sábado, 16 de dezembro de 2017

ANGOLA SOB OS IMPACTOS DO CAPITALISMO NEOLIBERAL!

Em saudação ao 11 de Novembro de 2017

Martinho Júnior | Luanda 

Em Angola os impactos do capitalismo neoliberal sob o rótulo de “mercado” têm sido de tal maneira impantes em Angola, particularmente desde 2002, que estão a descaracterizar por completo o estado, esvaindo-o!

É evidente que esse processo chega-nos por arrasto desde sensivelmente 1985, quando ocorreram as grandes transformações quer com o fim do MPLA – Partido do Trabalho, quer com a metamorfose da Segurança do Estado e o propositado fim das “gloriosas” (era assim que os dirigentes diziam nos discursos e comícios) FAPLA, instrumentos de poder “obsoletos” para os objectivos do impacto em vista: a implantação do capitalismo neoliberal!

As instituições, inclusive o próprio MPLA, “levam por tabela” meio adormecidas no caldo dum movimento de libertação identitário com a criação da própria nacionalidade, com tensões internas que se vão esbatendo e procurando romper com o sentido histórico de sua orientação.

Desse modo o MPLA parece sendo tomado por dentro por interesses que estão apostados em tudo (quer dizer desde logo em todo o tipo de “negócios” e com os horizontes próprios do curto prazo, senão mesmo imediatistas), menos na preocupação programática original!

Se compararmos o MPLA – Partido de Trabalho (em termos ideológico-doutrinários, de organização, de disciplina e de mobilização) e a “organização de massas” (?) que é hoje o MPLA, podemos confirmar quanto os “lobbies” característicos da selvageria a que chegou este “mercado aberto” (à imagem e semelhança dum filantropo-especulador que bolou as “Open Societies” e as “revoluções coloridas”), “lobbies” e “mercados abertos” que correspondem a estímulos e interesses de grupos, têm um comportamento de “cosa nostra”, ou de “casa alugada”: desalojaram aquela criatura que estava legitimamente instalada (por que forjada na luta), para se apoderar e usar da concha a seu bel-prazer (por que a forja foi o capitalismo neoliberal, tanto por via do choque, como por via da terapia)!

Ao “obsoleto” marxismo-leninismo abriram espaço para dar guarida a uma social-democracia que cada vez mais se tisna de democracia cristã, ao nível das ideologias do “Le Cercle”!...

Em resultado, na base verifica-se que os Comités são cada vez mais inertes, não só por causa das ideias vazias de hoje, mas por que só mobilizam quando a época das eleições se aproxima e isso por que os interessados do costume (entenda-se aqueles motivados pelas correntes surgidas do neoliberalismo, ou com ele)o espevitam na tentativa de concorrer aos lugares!

Para partidos como a UNITA, ou o CASA-CE, esse é um ambiente naturalmente dilecto, pois Savimbi até tinha sido um dos eleitos “freedom fighters” de Ronald Reagan, que “inaugurou” a aplicação do capitalismo neoliberal, essencial durante décadas aos pressupostos da hegemonia unipolar!

Eles, herdeiros como Samakuva ou Chivukuvuku,  estão à vontade e sentem-se em casa num ambiente desses, um ambiente de menor esforço, pois têm salvaguardado muitos aspectos fundamentalistas de sua própria génese e trajectória eminentemente etno-nacionalista!

As pessoas no decorrer das últimas três décadas passaram a valer assim muito mais pelo que "têm" (na maior parte dos casos ilegitimamente, ou mesmo ilegalmente), com a arrogância, a sobranceria, o mercenarismo e a desonestidade compatível (quanto se vão afastando do bom povo angolano), do que por aquilo que são, num processo em que a “coisa pública” tem servido cada vez mais como uma plataforma para fomentar o que é “privado” (por bastas razões alguém bem avisado fundamentava que “a propriedade é um roubo”), quantas vezes de forma ilícita ou mesmo criminosa, em prejuízo da cultura de respeito, honestidade e dignidade para com o estado angolano, de que muitos se passaram a servir ao invés de servi-lo!

Esse estado angolano enquanto fiel depositário dos interesses do povo angolano, tem vindo a vulnerabilizar-se e sistematicamente a fragilizar-se, por que tal como as outras instituições o estado fica, por esse caminho, cada vez mais refém de máfias constituídas em grupos familiares na reedição do velho processo de “assimilação” e as “parcerias público-privadas”, ou a distribuição indiscriminada de actividades sem concurso público, acabam por o sorver até ao tutano, por via duma empolada facturação em cada vez menos mãos!...

No resto, os “indígenas que se amanhem”, como por exemplo a comunidade de antigos membros da própria Segurança do Estado conforme à ASPAR, onde dou a minha pessoal contribuição de há 8 anos a esta parte!

Vivi o tempo em que na Segurança do Estado se havia implementado uma cultura de respeito, dignidade e rigor para com o estado angolano de que éramos fundadores, algo que vigorou desde o 11 de Novembro de 1975 até 1985!

Essa era também uma cultura de amor, de solidariedade, de internacionalismo e com um carácter inerente à lógica com sentido de vida!

Sem dúvida que durante essa década essa cultura não foi absorvida por todos no MPLA e foi um processo de luta contra os tráficos (processo 105/83) que acabou por ser uma charneira entre as opções da primeira década consubstanciadas na República Popular de Angola e o que se lhe seguiu: com a prisão e condenação dos oficiais da Segurança do Estado, o rigor foi-se diluindo e cedendo espaço à corrupção de forma irremediável e com a visibilidade que hoje se propicia!

Para mim são mais de 30 anos de luta nesse vazio, mais de 30 anos de “travessia de deserto” e por isso me parece justo continuar a afirmar conforme aos meus desaparecidos escritos na prisão de Bentiaba: “a história me absolverá” e, “quando um dia se fizer luz, que seja o MPLA e todo o povo angolano a tirarem os legítimos benefícios dela”!

Resgatar África e os seus povos das longas trevas coloniais e do passado de obscurantismo e ignorância, em busca de justiça e equilíbrio em benefício de toda a humanidade, é um caminho de luta irrevogável que consumirá a minha vida individual até ao fim, sabendo o muito que vai a ela sobrar!

É assim que me ouso ver ao espelho neste 11 de Novembro de 2017, numa profissão de fé por uma lógica com sentido de vida!

Confesso que vivi!

Martinho Júnior. - Luanda, 19 de Novembro de 2017

Foto: Monumento do Soldado Desconhecido, recém-inaugurado na Marginal 4 de fevereiro em Luanda, ao fim e ao cabo onde eu próprio também me revejo!

MOÇAMBIQUE | Perseguidos. Albino não morre, só desaparece


O cunhado de Electerio João, então com 22 anos, ligou-lhe numa manhã de outubro de 2015. Tinha um trabalho para ele, podia ganhar algum dinheiro. O jovem, então, com 22 anos, não hesitou. O dinheiro fazia-lhe falta, vivia com a mãe numa casa de argila em Namina, uma pequena aldeia no norte de Moçambique. Quando se encontrou com o cunhado naquele dia, Electerio foi amarrado por este e por três cúmplices, que pretendiam vendê-lo a traficantes que lucram com o comércio de órgãos humanos.

Electerio teve sorte. Depois dos captores esperarem várias horas com ele na berma da estrada, os alegados traficantes chegaram. Eram da polícia. O jovem foi libertado, o cunhado e o cúmplice acabaram presos. Elidia, a irmã de Ricardo Carlitos, um professor primário em Nampula, não teve a mesma sorte: foi raptada e assassinada um mês antes. Um dos seus sequestradores foi detido três dias mais tarde com uma parte de um osso dela. Ricardo acredita que o cunhado está por trás do crime. Chimwemwe Austin, quatro anos, vive com os pais em Lilongwe, a capital do Malawi. Desde que um vizinho sugeriu que a vendessem, a família não quer mandá-la para a escola.

O azar de Electerio, Elidia, Chimwemwe e milhares de outras pessoas em Moçambique, Malawi e Tanzânia é serem albinos. São perseguidos porque se acredita que um pedaço de albinismo – seja um osso ou um pouco de pele – pode trazer sorte e dinheiro à pessoa quem o tenha consigo. Desde o final de 2014, dezenas de albinos em Moçambique foram raptados ou assassinados, muitas vezes por familiares, para que os seus órgãos e partes dos seus corpos fossem vendidos. Em alguns casos, são profanados cadáveres para se retirarem restos mortais para rituais de curandeiros.

"Somos perseguidos como animais", contou Ricardo ao fotógrafo português Daniel Rodrigues, que no outono de 2015 partiu para África para contar estas histórias. O trabalho deu origem à reportagem "The Hunted", publicada este ano no prestigiado diário "The New York Times", e já lhe valeu várias distinções internacionais. Depois, tornou-se uma exposição que está patente até ao dia 20 de janeiro na Galeria Colorfoto no Porto, com o apoio da Fuji. Vale a pena visitá-la, para que o problema dos albinos não seja esquecido.

Nelson Marques | Expresso

Imagem: Ricardo Carlitos, 23 anos, professor primário em Nampula, Moçambique. A irmã, Elidia, também albina, foi raptada e assassinada em setembro de 2015 | Foto Daniel Rodrigues

Austrália acorda assinar novo tratado de fronteiras marítimas com Timor-Leste

Díli, 16 dez (Lusa) - O Governo australiano acordou esta semana assinar o tratado de fronteiras marítimas com Timor-Leste, documento cujo conteúdo está concluído e que vai ser assinado na presença do secretário-geral da ONU, disseram à Lusa fontes próximas ao processo.

"A Austrália acordou assinar o tratado. O calendário vai ser agora acordado com o secretário-geral da ONU para definir exatamente quando será a assinatura", disse a fonte, que destacou o progresso conseguido nas negociações esta semana.

As fontes explicaram que essa era a notícia mais positiva saída da ronda negocial mantida na última semana em Singapura por delegações de Timor-Leste e da Austrália, sob auspícios de uma Comissão de Conciliação das Nações Unidas.

Presente esta semana em Singapura, confirmaram as fontes, estiveram ainda representantes das petrolíferas que fazem parte da Joint Venture que controla o importante poço de Greater Sunrise.

"Foi a quinta vez que os representantes da Joint Ventura participaram nas rondas negociais", explicou a fonte ouvida pela Lusa, que referiu que houve reuniões a sós da Comissão de Conciliação com as petrolíferas e reuniões informais das delegações.

O tratado é um dos elementos centrais do acordo negociado ao longo do último ano que além "elementos centrais" da delimitação de fronteiras marítimas entre os dois países - centrada, tudo indica, na linha mediana sempre reivindicada pelos timorenses -, inclui o estatuto legal para o desenvolvimento do poço de gás de Greater Sunrise no Mar de Timor.

O único assunto pendente tem a ver com a forma como o gás será explorado: se com um gasoduto para Darwin, no Território Norte da Austrália, se para a costa sul de Timor-Leste. O destino desse gasoduto determinará a forma como as receitas serão divididas entre os dois países.

As fontes ouvidas pela Lusa explicaram que a comissão solicitou às duas partes informação "detalhada" sobre as opções que defendem para que se possa avançar e concluir este aspeto mais "bicudo" do diálogo.

Nesse sentido, e para reforçar a informação, o negociador principal da delegação timorense, Xanana Gusmão, viaja ainda este fim de semana para a Papua Nova Guiné onde vai conhecer o projeto de gás natural do país.

Ausente de Timor-Leste desde 11 de setembro, Xanana Gusmão tem estado a liderar as negociações com a Austrália sobre esta questão, crucial para o futuro de Timor-Leste e que merece consenso nacional entre os timorenses.

Recorde-se que as reuniões decorrem no âmbito do processo de conciliação entre Timor-Leste e Austrália, conduzida por uma Comissão de Conciliação, nos termos da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar e sob os auspícios do Tribunal Permanente de Arbitragem (TPA) em Haia.

A comissão está a avançar na preparação do seu relatório sobre o processo negocial que deverá ser finalizado e publicado no início de 2018.

Recorde-se que a comissão de conciliação, constituída em 25 de junho de 2016, iniciou-se em 11 de abril de 2016, através do envio por Timor-Leste da "Notificação de Instituição da Conciliação, nos termos da Secção 2 do Anexo V da Convenção" à Austrália.

A comissão é composta por cinco membros, dois escolhidos por cada um dos países e presidida pelo embaixador Peter Taksøe-Jensen.

ASP // FV.

Timor-Leste punido pela FIFA com sete derrotas no apuramento para o Mundial2018

Zurique, Suíça, 12 dez (Lusa) - O Comité Disciplinar da FIFA sancionou hoje a seleção de futebol de Timor-Leste com sete derrotas na qualificação para o Mundial2018, devido a jogadores inelegíveis, bem como uma multa de 70 mil francos suíços (cerca de 60 mil euros).

A sanção foi aplicada pela utilização "de um total de nove jogadores inelegíveis devido à sua nacionalidade", explicou o comité em comunicado, que realça que a decisão está relacionada com uma sanção anterior da AFC, organismo que tutela o futebol asiático.

A equipa timorense foi eliminada na segunda ronda de qualificação, tendo terminado em último o grupo A, com dois empates e seis derrotas em oito jogos, dois golos marcados e 36 sofridos.

Entre outras medidas tomadas pelo Comité Disciplinar da FIFA, a Nigéria foi punida com uma derrota por 3-0 frente à Algéria, quando já estava qualificada para o Mundial da Rússia2018, num jogo disputado em 10 de novembro de 2017.

Em causa está a utilização irregular de Abdullahi Shehu, que estava suspenso.

O colombiano Edwin Cardona foi suspenso por cinco jogos, depois de ter feito um "gesto discriminatório para um adversário" no particular entre a Coreia do Sul e a Colômbia, em 10 de novembro (2-1).

SIYF // RPM

Desporto | BENFICA, NESTA ÉPOCA… JÁ FOI!

Fernando Silva | opinião

Benfica em crise só conhece “chumbos”. Assim aconteceu na Europa e está a acontecer em Portugal. 

Internamente foi assim que aconteceu para a Taça de Portugal e na Taça da Liga veremos dentro de poucos dias, enquanto que na Europa lhe aconteceu o mesmo. Resta o Campeonato Nacional ou da Liga. Chamem-lhe o que acharem por bem, mas certo é que já há benfiquistas preparados para o terceiro lugar dessa prova-rainha de Portugal. Benfica campeão, esta época, é que não se espera. Muito menos se olharmos para o FC Porto ou para o Sporting CP. E então, lá por isso há responsáveis? Há, com toda a certeza. É que quer o Porto, quer o Sporting, estão a render mais, a jogar melhor, dispõem de melhores jogadores, mais a comerem a relva e a defenderem a camisola.

Não se infira daqui que os jogadores benfiquistas são inferiores aos dos dois clubes rivais, nem que o treinador, Rui Vitória, esta época não está “inspirado” mas sim a cometer erros. Muito menos devem ser encontradas responsabilidades ao presidente encarnado, Luís Filipe Vieira. É que o futebol é mesmo assim e é preciso perceber que os clubes adversários têm épocas melhores por via dos seus atletas mas também épocas piores. Esta época 2017/18 toca ao Benfica. Ficar em terceiro lugar na classificação final é o destino. Nem é preciso ir à bruxa. Nem acontece assim por responsabilidade das arbitragens. É assim, acontece a todos.

Importa aos adeptos e simpatizantes benfiquistas mentalizarem-se que não podem vencer sempre e verem com olhos de gente que a falta de forma do plantel é gritante (ao contrário do que diz Rui Vitória). Como se não bastasse tal situação da equipa, física e tecnicamente, também psicologicamente estão uns quantos jogadores afetados e a contagiarem o restante plantel.


É de acreditar que as melhoras benfiquistas não são esperadas esta época. Para o ano, próxima época, há mais futebol, mais provas para disputar. Entrem com o pé direito a preparar o plantel e a adquirirem dois ou três jogadores que o enriqueçam física e tecnicamente. Talvez que assim se volte às vitórias e às alegrias benfiquistas. Esta época... já foi!

11 DE NOVEMBRO DE 1975 – UMA EPOPEIA DECISIVA – V

Martinho Júnior | Luanda 

Em saudação ao 11 de Novembro de 2017, 42º aniversário da independência de Angola, com uma atenção especial em relação a Cabinda.

Nota prévia:
A epopeia do 11 de Novembro de 1975 é, em África, um marco indelével dum movimento de libertação que teve que vencer os mais retrógrados factores sócio-políticos para melhor se poder afirmar enquanto potencial resgate numa longa luta que há a fazer contra o subdesenvolvimento, só possível a partir de plataformas consolidadas de paz!

Os factores retrógrados externos e internos, estiveram presentes e confluentes antes, durante e depois do 11 de Novembro de 1975 e, de metamorfose em metamorfose, muitos deles ainda teimosamente subsistem, outros estão em nova fase de adaptação, outros ainda mudando de paradigma, explorando os nexos possíveis do capitalismo neoliberal e das ilusões que deles fluem!

Em Portugal, muitos dos factores retrógrados, têm suas barricadas antigas e têm que ver ainda com o passado colonial, pelos reflexos mentais que comportam, só possíveis de subsistir graças às décadas dum “arco de governação”, que é um retardador mental, um autêntico “arco-da-velha” (ditadura, fascismo, colonialismo…).

Nas culturas “judaico-cristãs ocidentais”, os que tiveram passado colonial mantêm correntes mentais e sócio-políticas “ancoradas”no passado, como se ainda “dilatar a fé e o império” fosse de hoje!

Por isso o Não Alinhamento Activo da revolução cubana no seu enlace internacionalista e solidário com o movimento de libertação, não é reconhecido, muito menos valorizado como um avanço para África e em benefício de toda a humanidade!

Julgam por exemplo que terá sido um capricho, ou uma mera figura de estilo, o comandante Fidel escolher o nome da escrava Carlota para dar corpo e substância à resposta internacionalista resultante do pedido de ajuda que o camarada presidente António Agostinho Neto fez a Cuba em tempo oportuno…

Além do mais o nome de Carlota, nada tinha, nem tem a ver com os nomes correntes utilizados na chamada Guerra Fria que em África estava longe de o ser como tal, para onde os menos estudiosos se preocupam em atirar o 11 de Novembro, em obediência filosófica, doutrinária e ideológica ainda hoje a Kissinger, aquele que “bolou” a operação da CIA contra Angola, a Operação Iafeature (uma longa história de suseranos e vassalos).

O prodígio da Operação Carlota estendeu-se às vitórias em três campos de batalha distintos, permitindo a eclosão da República Popular de Angola e estende-se até hoje, se levarmos em conta o significado da educação e da saúde num contexto de luta contra o subdesenvolvimento, aos imensos esforços de resgate que decorrerão ao longo de todo o século XXI, em Angola e em África.

É claro que, não considerando o peso geoestratégico da Operação Carlota e o que essa epopeia permitiu a África, de Argel ao Cabo da Boa Esperança, as narrativas históricas que não o reconhecem enquanto uma vitoriosa missão, dentro ou fora do continente, dentro de Angola inclusive, fazem parte das versões retrógradas que urge desmistificar!

15- A batalha de Cabinda em 1974, que desmantelou as pretensões mais retrógradas da descolonização (expulsão de Themudo Barata, neutralização dos spinolistas da ocasião no próprio terreno, neutralização da presença militar da FLEC e conjugação de factores progressistas envolvendo o próprio Movimento das Forças Armadas Portuguesas), foi o primeiro passo no território angolano mais a norte, de aproximação ao espírito da proclamação da independência de Angola por parte do camarada presidente António Agostinho Neto.

O segundo passo desenrolar-se-ia ao longo de todo o ano de 1975, com maior ênfase à aproximação do 11 de Novembro, culminando com a batalha de Cabinda, uma das “três irmãs” (as outras foram a de Quifangondo e a do Ebo).

A intervenção do general Pedro Sebastião na conferência realizada em Luanda nos dias 25 e 26 de Agosto de 2016 (“Angola: Guerra de Libertação e Independência”), estabelece alguns dos nexos entre os dois tempos de abordagem (1974 e 1975), repondo por si a distinção obrigatória entre luta e guerra (para mim o título do livro denota já quanto os factores retrógrados estão a ganhar terreno em Angola em época de capitalismo neoliberal, ao dar ênfase ao termo guerra na libertação e independência, quando o 11 de Novembro de 1975 é um acto cultural de incalculável abrangência e longevidade, um marco de luta para Angola e para África).

16- Um acto cultural de incalculável abrangência e longevidade, um marco de luta para Angola e para África, que integrou a Operação Carlota como expoente inédito, heroico e inesperado, duma manobra que se desenrolou no vasto Atlântico Sul e conferiu outra dimensão à amizade entre os povos cubano e os povos de todo o continente africano, numa altura em que se estava ainda a meio caminho entre Argel e o Cabo da Boa Esperança!

O general Pedro Sebastião relata o período intermédio de ligação entre os dois passos na batalha de Cabinda, o de 1974 e o de 1975, (página 170):

“Nessa altura, o MPLA era o único movimento de libertação em território de Cabinda.

Rapidamente fomos reforçando a nossa presença na cidade, até controlá-la por completo.

Posteriormente, perante os momentos que se aproximavam e a grande presença, em território nacional, de forças estrangeiras, por solicitação do presidente Neto, em finais de Setembro de 1975 chega a Cabinda o comandante Ramón Espinosa Martin, acompanhado de mais três cubanos, disfarçados de jornalistas argentinos, que tinham a missão de preparar terreno para a chegada de instrutores incumbidos de preparar a defesa do território de Cabinda”…

Do lado das forças progressistas a preparação e programação geoestratégica em tempo de epopeia era vista ao pormenor, enquanto do outro lado, os improvisos se sucederam uns aos outros, sem de facto conseguirem uma capacidade geoestratégica ao nível!...

Também por aí se pode aperceber quanto o movimento de libertação em África se distanciava dos etno-nacionalismos, de seus mentores e de seus agenciados conteúdos!

17- A descrição do comandante Ramón Espinosa Martin sobre a batalha de Cabinda, na sequência da Operação Carlota, pode-se considerar de exemplar, respondendo inclusive às principais preocupações levantadas pelo camarada general Paulo Lara em relação a algumas das narrativas angolanas na abordagem à batalha do Cuito Cuanavale, incapazes de definir quer o campo de batalha e sua dimensão, quer os tempos de sua durabilidade e por isso, ao minimizarem-na, colocam as suas interpretações ao nível das narrativas dos intervenientes do lado do “apartheid” e da meio envergonhada manifestação daqueles que seguiam à época Savimbi, devorados pelas suas próprias contradições geoestratégicas (como lutavam pela democracia, então deixaram-se cinicamente instrumentalizar pelo hediondo regime do “apartheid”, ele próprio uma autêntica aberração da democracia)!

Em relação à Operação Carlota, o circuito trilhado pelo comandante Ramón Espinosa Martin, entre os muitos que foram postos em prática, tem além do mais uma carga própria: o seu trânsito foi feito por Lisboa, a capital dum país que durante quatrocentos anos foi escravocrata e colonial e até hoje tarda em ganhar a consciência histórica suficiente em suporte da ânsia de liberdade e de democracia que legitimamente assiste ao próprio povo português!...

… E isso nada tem a ver, radicalmente nada, com qualquer parâmetro de apreciação ao nível das correntes definições de “Guerra Fria”!...

18- Vale a pena rever a ironia desse trajecto pessoal do comandante Ramón Espinosa Martin, a páginas 29 do livro “La batalla de Cabinda”:

“Durante la estancia en Lisboa pasamos por cubanos que iban a ayudar en la reconstrución de Angola.

La aparente composición del grupo era de dos médicos – Cotilla, que sí lo era y yo – más quatro especialistas en puertos.

Sucedió algo curioso.

En el hotel habia famílias portuguesas que acababan de salir de Angola.

 Uno de los niños teniafiebre alta y como se habia corrido la voz de que entre los huéspedes se encontraban médicos cubanos, pidieron que lo atendiéramos.

Cotilla habia salido.

No me quedó outra alternativa que ir com su estetoscópio y hacer el paripé de que auscultaba el niño.

Tenía mucha fiebre y le indique a los padres que lo llevaran rapidamente a un centro hospitalário ya que carecía de medicamentos.

Al dia seguiente me dieron las gracias, pues el pequeño tenia paludismo crónico y requeria tratamento de urgência”…


19- Sobre a Operação Carlota em si, recordo Gabriel Garcia Marques, considerando que essa missão de inteligência e militar cubana, que em muitos sectores de actividade se estendeu aos nossos dias, é importante recordar nas imensas vias e rotas utilizadas para os combatentes chegarem a Angola, algo inédito, pois ela decorreu num regime de clandestinidade, ou de semi clandestinidade.

Foram utilizados entre Cuba e Angola, meios navais, em rotas distintas e com destinos diversos, bem como meios aéreos, também com escalas e destinos variados, intimamente associados à composição dos grupos expedicionários da missão internacionalista e solidária em socorro de Angola!

Recorde-se a intervenção de Gabriel Garcia Marquez sobre a Operação Carlota, em alguns dos seus excertos:

“Por primera vez en una declaración oficial Estados Unidos reveló la presencia de tropas cubanas en Angola en noviembre de 1975.

Calculaba entonces que el envío había sido de 15 mil hombres.

Tres meses después, durante una breve visita a Caracas, Henry Kissinger le dijo en privado al presidente Carlos Andrés Pérez – Cómo estarán de deteriorados nuestros servicios de información, que no nos enteramos de que los cubanos iban para Angola sino cuando ya estaban allí.
En esa ocasión, sin embargo, corrigió que los hombres enviados por Cuba eran sólo 12 mil. Aunque nunca explicó el motivo de aquel cambio de cifras, la verdad es que ninguna de las dos era correcta.

En aquel momento había en Angola muchos hombres de tropa y especialistas militares y técnicos civiles cubanos, y eran más de cuantos Henry Kissinger pretendía suponer.

Había tantos barcos cubanos anclados en la bahía de Luanda, que el presidente Agostinho Neto, contándolos desde su ventana, sintió un estremecimiento de pudor muy propio de su carácter, No es justo, le dijo a un funcionario amigo.

A este paso, Cuba se va a arruinar"…

(…)

“Sólo en mayo de 1975, cuando los portugueses se preparaban para retirarse de sus colonias de África, el comandante cubano Flavio Bravo se encontró en Brazzaville con Agostinho Neto, y éste le solicitó una ayuda para transportar un cargamento de armas, y además le consultó la posibilidad de una asistencia más amplia y específica.

En consecuencia, el comandante Raúl Díaz Argüelles se trasladó tres meses después a Luanda al frente de una delegación civil de cubanos, y Agostinho Neto fue entonces más preciso aunque no más ambicioso: solicitó el envío de un grupo de instructores para fundar y dirigir cuatro centros de entrenamiento militar”…

(…)

“La posibilidad de que Estados Unidos interviniera de un modo abierto, y no a través de mercenarios y de África del Sur, como lo había hecho hasta entonces, era sin duda uno de los enigmas más inquietantes.

Sin embargo, un rápido análisis permitía prever que por lo menos lo pensaría más de tres veces cuando acababa de salir del pantano de Vietnam y del escándalo de Watergate, con un presidente que nadie había elegido, con la CIA hostigada por el Congreso y desprestigiada ante la opinión pública, con la necesidad de cuidarse para no aparecer como aliado de la racista África del Sur, no sólo ante la mayoría de los países africanos, sino ante la propia población negra de Estados Unidos, y además en plena campaña electoral y en el flamante año del bicentenario”…

(…)

“Yo llegué a La Habana por esos días y desde el aeropuerto tuve la impresión definida de que algo muy profundo había ocurrido en la vida cubana desde que estuve allí la última vez, un año antes.


Había un cambio indefinible pero demasiado notable no sólo en el espíritu de la gente sino también en la naturaleza de las cosas, de los animales y del mar, y en la propia esencia de la vida cubana.

Había una nueva moda masculina de vestidos enteros de tela ligera con chaquetas de manga corta.

Había novedades de palabras portuguesas en la lengua callejera.

Había nuevos acentos en los viejos acentos africanos de la música popular.

Había discusiones más ruidosas que de costumbre en las colas de las tiendas y en los autobuses atestados, entre quienes habían sido partidarios resueltos de la acción en Angola y quienes apenas entonces empezaban a comprenderla.

Sin embargo, la experiencia más interesante, y rara, era que los repatriados parecían conscientes de haber contribuido a cambiar la historia del mundo, pero se comportaban con la naturalidad y la decencia de quienes simplemente habían cumplido con su deber.

En cambio, tal vez ellos mismos no eran conscientes de que en otro nivel, tal vez menos generoso pero también más humano, hasta los cubanos sin demasiadas pasiones se sentían compensados por la vida al cabo de muchos años de reveses injustos.

En 1970, cuando falló la zafra de los 10 millones, Fidel Castro pidió al pueblo convertir la derrota en victoria.

Pero en realidad, los cubanos estaban haciendo eso desde hacía demasiado tiempo con una conciencia política tenaz y una fortaleza moral a toda prueba.

Desde la victoria de Girón, hacía más de 15 años, habían tenido que asimilar con los dientes apretados el asesinato del Che Guevara en Bolivia y el del presidente Salvador Allende en medio de la catástrofe de Chile, y habían padecido el exterminio de las guerrillas en América Latina y la noche interminable del bloqueo, y la polilla recóndita e implacable de tantos errores internos del pasado que en algún momento los mantuvieron al borde del desastre.

Todo eso, al margen de las victorias irreversibles pero lentas y arduas de la Revolución, debió crear en los cubanos una sensación acumulada de penitencias inmerecidas. Angola les dio por fin la gratificación de la victoria grande que tanto estaban necesitando”…

A Operação Carlota foi uma primeira epopeia de inteligência e militar, dentro da epopeia do 11 de Novembro de 1975, mas uma epopeia que se tornou “residencia na Terra”, por que num plano multiforme, extravasou pelas razões mais saudáveis da humanidade até aos nossos dias!

A decisiva batalha de Cabinda acontecería logo de seguida, em Novembro de 1975!

Martinho Júnior - Luanda, 7 de Dezembro de 2017

Imagens:
Operación Carlota, de acordo com Gabriel Garcia Marquez; Jornal “A Capital” e a independencia de Angola; “Un dia mas con vida”, lembrando os momentos finais duma combatente angolana caída no Balombo, de nome Carlota; General de Exército Ramón Espinosa Martin; Generais angolanos Pedro Maria Tonha Pedalé (natural de Cabinda e um dos protagonistas das batalhas de Cabinda) e Pedro Sebastião (protagonista das batalhas e historiador).

A consultar de Martinho Júnior (além do sugerido nos dois números anteriores):
Angola – 11 de Novembro de 1975 – Uma epopeia decisiva – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma.html
Angola – 11 de Novembro de 1975 – Uma epopeia decisiva – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma_19.html
Angola – 11 de Novembro de 1975 – Uma epopeia decisiva – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/11/angola-11-de-novembro-de-1975-uma_26.html
Angola – 11 de Novembro de 1975 – Uma epopeia decisiva – IV – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/12/angola-11-de-novembro-de-1975-uma.html
A PAZ POR OBRA DO NÃO ALINHAMENTO ACTIVO EM PLENO SÉCULO XXI – I –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/02/a-paz-por-obra-do-nao-alinhamento.html
A PAZ POR OBRA DO NÃO ALINHAMENTO ACTIVO EM PLENO SÉCULO XXI – II –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/02/a-paz-por-obra-do-nao-alinhamento_8.html

A PAZ POR OBRA DO NÃO ALINHAMENTO ACTIVO EM PLENO SÉCULO XXI – III –  http://paginaglobal.blogspot.pt/2016/02/a-paz-por-obra-do-nao-alinhamento_11.html

A consultar (para além do sugerido nos dois números anteriores):
Carlota – “Un di mas com vida” – https://www.youtube.com/watch?v=2S-y4DVlkO4
General Pedro Sebastião – PR angolano quer estancar imigração ilegal associada ao tráfico e garimpo de diamantes – https://www.tsf.pt/lusa/interior/pr-angolano-quer-estancar-imigracao-ilegal-associada-ao-trafico-e-garimpo-de-diamantes-8957162.html

ANGOLA | Mais dinheiro para a educação, saúde e 40 mil reformados

Educação e Saúde têm mais dinheiro

A proposta do Orçamento Geral do Estado para o exercício de 2018 já está na Assembleia Nacional para aprovação dos deputados
O documento foi entregue ontem ao presidente da Assembleia Nacional, Fernando da Piedade Dias dos Santos, pelo ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social, Manuel Nunes Júnior, acompanhado pelos ministros das Finanças e da Economia e Planeamento, Archer Mangueira e Pedro Luís da Fonseca, respectivamente.

Na proposta, o sector social absorve 42 por cento da despesa fiscal, com destaque para a protecção social (cerca de 15), Educação (mais de 11) e a Saúde (mais de 7). A dotação do sector social é a segunda maior dos últimos cinco anos.Em 2017 a verba para o sector social foi de 38,03 do OGE.

Manuel Nunes Júnior afirmou que, no OGE para 2018, com valor global de 9.6 triliões de kwanzas, contra 7,3 trilões do OGE em execução, o Executivo apresenta as linhas fundamentais para garantir a estabilidade macroeconómica. “Estamos a viver, desde 2014, uma situação de baixa do preço petróleo no mercado internacional e é importante que, com base neste pressuposto, se façam os ajustes do ponto de vista fiscal e cambial para que o país possa permanecer no equilíbrio”, disse.

O orçamento, acrescentou, garante que, a partir do próximo ano, o país possa ter equilíbrio do ponto de vista das contas internas e externas, bem como a exterioridade macroeconómica para a criação de um ambiente propício para o investimento.

Investimento nacional

O ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social reconheceu que o crescimento macroeconómico é importante para garantir postos de trabalho e a criação de condições, para que haja investimento, quer nacional quer estrangeiro, para que o país possa crescer para dar emprego e garantir a prosperidade dos angolanos. “Não é possível distribuir aquilo que não se tem, daí que pretendemos garantir o crescimento económico para que, com base neste crescimento, se possam resolver os grandes problemas sociais que o país tem”, sublinhou.

O ministro de Estado disse também que no orçamento de 2018, o Executivo vai dar uma grande importância ao défice “porque quanto maior for o défice do orçamento, maior é a necessidade de endividamento, quer doméstico quer internacional do país.”

Neste documento, acrescentou, o Executivo apresenta ainda um orçamento suficientemente adequado para que as necessidades de endividamento sejam cada vez menores. A ideia, acrescentou, é garantir a sustentabilidade da dívida em função do crescimento económico.

Manuel Nunes Júnior assegurou que o orçamento continua a priorizar os sectores que garantem o crescimento económico, para que os sectores sociais possam ter os recursos necessários para resolver os grandes problemas que o país tem a nível da educação, saúde e saneamento básico. Para a resolução destes problemas, disse, deve-se garantir primeiro o crescimento económico.

O ministro lembrou que o Executivo cumpriu o prazo legal de 15 de Dezembro para a entrega do OGE.

Orçamento realista

O ministro de Estado do Desenvolvimento Económico e Social afirmou ainda que OGE de 2018 foi feito em bases realistas. O Executivo pretende que os números apresentados sejam efectivamente concretizáveis, para dar credibilidade e reputação ao orçamento. 

O presidente da Comissão de Economia e Finanças da Assembleia Nacional, Diógenes de Oliveira, adiantou que o Parlamento começa a discutir o orçamento no dia 5 de Janeiro e conclui até 15 de Fevereiro. Diógenes de Oliveira garantiu que a Assembleia Nacional está já a preparar o calendário para a discussão do documento, mas que o primeiro passo será a discussão na generalidade.

O OGE, explicou, é financiado por várias fontes e, pelo facto de se ter concluído que o peso das despesas ultrapassa ligeiramente a disponibilidade em termos de estimativa da receita, a diferença vai ser coberta com financiamento interno e externo. “O Executivo fará tudo para que os encargos com a dívida possam ser aliviados.” A expectativa do défice é para  2.9 por cento contra 5.3 do exercício de 2017. Para Diógenes de Oliveira, a disciplina será o condão principal para que a previsão seja realista.

Para o parlamentar, deve-se aprovar um orçamento de pendor social, privilegiando as questões ligadas ao sector real da economia. “Só há crescimento económico se a economia se reanimar”, sublinhou.

Adelina Inácio | Jornal de Angola | Fotografia: Francisco Bernardo | Edições Novembro

40 mil reformados aguardam pensão

O Ministério dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria vai homologar 40 mil processos de pensionistas antigos combatentes para dar mais dignidade aos assistidos, informou quinta-feira, em Canacassala, município de Nambuangongo, província do Bengo, o titular do sector, João Ernesto dos Santos.

Falando num encontro com antigos combatentes e veteranos da pátria, na comuna do Canacassala, o ministro disse que a acção visa concluir a homologação dos processos existentes no Ministério de tutela e nas 18 províncias.

João Ernesto dos Santos “Liberdade” elogiou  o nível de organização das cooperativas agrícolas de ex-guerrilheiros na região.

Acompanhado pelo governador do Bengo, João Bernardo de Miranda, João Ernesto dos Santos “Liberdade” visitou as cooperativas agrícolas Desejo, na comuna do Úcua, município do Dande, com mil hectares, e Kimangumbo, na comuna do Canacassala (Nambuangongo), com 2.050 hectares.

Os antigos combatentes inseridos em projectos agrícolas, na província do Bengo, disse, estão a cumprir as metas estabelecidas, sublinhando que com mais apoio as cooperativas poderão realizar os seus objectivos. Garantiu que está a trabalhar com outros departamentos ministeriais e parceiros sociais para conseguir instrumentos agrícolas, sementes, fertilizantes para os assistidos.

Jornal de Angola

Na imagem: Antigos Combatentes passam a ser assistidos | Fotografia: Edmundo Eucílio | Edições Novembro

PORTUGAL | O PSD do multibanco e da má língua

Domingos de Andrade* | Jornal de Notícias | opinião

Rui Rio e Santana Lopes deveriam estar preparados para vencer dois grandes desafios na corrida à liderança do PSD: reconciliar o partido com o país e ter uma ideia de futuro. Ganhe quem ganhar, que é o objetivo último, os dois já perderam onde não podiam perder. O caminho do próximo líder será sempre mais difícil.

Tudo o que podia correr mal está a correr pior. O debate enviesado e de dentro para dentro, e não de fora para dentro. Os ataques diretos, ou por via da libertação de informação para tentar comprometer o adversário. A fronteira ténue entre o que defendem as candidaturas, resumindo a disputa eleitoral à escolha de um perfil com base num cenário presente em que ambos estão fora do contexto.

Explicando. O que é que Rui Rio, alavancado na mensagem do rigor das contas que todos lhe reconhecem, tem para oferecer a um país que atravessou os dias duros da troika com um partido no poder que anunciou o descalabro quando saiu do poder? E cujo discurso, esvaziado pelos sucessos europeus de Mário Centeno, se aparenta tanto com o passado?

E em que é que Pedro Santana Lopes, o afetivo, se diferencia tanto do "menino guerreiro" primeiro-ministro, que deixou o país de todas as cores a suspirar de alívio com a sua saída do Governo, apesar do lastro que entretanto os anos com certeza lhe deram?

Não basta aos dois candidatos juras de recentrar o partido, descolando-o da Direita onde ambos negam que esteja. Ou maiores promessas de equidade social, olhando mais para as camadas desfavorecidas da sociedade, os idosos, as crianças, o número elevadíssimo de pessoas que sobrevive à conta dos apoios sociais.

E não basta porque o Governo PS, suportado pelos partidos à sua esquerda, tem uma existência fundada na ideia de devolver aquilo que foi retirado. Ao Governo PS basta ter os ventos da economia a soprar favoravelmente e não cometer muitos erros. O que, convenhamos, não tem sido tarefa fácil nos últimos meses.

No fim de contas, o que a campanha interna do PSD evidencia é que tudo se resume aos sindicatos de votos e à capacidade que cada candidato teve de mobilização no pagamento de quotas. Para chegar ao poder. É a campanha do multibanco e da má língua. Não podia haver pior para expor a cegueira de um partido.

*Diretor-executivo do JN

Fitch dá maior subida de rating de sempre a Portugal e coloca país no grupo da Itália

Nota sobe para BBB, o que significa que a dívida deixa de ser considerada ativo especulativo ou "lixo". Portugal passa a estar no radar de mais investidores

A agência de notação financeira Fitch acaba de subir a nota (rating) da dívida soberana de Portugal em dois níveis, “de BB+ para BBB com perspetiva estável”, naquela que é a maior subida de que há registo. O país está assim, oficialmente, fora de “lixo”, as obrigações são novamente um investimento não especulativo. No passado todas as subidas foram de apenas de um nível. A Fitch avalia o país desde agosto de 1994. 

Segundo a empresa, que é uma das três grandes agências que avaliam os países, um dos motivos para esta promoção foi “a melhoria da sustentabilidade da dívida pública”, diz a nota enviada às redações.

“Esperamos que a dívida desça mais de três pontos percentuais este ano, para menos de 127% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2017”, diz a agência numa nota enviada aos jornais. Esta “é a primeira descida do rácio “desde que começou a crise financeira global”, observa.

A Fitch é relativamente mais conservadora quanto ao crescimento, que prevê seja 1,9% em 2018 (o governo diz 2,2%, o Banco de Portugal 2,3%) e estima que o défice fique em 1,4% este ano, mas que depois estagne nesse valor em 2018, caindo mais um pouco em 2019, para 1,2% do PIB.

No entanto, os economistas da Fitch não consideram isso um problema de maior. Embora o país “não cumpra totalmente o objetivo de médio prazo do Programa de Estabilidade e Crescimento, ele entrega um declínio robusto ao nível da dívida no médio prazo”.

Isto é possível porque o saldo público primário (sem contar com os juros) aguenta-se, “estabiliza”, nos 2,5%, não deixando acumular mais dívida, observa a empresa.

Em todo o caso, a agência frisa bem que “Portugal como soberano continua muito pesadamente endividado” e que o referido rácio de 127% “compara com uma mediana de 41%” no grupo dos países BBB, além de ser “o terceiro rácio mais elevado da zona euro”.

As consequências da ação da Fitch

Esta decisão da Fitch tem um alcance relativamente grande para as taxas de juro e a facilidade da República obter crédito a preços razoáveis.

Coloca o país no grupo dos países com nota BBB, o que significa que a dívida portuguesa deixa de ser considerada um ativo especulativo ou “lixo”, como se diz na gíria dos mercados. BBB significa que está no segundo nível acima de lixo. O primeiro é BBB-.

Na zona euro, Portugal passa agora a fazer companhia a Itália. Fora da área da moeda única os outros países que têm uma nota de BBB são Andorra, Bulgária, Colômbia, Cazaquistão, Panamá e Omã, indica a Fitch.

A dívida pública torna-se assim, aos olhos dos investidores globais, um ativo menos arriscado, apesar de o rácio continuar a ser das mais elevados do mundo desenvolvido, equivalendo a cerca de 127% do PIB), reparam a Fitch e as outras instituições que seguem a economia.

Além disso, com esta classificação, as obrigações do tesouro (OT) de Portugal, que passam a ser consideradas um ativo relativamente seguro, tornam-se elegíveis para a maior parte dos índices obrigacionistas, o que potencia muito a procura por OT num futuro próximo pois dá maior visibilidade global às obrigações portuguesas. Isso também terá um efeito positivo para a taxa de juro de mercado.

A maior parte dos índices, dos mercados especializados em dívida pública, pedem que pelo menos duas das três grandes agências de rating classifique o país como não sendo especulativo.

É o que acaba de acontecer nesta sexta-feira. Em setembro, a poderosa Standard & Poor’s causou surpresa tirando Portugal do lixo (subiu o rating para BBB-). Agora só falta a Moody’s que mantém o país em Ba1 (o último nível antes da saída do lixo).

A canadiana DBRS não é considerada uma das três grandes, mas nunca classificou Portugal como um ativo especulativo, mesmo durante a crise soberana. Foi o que permitiu ao país e aos bancos conseguirem ser elegíveis para os programas de apoio e de dinheiro barato do BCE.

No radar dos fundos de pensões

Adicionalmente, esta decisão da Fitch acaba por ser a oportunidade que faltava para que os fundos de pensões, entidades normalmente mais conservadoras nos investimentos que fazem, comecem a comprar muito mais dívida portuguesa e com maturidades maiores.

A dilatação dos prazos médios de reembolso da dívida de mercado (excluindo a dívida oficial, o resgate concedido no âmbito da troika) ainda é um objetivo por cumprir.

O ICGP, a agência que gere a dívida portuguesa, diz que a maturidade média (excluindo os empréstimos do FMI e da Europa), está hoje à volta dos seis anos. O Dinheiro Vivo sabe que o governo está a trabalhar para estender essa maturidade até aos oito anos.

Ter mais tempo para pagar torna mais fácil a gestão da Tesouraria. Não ser um ativo especulativo significa que a taxa de juro das OT ainda pode cair mais.

Esta sexta-feira a taxa das obrigações a dez anos caiu para 1,8%, tendo inclusive ficado abaixo dos juros de Itália, movimento que foi muito bem acolhido dentro do governo português.

Luís Reis Ribeiro | Dinheiro Vivo

Na imagem: Mário Centeno. Fotografia: Reuters/Rafael Marchante

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