedro Ferraz da Costa espera que o empresário tenha sucesso nas novas funções na Casa Branca, porque "era bom para todos que assim fosse". O presidente do Fórum para a Competitividade lembra, também, que aquando da eleição de Ronald Reagan, as reações foram semelhantes, sendo que este deixou como marca no país, um período de grande crescimento económico.

TSF

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