BALEIA
AZUL, O “JOGO” SUICIDÁRIO AO ALCANÇE DOS INTERNAUTAS
Devem
ser os especialistas a pronunciar-se se o convite ao suicídio de modo tão
elaborado como o jogo a que chamam Baleia Azul é crime e se os responsáveis
pela sua existência na Internet estão ou não a cometer uma ilegalidade grave
que conduz a que jovens mais volúveis e inexperientes sobre contrariedades e a importância da
vida se suicidem. Certo é que o jogo – se àquilo se pode chamar jogo – tem conduzido
imensos jovens ao suicídio. O jogo, só por si, enquadra-se no desrespeito pela
integridade física dos que nele participam e desprezo pelas suas vidas,
trabalhando-os psicologicamente, por etapas, a que se automutilem e culminem suicidando-se.
Se a gravidade da existência dos métodos e de instigadores do referido jogo que leva jovens a suicidar-se não tem enquadramento criminal devia de
ter. Compete aos estados, aos legisladores, preservarem a vida dos jovens que
caem em tal jogo sem que as suas capacidades mentais e psicológicas, entre
outras, estejam devidamente desenvolvidas para rejeitarem serem participantes em tal absurdo.
A
seguir, se continuar a ler, entenderá muito melhor o que é isso do “Baleia Azul”
e como “génios” da desgraça da humanidade se divertem e lucram contribuindo
para alterar mentes jovens ou frágeis comportamentalmente. Hoje conhece-se que os convidam a
automutilarem-se e, no auge, a suicidarem-se. Lá virá o dia em que complementarão o “jogo” com outros "derivados", como, por exemplo, o assassinato dos pais, dos irmãos, de amigos… De tudo aquilo em que resulte “trabalhar”
as mentes mais voluveis. Legislação para combater tudo isso é urgente.
CT
| PG
O
que é, afinal, o jogo suicidário Baleia Azul?
A
participação no jogo Baleia Azul pode conduzir ao suicídio de adolescentes que
se encontram vulneráveis.
Em
que consiste o jogo?
O
jogo Baleia Azul – ou Siniy Kit, como é conhecido em russo ou Blue Whale, em
inglês – é composto por um total de 50 desafios diários, e que deve, portanto,
ser completado no final de 50 dias. Cada desafio é enviado diariamente por um
“curador” ou “administrador” que pede provas (como fotografias ou vídeo) de que
o desafio foi cumprido na íntegra pelos jogadores que são, por norma,
adolescentes com problemas de depressão ou isolamento. Uma das premissas do
jogo é que se deve jogar até ao fim, sem desistências e sem contar a ninguém.
Este jogo acaba por ser, na realidade, um incentivo ao suicídio, já que grande
parte dos desafios envolve automutilação e o último desafio é “Tira a tua
própria vida”.
O
nome “Baleia Azul” vem de um dos desafios – em que é pedido ao jogador que se
mutile e desenhe uma baleia azul no braço – com base na crença de que as
baleias azuis (os animais) dão à costa voluntariamente com o intuito de
perderem a vida.
Que
desafios são estes?
Apesar
de alguns desafios serem simples ou até inócuos, a maior parte dos desafios
está relacionada com a automutilação. O primeiro desafio é “Com uma navalha,
escreve ‘F57’ na mão e envia uma fotografia para o curador”. Um dos desafios
mais simples pede que seja partilhado nas páginas da rede social russa
VKontakte (VK) a hashtag “#i_am_whale”; outro pede que se passe o dia
sem falar com ninguém e, noutra, é sugerido que encontre alguém que também
esteja a participar no jogo. Já vários outros desafios pedem que a pessoa se
mutile repetidamente ou que suba a telhados ou pontes para se sentar na borda
e, por fim, que tire a própria vida. Confira, em baixo, alguns dos desafios:
2.
Vê filmes de terror ou psicadélicos às 04h20 da manhã. Têm de ser filmes
indicados pelo curador que depois vai fazer perguntas para confirmar que viste
mesmo.
14.
Corta o teu lábio.
15.
Fura a tua mão com uma agulha muitas vezes.
25.
Reunião com uma baleia azul que o curador te vai indicar.
26.
O curador vai indicar a data da tua morte e vais aceitar.
27.
Acorda às 04h20 e vai a um caminho-de-ferro.
50.
Tira a tua própria vida.
Como
se joga?
O
Baleia Azul é jogado sobretudo na famosa rede social russa VKontakte; noutros
países, o fenómeno tem-se propagado por outras redes sociais. Alguns
adolescentes são “identificados” pelos curadores através do uso de determinadas hashtags ou
por fazerem parte de certos grupos nas redes sociais (como grupos sobre
depressão ou suicídio). Depois de serem contactados por esse “administrador” ou
por se voluntariarem a jogar, o jogador recebe um desafio diário que deve ser
cumprido e registado.
Quem
são os “curadores”?
Os
"curadores" são as pessoas responsáveis por introduzirem os jogadores
– a maior parte jovens – nos desafios Baleia Azul. Todos os dias enviam
mensagens com o desafio do dia e asseguram-se, pedindo fotografias ou vídeos
como prova, de que os desafios foram cumpridos. Os curadores dizem ter em sua
posse todas as informações do jogador, como o local de residência e quem são os
seus familiares, informações essas que são usadas como ameaça no caso de o
jogador querer desistir.
Em
Novembro do ano passado, Filipp Budeikin, de 21 anos, foi detido por suspeitas
de ser um destes curadores e incentivar o suicídio entre os jovens. Ainda está
a aguardar julgamento.
Como
surgiu o fenómeno?
Este
fenómeno começou em 2016 e presume-se que tenha começado na Rússia, através da
rede social mais utilizada no país, VKontakte. A Rússia é um dos países com a
taxa mais elevada de suicídios entre a população jovem.
Há
registo de vítimas?
De
acordo com uma notícia publicada no jornal russo Novaia Gazeta, este jogo
pode ter causado 130 suicídios na Rússia entre Novembro de 2015 e Abril de
2016. Ainda assim, muitos suicídios não têm qualquer relação comprovada entre a
morte auto-induzida e o facto de terem aceitado fazer parte do jogo Baleia Azul.
Mesmo que os dois fenómenos estejam directamente relacionados, importa referir
que os casos de suicídio podem ter partido de pessoas que se encontravam
fragilizadas ou já tinham a ideia de se suicidarem em mente, tendo o jogo
funcionado como um contributo ou um estímulo.
Mais
recentemente, na Colômbia, a polícia terá detectado que uns 3200 jovens com
perfil no Facebook terão participado no jogo. No Brasil foram noticiadas
dezenas de suicídios cometidos por adolescentes com ligações à participação no
jogo Baleia Azul.
Já
há casos registados em Portugal?
Sim. Uma jovem no Algarve atirou-se de um viaduto em Albufeira,
na sequência da sua participação no jogo Baleia Azul. A jovem ficou ferida mas
não morreu. A PSP confirmou ter tido conhecimento de outros dois casos, e
garante que está a “monitorizar” o fenómeno, “tendo em conta as recentes
notícias da adesão de crianças e jovens” ao jogo.
Também
em Espanha uma menor deu entrada nas urgências de um hospital em Barcelona.
Numa mensagem publicada no Twitter, as autoridades espanholas admitem ter
conhecimento de casos, “ainda que isolados” de jovens que praticaram actos relacionados
com o jogo.
O
que fazer para detectar e evitar estes casos?
Alguns
dos desafios propostos no jogo podem ter resultados visíveis e detectáveis. Os
golpes feitos por navalhas ou lâminas nos braços e nas mãos, assim como um
corte com a palavra “sim” na coxa direita são alguns destes exemplos. Também a
saída de casa por volta das 04h20 da manhã ou a publicação nas redes sociais da hashtag “#i_am_whale”
podem indiciar que a pessoa se encontra dentro do jogo suicidário.
Segundo
recomendações da PSP, os pais são aconselhados a “manterem-se informados
relativamente ao jogo e a alertar crianças e jovens para as suas implicações”,
bem como a aumentarem a supervisão das actividades dos filhos na Internet e nas
redes sociais. “Importa ainda que os pais alertem as crianças sobre os riscos
de adicionar desconhecidos e recomendem que apenas a família, amigos e pessoas
da escola façam parte da lista de amizades nas redes sociais”, acrescenta a
PSP.
Há
ainda alguns sinais de alerta gerais, indicados pela Sociedade Portuguesa de Suicidologia (SPS), de que alguém
possa estar
a pensar cometer suicídio: comentários acerca da morte ou suicídio, a
preparação de documentos, o oferecimento de objectos pessoais de valor
sentimental elevado ou a escrita de cartas a amigos ou familiares. “O nível de
energia é também um factor importante a ter em conta”, lê-se no site da SPS, já
que é na fase de remissão da depressão que o risco de suicídio aumenta. Há
ainda outros sinais de risco exteriores como a sensação de desesperança,
ansiedade intensa, autodesprezo, apatia, tristeza intensa, comportamento impulsivo
e mudanças rápidas de humor”.
A
quem posso pedir ajuda?
A
Sociedade Portuguesa de Suicidologia recomenda que a pessoa que esteja a contemplar o suicídio seja
sempre ouvida e acompanhada. Existem ainda várias linhas de ajuda e apoio sobre
o suicídio em Portugal e na Europa:
SOS
– Serviço Nacional de Socorro: 112
SOS
Voz Amiga (entre as 16 e as 24h00):
21
354 45 45
91
280 26 69
96
352 46 60
SOS
Telefone Amigo: 239 72 10 10
Telefone
da Amizade: 22 832 35 35
Escutar
- Voz de Apoio – Gaia: 22 550 60 70
SOS
Estudante (20h00 à 1h00): 808 200 204
Cláudia
Carvalho Silva | Público
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