Pepe Escobar, Asia Times e The Vineyard of the Saker*
Na sua tradicional conferência com a imprensa em Moscou, já convertida em sua marca registrada, o presidente Vladimir Putin da Rússia mais uma vez ofereceu pérolas seletas de política externa, essenciais para que se compreenda o que há pela frente no turbulento tabuleiro de xadrez geopolítico eurasiano.
Já
se sabe que Putin é candidato às eleições marcadas para 18 de março ("os
candidatos se autoapresentam" e "espero contar com o apoio dos
eleitores"). O Homem no Timão pode, pois, continuar no timão. Assim sendo,
interessa muito acalmar a gritaria. Sentem, relaxem e apenas ouçam.
Sobre
o presidente Trump: "Trump e eu estamos em clima de nos tratar pelo
primeiro nome. "Você", familiarmente. Espero que ele aproveite a
chance para melhorar as relações com a Rússia. Vejam os mercados, como
cresceram. Significa que os investidores confiam na economia dos EUA, o que
significa que confiam no que ele [Donald Trump] está fazendo nesse campo."
Sobre
o [escândalo] Russia-gate: "O que haveria de estranho nisso [em
diplomatas conversarem com funcionários nos países onde os diplomatas vivem]?
Por que essa histeria do 'espião russo'? Quanto a acusações de interferência
dos russos nas eleições presidenciais dos EUA em 2016, Putin disse: "Foram
inventadas por gente interessada em deslegitimar Trump. Esse pessoal não
compreende que estão agredindo o próprio país deles - não estão mostrando
respeito algum pelos norte-americanos que votaram em Trump."
Sobre
trabalhar com Washington: "Rússia e EUA podem trabalhar bem próximos
em várias questões, mesmo sem deixar de considerar as "bem conhecidas
limitações" que Trump enfrenta.
Sobre
a possível retirada dos EUA do Tratado das Forças Nucleares de Médio Alcance: "Ouvimos
sobre os problemas com o Tratado das Forças Nucleares de Médio Alcance.
Aparentemente estão sendo criadas condições e uma campanha de
informação-propaganda está em andamento para uma possível retirada dos EUA,
daquele tratado. Nada há de bom sobre uma retirada dos EUA, que seria altamente
prejudicial para a segurança internacional. Os EUA de fato já deixaram o
Tratado, com a instalação do sistema Aegis, mas a Rússia não vai deixar o
Tratado. Não seremos arrastados para uma corrida armamentista."
Putin
destacou que a defesa da Rússia custou US$46 bilhões/ano. Os EUA planejam
gastar $700 bilhões em 2018.
Sobre
o Ártico: "Visitei [o arquipélago Ártico] Franz Josef Land; há muitos
anos guias estrangeiros, acompanhando grupos de turistas estrangeiros, diziam
que aquelas ilhas 'passaram recentemente' a pertencer à Rússia. Esqueciam que
[Franz Josef Land] é um arquipélago russo, mas cuidamos de fazê-los lembrar, e
no momento está tudo bem. Não devemos esquecer isso. Desenvolver todos aqueles
recursos no Ártico tem de ser feito em sincronia com cuidar do ambiente... Não
devemos impingir atividades econômicos a minorias étnicas."
Sobre
a Ucrânia: "As autoridades em Kiev não têm vontade de implementar os
acordos de Minsk, nenhuma vontade de lançar um processo político real,
completá-lo pode ser a implementação de um acordo sobre o status especial do
Donbass, que está consagrado na lei relevante da Ucrânia, adotada pelo
Parlamento [Rada] ucraniano. Russos e ucranianos são basicamente um só
povo" (ouvem-se aplausos e gritos de aprovação).
Sobre
a Síria: "Os EUA não estão contribuindo suficientemente para resolver
a crise síria. É importante que nenhum dos participantes nesse processo [de
paz] sírio tenha vontade ou seja tentado a usar grupos terroristas ou paraterroristas
radicais para alcançar seus objetivos políticos imediatos."
Sobre
o Iraque: "Digamos que os militantes estão partindo para o Iraque.
Dissemos aos nossos colegas dos EUA, 'os militantes foram por esse, e esse e
tal, caminho.' Não há reação. Como se eles [os militantes] estivessem
simplesmente indo embora... Por quê? Porque pensam que eles poderão ser usados
na luta contra [o presidente sírio Bashar] Assad. Isso é muito perigoso."
Sobre
a Rússia estar possivelmente influenciando a Coreia do Norte para que abandone
seu programa nuclear: "Seus congressistas, senadores tão elegantes,
ternos tão bonitos, camisas, todos aparentemente muito espertos. E nos põem ao
lado da Coreia do Norte e Irã. Ao mesmo tempo, empurram o presidente [dos EUA]
a nos persuadir a resolver os problemas da Coreia do Norte e Irã juntos."
Sobre
uma RPDC nuclear: "Sobre a Coreia do Norte, não a aceitamos como país
nuclear. Quanto aos EUA, foi além de acordos anteriores [com a República
Popular Democrática da Coreia]... e provocaram a Coreia do Norte a que saísse
dos acordos. Acho que ouvimos que os EUA poriam fim a manobras militares, mas
não, não aconteceu. É vital agir muito cuidadosamente quando se lida com o
programa nuclear da RPDC."
Sobre
a China: "Tenho plena consciência de que a cooperação com a China vai
além de qualquer agenda política. Sempre seremos parceiros estratégicos, por um
longo período de tempo. Temos abordagens similares para o desenvolvimento do
sistema internacional. Estamos ambos interessados em projetos [econômicos]
conjuntos, incluindo a integração de Um Cinturão Uma Estrada e a União
Eurasiana."
Montando
a trilha sonora da integração
E
isso nos leva ao coração do Novo Grande Jogo na Eurásia: a parceria
estratégica Rússia-China, mais uma vez reafirmada, e o aprofundamento da
integração entre as Novas Rotas da Seda, antes chamadas Um Cinturão Uma
Estrada, agora Iniciativa Cinturão e Estrada, e a União Econômica Eurasiana,
UEE.
Putin
é claramente positivo sobre os benefícios para a Rússia a partir dessa
interpenetração econômica. Observou como "a Rússia conseguiu superar
grandes crises: o colapso dos preços para fornecedores de energia e sanções
comerciais. Mas o país está andando na direção certa, com foco maior sobre a
produção doméstica. Nosso comércio interno cresceu 3%. Deve significar alguma
coisa."
Destacando
que Moscou está completamente a bordo da Iniciativa Cinturão e Estrada, Putin
deixa implícito que essa cooperação extrapola seja o grupo BRICS (Brasil,
Rússia, Índia, China e África do Sul [grupo dos quais a CIA tenta
arrancar o Brasil, por golpe de Estado para mudança de regime, ainda em curso
(NTs)]) seja também a Organização de Cooperação de Xangai, OCX; e é aí que
devemos localizar os esforços correntes de Moscou para convencer Nova Delhi -
também membro dos BRICS [grupo dos quais a CIA tenta arrancar o
Brasil, por golpe de Estado para mudança de regime, ainda em curso (NTs)] e da
OCX - de que apostar na Iniciativa Cinturão e Estrada favorece os interesses da
Índia.
Ainda
recentemente, essa semana em Nova Delhi, depois que um encontro trilateral
com os ministros de Relações Exteriores da China Wang Yi e da Índia Sushma
Swaraj, Sergey Lavrov disse claramente: "Sei que a Índia tem problemas,
discutimos esse plano hoje, com o conceito de Um Cinturão Uma Estrada, mas o
problema específico quanto a isso não deve condicionar todo o restante à
resolução das questões políticas."
Nova
Delhi tem de estar ouvindo, como uma das mais firmes aliadas de Moscou durante
a Guerra Fria.
Num
desenvolvimento paralelo, o Irã deve integrar-se à União Econômica Eurasiana no
início de fevereiro, segundo Behrouz Hassanolfat, diretor do Departamento
Europa e América da Organização de Promoção do Comércio do Irã, como noticiou a
Agência da República Islâmica.
Como Asia
Times noticiou, Índia e Irã estão cada vez mais sincronizados
economicamente, via uma Rota da Seda paralela para a Ásia Central, centrada no
porto de Chabahar. O Irã é também entroncamento essencial da Iniciativa
Cinturão e Estrada, e agora se tornará também entroncamento da União Econômica
Eurasiana.
Assim
como Pequim em relação à sua Iniciativa Cinturão e Estrada, Moscou está numa
ofensiva de charme para ampliar a União Econômica Eurasiana. Turquia - já a
bordo da Iniciativa Cinturão e Estrada - é possível candidata para o futuro
próximo, assim como Índia e Paquistão.
Mesmo
com Putin na Conferência de Imprensa mais uma vez falando sobre a causa dessas
polinizações cruzadas da integração eurasiana, a Índia às vezes pode dar a
impressão de ser o parceiro pouco confiável. Nova Delhi acaba de hospedar a
primeira Cúpula de Conectividade Índia-Associação de Nações do Sudeste
Asiático, que pode ser interpretada como tentativa para ir contra a Iniciativa
Cinturão e Estrada. Mas o surgimento de um bloco anti-China no Sudeste Asiático
parece fantasiosa.
Paralelamente,
Moscou com certeza não vê com bons olhos algo que sugira que esteja sendo
criada uma aliança "Indo-Pacífica" EUA/Índia/Japão. A narrativa
subterrânea no script de Putin não poderia ser mais perfeitamente
clara: o mapa do caminho para a integração da Eurásia tem a ver com a
aproximação de todos esses grupos, Iniciativa Cinturão e Estrada, a União
Econômica Eurasiana, a União de Cooperação de Xangai e os BRICS [grupo dos
quais a CIA tenta arrancar o Brasil, por golpe de Estado para mudança
de regime, ainda em curso (NTs)].
*
Em Pravda.ru
Foto:
Google
Sem comentários:
Enviar um comentário