Ana
Alexandra Gonçalves*
Aparentemente
revoltado com o que se passou no país, o ex-primeiro-ministro enfatizou o
falhanço do Estado, um falhanço que persiste, tanto mais que ele próprio teria
conhecimento de suicídios "por falta de apoio psicológico em
Pedrógão". É certo que imediatamente tanto o Presidente da Câmara de
Pedrógão Grande como o Presidente da Administração Regional de Saúde vieram a
público negar qualquer suicídio, mas isso não afectará quem, num desespero
indisfarçável, procura retirar dividendos da desgraça
No
entanto e como choveram críticas à precipitação de Passos Coelho, veio o
Provedor da Santa Casa da Misericórdia dar o corpo ao manifesto, pedindo
desculpas por ter induzido Passos em erro. E assim se esperaria que o infeliz
assunto ficasse por aí: uma também infeliz sucessão de equívocos. Não ficou e
Passos Coelho viu-se obrigado a pedir desculpa. A desculpa prende-se com a não
confirmação da informação e não pelo abjecto aproveitamento político de uma
desgraça sem precedentes.
O
recurso aos instrumentos mais vis não podem propriamente surpreender, este foi
afinal de contas o primeiro-ministro que não pestanejou quando infligiu doses cavalares
de austeridade nos cidadãos, não deixando de fora as camadas mais frágeis da
sociedade. Este foi o primeiro-ministro que fez a defesa dessa dor até há bem
pouco tempo, contendo-se mais nos últimos meses, confrontado com o falhanço
daquilo que tanto apregoou.
Agora,
órfão de Diabo e despido de argumentação que valide qualquer espécie de
oposição, Passos Coelho deixa-se mergulhar no vale tudo. E vale mesmo tudo
quando se inventa ou se espalha boatos com a gravidade daquela em apreço - a
que postula casos de suicídio, por falta de apoio psicológico. Mesmo tendo em
conta que se trata de Passos Coelho, não deixa de haver alguma inquietação por
estas palavras terem saído de alguém que foi primeiro-ministro e que ainda se
propõe chegar ao cargo.
Para
aqueles que tinham dúvidas quanto ao carácter de Passos Coelho, estas terão,
seguramente, ficado desfeitas depois de um exercício ignóbil de aproveitamento
político, com recurso ao desprezo pela dor alheia, espalhando informações sem
qualquer fundamento.
Se
dúvidas existem sobre as qualidades de Passos Coelho para desempenhar as mais
altas funções de representação política, elas ficaram desfeitas perante o vale
tudo para atingir os seus intentos - para garantir uma sobrevivência política
em que só ele próprio e meia-dúzia de apaniguados acreditam.
*
Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão | Título com alteração parcial no PG
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