Manuel
Carvalho da Silva* – Jornal de Notícias, opinião
Neste
Portugal que continua com grandes problemas económicos e financeiros por
resolver e onde as pessoas se debatem ainda com elevado desemprego, muito
emprego sem qualidade e sem dignidade, baixos rendimentos, pobreza e
desigualdades gritantes, é preocupante constatar-se que o programa político da
Direita é hoje quase só hipocrisia e berraria.
Bastou
o atual Governo ir dando pequenos passos positivos a favor do país e das
pessoas, para ficar a nu o total vazio dos programas do PSD e do CDS. A
Direita, tão experimentada no argumento "não há alternativa",
desespera-se quando se lhes dirige a pergunta "qual é a vossa
alternativa"? Mais austeridade para reduzir o défice? Para quê se o défice
baixou. Mais desvalorização dos salários para estimular as exportações? Para
quê se as exportações até estão a aumentar. Menos impostos sobre as empresas
para atrair investimento? Para quê se o investimento privado até está a
recuperar.
A
dívida é enorme. Pois é. Mas, qual é mesmo a alternativa que os partidos de
Direita apresentam? A resposta é, nada! Resta-lhes fingir protestos por os
serviços públicos, por eles esvaziados de pessoas e de meios, terem problemas;
por o investimento público, por eles combatido como despesismo, ser diminuto.
Resta-lhes, acima de tudo, bombardear os tímpanos dos portugueses com uma
berraria ensurdecedora, própria das redes sociais, a propósito de promessas,
faltas à verdade e sei lá que mais.
É
um facto que António Domingues queria ser presidente da Caixa Geral de
Depósitos (CGD) sem ter de disponibilizar as suas declarações de IRS, que o
ministro Mário Centeno (e não só) até se predispôs a ajudá-lo nesse objetivo;
mas também é claro que este jamais podia assumir esse compromisso porque não
dependia dele e, felizmente, os órgãos de soberania e o Tribunal Constitucional
quando tiveram de se pronunciar não titubearam, foram claros.
Os
portugueses que não desligam a televisão e a rádio assistem, por certo
assustados, ao espetáculo de dirigentes políticos - cheios de mentir ao povo e
de fugirem à verdade em múltiplas situações - a mostrarem uma face feia e
agressiva, destruindo-se a si mesmos. É-lhes indiferente poderem estar a causar
graves danos ao país.
Num
momento em que é indispensável uma profunda reconfiguração do sistema bancário
em Portugal, urge encetar uma discussão política rigorosa sobre a Banca, em vez
da atual berraria a propósito de SMS trocados entre ministro e banqueiro. Os
problemas que continuam a pairar sobre este setor em Portugal e no resto da
Europa, o modelo de supervisão e regulação bancária imposto pelo Banco Central
Europeu, ou os riscos de uma banca privada dominada pelo capital estrangeiro -
a história mostra-nos que, em tempos de crise, este é o primeiro a
"abandonar o barco", agravando as dificuldades - são temas centrais
para qualquer discussão séria sobre o futuro do país, da sua economia e do
emprego. O debate político precisa de ser ainda mais qualitativo, quando se
trata de discutir o futuro do único banco público e de raiz nacional, a Caixa
Geral de Depósitos.
A
CGD deve ser entendida, não como mero estabilizador do sistema financeiro
nacional, como aconteceu desde 2008, mas sim como um instrumento de política
económica, sobretudo neste contexto em que as mãos do Estado parecem atadas por
Bruxelas. O debate sobre qual o modelo de negócio que deve reger a CGD na forma
como afeta crédito na economia é mais importante do que nunca. Além disso, é
preciso assegurar que a CGD não voltará a sustentar negócios desastrosos ou
processos de enriquecimento de vigaristas e oportunistas. É preciso um banco
público que não cobre comissões abusivas, que tenha presença territorial e
proximidade dos cidadãos, gerando-lhes confiança.
Chega
de entreter os portugueses com a vacuidade reinante no discurso político à
Direita, órfã de um Diabo que teima em não aparecer e com instintos
revanchistas cada vez mais arreigados. A azia e a sede de vingança da Direita
vão perdurar e são perigosas. É preciso dar-lhe uma longa cura de Oposição, sob
pena de os portugueses poderem ser sujeitos a fortes castigos.
*Investigador
e professor universitário
1 comentário:
Não é meu habito comentar qualquer parâmetro politico e muito menos partidarizado. Neste momento e depois de ler o texto presente nao resisto sem deixar os parabens ao ousado professor.Qualquer cidadão do meu país, medianamente atento,tem que reconhecer que o caso CGD se transformou num vergonhoso aproveitamento de quem unica e exclusivamente pretende alcançar aquilo que entre os dedos a pouco e pouco se lhes vai escapando.Esta gente que devia apoiar o esforço de todo um Povo digno do seu passado, que devia apresentar ideias mais sólidas para reforcar a luta por um País cada vez mais valorado,faz exactamente o oposto:"não fazer e não deixar fazer"-este é o lema deles.Caro Professor,parabens pela intervenção, estou certo que nao desiste e pode crer,o nosso Povo é humilde mas não é tão medíocre como alguns daqueles parecem querer fazer.
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