Martinho Júnior, Luanda
1
– Em Setembro de 2016 escrevi “Cuidem-se que vem aí a Clinton”, numa
altura em que os Democratas tinham clara vantagem sobre os Republicanos nas
intenções de voto do eleitorado norte-americano e tinham à sua disposição
plasticidades internas a não desperdiçar.
Com
efeito, depois duma renhida disputa interna entre Hillary Clinton e Bernie
Sanders, esperava-se dos Democratas uma plataforma no sentido de coesão e até
mesmo de integração, impedindo polarização ou diluição de tudo o que Bernie
Sanders claramente representava, perfeitamente ao alcance das possibilidades da
inteligência elitista.
Esse
desafio que colocava à prova a capacidade de plasticidade interna dos
Democratas sofreu erosão, particularmente desde o momento que os mails de
Hillary demonstraram publicamente, a quente (em cima da hora) e a nu, o
carácter do poder inerente ao exercício da inteligência elitista conforme ao “lobby” dos
minerais, em plena época de capitalismo neoliberal e perseguindo a trilha
unipolar…
A
inteligência elitista, com uma linguagem “lapidada”, não teve criatividade
na plasticidade interna que lhe era exigida face ao inesperado “infortúnio” dos
mails, pelo que muitos votos antes arrebanhados pela campanha de Bernie
Sanders, entre outros, foram dispersados por independentes, por partidos
menores, pela abstenção e até captados por Trump.
Estou-me
a referir a votos de sectores “vitais” para os Democratas como os da
juventude, bem como dos latino-americanos e dos afrodescendentes.
2
– Comparativamente, a plasticidade interna dos Republicanos funcionou sem
qualquer percalço ou “ameaça” ao nível dos mails de Hillary Clinton,
com base numa trilogia que aparentemente até tinha um equilíbrio pouco estável:
o “tea party”, o amplo “centrão” conservador e um “franco-atirador” considerado
como um “antissistema, outsider, populista e nacionalista”, capaz de todo
o tipo de acrobacias verbais que lhe eram permitidas por ser um principiante “meio
anarquista” nos ambientes sócio-políticos complexos da muito complexa
sociedade norte-americana.
Essa
trilogia tinha também o desafio da criatividade em relação às mensagens que
deveria difundir para captar o eleitorado, pelo que acabou por utilizar uma
verbalização pouco cuidada, “bruta”, mas susceptível de estabelecer no
mínimo nexos emocionais com muitas franjas que iam desde trabalhadores
sindicalizados das periferias industriais, até jovens desiludidos com o
carácter da inteligência elitista de Hillary Clinton, mas sobretudo com o
norte-americano médio, rural, “prático”, de franjas religiosas por vezes
fundamentalistas e pouco intelectualizada dos estados centrais, entre as
margens oceânicas leste e oeste do país, que acabaram por compor uma imensa
mancha “vermelha” (Republicana) nessas vastas regiões.
A
plasticidade Republicana sem dúvida que foi bem-sucedida comparativamente à dos
Democratas, salvaguardando sem dúvida os interesses do “lobby” do
petróleo e do armamento, sem apelo nem agravo em relação à inteligência
elitista visivelmente cristalizada e remetida à defensiva no exercício dos
interesses da aristocracia financeira mundial.
Um
homem fora do “estabelishment”, bem-sucedido na vida, identificado com a
força de trabalho nacional e “pragmático” foi um “meio” que
justificou os fins.
3
– Uma grande parte dos observadores destas eleições, lançam agora múltiplas
incógnitas sobre o carácter do poder que Donald Trump vai implementar em nome
dos Republicanos.
Há
sinais que os esforços nacionais serão prioritariamente “voltados para
dentro”, onde efectivamente há imensas coisas a mudar em termos de
infraestruturas e estruturas do país, que reclamam modernidade e a integração
de novas tecnologias, algo que impactará também na indústria militar.
O
objectivo é recriar o modo de vida norte-americano, garantindo que não há mais
fábricas a transferir, o trabalho bem remunerado será garantido e tornado muito
mais amplo, haverá maior abertura às novas tecnologias… e os Estados Unidos
encontrarão padrões de crescimento que mais ninguém poderá igualar!…
Partindo
do princípio que essa leitura será a mais aferida às mensagens da candidatura,
é evidente que tudo isso poderá ser feito no eixo da representatividade do “centrão” Republicano,
numa autêntica resposta aos estímulos da aristocracia financeira mundial, que
não abandonou a ideia dum “novo século norte-americano”!
É
evidente que, a curto prazo pelo menos, essa equação “in” vai exigir
melhores níveis de emparceiramento com as emergências multipolares, restando
avaliar se esse será um plasma capaz de ser estendido para os médios e
longo-prazos, para outros relacionamentos similares com outros estados, nações
e povos.
É
muito possível que sim, por exemplo:
Se
forem lançadas novas tecnologias modernizando os caminhos de ferro
norte-americanos, poderão elas ser aplicadas também a componentes das “rotas
da seda” euro-asiáticas, emparceirando com europeus, russos, chineses e
outros asiáticos?
O
que acontecerá em relação aos oleodutos e gasodutos euro-asiáticos e
transcontinentais?
Os
navios dos europeus e dos norte-americanos, em que medida poderão circular pelo
Ártico nos meses de degelo, de forma a encurtar a rota entre o Atlântico e o
Pacífico?
Haverá
necessidade de manter a NATO?
O
partido Republicano, dominando no Senado, no Congresso e na Presidência, com um
desenvolto “mãos à obra”, parte numa posição sem empecilhos internos
maiores e galvanizado pelos reptos vitoriosos da campanha eleitoral.
As
respostas serão remetidas particularmente ao “centrão” Republicano,
com a garantia que o “acrobata verbal” Donald Trump terá uma pronta
mensagem, prática e a contento, que jamais um membro do “estabelishment” poderia
garantir!
**Fotos
referentes à campanha
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