No
passado dia 29 de Março as alfândegas de Hong Kong apreenderam dois cornos de
rinocerontes, no dia 7 de Abril foram apreendidos em Kuala Lumpur outros 18,
todos passaram pela capital moçambicana. Moçambique voltou a ter uma população
de poucas dezenas de rinocerontes, quatro deles foram abatidos por caçadores
ilegais desde Janeiro. Porém na vizinha África do Sul, desde o início do ano
até a semana finda, foram abatidos 137 rinocerontes no Parque Nacional Kruger
cujos cornos foram cortados e há indícios que parte deles tenham sido
transportados para Maputo de onde estão a ser traficados, a partir do aeroporto
internacional de Mavalane, para a Ásia. Moçambique é um dos “hubs” do tráfico,
nos últimos seis anos foram traficados 797,78 quilos de cornos de rinocerontes.
Quem
tenha viajado a partir do principal aeroporto do nosso País sabe que a bagagem
despachada para o porão é alvo de inspecção, primeira a chamada não intrusiva
através de um dos vários scanners ali instalados e, caso se observe algum
objecto suspeito, agentes da Polícia da República de Moçambique(PRM) assim como
das Alfândegas abrem as malas e verificam o seu conteúdo. Procedimento similar
acontece no terminal de carga assim como é aplicado a bagagem que é
transportada na cabina do avião.
Acontece
que apesar dessa fiscalização, que segundo uma fonte das Alfandegas “passa tudo
a pente fino”, os traficantes continuam a fazer passar os seus produtos.
@Verdade
apurou que os fiscais no aeroporto de Mavalane ganham cerca de 50 mil dólares
norte-americanos em dinheiro vivo para não verem os conteúdos das malas dos
traficantes.
Os
cornos apreendidos na China, que pesam 2,5 quilos, foram enviados a partir do
aeroporto internacional de Mavalene escondidos numa embalagem com castanha da
caju.
Também
os 18 cornos apreendidos na Malásia, pesando 51,4 quilos, chegaram a Kuala
Lumpur através de um voo da Qatar Airways que transportou peças de arte
despachadas a partir do terminal de carga do aeroporto da capital moçambicana.
Estes
53,9 quilos de cornos de rinocerontes têm valor comercial na Ásia estimado em
mais de 5 milhões de dólares norte-americanos, onde existe a crença de que o
mesmo tem propriedades medicinais e milagrosas.
Entre
2010 e 2016 foram traficados por Moçambique 797,78 quilos de cornos de rinocerontes
As
autoridades de conservação estão a apurar, através de exames de DNA, a animais
de que região pertenciam os cornos foram apreendidos contudo um fonte afiançou
ao @Verdade que tudo indica que sejam resultado da caça ilegal no Parque
Nacional Kruger que tem aumentado nos últimos dias com incursões de Moçambique
para a Africa do Sul e de lá a saírem para o nosso território.
A
fonte revelou que até a semana passada tinham sido abatidos 137 rinocerontes
dentro do Parque Nacional Kruger e somente quatro, durante o mês de Janeiro, na
zona moçambicana do Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo. Portanto grande
parte dos cornos traficados este ano para a China e Malásia, a partir do
aeroporto de Mavalane, terão sido cortados a animais na África do Sul.
Todavia
a nossa fonte acrescentou ser irrelevante a origem dos cornos, o que é
preocupante é que foram exportados através do aeroporto internacional de
Mavalane um local onde a Administração Nacional das Áreas de Conservação(ANAC)
não tem poder de intervenção, aí as autoridades são a Autoridade Tributária,
através das Alfândegas, e a PRM.
Um
relatório da Agência de Investigação Ambiental(acrónimo em inglês EIA) indica
entre 2010 e 2016 foram traficados por Moçambique 797,78 quilos de cornos de
rinocerontes, com valor de mercado a rondar os 80 milhões de dólares
norte-americanos.
Grandes
barões dos cornos de rinocerontes e do marfim apoiam as campanhas eleitorais do
partido no poder
Entretanto
um operador de uma das fazendas do bravio existentes na área do Parque
Transfronteiriço do Grande Limpopo(constituído pelo Parque Nacional do Limpopo
em Moçambique, Parque Nacional do Kruger na África do Sul e o Parque Nacional
do Gonarezhou no Zimbabwe) afirmou ao @Verdade que “estamos a perder o foco da
caça furtiva, a caça furtiva não é pelo rinoceronte”.
“É
por aquele animal ou qualquer outra actividade que rende muito dinheiro e
rapidamente. Os que andam na caça furtiva geralmente também andam noutro tipo
de actividade ilícita tráfico de carros, droga, é o crime organizado. O crime
organizado não é porque odeia o rinoceronte se foco hoje está virado para este
animal é porque é aquele que rende o valor mais alto. Isso significa que se o
rinoceronte desaparecesse hoje eles iam caçar outra coisa, nós no Sul temos
incidência no rinoceronte mas no Norte estão virados para os elefantes”, disse
o nosso entrevistado que por razões de segurança não revelamos a sua
identidade.
A
fonte acredita que começa a existir mais vontade dos políticos na luta contra a
caça furtiva afinal longe vão os tempos em que a penalização resumia-se ao
pagamento de uma multa, “depois evoluímos para uma penalização, agora
penalizam-se todos mas não basta, é preciso que estes instrumentos legais
tenham efeito”.
“Os
grandes barões dos cornos de rinocerontes e do marfim em Chókwe, Magude e Massingir
são conhecidos, sabe-se quais são as suas mansões e os seus carros, apesar
disso ninguém os prende. É o crime organizado que oleia onde tem de ser oleado,
por exemplo quando chega a altura das campanhas eleitorais apoiam o partido no
poder(Frelimo). Exige uma maior coordenação e interacção das estruturas que
estão de uma ou de outra forma envolvidas no combate a estas coisas. Caça
furtiva é um mal que tem de ser combatido, sem tréguas, por todos,
administração da Justiça tem dados sinais positivos, houve tempo em que eram
indiferentes”, revelou o nosso entrevistado.
Adérito
Caldeira | @Verdade
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