sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A MALDIÇÃO DOS SEGUNDOS

Marino Boeira* | opinião

O segundo é sempre um perigo para o primeiro. É o caso do Temer, um sujeito que nasceu para ser o segundo, mas que, na falta de alguém melhor, os golpistas o transformaram em primeiro.

Historicamente, o segundo é quase sempre a negação das qualidades do primeiro. Veja-se outro segundo na história do Brasil, Café Filho.

João Fernandes Campos Café Filho (1899/1970), um político com expressão apenas no seu Estado, o Rio Grande do Norte, em 1950 foi imposto por Adhemar de Barros, governador de São Paulo,como candidato a vice-presidente de Getúlio Vargas.

Getúlio aceitou a contra gosto porque essa era a condição para receber o apoio   de Adhemar, mas nunca confiou no seu vice.

Em 1954, viu confirmada sua suspeita, quando Café se aliou aos golpistas da Aeronáutica e do Exército que levaram Getúlio ao suicídio.

Foi presidente de agosto de 54 de novembro de 55, quando ao apoiar os que pretendiam impedir a posse de Juscelino, foi afastado do poder por um movimento liderado pelo general Teixeira Lott.

No mundo, o caso mais famoso foi o de Harry Truman, vice de Franklin Delano Roosevelt.

Fazendeiro do Missouri, Truman, político medíocre, assumiu a presidência dos Estados Unidos com a morte de Roosevelt, em abril de 45, apenas três meses depois dele iniciar seu quarto mandato

Como presidente, Truman foi responsável direto pelo início da Guerra Fria, que pôs fim as esperanças de paz no mundo, costurada pelos líderes das grandes potências (Estados Unidos, União Soviética e Inglaterra) na conferência de Postdan e iniciou o período de intervenções militares dos Estados Unidos no mundo inteiro.

Seu maior crime foi ter ordenado, em agosto de 45, o bombardeio atômico das cidades de Hiroshima e Nagasaki, matando quase meio milhão de pessoas, quando o Japão já estava praticamente derrotado, como forma de intimidação da União Soviética.

O governo de Truman se caracterizou internamente pelo estímulo à paranóia anticomunista e externamente, pela guerra fria com a criação da OTAN, a consolidação da divisão da Alemanha com o chamado Plano Marshall e o início, em 1953, da Guerra da Coréia.

Moral da história é preciso sempre desconfiar dos segundos.

Os generais que deram o golpe de 64 usavam os civis para em cargos menores, mas nunca quiseram dividir o poder com eles.

Em 69, quando Costa e Silva teve um AVC que o impediu de continuar governando o País, impediram que o vice Pedro Aleixo assumisse à Presidência, nomeando uma Junta Militar (os três patetas, segundo Ulysses Guimarães)  - General Lira Tavares, Almirante Augusto Rademaker e Brigadeiro Márcio Melo ( o Melo Maluco) - até que o congresso confirmasse o General Medici como novo Presidente.

Em 85, os militares, já enfraquecidos, tiveram que compor com os políticos conservadores para uma transição que esquecesse seus crimes e escolheram Tancredo Neves para essa missão.

Eleito indiretamente pelo Congresso, Tancredo morreu antes de assumir o Governo e no seu lugar apareceu outro político regional, que durante os anos da ditadura servira com fidelidade o regime militar como presidente da Arena e depois do PDS, os partidos de sustentação do sistema, José Sarney, que o Millor insistia em chamar de Ribamar, nome de batismo, que ele abandonou quando entrou na político.

Sarney viria confirmar mais uma vez a maldição que acompanha os segundos com um governo para ser esquecido.

* Marino Boeira é jornalista, formado em História pela UFRGS | em Pravda.ru

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