Martinho Júnior | Luanda
Em
saudação aos 60 anos do MPLA, aos 52 anos da passagem do Che por África e aos
43 anos do 25 de Abril… e assinalando os 50 anos do início do “Exercício
ALCORA” e os 50 anos do início da Guerra do Biafra.
7-
As primeiras operações em África após a IIª Guerra Mundial, em que foram
evocadas e usadas“coberturas humanitárias” para fazer a guerra (o que
corresponde a uma verdadeira “banca de ensaios” para o que se passa
hoje com as sucessivas intervenções da NATO e do Pentágono no mundo) foram
realizadas por via dos suportes do colonialismo português e do “apartheid” a
intervenções mercenárias no Congo e no Biafra num jogo que possibilitava também
o uso de forças regulares.
O
francês Bérnard Kouchner, fundador dos Médicos Sem Fronteira e Médicos do
Mundo, iniciou-se no Biafra (1967/1970) como médico da Cruz Vermelha Internacional
e, ao longo de décadas, foi refinando os conceitos de ajuda humanitária,
enquadrando-os por fim nas regras do capitalismo neoliberal, aproximando-se até
de George Soros e sendo um dos mentores do “direito a proteger”que levaram
à ingerência agressiva na Líbia em 2011 e na Síria desde 2013, aproveitando a“Primavera
Árabe” e o mosaico étnico e religioso sírio (um processo de tentativa de
balcanização), num processo que conduziu ao caos e ao terrorismo da
conveniência dos neoconservadores do núcleo duro de falcões da aristocracia
financeira mundial na Líbia, por todo o Sahel (até à Nigéria e República Centro
Africana) e na Síria como no Iémen (encadeado de guerras correntes no Oriente
Médio)…
No
Congo, no início da década de 60 do século passado, foi o território angolano
(sob o beneplácito das autoridades coloniais portuguesas) que foi utilizado
para o fluxo mercenário na direcção ao Katanga, Kassai e Kivu.
Em
direcção ao Biafra (1967/1970) a ilha de São Tomé foi o território “privilegiado”,
cobrindo a maior parte das operações mercenárias com a ajuda humanitária, mas
também houve acções a partir de Lisboa e de Bissau, algumas delas passando por “corredores
especiais” em África.
No
livro “A guerra secreta de Salazar em África – Aginter Press, uma rede
internacional de contrassubversão e espionagem sediada em Lisboa”, o diplomata
que é seu autor, José Duarte de Jesus, que esmera nas referências às
comunicações e contactos diplomáticos na forja dos planos relativos ao Biafra,
detalha:
“Havia
um triângulo de ajuda estabelecida ao Biafra – Lisboa-São Tomé-Biafra.
Fernando
Pó, como entreposto para a ajuda espanhola e a Guiné-Bissau constituíam pontos
de apoio ao triângulo”…
Angola
seria depois o território-albergue dos “gendarmes Katangueses” (os “Fieis”),
tal como para alguns dos rescaldos da saga “barotse” da Zâmbia (os “Leais”),
nomes escolhidos a dedo para quem tão frequentemente evocava a “civilização
cristã-ocidental”.
Alguns
investigadores explicam que o mercenarismo em África resultou do final do que
tem sido considerada como Guerra Fria, o que não é verdade… chegariam à minha
conclusão se tivessem observado as pistas doutrinárias e ideológicas, como as
pistas (sequelas) dos colonialismos francês, britânico, belga e português,
assim como do “apartheid” nas suas origens, relacionamentos e derivas
em África, incluindo as pistas dos seus serviços diplomáticos e de
inteligência.