Domingos
de Andrade* – Jornal de Notícias, opinião
O
caso das SMS trocadas ou não entre o ministro das Finanças e o ex-presidente da
Caixa Geral de Depósitos é uma questão de ética. Não de estética. Já aqui se
disse. O caso dos dez mil milhões colocados em paraísos fiscais sem aparecerem
nas estatísticas é uma questão de Fisco. Falta saber se é de confisco. Aos
contribuintes.
Mas
ambos são uma questão política. Com trica ou sem trica.
Sobre
o primeiro estamos conversados. Não há mensagens privadas em assuntos de
Estado. E o esclarecimento do que ficou entendido como "erro de perceção
mútuo" entre Centeno e António Domingues é essencial para a normalização
da moral social. Goste-se ou não.
Como
é fundamental que uma Comissão Parlamentar de Inquérito, com poderes
semelhantes aos de uma investigação judicial, possa ter acesso a toda a
informação disponível, neste caso da Caixa Geral de Depósitos. A não ser assim,
para que servem as ditas? O Tribunal da Relação, ontem mesmo, manteve a decisão
de levantar o sigilo bancário de parte de documentos, o que obriga CGD, Banco
de Portugal e CMVM a fornecer, entre outras, a lista dos principais créditos
com imparidades. Parece que se está a baralhar tudo. Mas não. O que falta é
esclarecimento. Sobre tudo. E sobretudo.
É
trica política saber quem deve o quê quando o banco público está num processo
de recapitalização de cinco mil milhões de euros?
Sobra
o segundo caso. O dos dez mil milhões em paraísos fiscais. Que ajudam o Governo
atual a passar para o Governo passado um peso que lhe cabe. E lá se foram as
SMS para o lote do esquecimento.
Vamos
a factos. Um despacho do tempo de Sócrates obriga a publicitar o dinheiro
colocado em offshores. A chegada da troika e do Governo PSD/CDS deixa esses
números no domínio do oculto. No ano passado, o Governo de Costa publica-os.
Faltam lá uns milhões. Que se escrutinam mais tarde. Os gráficos mostram uma
descida da transferência de dinheiro até 2015. E um súbito aumento em ano de
eleições.
O
Governo PS atira aos pobres e mira Paulo Núncio, secretário de Estado dos
Assuntos Fiscais que, por missão ou omissão, permitiu que os dados das
transferências não fossem divulgados. Como foi possível isto acontecer num
período de grandes dificuldades para os portugueses e em que a penhora dos
contribuintes andava à cata dos cêntimos?
Mais
perguntas e mais relevantes. Os dez mil milhões, comunicados pela Banca à
Autoridade Tributária, pagaram impostos? E se houve fuga, o que fez entretanto
o Fisco para cobrar o incobrado? Estamos a falar de que empresas ou
contribuintes individuais? Se foi legal, esta maioria vai legislar para impedir
doravante a livre circulação de capitais? É trica política ou chicana
financeira?
Alguém
responde com clareza?
*Diretor-executivo
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