Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1.
Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, a 3 de agosto de 2014: "A
medida de resolução agora decidida pelo Banco de Portugal, e em contraste com
outras soluções que foram adotadas no passado, não terá qualquer custo para o
erário público, nem para os contribuintes". Passos Coelho, a 4 de agosto:
[A solução] é aquela que oferece, seguramente, maiores garantias de que os
contribuintes portugueses não serão chamados a suportar as perdas". Maria
Luís Albuquerque, ministra das Finanças, a 7 de agosto: "Aconteça o que
acontecer ao Novo Banco, [o Estado] não vai ser chamado a pagar eventuais
prejuízos. Isso tem de ficar muito, muito claro". Cavaco Silva, presidente
da República, a 26 de setembro de 2014: "A autoridade de supervisão, entre
as alternativas que se colocavam, escolheu aquela que melhor servia o interesse
nacional e que não trazia ónus para o contribuinte".
2. Este
conjunto de garantias foram avançadas pelos responsáveis políticos que, em
agosto de 2014, e confrontados com a falência do BES, decidiram dividir o
banco, criando aquilo a que se chamou na altura o "banco bom", ou
seja, o Novo Banco. Dois anos e meio depois, temos dados mais do que
suficientes para perceber que foi uma ilusão. Ora, segundo o dicionário online
Priberam, ilusionismo pode ser definido como "tendência para se
iludir", uma "crença fundada numa ilusão" ou "a arte de
produzir uma ilusão". Quando Carlos Costa, Passos Coelho, Maria Luís
Albuquerque e Cavaco Silva nos venderam a solução para o BES, não estavam a
lidar com a verdade. Só falta saber se foi ou não deliberado. Ou seja, se foram
apenas irresponsáveis (deixaram-se iludir), se a isso acrescentaram a
incompetência (acreditaram na ilusão) ou, pior ainda, se nos mentiram
(produziram a ilusão).
3. É
impossível dizer qual das três soluções que estão agora em cima da mesa para o
Novo Banco será a melhor para os portugueses: se a liquidação, se a venda por
meia dúzia de patacos a um fundo que acabará por liquidar, se a nacionalização
(temporária ou definitiva). Certo é que haverá sempre perdas para os
contribuintes, certo é que haverá sempre perdas para os restantes bancos
(incluindo a CGD), certo é que a dívida do país cresceu por causa desta
gigantesca fraude, que começou por ser de índole criminal e se vai
transformando numa fraude política. E se é certo que o impacto será sempre
negativo e com múltiplos efeitos (por exemplo, no facto de os juros da dívida
pública estarem a subir), o que se espera é que quem toma agora as decisões
abandone os truques de ilusionismo e fale com verdade. Mas talvez seja melhor
esperarmos sentados...
*Editor
executivo
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