Díli,
13 out (Lusa) -- A violência de género e de grupos de artes marciais são os
maiores focos de conflito em Timor-Leste, país que apesar de jovem é mais
pacífico do que "países com muito mais experiência" democrática,
segundo um relatório.
O
relatório "O estado da violência na Ásia", da Asia Foundation,
analisa tendências históricas e atuais em 14 nações da Ásia, entre as quais
Timor-Leste, considerando que o padrão de crescimento económico e urbanização
poderão levar a um aumento de conflito e violência na região.
"Intrigantemente,
Timor-Leste e a Mongólia são duas democracias que são mais pacíficas do que
países como muito mais experiência na governação democrática", lê-se num
dos artigos de análise do estudo, assinado pelos académicos Sana Jaffrey e Dan
Slater.
A
violência doméstica ou de género, refere o relatório, mata mais mulheres do que
conflitos armados e, por isso, "deveria ter mais atenção dos legisladores,
governantes e da comunidade internacional".
Em
Timor-Leste, nota o estudo, "14% de todas as mulheres entre os 15 e os 49
reportam ter sido violadas" e o país tem a segunda maior taxa de abuso
infantil na região.
Em
termos gerais, Díli continua a ser o local onde se registam mais incidentes
violentos, com o estudo a citar dados da Belun que refere que entre 2014 e 2016
se registaram mais de mil incidentes violentos, cerca de um terço do total que
ocorreram no país.
"Uma
ampla gama de fatores torna Díli vulnerável ao crime e à violência urbana, incluindo
a rápida migração rural para a cidade, o desemprego juvenil, o crescimento de
gangues", refere o estudo.
Segundo
o estudo, o "número de migrantes em Díli aumentou de 68.887 em 2004 para
94.349 em 2010" sendo a maioria jovens "que se mudaram para a capital
à procura de melhores perspetivas de educação e emprego".
"Com
a maioria da população com menos de 30 anos, o desemprego juvenil é um problema
sério. O recenseamento de 2010 registou uma taxa de desemprego de 40,2% para
jovens urbanos, em comparação com 22,8% para jovens rurais", nota o estudo.
O
estudo refere que a terra e o acesso aos recursos são "os principais
fatores do conflito comunal" com as disputas a causarem fricção e
violência em Timor-Leste.
Prevalente
em Timor-Leste é também a violência entre grupos de artes marciais (GAM),
problema que o Estado timorense tem vindo a combater nos últimos anos e que
acaba por afetar várias zonas da capital, Díli, e de outras cidades.
Em
alguns casos, a presença dominante de jovens ligados a um GAM numa certa aldeia
em Díli, por exemplo, acaba por ser usada como 'arma' em conflitos com outras
aldeias vizinhas.
"O
que às vezes parece ser um choque de gangues ou de GAM é muitas vezes uma
disputa comunitária entre aldeias, uma vez que cada comunidade mobiliza os seus
jovens para defender seu território. Este foi o padrão de incidentes violentos
em Díli", refere o estudo.
Em
alguns casos "os conflitos entre famílias nos distritos rurais espalham-se
para Díli" onde residem familiares ou vizinhos da mesma zona, levando
muitas vezes a crescentes ciclos de "violência em retaliação".
As
autoridades timorenses identificam cinco grupos de artes marciais ativos -
PSHT, Kera Sakti, Korka, Kolimau e 77 - como sendo os que estão envolvidos no
maior número de incidentes na capital timorense.
Análises
da própria Asia Foundation, de 2015, apontam as disputas de terras como uma das
principais ameaças à segurança das comunidades locais, com a organização Belun
a registar 130 casos de incidentes envolvendo o uso de terra no ano passado.
ASP
// FPA
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