Boa
tarde. Bom resto de dia. Oxalá que tenham almoçado, e bem. Esta é a abertura do
Expresso Curto que nos chega de manhã mas que por razões várias publicamos só à
tarde. Por aqui estamos a concluir que os dias são curtos nas suas 24 horas. Queremos
dias com 30 horas ou mais. Por favor.
O
senhor Guerreiro é quem serve a cafeína do Expresso que aqui vai tendo lugar…
até que a morte nos separe? Pois. Quem sabe se assim não será? Adiante. Hoje é
dia de abrir com os despedimentos Trump. Lana caprina mas que se calhar vende,
vai daí os média não fazem outra coisa durante as horas curtas do dia. Tá bem.
Lá por isso não pense que este Curto não vale ler. Vale sempre, desde que se dê
uso à engrenagem que vai do occipital ao frontal. Pois.
Depois
da seca Trump, FBI e etc., será de bom-tom fazer notar a greve dos médicos. Pois.
Querem melhores condições de trabalho, de atendimento no SNS, e mais daquilo
com que se compram os melões. O pilim. Pois. Entretento os que recorreram aos
serviços médicos deram com a cara na porta. E há enfermeiros também em greve,
por solidariedade e zelo. Cartel. Fixe. Pelo que corre, o governo negociou com
os médicos para evitar esta greve… mas não negociou. Foi um encontro muito
acertivo que tiveram já lá vão uns dias mas satisfazer as exigências dos
profissionais de saúde é que não pode ser nada. Truz. Toma lá Zé Povinho que já
te tramaste. Pois. Hospitais e coisa e tal, nicles. Leia mais e melhores
esclarecimentos pela pena do senhor Guerreiro do Curto.
Para
acabar, fora do esquema: ontem, numa repartição de finanças, um senhor da GNR
cortou o oxigénio que devia ir ao cérebro de um contribuinte que estava a
reclamar (não se sabe bem o quê). Vai daí o tal GNR, que vestia à civil e também
estava a ser usuário dos serviços do saca-saca aos pagantes destas rebaldarias
dos bancos, banqueiros, políticos e afins… essa tal coisa a que chamam Finanças,
pronto. Dizia, o GNR fez um truque com um nome de leão no reclamante que num ápice
o pôs inconsciente e assim perdeu o pio. Plim. Gravado e mostrado em vídeo. Mau.
Muito mau espetáculo. O que se pergunta é porque não foi algum dos funcionários
das Finanças a chamar a PSP se o contribuinte em questão estava a ser incorreto e inconveniente. E se não era nada demais aquela reclamação ou protesto
porque foi o GNR fazer o que fez na sua intervenção. Intervenção que dá para
perceber pela voz (no vídeo) que o deixou muito satisfeito, assim como que a
exultar que tivera ali a oportunidade de brilhar fechando a “torneira” do oxigénio
ao protestante. Provavelmente nunca tinha experimentado fazer aquilo e pensou: “olha,
olha, isto até resulta!” Que felicidade!
Ficamos
combalidos por saber que há agentes de autoridade a atirar para o esquisito,
que provavelmente andam mal das cucas ou usam-nas de modo muito afastado
daquilo que deviam naquela dificil profissão. E depois, senhores, porquê a
intervenção dele sem que a solicitassem? E porque não chamaram a PSP? Certo que
não se sabem todos os pormenores mas que só pela voz do GNR se percebe que ele
estava mesmo feliz, isso sem dúvida. Quem sabe dessas coisas de som sabe que até
havia um ligeiro sorriso na saída da cavidade bocal do sujeito. Feliz porquê?
Acabemos.
O resto já sabe. O tal reclamante saiu com termo de identidade e residência e
ao GNR esperam-no dois inquéritos. Só por ironia: por castigo deviam também incluir uns cortes
na torneira do oxigénio que vai para o cérebro do GNR. E deviam ser em modo self-service.
Para ver se gostaria. E para ver o tal sorriso prazenteiro que se adivinhou. Fosse
como fosse, o que vimos… Não havia “nexexidade…” Foi mais uma exibição de um
exibicionista. Mais isso que outra coisa. Quanto ao reclamante, pelo visto, talvez
tenha sido um bocado calhau. E quando dois calhaus se encontram acontece faísca.
Pena.
Siga
para bingo… Raios, siga para o Curto. Fique bem, com a torneira aberta, para
ler e entender. Ler e pensar, sobretudo.
MM
| PG
Bom
dia, este é o seu Expresso Curto
Pedro
Santos Guerreiro | Expresso
Despedir
a torto e a direito
Não
há dia de Expresso Curto sem cantinho Donald Trump. É assim há meses.
Muitas vezes, o cantinho é a abertura. Pela importância do que ele faz. E do
que ele desfaz.
Trump demitiu o diretor do FBI. A razão invocada foi a forma como James Comey conduziu a investigação aos emails de Hillary Clinton durante a campanha para as presidenciais norte-americanas. Só que, como escreve o New York Times, este pode ser apenas um pretexto.
Trump tinha começado por manter Comey no FBI, quando tomou posse como Presidente. Mas o diretor do FBI estava a investigar o eventual envolvimento de membros da campanha de Donald Trump com a Rússia para influenciar o resultado das últimas eleições. “Se for verdade, isto é preocupante”, escreve Christine Wang, na CNBC. “Isto é nixoniano”, afirmou o senador democrata Bob Casey. As comparações entre os dois Presidentes, Trump e Nixon, é recorrente, precisamente pelas semelhanças das suspeitas e do comportamento que existem entre as suspeitas de conluio através de operações secretas com a Rússia e o caso Watergate.
O afastamento de pessoas de cargos-chave tem sido constante com Trump. A primeira pessoa que afastou foi Sally Yates, procuradora-geral interina, por se ter recusado a fazer aplicar o primeiro decreto anti-imigração por ele promulgado, que visava impedir a entrada nos Estados Unidos de refugiados e imigrantes de sete países de maioria muçulmana, recorda o Expresso Diário.
O processo sobre suspeitas de manipulação na campanha eleitoral do ano passado estão a passar por audições na Câmara dos Representantes, que têm decorrido sem grandes fugas de informação para a comunicação social. Incluindo a de James Comey, que teve lugar na semana passada, e de Sally Yates, já esta semana, que, como escreveu uma colunista do Washington Post citada pela Joana Azevedo Viana, “atirou a Casa Branca para debaixo do autocarro”.
Como escreveu Amanda Carpenter, da CNN, no Twitter, “se Trump pensava que estava com problemas com fugas [de informação], ele que espere. Ele despediu abruptamente o líder a quem muita malta do FBI é leal. O ricochete está a vir”.
Trump demitiu o diretor do FBI. A razão invocada foi a forma como James Comey conduziu a investigação aos emails de Hillary Clinton durante a campanha para as presidenciais norte-americanas. Só que, como escreve o New York Times, este pode ser apenas um pretexto.
Trump tinha começado por manter Comey no FBI, quando tomou posse como Presidente. Mas o diretor do FBI estava a investigar o eventual envolvimento de membros da campanha de Donald Trump com a Rússia para influenciar o resultado das últimas eleições. “Se for verdade, isto é preocupante”, escreve Christine Wang, na CNBC. “Isto é nixoniano”, afirmou o senador democrata Bob Casey. As comparações entre os dois Presidentes, Trump e Nixon, é recorrente, precisamente pelas semelhanças das suspeitas e do comportamento que existem entre as suspeitas de conluio através de operações secretas com a Rússia e o caso Watergate.
O afastamento de pessoas de cargos-chave tem sido constante com Trump. A primeira pessoa que afastou foi Sally Yates, procuradora-geral interina, por se ter recusado a fazer aplicar o primeiro decreto anti-imigração por ele promulgado, que visava impedir a entrada nos Estados Unidos de refugiados e imigrantes de sete países de maioria muçulmana, recorda o Expresso Diário.
O processo sobre suspeitas de manipulação na campanha eleitoral do ano passado estão a passar por audições na Câmara dos Representantes, que têm decorrido sem grandes fugas de informação para a comunicação social. Incluindo a de James Comey, que teve lugar na semana passada, e de Sally Yates, já esta semana, que, como escreveu uma colunista do Washington Post citada pela Joana Azevedo Viana, “atirou a Casa Branca para debaixo do autocarro”.
Como escreveu Amanda Carpenter, da CNN, no Twitter, “se Trump pensava que estava com problemas com fugas [de informação], ele que espere. Ele despediu abruptamente o líder a quem muita malta do FBI é leal. O ricochete está a vir”.
OUTRAS
NOTÍCIAS
Os hospitais e os centros de saúde estão, a partir de hoje, cinco dias
praticamente em serviços mínimos, frisa o Público. É o que resulta de dois dias de greve, um de tolerância de ponto e o
fim-de-semana. “Vão ser precisos dois meses para recuperar da greve dos médicos
e da tolerância de ponto”, aponta o título da notícia. As urgências continuam a
ser respondidas e alguns tratamentos, como oncologia e transplantes, cumpridos,
mas ficarão por fazer consultas e cirurgias. As principais reivindicações dos
sindicatos médicos para esta greve são o trabalho extraordinário obrigatório
para os médicos, o tempo dedicado às urgências e o número de doentes por médico
de família.
Os enfermeiros associados da Federação Nacional dos Sindicatos de Enfermeiros (Fense) começaram hoje uma greve de zelo por tempo indeterminado, protesto que conta com o apoio da Ordem que representa estes profissionais.
Avanços na investigação médica. Saiba como uma espécie de saco de plástico pode ser a nova esperança para bebés prematuros.
Na política, continuam a apanhar-se os cacos da aliança partida entre Rui Moreira e o Partido Socialista, que levou a que Manuel Pizarro, braço direito de Moreira nos últimos quatro anos, passasse a ser o braço esquerdo do PS no Porto, assumindo a candidatura do partido à Câmara Municipal nas eleições marcadas para outubro. No Expresso Diário, Daniel Oliveira escreve que “Manuel Pizarro está numa situação impossível: é o candidato a presidente que, graças a um desentendimento entre Rui Moreira e o PS nacional, não pôde ser, como queria, apenas candidato a vereador”.
António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa juntos como é frequente, desta vez em público como é raro: o Presidente da República e o primeiro-ministro falaram ontem num debate na Faculdade de Direito de Lisboa. Marcelo diz que o primeiro-ministro consegue ver um "sol ridente" todos os dias, mesmo quando chove; António Costa dissera antes que seria prudente, para que o seu otimismo não irritasse o chefe de Estado. Uma amena cavaqueira.
(E Marcelo afirmou pensar voltar a ensinar direito até aos 80 anos)
A assembleia-geral da Associação Mutualista Montepio aprovou ontem à noite, por larga maioria, os novos estatutos da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG), de modo a que o banco possa avançar para a transformação em Sociedade Anónima, um passo para a abertura de capital da instituição que até aqui foi controlada pela totalidade pela Mutualista. O processo iniciara-se em 2015 e levantou várias polémicas, podendo agora anteceder a entrada de acionistas do setor social, como a Santa Casa da Misericórdia. Essa abertura do capital serve para acalmar as perspetivas de aumento de capital da instituição, cuja relação com a Mutualista tem levantado dúvidas. No primeiro trimestre do ano, o Montepio perdeu 876 milhões de depósitos, conta o Negócios. Mas o banco lucrou 11,1 milhões de euros no primeiro trimestre deste ano, face a prejuízos de 19,8 milhões de euros no mesmo período de 2016.
Enquanto no banco a situação se tranquiliza, na Mutualista é preciso mudanças, defendeu à entrada da reunião Eugénio Rosa, membro do conselho geral de supervisão da Caixa. "A continuação do atual presidente contamina todo o Montepio. O presidente da associação, com os processos que tem, não dá dignidade ao Montepio. Devia afastar-se”. Tomás Correia, recorde-se, é arguido em processos do Banco de Portugal.
Já não andamos tão sedentos de boas notícias como noutros tempos, mas continuamos esfomeados de investimento. Pois bem, a Mercedes apresentou ontem um novo centro digital para as suas operações internacionais, que vai recrutar serviços de engenharia portuguesa.
A Autoridade da Concorrência recebe hoje a grande Conferência Anual da Rede Internacional de Concorrência, no Porto. Estarão reunidos reguladores e organizações internacionais de 120 países, com mais de 600 participantes. A poderosa comissária europeia da Concorrência, Margrethe Vestager, encerra o primeiro dia. Haverá notícias.
As obrigações do Tesouro português têm surpreendido pela positiva, avalia o Negócios. Segundo analistas ouvidos pelo jornal, mais descidas das taxas dependem agora de sinais favoráveis das agências "rating".
Termina hoje a Oferta Pública de Venda (OPV) de 5% do capital da TAP, cumprindo o compromisso da privatização, que reservou este pedaço da empresa a trabalhadores. A procura era ontem cinco vezes superior à oferta, o que sugere um rateio de pelo menos 20%. Como escreve o Eco, os funcionários da TAP fizeram "overbooking".
O telemóvel é uma arma… de defesa. Um utente da repartição de Finanças do Montijo foi ontem agredido por um militar da GNR, quando se queixava do serviço. O militar estava à civil. O homem de 26 anos foi asfixiado até perder a consciência e depois foi detido. O momento ficou registado pelo seu próprio, em direto no Facebook. E as imagens, que podem chocar, estão em todo o lado. O homem agredido vai responder a tribunal.
José Júlio Pereira Gomes será o novo secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa, organismo que depende diretamente do gabinete do primeiro-ministro. O atual embaixador português em Estocolmo irá substituir Júlio Pereira. Como apurou a Luísa Meireles, “o nome do novo chefe das secretas já tinha sido escolhido há alguns meses, mas só agora foi decidido torná-lo público, em vésperas da visita do Papa”.
No desporto, o Correio da Manhã garante que Jorge Jesus confidenciou a amigos que, depois das declarações críticas de Bruno de Carvalho no final da derrota do Sporting contra o Belenenses, já nada o prende ao Sporting. (Talvez quatro milhões de euros de salário anual, dizemos nós…)
A Juventus venceu o Mónaco por 2-1 e, dois anos depois, está de novo na final da Champions. Como escreve o Pedro Candeias na crónica do jogo, citando Mike Tyson, “toda a gente tem um bom plano, até levar um murro na cara”.
Miguel Poiares Maduro foi afastado do Comité de Governação da FIFA. Ao ECO, o ex-ministro de Passos Coelho denuncia que ali sofreu mais pressões do que nunca. “A FIFA não está preparada para uma instituição independente”
“Quem pode bater Cristiano Ronaldo?” Para a “France Football”, dificilmente a Bola de Ouro fugirá ao jogador português.
Quem pode bater Salvador Sobral? O cantor português foi ontem apurado para a final do festival da Eurovisão, a realizar este sábado.
Sábado é dia semanal de descanso. Este sábado é 13 de maio e não haverá descanso. Papa em Fátima. Benfica possível campeão nacional de futebol. Salvador Sobral na final da Eurovisão.
Haverá “alguma alterações de pormenor” no plano da polícia para evitar problemas na festa do Benfica, que se prepara para festejar a conquista de mais um campeonato. E enquanto a PSP prepara mais uma operação no Marquês, a GNR organiza a segurança, juntamente com outras forças policiais e o Exército, no maior evento dos últimos anos em Portugal: a visita do Papa Francisco a Fátima.
“O mundo precisa de um Papa?” A pergunta (e a resposta) é colocada por José Tolentino Mendonça, que pode ler aqui. “O mundo pode amar o Papa Bergoglio por muitas razões, é verdade. Mas talvez a mais decisiva, a que mais nos comove e transforma, é sentirmos ao escutá-lo que estamos a escutar um pai.”
FRASES
“As pessoas não saem à rua por uma décima do PIB”, António Costa, citado no Público.
“Por muito que culpe o Secretariado do PS, [Rui Moreira] é o autor material da mais exemplar defenestração política dos últimos tempos em Portugal.” Manuel Carvalho, referindo-se a Manuel Pizarro, agora candidato do PS na Câmara do Porto, no Público.
“A tolerância de ponto é uma benesse. Neste caso, entre públicos e privados, desigual. Neste caso, entre crentes e não crentes, absurda.” Miguel Guedes, no Jornal de Notícias.
“Se o capitalismo tem sobrevivido em todo o tipo de regimes políticos, a democracia tem florescido sobretudo em economias de mercado”. Maria de Lurdes Rodrigues, no Diário de Notícias.
O QUE EU ANDO A LER
“Escrever
é moral em ação”. Batista-Bastos morreu ontem, aos 83 anos, deixando uma vasta obra publicada.
O Rui Cardoso, editor de internacional do Expresso, que o conheceu no espaço mais íntimo do jornalismo, a redação, escreveu-lhe ontem uma carta de despedida:
“E havia o Baptista-Bastos, claro. Sempre impecavelmente vestido, dava-se por ele quando entrava na redação, até porque raramente era o primeiro a fazê-lo. Com voz de trovão, elevando-se acima do matraquear das máquinas de escrever e de dúzias de conversas em voz alta ao telefone, lançava um tonitruante “bom dia camaradas” que às vezes, ao sabor das indisposições e dos ódios de estimação, evoluía para fórmulas das quais a única publicável era ‘bom dia a todos menos a um’. (…)
(…) Bastos, com obra publicada, escrevia primorosamente e não tolerava tiques de escrita, modismos ou prosas escritas à pressa. Muito menos cacofonias, erros de sintaxe ou de ortografia. Ainda não se sonhava com acordo ortográfico e já ele berrava a plenos pulmões: ‘Isto não é escrever por sons, senão samarra escrevia-se com c cedilhado’.”
Irei escrever mais longamente sobre o BB, de quem me tornei amigo já ele entrava nos setentas e publicava crónicas semanais no Jornal de Negócios, que sempre foram “o que eu ando a ler”. Como li vários dos seus livros, crónicas e romances, incluindo “O Cavalo a Tinta da China”, “As Bicicletas em Setembro” e “O Secreto Adeus”.
“Desejo fazer ouvir a voz pessoal, por vezes tão veemente que poderá ser interpretada como injusta, mas conferindo-lhe sempre um ideal de justiça. Como atribuo às palavras um valor interior e impositivo, reajo, com elas, às minhas indignações e cóleras. (…) Não há nestas páginas qualquer intenção moralista; sim, e antes de tudo, a procura de uma moral individual, para me ajudar a ser um homem livre. Nos jornais e nos livros, a ambição tem sido a de exigir respeito e compaixão pela condição humana”.
E lá ia ele, passada larga, rindo e exclamando, exclamando sempre muito.
Tenha um bom dia. Nós estamos aqui, todo o dia, todos os dias.
O Rui Cardoso, editor de internacional do Expresso, que o conheceu no espaço mais íntimo do jornalismo, a redação, escreveu-lhe ontem uma carta de despedida:
“E havia o Baptista-Bastos, claro. Sempre impecavelmente vestido, dava-se por ele quando entrava na redação, até porque raramente era o primeiro a fazê-lo. Com voz de trovão, elevando-se acima do matraquear das máquinas de escrever e de dúzias de conversas em voz alta ao telefone, lançava um tonitruante “bom dia camaradas” que às vezes, ao sabor das indisposições e dos ódios de estimação, evoluía para fórmulas das quais a única publicável era ‘bom dia a todos menos a um’. (…)
(…) Bastos, com obra publicada, escrevia primorosamente e não tolerava tiques de escrita, modismos ou prosas escritas à pressa. Muito menos cacofonias, erros de sintaxe ou de ortografia. Ainda não se sonhava com acordo ortográfico e já ele berrava a plenos pulmões: ‘Isto não é escrever por sons, senão samarra escrevia-se com c cedilhado’.”
Irei escrever mais longamente sobre o BB, de quem me tornei amigo já ele entrava nos setentas e publicava crónicas semanais no Jornal de Negócios, que sempre foram “o que eu ando a ler”. Como li vários dos seus livros, crónicas e romances, incluindo “O Cavalo a Tinta da China”, “As Bicicletas em Setembro” e “O Secreto Adeus”.
“Desejo fazer ouvir a voz pessoal, por vezes tão veemente que poderá ser interpretada como injusta, mas conferindo-lhe sempre um ideal de justiça. Como atribuo às palavras um valor interior e impositivo, reajo, com elas, às minhas indignações e cóleras. (…) Não há nestas páginas qualquer intenção moralista; sim, e antes de tudo, a procura de uma moral individual, para me ajudar a ser um homem livre. Nos jornais e nos livros, a ambição tem sido a de exigir respeito e compaixão pela condição humana”.
E lá ia ele, passada larga, rindo e exclamando, exclamando sempre muito.
Tenha um bom dia. Nós estamos aqui, todo o dia, todos os dias.
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