David
Pontes* | Jornal de Notícias | opinião
Eu,
crente na Fórmula 1, me confesso, caro patrão, e por isso lhe peço, pelas
alminhas, pelo respeito que tenho a José Manuel Fangio e a Graham Hill, que me
dê uma folga na sexta-feira, dia 12 de maio, para que eu possa chegar sem
sobressaltos a Barcelona, onde no domingo vai decorrer o quinto grande prémio
da temporada.
Pense
em todos nós, amantes da velocidade, que temos uma igreja (o Estoril) sem
missa, desde que em 1996 o "grande circo" nos abandonou. Imagine o
que é nunca poder presenciar ao vivo aquele que é o maior interesse da minha
vida e siga o exemplo de António Costa, que diz que não é crente, mas respeita
"as crenças dos outros".
Eu
bem sei que a Fórmula 1 não se pode comparar com a fé católica, que é uma coisa
bem mais séria que carros às voltinhas, embora eu tenha para mim que algumas
coisas que o Ayrton Senna fazia na chuva eram verdadeiros milagres. Se
pensarmos bem, a Fórmula 1 nem sequer se pode comparar com o futebol que, a par
de Fátima, é um dos "efes" da troika, dos "efes" que se
mantêm bem vivos em Portugal.
E,
se pensarmos melhor, o terceiro "efe", agora, deve ser o da Função
Pública. Para eles, há tolerância de ponto e nem sequer o Bloco de Esquerda,
normalmente tão afoito nestas coisas da laicidade, da separação do Estado e da
Igreja, levantou a voz contra esta benesse dada pelo Governo.
Se
me der folga (entre nós, não precisamos de usar essa expressão enganadora da
"tolerância de ponto"), só a empresa é que sai um bocadinho
prejudicada e nem muito, porque já sei que na segunda-feira vou ter de
trabalhar a dobrar. Já com a Função Pública, mesmo que eles não sejam todos
católicos, é certo que, nas palavras do primeiro-ministro, vão todos desejar
"participar na visita do Papa Francisco a Portugal". Por isso, pelo
menos as aulas já foram à vida. E lá vão andar os pais, que não são
funcionários do Estado, à nora para encontrar um lugar para os miúdos ficarem.
Patrão,
siga o exemplo de António Costa, que mesmo sabendo que já está tudo esgotado há
meses em Fátima, sinal de que milhares planearam atempadamente a sua ida, foi
generoso com os seus funcionários para permitir que "diminuam as condições
de congestionamento". Eu bem sei que não vou poder recompensá-lo um dia
com o meu voto, que isto aqui na empresa não é uma democracia, mas fique certo
que se me deixar ir à Formula 1, no dia 12, eu ficarei eternamente grato.
*Subdiretor
Sem comentários:
Enviar um comentário